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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O resto do Heat


Anthony, Joel Anthony



Nós já analisamos a decisão do LeBron James, e depois o Danilo fez um especial analisando o ponto de vista de todas as estrelas do Miami Heat: Dwyane Wade, Chris Bosh e, claro, LeBron. Mas era natural perguntar sobre o resto do time. Afinal, o Miami Heat se livrou de todo mundo para poder abrigar as três estrelas, deixou apenas Mario Chalmers e Michael Beasley, e logo trocou Beasley por uma escolha de draft com o Wolves. Como eles iriam conseguir montar um time? Quem eles iriam conseguir? Bom, eles acabaram de montar, hora de ver se fizeram direito.

O começo do time está na única peça que nunca ameaçou sair de Miami, o Superintendente Mario Chalmers. O armador foi uma grata surpresa na temporada retrasada. Depois de ser campeão universitário acertando o arremesso mais importante do jogo do título, pensou-se que aquele seria seu grande momento, que era muito fraco para ser grande coisa na NBA, tanto que foi apenas a 34ª escolha no Draft!

Mas em pouco tempo provou o contrário e com bons treinos (e falta de concorrência, é verdade), foi titular em todos os jogos da sua campanha de novato. Suas bolas de três (aproveitamento de 42%), poucos erros (2 turnovers por jogo em mais de 30 minutos por jogo) e principalmente sua defesa e roubos de bola o tornaram um favorito do técnico Eric Spoelstra. Chalmers, como novato, foi o quarto maior ladrão de bolas da NBA com 2 por jogo e é um dos 48 jogadores da história da NBA a conseguir pelo menos 9 roubos de bola em uma partida.

O que parecia uma carreira promissora deu um enorme passo para trás na temporada passada. Ninguém sabe explicar bem o porquê, mas Mario Chalmers parecia não defender com a mesma eficiência e sua limitação no ataque cada vez incomodava mais. Ele se tornou apenas um arremessador (que acertava menos do que no seu primeiro ano) e não livrava o Dwyane Wade da responsabilidade de armar as jogadas. Por isso Eric Spoelstra tirou Chalmers do time titular, colocou Carlos Arroyo ou Rafer Alston e Chalmers despencou para meros 20 minutos por partida ou menos.

O desempenho de Carlos Arroyo, que ganhou um novo contrato, foi discreto. Ele não defende tão bem quanto Chalmers, mas não é batido com facilidade e compensa com bom controle de bola e de ritmo de jogo no ataque. O número de assistências do porto-riquenho não é alto, mas ele é o responsável por ditar a velocidade e o caminho do ataque, liberando D-Wade para se movimentar e achar a melhor posição para atacar.

O melhor jogador entre os dois é o Chalmers, por isso imagino que ele volte para essa temporada como titular, mas vai ser uma briga longa. Se o Chalmers não estiver calibrado de longa distância quando sobrar livre (o que vai acontecer bastante) e se não for bom o bastante para segurar a armação, deverá perder lugar. O negócio é que ele poderá perder a vaga para outro cara que não é o Arroyo. O carequinha deve ter sua chance, óbvio, mas existe uma boa e real possibilidade do armador titular ser outro dos contratados dessa offseason, Mike Miller.

O MM, além de força capilar fora de série, tem um exímio arremesso de longa distância. Com Bosh, Wade e LeBron agredindo a cesta, é de se esperar que os adversários organizem uma defesa com três zagueiros, quatro volantes e os atacantes voltando pra ajudar. Até porque embora tenham melhorado, nem LeBron e nem Wade são conhecidos pelos arremessos de longe. Para desafogar essa defesa eles foram atrás de arremessadores. James Jones será a opção do banco de reservas, um cara limitado mas com o talento que eles precisam, e o outro é o Mike Miller. O que faz a loirinha ter chances de ser titular é que ele já quebrou o galho na armação durante vários períodos da carreira. Às vezes por alguns jogos, outras vezes apenas durante uns pedaços do jogo, mas o importante é que tem experiência em conduzir a bola, driblar e passar. Sem contar que a responsabilidade poderia ser dividida com Dwyane Wade e LeBron James, que já têm mais horas de experiência armando o jogo do que a Hebe tem de televisão.

Todo mundo lembra do LeBron carregando a bola da defesa pro ataque e comandando o Cavs, como o Wade sempre fez no Heat, principalmente em quartos períodos. Os dois casos não são o ideal, mas podem ser feitos e liberariam o Mike Miller para ser um armador de ocasião que está lá para arremessar. Na defesa não haveria problema também porque o próprio Wade é veloz o bastante para marcar os armadores adversários, deixando o Mike Miller com os mais altos.

Como o Eric Spoelstra não foi muito de inventar mesmo quando tinha um elenco capenga e cheio de falhas, imagino que o Chalmers seja a primeira opção e o Arroyo a segunda, mas eventualmente Mike Miller vai jogar com o time titular e dependendo do resultado pode virar a formação ideal do Heat.

O outro buraco no time titular estava na posição de pivô. Para essa vaga eles renovaram o contrato do Joel Anthony e tiraram mais um jogador do Cavs, Zydrunas Ilgauskas, que por ter voltado ao Cavs no ano passado após ter sido trocado, pela forma que anunciou sua saída e pela carta que publicou agradecendo o povo de Cleveland, deve estar sendo um pouco menos odiado que LeBron.

No final da temporada passada o Joel Anthony foi titular absoluto. Foi naquele período de dois meses em que o Heat ganhou de todo mundo e ficou entre as três melhores defesas da NBA e entre os três com mais vitórias. O Anthony é tão útil para o ataque do Heat quanto eu sou para a questão da paz no Oriente Médio, mas foi uma fortaleza defensiva. Nos 16 jogos em que foi titular teve média de 5 rebotes e 2 tocos por jogo, além de ser muito bom no homem-a-homem.

Já o Ilgauskas todo mundo conhece, não é grande coisa na defesa porque é muito lento, mas compensa atrapalhando na altura, dando uns tocos e garantindo uns rebotes. O negócio do Big Z é no ataque, onde ele abre a defesa adversária com seu bom arremesso de meia distância e até eventuais bolas de três, como naquele jogo épico contra o Sacramento Kings quando acertou três bolas de 3 pontos só na prorrogação. Os arremessos do Ilgauskas são bons para forçar os pivôs a sairem do garrafão. Seria útil por exemplo para forçar o Dwight Howard a não ficar lá embaixo da cesta atrapalhando as infiltrações de Bosh, Wade e LeBron.

Claramente o Ilgauskas é a melhor opção ofensiva e o Joel Anthony a defensiva, saber quem vai ser o titular e depois quem vai ter mais tempo de quadra será importante para saber que tipo de time o Spoelstra está pensando em montar.

Assim como na armação há também a opção do improviso. Ao invés de Anthony, pura defesa, ou Ilgauskas, ataque, podem usar o Udonis Haslem. O jogador com mais tempo de Miami nesse elenco, junto com o Wade, sempre foi um líder dentro do vestiário da equipe e quase uma exigência do D-Wade para essa temporada. Haslem teve propostas mais lucrativas (dizem que do Jazz), mas não quis deixar seu time bem quando ele estaria mais forte do que nunca.

Com a presença do Bosh ele nunca vai ser titular na ala de força, e é pouco provável que arrisquem usá-lo como pivô sendo que tem apenas 2,03m de altura. Seria possível improvisar o Bosh, mas ele teria um ataque de choro e pediria para ser trocado na hora. Mas não duvide que Bosh e Haslem dividam minutos em quadra durante os jogos. O Haslem é um excelente defensor, mesmo quando enfrenta caras muito mais altos, mais ou menos como o Chuck Hayes faz no Houston Rockets. Se o pivô adversário não for nenhum monstro é possível que o Haslem entre em quadra na posição 5 mesmo sendo muito baixo. Além da boa defesa, ele tem um arremesso de meia distância que é automático, certeiro desde seu primeiro ano na NBA.

Tirando a altura, Haslem seria o cara ideal para jogar como pivô, por isso considero a chance do improviso, mas talvez apenas para alguns momentos do jogo. Meu palpite, hoje, seria que o Heat começa os jogos com Chalmers, Wade, LeBron, Bosh e Ilgauskas. Mas apostaria que eles terminam as partidas mais complicadas com Mike Miller, Wade, LeBron, Bosh e Haslem.

Além dos que brigam por vagas no time titular, o Heat foi buscar mais gente para completar o elenco. Eles tem agora o Eddie House, que pelo menos umas duas ou três vezes na temporada ou nos playoffs vai ganhar jogos sozinho com arremessos de três consecutivos, o Shavlik Randolph, um ala de força branquelo que é um bom reboteiro e deverá quebrar um galho de vez em quando e, ainda no grupo de estrelas do garbage time, que vão fazer a festa sempre que o time titular abrir 20 pontos de vantagem antes do quarto período, Kenny Hasbrouck, um armador que fez história por ser o primeiro a sair da Universidade de Sienna para a NBA e que eu nunca vi jogar na vida.

Como terceiro pivô eles contrataram o Jamaal Magloire, que eu acho um pedaço de carne desforme e imprestável. Em 11 anos de NBA ele foi bom em apenas duas temporadas, a 2002-03 e 03-04, ambas pelo New Orleans Hornets. Na segunda ele até conseguiu a proeza de ser um All-Star, tamanha era a falta de bons pivôs no Leste naquele ano (o Hornets foi do Leste até a entrada do Charlotte Bobcats na liga em 2004-05). E pior, ele ainda foi o cestinha do Leste com 19 pontos naquele All-Star Game! No vídeo abaixo ele aparece com uma enterrada, sofrendo um toco (que foi na descendente) do Shaq e fazendo uma falta grosseira no mesmo Shaq, que resultou em pontos para o Oeste e piada em frente às câmeras.



(nota sobre o vídeo: o passe de esquerda do Kidd para o Kenyon Martin no primeiro tempo é uma das assistências mais lindas que eu já vi na vida. É bom relembrar como T-Mac, Vince Carter e Allen Iverson eram bons)

Depois dessa boa (mas não de All-Star!) campanha, ele foi ganhando um contrato atrás do outro apenas vivendo do passado, nunca fez mais nada de útil na NBA. Tá bom que terceiros pivôs não costumam ser grande coisa, o Lakers foi campeão com o DJ Mbenga, mas o Heat poderia ter ido atrás de um que enganasse melhor.

Eu esperava que o Heat fosse conseguir mais jogadores de nome e experiência na busca para fechar o elenco, ao invés disso pegaram muita gente que pouco viu a cara dos playoffs. Mas assim como Rondo e Perkins encararam a novidade da pós-temporada em 2008 com naturalidade, no embalo do trio de líderes, acho que o Heat não terá problemas se LeBron, Wade e Bosh exercerem bem a liderança da equipe.

A liderança passa pelos treinos, discurso pré-jogo, atitude em quadra, toques e broncas nos momentos difíceis e em palavras de confiança e calma na hora certa. O Celtics tinha Garnett e Doc Rivers muito bem nesse papel de líder e assim o bom elenco não se perdeu. O Heat conseguiu as estrelas e agora as boas peças de apoio, falta testar a liderança.

...
Coloquei ontem no ar uma planilha com os elencos dos 30 times da NBA. Está separado por divisão e as equipes entre titulares, reservas e o resto que compõe o elenco. Talvez ainda faltem alguns jogadores e os times titulares são, por enquanto, palpites. Mas com o passar do tempo e da temporada vamos sempre atualizar com os ajustes necessários. Espero que seja útil para quem é curioso, pra consultar ou só para arrumar os elencos no seu NBA 2k10.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Os novos elencos

Big Ben nem ouve LeBron, apenas pensa num plano para matar Pavlovic e poder jogar de novo com a camisa número 3


Mal deu tempo de decorar todas as trocas que aconteceram, foram trocentas e as mais importantes se concretizaram de repente, no último minuto, sem sequer terem sido cogitadas na mídia antes. Isso torna nossa vida lendo sites de boatos um bocado inútil, mas agora é tarde, o vício já está feito. A brincadeira da moda, agora, além de namorar pelado e lembrar direitinho de todas as trocas, é assistir os times com suas novas caras.

Dei uma olhada no Mavs de Jason Kidd para ver como estão as coisas. Foram 15 assistências contra o Grizzlies e 17 assistências contra o Wolves, resultando numa média de 11 assistências por jogo e incrívels 4 roubos de bola por partida vestindo a camiseta do Dallas. Assisti a partida contra o Wolves e nos minutos iniciais, fiquei me perguntando se aquele careca perdendo a bola e se confundindo inteiro no ataque era mesmo Jason Kidd ou se era seu filho cabeçudo que resolveu ir trabalhar no lugar do papai que estava doente. Mas aí bastaram quatro assistências em quatro posses de bola seguidas, ainda no primeiro quarto, para que a suspeita desaparecesse. Jason Kidd ainda é o mesmo, só demora um pouco para esquentar e às vezes fica um bocado de escanteio. O Dallas está acostumado a não ter um armador principal, chama muitas jogadas em que Kidd sequer participa, mas durante todo o jogo o talento fala mais alto, os passes vão surgindo com naturalidade, ensaiados ou não, e a vida de todo mundo fica mais fácil. Nowitzki e Jason Terry estão fazendo a festa, tendo arremessos livres que antes nem imaginavam, mas curiosamente é o pivô destrambelhado Erick Dampier quem mais se favoreceu com a chegada do armador. Aquela cara de bocó e a falta de talento são famosas na NBA e ele é constantemente deixado sem marcação. Com a presença de Kidd, falhas de marcação viram enterradas fáceis. Eis aí como Kenyon Martin e Mikki Moore pareciam ser grandes merdas no Nets.

Minha única preocupação com o experimento Kidd, que por enquanto é um sucesso absoluto, é o que diabos o Dallas vai fazer contra os armadores adversários. Kidd foi engolido vivo por Chris Paul em seu primeiro jogo pelo Dallas, mas contra o Wolves também passou bastante vergonha sendo incapaz de parar Sebastian Telfair, o primo menos desmiolado do Marbury. Na hora dos playoffs, Kidd enfrentará Chris Paul, Deron Williams, Tony Parker, Baron Davis. E aí, vão colocar quem para marcar esses caras? Dá para imaginar que tipo de atrocidade Tony Parker e Manu Ginobili fariam sendo defendidos por Kidd e Jason Terry? Fica aí algo no que se pensar. Talvez mandar Trenton Hassel para o Nets não tenha sido uma idéia tão boa assim.

Outro time que estreiou elenco novo foi o Cavs. LeBron está cercado de amiguinhos novos para brincar e eu, pelo menos, gostei muito do resultado. Assisti Cavs e Grizzlies e fiquei muito impressionado com a inteligência e entrosamento imediato do time de Cleveland. Mas pode ter sido só uma ilusão de ótica porque o Grizzlies é tão ruim que até queimou minhas retinas. Ainda assim, Delonte West se saiu bem apesar de não ser um armador tradicional, Wally Szczczczcz(...) fez bem o seu papel apesar de não acertar os malditos arremessos e o Joe Smith mostrou porque era um dos melhores jogadores do Bulls, matando bolas fáceis e sendo consistente. Mas o negócio foi bom mesmo é pro Ben Wallance. Algo a se pensar: o Cavs foi campeão do Leste na temporada passada por ser uma das melhores defesas da NBA, certo? Por ser o time líder em rebotes ofensivos, certo? E o que acontece quando você coloca Big Ben num time voltado para a defesa e para os rebotes ofensivos? Se fosse o Show do Milhão e você respondesse "casamento perfeito", ganharia os parabéns do Seu Sílvio.

Ben Wallace parece que nasceu para esse esquema, jogou sentindo que pertencia, empolgado, feliz de ter sido trocado. Não forçou um arremesso sequer, passou a bola (ele é melhor passador do que se dá crédito, mesmo nos tempos de Chicago Bulls) e até acertou os lances livres. Depois do jogo, soltou:

"A torcida foi ótima! Não me vaiaram. Isso é novo para mim."

Pelo contrário, a torcida vibrou loucamente. Ele e Ilgauskas são um par perfeito e vão ter lindos filhinhos brancos com cara de sono e cabelo black power. Eu considero o Ilgauskas o melhor reboteiro ofensivo de toda a NBA. Ele pode não agarrar os rebotes, mas ele está sempre no lugar certo para dar um tapa, atrapalhar, manter a bola viva. É inteligente, salva bolas dando tapinhas para companheiros e isso não está nas estatísticas. Com Big Ben agarrando os rebotes com sua força costumeira, aí está um time assustador com umas quinhentas posses de bola a mais por jogo. Que tal?

Além disso, acho que vale a pena mencionar o Devin Brown. Ele não veio nesse mar de trocas, está no elenco desde o começo da temporada, mas sempre gostei dele desde que foi campeão com o Spurs. E olha que para eu gostar de alguém do Spurs o negócio tem que ser sério. Mas é que Devin Brown ataca a cesta, defende, acerta arremessos importantes e é tipo o avião invisível da Mulher-Maravilha, parece tão idiota que todo mundo esquece que está lá, mas pode salvar a pele da galera na hora do aperto. Pra mim, deveria se manter como titular do Cavs. Até porque a concorrência é mamata: Damon Jones (o auto-entitulado "melhor arremessador do mundo") está acertando seus arremessos, pode ser mortal às vezes, mas não defende, não arma, não come, não respira - só arremessa.

Como não sou de ferro, resolvi assistir e comentar a nova cara do Houston Rockets. Não porque ele foi transformado por trocas, mas por contusões. Com Yao Ming fora, meu Houston entrou em quadra com Mutombo titular. O resultado? São agora 13 vitórias seguidas, dessa vez em cima do Wizards que, mesmo muito desfalcado, acabara de vencer o Hornets. Tudo isso com plaquinhas na torcida do tipo "Ainda acreditamos" e "13-0, façam pelo Yao!". Tocante.

Muita gente por aí disse que o Houston deveria assinar o Jamaal Magloire para substituir o Yao Ming. Deixa eu dizer uma coisa: ninguém no mundo precisa do Magloire a não ser que seja para trocar uma lâmpada muito alta ou levar um rodízio de carnes à falência. Acreditem ou não, o Rockets tem banco de reservas para ter uma rotação grande, versátil e sólida. Os pontos no garrafão, meu maior medo sem Yao, não viriam com Magloire, de qualquer jeito. Então, para o bem da geladeira do meu time, é melhor deixar ele para lá.

Para continuar a sequência de vitórias, o Houston teve que encontrar espaços que sumiram sem Yao em quadra. O chinês recebe marcação dupla o tempo todo, gerando muitos arremessos livres de trás da linha de três pontos. Sem ele, a movimentação de bola foi fator fundamental e o Houston passou a bola de forma veloz e inteligente. Os piores momentos do time foram justamente quando T-Mac resolveu forçar o jogo e os passes, até então impecáveis, pararam. Mas o Rockets ganhou o jogo foi mesmo na defesa. Sem poder afunilar o garrafão na direção de Yao, cada um apertou mais seu homem no perímetro e Mutombo mostrou para o que veio.

Lembrem bem disso: nunca desconsiderem Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo só porque ele tem 4.000 anos de idade. Ele jogou pouco, foi bastante poupado, mas enquanto esteve em quadra (pouco mais de 20 minutos) deu quatro tocos, um para fora da quadra, e por três vezes fez o clássico sinal de "não" com o dedinho, ganhando uma falta técnica numa dessas vezes porque a NBA é um troço chato e o David Stern come meleca de nariz.

Mutombo deu seus tocos, o novato Carl Landry pegou uma chuva de rebotes ofensivos e acertou arremessos de fora do garrafão que deixaram Yao orgulhoso (o chinês não parou de dar conselhos para o novato no banco de reservas), Chuck Hayes defendeu muito bem cavando faltas e Scola acertou todos os seus arremessos. Aí está o garrafão do Houston. Não é um sonho mas não pode ser desconsiderado. Jogando entrosado como está, com velocidade, se mostrando de repente um dos melhores times da Liga em contra-ataques, talvez a ida aos playoffs aconteça de modo mais fácil do que eu imaginava. Para então sermos comidos vivos por Duncan, Boozer, Gasol, esses caras grandinhos por aí que, como o mundo é injusto, não quebraram o pé esses dias.

Mas nesses tempos em que até o Heat conseguiu uma vitória, tudo é possível.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Draftados em 2003 - parte 4

Lampe teve que abaixar o braço logo para ninguém perceber que ele fedia


Finalmente chegamos à última parte de nossa série de artigos sobre os draftados em 2003. Até agora, acompanhamos uma a uma as escolhas da primeira rodada, analisando o passado e o futuro de cada jogador. Alguns compõe o seleto grupo dos melhores da Liga, outros fazem parte do enorme grupo de jogadores que desapareceram sem deixar rastros.

Na primeira parte, analisamos as primeiras escolhas, que incluiam aquele tal de LeBron James, que dizem que é bom. Depois, na segunda parte, David West salvou o grupo do ostracismo total. Na terceira parte, Leandrinho e Josh Howard, as duas últimas escolhas da primeira rodada, fizeram os outros times se arrependerem mais do que a mãe do Gilberto Barros.

Na ansiosamente aguardada (por mim, pelo menos) última parte do artigo, veremos algumas escolhas selecionadas do segundo round. E, para finalizar, farei um exercício de imaginação: como seria o draft se acontecesse nos dias de hoje?


30 - Maciej Lampe (New York Knicks)

O Lampe era um dos jogadores europeus mais promissores de todo o draft. Se falava absurdos dele e seu potencial deixava todo mundo boquiaberto. Começou sendo cotado como uma das primeiras 5 escolhas, depois como uma das primeiras 10 e enfim estacionou como uma das primeiras 15 escolhas. O que o fazia cada vez mais despencar nos "mock drafts" (ou seja, nos drafts de mentirinha em que os especialistas chutam, e chutam mal) era o valor da recisão de seu contrato com seu clube europeu, o Real Madrid. Ainda assim, Lampe aparecia em todas as fotos conjuntas das "estrelas do draft" e era um consenso o fato de que já teria sido escolhido antes da 16a escolha.

Não foi o que aconteceu. O Lampe ficou lá, sentadinho na sala, vendo um a um os jogadores sendo chamados para apertar a mão sebosa do David Stern. Ver Cabarkapa, Pavlovic e Planinic sendo escolhidos antes dele deve ter lhe causado uma síncope e ele nunca mais seria o mesmo. Quando o primeiro round (e a chance de um contrato garantido) acabou, Maciej Lampe ainda não havia sido escolhido. Seu nome só foi anunciado para iniciar o segundo round, e a torcida de New York foi ao delírio. Era um jogador que poderia ter sido uma das dez primeiras escolhas e havia escorregado até a trigésima, direto para as mãos do Knicks. Lampe foi aplaudido, ovacionado, adorado, amado e até gritaram "gostoso!". Na platéia, um rapaz levantou uma placa com os dizeres "Light the Lampe", um trocadilho até que muito bom, levando em conta que todos os trocadilhos fedem.

Na entrevista logo após ter sido escolhido, Lampe tinha sangue nos olhos e parecia que sua cabeça estava preparando chá. Suas palavras foram furiosas e diretas: iria fazer cada um dos times da NBA se arrepender profundamente por ter deixado ele passar no primeiro round. Era uma jornada pessoal, uma busca por vingança, um jogador telentoso querendo acabar com a raça daqueles times muquiranas.

O Knicks pagou a multa, o Lampe foi imediatamente para a NBA, mas obviamente havia algo errado: como assim Isiah Thomas havia draftado alguém de que a torcida gostava? Como assim os fãs estavam feliz com a escolha? Era preciso fazer alguma coisa. Lampe foi trocado, junto com McDyess e duas escolhas de draft, pelo Marbury e o Hardaway, que aliás se saiu muito bem em mamar nas tetas do Knicks sem jogar.

No Suns, Lampe foi pouco utilizado mas dava seus primeiros sinais de feder. Foi então trocado para o Hornets, onde até teve mais chances mas fedeu do mesmo jeito, e aí foi para o Houston, onde marcou um total de 4 pontos em 4 partidas e desapareceu para nunca mais voltar. Vingança frustrada, moral destruída. E a multa de seu contrato salvou um punhado de times de cometer o maior engano de suas vidas.

31 - Jason Kapono (Cleveland Cavaliers)

Nada mal para uma escolha de segundo round. Trata-se de um jogador especialista que, aliás, tem a melhor média de aproveitamento em arremessos de 3 pontos de todos os tempos. Ele não chuta em grandes quantidades mas acerta o bastante para ser útil em qualquer equipe. O Bobcats arriscou, pegou o garoto no draft de expansão, e então o trocou para o Heat onde foi parte fundamental da equipe que foi campeã da NBA. O Pat Riley tentou de tudo para mantê-lo no time para essa temporada mas o Raptors desembolsou mais verdinhas e o Kapono resolveu ir para lá ser um homem rico no banco de reservas. Se bem que é melhor ser reserva no Raptors do que qualquer coisa no Heat, convenhamos. O Kapono foi perdendo seus minutos principalmente com a ascenção maluca do Jamario Moon, mas ele sempre vai ter seu espaço, sua função, e o Raptors tem potencial para acabar com o Leste assim que o Ray Allen estiver de cadeira de rodas e o Garnett só puder tomar purê de maçã no asilo.

32 - Luke Walton (Los Angeles Lakers)

Eu amo essa escolha. Vamos fazer uma pequena retrospectiva: Mike Sweetney foi a nona escolha, Reece Gaines a décima quinta, Troy Bell a décima sexta. O Lakers mesmo escolheu o Brian Cook na vigésima quarta posição. Quanto dinheiro indo pelo ralo, quantas escolhas desperdiçadas, quantos torcedores tendo que tomar anti-depressivos. E aí no segundo round, com a trigésima segunda escolha, o Lakers consegue draftar um jogador inteligente o bastante para ajudar qualquer equipe da NBA. Ele toma decisões espertas o tempo inteiro, passa a bola surrealmente bem, sempre sabe o que fazer e ainda pode cuidar das finanças da equipe sem nem usar uma calculadora. O cara é um gênio do ponto de vista do basquete cerebral. Se não tem a mão tão calibrada, se o físico é o de uma menina de pré-escola, isso nem vem ao caso. Sua mente, suas decisões, melhoram times inteiros.

Shaquille O'Neal ficou intrigado nos playoffs da temporada 2003-04 quando percebeu, e disse isso para a imprensa, que Luke Walton conseguia passar a bola para suas mãos como nenhum outro jogador jamais havia conseguido. Taí algo que eu colocaria no meu currículo. E já seria motivo o bastante para o Heat tentar uma troca, hoje em dia.

38 - Steve Blake (Washington Wizards)

Outro com um cérebro feito para o basquete. No Wizards, nunca teve muitas chances, mas assim que seu contrato acabou, foi para o Blazers jogar com seu amigo (de faculdade e também do Wizards) Juan Dixon. Lá começou a mostrar seu potencial como um armador cheio de fundamentos, habilidade em passar a bola e visão de jogo. Quando o Blazers o trocou por Jamaal Magloire, o Blake ficou revoltado. Por que diabos os times da NBA insistem em acreditar que o Magloire vai fazer alguma coisa em quadra? Blake então foi trocado para o Nuggets e fez miséria, mostrando-se ser a peça que faltava para o Nuggets de Iverson e Carmelo. Ele era o elo de ligação entre as estrelas, o general da equipe, e o time de Denver fez o possível para mantê-lo. Acontece que o Blake nunca queria ter saído de Portland, gostava da equipe, da cidade, dos amigos. Voltou para lá mesmo ganhando menos, mostrando-se um homem de princípios e também de visão: de alguma maneira estranha, sabia que a administração do Blazers estava ajeitando as coisas e que a equipe tinha futuro e poderia chegar aos playoffs ainda nessa temporada. Agora, o céu é o limite tanto para o Blake quanto para o Blazers. O que os outros times estavam pensando quando deixaram ele escorregar quase para a quadragésima escolha?

Aqui, acho que é hora de abrir um parênteses. Nosso amigo-leitor Sbubs escreveu em seu blog um post muito divertido sobre a "força nominal". Com ele em mente, fica bem claro que os times que não fazem a menor idéia de quem draftar apelam para a força do nome dos novatos. No segundo round, isso é ainda mais óbvio. São nomes demais, jogadores internacionais aos montes, então na dúvida o nome é que faz a diferença. O Steve Blake, um armador talentosíssimo, por exemplo, foi escolhido atrás de nomes como Sofoklis Schortsanitis (o tal do Baby Shaq que nunca sequer chegou a jogar na NBA) e Szymon Szewczyk (que eu adoraria saber pronunciar). Força nominal? Com certeza.

41 - Willie Green (Seattle Supersonics)

Imediatamente depois de draftado, foi trocado para o Sixers pelo outro novato Paccelis Morlende, outro caso de força nominal. Green não fez nada até agora mas o caso dele é engraçado. Nos raros momentos em que o Iverson se machucava, Willie Green entrava como titular e fazia trocentos trilhões de pontos. Quando o Iverson voltava e o Green ia para o banco, não conseguia fazer coisa alguma. Ele é um Ben Gordon do Mundo Bizarro, que só produz quando titular. Pode ter certeza que ele estava na mente dos responsáveis pelo Sixers quando a troca do Iverson precisava ser feita, e Louis Williams e Green podem ser a base do Sixers daqui uns anos. É claro que vai ser a pior base da NBA, mas pelo menos é alguma coisa. Pergunta qual é a base do Miami Heat, pergunta.

45 - Matt Bonner (Chicago Bulls)

Todo mundo quer o próximo branquelo gigante que arremesse de 3 pontos e muitos europeus vesgos e mancos já foram draftados sem nunca sequer jogar, tudo em busca dessa promessa. O Bonner, quem diria, é algo bem perto disso. Foi trocado para o Raptors que gostou de seu potencial mas o mandou para a Europa por um ano enquanto eles arrumavam espaço no time. Quando voltou, teve boas atuações. Seu jumper é bom, ele pode ser bem físico, mas é muito engraçado quando tenta bater bola.

Em todo caso, chamou a atenção do pessoal no Spurs, que definitivamente sabe reconhecer um talento quando vê um, e foi trocado pelo Nesterovic. Ganhar minutos no Spurs não é fácil mas o Bonner conquistou seu espaço, jogando muito bem quando o Duncan estava machucado e saindo do posto de jogador-de-final-de-partida-ganha para assumir o papel que o Horry, agora embebido em formol, executava. Bom para o Bonner que, depois de ser obrigado a passar um ano de cão na Itália, tem chances de ganhar um anel de campeão.

47 - Mo Williams (Utah Jazz)

Como o Zach Randolph seria se fosse um armador baixinho e magro? A resposta: Mo Williams. Ele faz seus pontos, dá suas assistências (tá bom, tá bom, o Randolph não daria assistências) e deixa sua marca no jogo e nos boxscores, mas o sujeito é completamente psicótico, perdido, um buraco negro. A bola chega em suas mãos e só sai se for terrivelmente necessário, ele acha que pode decidir todos os jogos e arremessa mesmo se tiver os melhores companheiros de time livres do seu lado. Perdi a conta do número de vezes em que ele tentou dar o último arremesso de jogos importantes com o Michael Redd livre do seu lado.

Tem gente que gosta dele, diz que ele joga demais, e não deixa de ser verdade, ele é bom pra burro. Mas é o cara que dá vontade de pedir uma medida judicial para prendê-lo caso chegue a menos de 500 metros do seu time. Mesmo sendo bom, deixo claro.

Vale mencionar que ele foi draftado depois de sujeitos como Sani Becirovic, Malick Badiane e Derrick Zimmerman, obviamente porque o nome "Mo Williams" não vale nem 10 centavos.

49 - James Jones (Indiana Pacers)

Coisa de louco, mas sempre gostei do James Jones e nem é por causa do nome visivelmente poderoso (e falso). No Pacers, mal jogou. No Suns, chegou a ter um papel bem definido como o cara biruta que vem do banco para chutar como um louco e às vezes se saia muito bem, mostrando potencial atlético, chutes calibrados e rebotes acima da média. No entanto, foi só no Blazers que ele conseguiu minutos de verdade, já que o Suns não gosta muito de reservas. Em Portland, seu papel de atirador vindo do banco é bem específico e James Jones brilha desempenhando a função, acertando mais da metade de seus arremessos de 3. Ele tem talento, é parte importante dessa equipe cheia de futuro e pode ter um anel mais participativo do que aquele que o Darko ganhou no Pistons.

51 - Kyle Korver (New Jersey Nets)

Se você precisa de um cara ultra-religioso que saiba arremessar de trás da linha de 3 pontos, esse é seu homem. Tanto pela pontaria de fora quanto pela religião, ele é perfeito para o Utah Jazz.

O segundo round costuma ter vários jogadores que são mais especialistas em alguma coisa ao invés de serem cheios de potencial e bons em tudo quanto é aspecto do jogo. Depois do Korver, os escolhidos foram Xue Yuyang, Rick Rickert e Andreas Glyniadakis, forças nominais sem nenhum talento. Então o Korver foi uma barganha porque tem talento, é muito competente naquilo que faz e, após a recente troca para o Jazz, até mostrou que sabe defender. O time de Utah precisa dele e Korver vai ter chances de se mostrar, adquirir a carga tática necessária para se jogar para o Jerry Sloan e pode florecer por lá tendo um papel importante para o resto do time, talvez até titular, quem sabe. O futuro, pelo menos, é melhor do que o passado.

...

Agora, a hora da verdade: minha lista com o draft refeito. Como os times teriam escolhido se pudessem olhar numa bola de cristal rumo ao futuro, sabendo como os jogadores se sairiam? Como o Isiah Thomas teria feito se soubesse o futuro e, além disso, tivesse um cérebro?

Caso você não concorde com minha lista, coloque a sua própria na caixa de comentários para todo mundo ver e opinar. Só não vale não colocar o LeBron em primeiro lugar, porque a polêmica resultante de tal ação iria sobrecarregar os servidores e tirar o blog do ar. Não queremos isso, queremos? Então lá vai minha lista:

1 - LeBron James (Cleveland Cavaliers)

2 - Carmelo Anthony (Detroit Pistons)

3 - Dwyane Wade (Denver Nuggets)

4 - Chris Bosh (Toronto Raptors)

5 - Chris Kaman (Miami Heat)

6 - Josh Howard (Los Angeles Clippers)

7 - David West (Chicago Bulls)

8 - Leandro Barbosa (Milwaukee Bucks)

9 - Nick Collison (New York Knicks)

10 - TJ Ford (Washington Wizards)

11 - Mo Williams (Golden State Warriors)

12 - Kirk Hinrich (Seattle Supersonics)

13 - Boris Diaw (Memphis Grizzlies)

14 - Luke Walton (Seattle Supersonics)

15 - Steve Blake (Orlando Magic)

16 - Jason Kapono (Boston Celtics)

17 - Darko Milicic (Phoenix Suns)

18 - Jarvis Hayes (New Orleans Hornets)

19 - Travis Outlaw (Utah Jazz)

20 - Luke Ridnour (Boston Celtics)

21 - Willie Green (Atlanta Hawks)

22 - Kendrick Perkins (New Jersey Nets)

23 - Mickael Pietrus (Portland Trail Blazers)

24 - James Jones (Los Angeles Lakers)

25 - Matt Bonner (Detroit Pistons)

26 - Carlos Delfino (Minessota Timberwolves)

27 - Kyle Korver (Memphis Grizzlies)

28 - Marcus Banks (San Antonio Spurs)

29 - Aleksandar Pavlovic (Dallas Mavericks)


Alguns times ficariam bastante interessantes. Que tal o Bulls, que tem até hoje problemas em fazer pontos no garrafão, com David West mostrando seu arsenal ofensivo? Que tal o Denver de Wade e Iverson, cobrando uns 3 milhões de lances livres por jogo? E o Boston Celtics com Ridnour como reserva do Rajon Rondo? Tudo isso sem falar, claro, no Pistons de Carmelo Anthony. Teria o experimento fracassado por duelo de egos ou seria o Pistons, agora, o time mais vencedor dos últimos anos?

Sem bolas de cristal que funcionem, continuaremos vendo drafts com as escolhas mais estapafúrdias que sumirão em poucos minutos. Que outras escolhas será que assombram para sempre os drafts de outros anos? Nossa série continua num próximo post, analisando outra turma de novatos. Deixe aí, na caixa de comentários, qual ano do draft você gostaria que fosse o tema de nossa próxima série de textos. Enquanto isso, vou colocar o Carmelo no Pistons do meu videogame e dar uma olhada no tipo de estrago que dá pra fazer...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Kidd para técnico

Jason Kidd disputa rebote com o Amaré enquanto seus pivôs comem rosquinhas


O Jason Kidd não existe, ele é só uma ilusão de ótica. São seis triple-doubles na temporada, dois nos últimos dois jogos, e uma média surreal de 11 pontos, 10.4 assistências e 8.7 rebotes por jogo. Tá bom que ele só acerta 37% dos seus arremessos (motivo pelo qual umas almas maldosas chamam ele de Ason Kidd, já que ele não tem "J", de "jumper") mas também não é como se ele desse taaantos arremessos assim.

Mas que fique claro que essas médias históricas escondem muito mais por trás. Se tem um cara que torna seus companheiros melhores e faz as coisas funcionarem é o Jason Kidd. O Kenyon Martin, por exemplo, era um monstro troglodita que podia saltar pra estratosfera e enterrar até o aro cair. Alguns anos ao lado de Kidd tendo cadeira cativa nos Top 10 de melhores jogadas (na base de enterradas e pontes-aéreas) fizeram até ele parecer um grande jogador. Conseguiu aquele baita contrato monstro com o Nuggets mas o que o pessoal do Denver tinha esquecido é que o Kidd não vem de brinde no pacote. O mesmo aconteceu com o Mikki Moore: grande, forte, raçudo, mas consegue ter menos talento do que o Gilberto Barros cantando na TV. Bastou jogar com o Kidd e, voilá, arrumou um contrato bacana com o Kings. Se eu jogasse uma temporada ao lado dele, conseguiria um contrato milionário com o Knicks e aí poderia me aposentar rapidinho, comprar o Mavs e ficar lá torcendo e enchendo o saco do David Stern como o Mark Cuban. Tá tudo planejado na minha cabeça...

O Kidd torna todo mundo melhor e o punhado de manés que dizem que "o Kidd joga pros números" merece uma noite na ópera com o Tim Duncan. Quando o Kidd consegue 16 assistências, está tirando água de pedra. Quando consegue 19 rebotes (como nessa temporada, contra o Orlando) é porque se ele não pegar, ninguém pega. Tenho certeza que se algum pivô no Nets se desse ao trabalho de pelo menos levantar as mãos, o Kidd não pegaria 19 rebotes nem se quisesse.

Então, já que fazer triple-doubles a torto e a direito não está fazendo o Nets ganhar, o time mais perdeu do que venceu, e culpar o Kidd por isso é heresia punida com 6 meses assistindo só ao programa da Luciana Gimenez, vamos apontar os dedos com olhar de indignação em direção aos pivôs do Nets.

Olha, eu até sou fã do Nenad Krstic. Ele tem classe, joga bem, mas é tão pivô quanto o Sam Cassel é galã (a foto ao lado é auto-explicativa). O Nenad é um ala improvisado que se contundiu feio na temporada passada, voltou completamente fora de forma e agora parece contundido de novo.

Fora ele, o Nets contratou o Jamaal Magloire, antigo All-Star. Assim que vi a contratação eu gastei uns 3 segundos da minha vida me perguntando se o físico roliço do Jamaal iria se encaixar nos contra-ataques do Nets. Arrisco que a resposta seja não mas ele também não conseguiu ficar saudável tempo o bastante para botar à prova.

Já Jason Collins é um corpo grande que, dizem, é bom na defesa. Os números não dizem, as estatísticas não dizem, ver os jogos não diz, conhecer ele pessoalmente e filar uma bóia na casa dele não diz, sair com sua irmã não diz, mas o técnico do Nets diz. Então esse inútil volta e meia é o titular como se estivesse tudo bem colocar o "morto muito louco" num time da NBA. Outro titular recentemente é o Malik Allen, contratado pra dar uma mãozinha. Ele é um excelente décimo homem vindo do banco, faz uns pontinhos, não defende e não pega rebotes. Mas se ele é titular no Nets, eu também seria.

Bem, com esse nível no garrafão, a minha maior dúvida continua sendo qual diabos seria a razão pra pivetada do Nets não receber uma chance. Eu, pessoalmente, pago um pau pro Josh Boone. Ele tá cru como sushi, precisa de mais uns anos e oportunidades em quadra para se desenvolver, mas se tem uma coisa que o fedelho sabe fazer é pegar rebote. Tenho certeza que com ele em quadra, o Kidd não teria que pegar uns 19 em jogo nenhum. Das 22 partidas até agora, Boone só entrou em 15 delas, com minutos módicos. Na temporada passada, era a mesma coisa. Juro que não entendo, o cara pelo menos é grande e tem cordenação para trocar uma lâmpada ao invés do Magloire, que comeria a lâmpada.

O mistério maior para mim, no entanto, é o novato do Nets, Sean Williams. O cara é uma deformidade da natureza, um espécime de força bruta que deveria ser estudado no zoológico. Tem médias de 2 tocos por jogo até agora mas também é fadado a ter minutos escassos. Jogou 17 partidas e não há consistência nenhuma no uso dele em quadra: jogo uma partida, não joga as outras duas, e assim vamos indo. O Nets deu sorte de poder pegar o Sean porque sua fama de ser fã da famosa "ervinha" fez com que vários times tivessem medo de draftá-lo. Baita sorte mesmo, o rapaz por enquanto se mostra um moço comportado, mas quem será que ele vai ter que matar para roubar uma vaga do Malik Allen ou do Jason Collins? Quando o Collins amanhecer com a boca cheia de formiga, aí vão começar a pegar no pé do Sean Williams e dizer que ele é maloqueiro. Mas pode apostar que o Collins pediu por essa!

Debaixo da infinidade de rumores de troca do Kidd, o problema parece ser outro. Se não bastassem as contusões, parece que alguém não muito inteligente anda tomando as decisões no banco de reservas de New Jersey. Se fosse eu, colocava o Kidd de técnico de uma vez. Afinal, se o Romário pode, por que o Kidd não?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pivôs sofrem

Yao e Shaq tomando cuidado para não pisar na Aguilera


Pivô é uma posiçãozinha muito da ingrata. Se você é bom, não faz mais do que a obrigação, afinal tem todo esse peso e altura. Se você é ruim, então é uma vergonha porque não sabe usar o tamanho. Todo pivô alguma vez na vida ouviu alguém dizer "Ah, se eu tivesse seu tamanho não ia errar isso aí." Menos para o Rasheed Wallace, porque o primeiro cara que dissesse isso para ele iria jogar basquete de cadeira de rodas.

Já faz muito tempo que a NBA sofre com uma terrível falta de pivôs. A grande maioria são apenas caras grandes e largos com pouco impacto nas partidas. O técnico do Nets, Lawrence Frank, volta e meia elogia o Jason Collins, cuja única função é ser grande e dar uma atrapalhada no garrafão defensivo. Quando o Collins recebe elogios, dá pra saber que a coisa tá feia. Ainda no Nets, o roliço do Jamaal Magloire está sentado no banco de reservas. Na temporada 02-03, Magloire foi para o All-Star Game na época em que o Hornets estava no Leste e o Shaq no Oeste. Nada poderia gritar mais em nossas orelhas "a NBA não tem pivôs!" do que o Magloire num All-Star Game. Dá pra imaginar? Foi um tapa na cara de todo mundo e as vozes ao redor do globo se levantaram: "Jamaal Magloire? Ah, se eu tivesse o tamanho dele também estaria lá." É, nesse caso, é bem provável mesmo.

Foi nessa era "Magloire All-Star" que o Yao Ming chegou à NBA. Os duelos Shaq vs Yao traziam uma rivalidade meio esquecida nos garrafões da Liga. É claro que o Yao ainda não tinha condições de enfrentar o Shaq a princípio, mas com Shaq dizendo que iria ensinar um pouco de "Shaq Fu" para o Yao e com todo mundo querendo ver o chinês tomando um vareio, o duelo era imperdível. Yao Ming sempre se superava nessas partidas e os duelos eram, em geral, em alto-nível - muito embora quem decidisse aqueles jogos fossem, sempre, Kobe Bryant e Steve Francis.

Quanto mais experiência o Yao ganhava, melhores os encontros com o Shaq ficavam. Já faz um tempo que o chinês sai invariavelmente vencedor desses confrontos. Na última vez, foram 34 pontos de Yao contra 15 pontos de Shaq. E o grande Diesel, apelando como criança de pré-escola, disse que o Yao só era alto, nada mais. Ah, se o Yao fosse o Rasheed...

Mas esquecendo um pouco a rivalidade e as desavenças, Yao e Shaq (que se enfrentam hoje às 23h na ESPN) têm algo em comum que vem se tornando rotina para eles: problemas com a arbitragem.

Há uns dois anos atrás, o gênio entediado David Stern, um cara que não sabe nem amarrar os cadarços mas tá sempre preocupado em enfiar o nariz em alguma coisa (tipo aquele tal de Bush), ficou preocupado com as pontuações baixas da NBA e teve uma conversinha com os árbitros. Tocar o jogador com posse de bola atrás da linha de 3 pontos virou falta imediata, surgiu a política de tolerância zero (espirrou, falta técnica!) que expulsou o Sheed de uns 3 jogos seguidos (mas que não durou muito) e contato no garrafão começou a ser tratado de uma forma diferente. As pontuações da NBA subiram mesmo, graças a uma tonelada de lances livres cobrados por jogo. Idéia horrível, mas temos que ficar felizes do Stern não ter feito as bolas de 3 valerem 4 pontos ou coisas assim.

Sei que tem gente louca pra dizer que o Shaq tá velho e acabado, e é claro que ele está velho mesmo. Outros estão logo usando a teoria de que os Monstars roubaram seu talento. Mas, para mim, grande parte da culpa de seu declínio é justamente a arbitragem. O Shaq sempre foi absurdamente físico, nunca poupou cotoveladas e engolia seus defensores com um pouquinho de azeite e sal. Só que, de uns tempos pra cá, todas as velhas (velhas não, clássicas, olha o respeito) táticas do Shaq são recompensadas com uma falta de ataque. Ao mesmo tempo em que, sei lá porque, ele começou a ir cada vez menos para a linha de lances livres. Para os conspiradores, algo a pensar: alguma coisa na conversa do Stern com os árbitros transformou a carreira do Diesel.

No auge de sua frustração, puto da vida por ficar pendurado com faltas todos os jogos e recebendo cada vez menos apitos ao seu favor, disse: "Só porque sou grande, quando me batem não marcam falta nenhuma achando que posso aguentar. E quando toco em alguém, só porque a diferença de peso é grande, marcam falta na hora. Oras, se eu piso no seu pé, vai doer em você! E se você pisa no meu pé, vai doer em mim! O tamanho não importa."

Um pisão do Shaq me deixaria incapacitado por toda a vida, mas isso não vem ao caso. As reclamações antes não eram nem necessárias, agora são uma constante. Do mesmo modo, Yao Ming vem tendo problemas com a arbitragem. Quando chegou à NBA, Yao seguia à risca aquelas normas de conduta esquisitas da China: não expressava suas emoções em público, não xingava, não reclamava, tentava não brilhar mais do que os companheiros de equipe, não enterrava por ser falta de respeito, e o pior: comia carne de cachorro. Com o tempo, foi comendo mais hambúrgueres, ouvindo mais rap, usando cartão de crédito, vendo a Britney fazer papel de ridículo e aparecer sem calcinha e começou a pegar o jeito do mundo ocidental. Agora mostra suas emoções em quadra, dá socos no ar o tempo todo (tipo o Pelé e o Raí), briga com os companheiros, enterra e até fala palavrão. Não acredita? Dá uma olhada aqui no "fuck" do moço.

Além disso, agora o chinês reclama da arbitragem - e cada vez mais. Anda tendo os mesmos problemas de seu rival Shaq. Por causa de seu tamanho, recebe contato e nenhuma falta é marcada. Basta assoprarem o Ginobili e o Wade para seus corpos franzinos de moça delicada desabarem no chão com uma falta marcada. Shaq e Yao são baleados pelos amigos do Ron Artest à queima-roupa e nada acontece. "Tá sangrando? Ah, pegou de raspão. Continua aí."

Contra o Mavs, Yao Ming reclamou tanto das pancadas que começou a perder a cabeça. Tomou uma falta anti-desportiva grotesca do Devin Harris e até levantou pra ir pra cima do nanico. O Yao indo pra cima de alguém? Sinal do Apocalipse!

Claramente perturbado, errou o primeiro lance livre da falta antes de voltar a se acalmar com algum tipo bizarro de respiração chinesa. Em entrevista recente, Yao disse que voltará a se concentrar no jogo e deixar a reclamação com a arbitragem para alguém que não perca tanto a cabeça quanto ele. O Rasheed, aliás, deveria fazer o mesmo, de preferência contratar um gorila treinado que reclame por ele.

No duelo de hoje entre Shaq e Yao, o fator decisivo pode muito bem ser a arbitragem. Quantas vezes cada um irá para a linha de lances livres? Poderá o Shaq ajustar seu jogo, evitando os contatos que - agora - o colocam em foul trouble? É sempre triste como a arbitragem, às vezes mais, às vezes menos, é capaz de decidir a carreira e o futuro de um jogador.

Enquanto eu escrevia isso, Manu Ginobili tacou meu monitor no chão. Não tive nem tempo de me mexer mas o juiz marcou uma falta minha nele. Agora uma técnica. Duas. Estou expulso.