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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Novos ares

Vergonha eterna dessas fotos de estúdio


Um dos lados ruins do blog estar crescendo (o único, talvez) é que tem mais gente cobrando posts. Vocês não tem noção de como isso é chato! Não que as pessoas não tenham razão em muitos dos assuntos propostos, mostra que tem muita gente atenta ao que está acontecendo na NBA, o que é bom, mas não dá pra só um blog falar de tudo. Também é chato essa idéia de que posts são homenagens, coisas do tipo "O time X está jogando bem, merece um post". Tá, ele está jogando bem, mas tem uma história legal por trás disso? Tem algo que merece ser estudado, questionado ou explicado? Se não tem, acho que não vale a babação de ovo virtual.

Outro tema muito pedido é sobre jogadores que estão tendo atuações abaixo ou acima do esperado. A cada boxscore bizarro surge a vontade de saber se aquilo foi uma aberração, se o cara vai ser All-Star ou se é só o outro time que vacilou grandão. Eu acho que um post inteiro para falar de um jogo ou de uma sequência de jogos de que não estamos acostumados é demais, mas eu gosto de comentar sobre como os jogadores mudaram e tentar descobrir da onde veio essa mudança. Nada muda assim simplesmente por mudar e tentar descobrir a razão é bem interessante. Afinal, pode ser treino (como foi com o Richard Jefferson), mudança de ambiente, técnico, esquema tático, pintura do cabelo, esposa, sei lá! 

Durante essa semana e a próxima vou aos poucos falando de vários casos de jogadores diferentes, hoje vamos começar com os jogadores que mudaram de time, explicando como a mudança de ambiente fez o cara subir de nível. 

......
Todo mundo, em qualquer área que trabalhe, sabe como um ambiente ruim pode estragar o desempenho. Se você é motivo de fofoca em volta do bebedouro da firma é normal que trabalhe sem o mesmo empenho ou que simplesmente faça o que tem que fazer com cara de bunda enquanto procura um trabalho novo. Na NBA não é diferente, um jogador pode não se adaptar à cidade, aos companheiros de time, técnico ou esquema tático e não ficar à vontade por lá. 

O Antawn Jamison, por exemplo, é um caso extremo de fracasso. Nunca entendeu o sistema defensivo do Cavs no ano passado, dizem que era meio excluído dentro de um grupo bem fechado e nesse ano fica de lado porque é um veterano caro em um time que tenta se reconstruir. Por fim até passou a arremessar cada vez pior. Poucas vezes vi um cara perder tanto valor em tão pouco tempo, é o jogador errado no lugar errado e com possibilidades remotíssimas de troca. Jogadores não esquecem como jogar basquete, mas podem cair muito de produção quando estão num time que não os valorize.

O oposto também acontece. Quem melhorou por estar no lugar certo na hora certa é o ex-Cavs Shaquille O'Neal. Duas coisas mostram bem essa evolução e a sua razão: Na semana passada ele teve seu primeiro jogo com 25 pontos e 10 rebotes em mais de dois anos, finalmente, e antes disso foi divulgado que ele disse para o Kevin Garnett algo como "Vocês levam esse negócio de jogar em equipe bem sério aqui, né?".

Dizem que o Shaq está encantado com a maneira que as coisas são levadas no time do Boston e tem se dado bem com todo mundo. Naturalmente se dedica mais e quando o Shaq está motivado ele é um dos melhores, sempre. Mesmo que hoje em dia só tenha físico para aguentar ser o melhor por uns 20 minutos por partida, mas não importa, é o que o Celtics precisa. Ele também disse antes do último jogo contra o Hawks que cogitou seriamente ir para o Hawks por gostar da cidade de Atlanta, mas que decidiu pelos verdes pela chance maior de título. O Larry Drew, técnico do Hawks, disse que concordava com o Shaq e que até achava que, embora não fosse nada mal tê-lo por lá, ele não ia se dar bem com um time tão jovem e com uma mentalidade tão diferente da dele. Embora muita gente tenha feito piadinha com o fato do Hornets ter trocado pelo Jarrett Jack, amigo do Chris Paul, para agradá-lo, é essencial que um jogador tenha amizades dentro do clube. Eles passam muito tempo junto, qualquer briguinha pode arruinar uma temporada.

Outro que foi para o lugar certo na hora certa foi o Dorrell Wright. Eu não sei explicar bem porque o Heat não era o lugar certo pra ele, mas a coisa não tava rolando. Afinal, o técnico Erik Spoelstra queria montar um time com uma defesa fortíssima e cada um que não se adaptasse ficava mofando no banco batendo palma e entregando toalhas. O Heat também queria alguém que tivesse um bom arremesso para se aproveitar do espaço criado pelas infiltrações do Dwyane Wade. O Wright não é o Ray Allen ou o Ron Artest, mas faz um pouco das duas coisas, não sei porque jogava tão pouco, eles também não tinham outras opções muito melhores. Alguns acham que é porque ele causou uma má impressão nos seus primeiros anos na NBA, passou muito tempo machucado, não se posicionava bem na quadra e foi naturalmente sendo última opção. Às vezes jogava bem, mas não conseguia embalar uma sequência de jogos bons e voltava a ser resto.

O Golden State Warriors foi atrás dele porque era barato, ninguém mais queria e eles estavam com falta de jogadores para a ala: a disputa de posição estava entre Ekpe Udoh, novato que está machucado, a eterna promessa Brendan Wright, e o Reggie Williams, que pra mim tem nome de jogador de futebol americano e foi uma daquelas descobertas bisonhas do Don Nelson no ano passado. Com adversários tão discretos, deram para o Dorrell a chance de jogar mais tempo e ele começou a corresponder. Só precisavam que ele acertasse bolas de três e de vez em quando corresse junto nos contra-ataques, nada mais. 

Mas ele tem feito mais do que isso. Com seus roubos de bola e dedicação defensiva tem sido um dos fatores para o Warriors sair da última posição da liga em defesa (embora ainda sejam um dos piores). Mas ele tem contribuído mesmo é com as bolas de longa distância. No jogo contra o Wolves no fim de semana ele acertou 9 bolas de longa distância, recorde da história do Warriors. E lembrem que nos últimos 5 anos do time e no timaço que eles tinham nos anos 90, com Chris Mullin e Tim Hardaway, muitos bons chutadores passaram por lá, é um feito gigantesco um cara com só um mês de time bater esse recorde. 

Esse desempenho bem acima do que até o Warriors poderia imaginar (nem a mãe dele deveria sonhar com o cara jogando tanto!) é razão também dele estar em um esquema tático que o favorece. Apesar das mudanças que o técnico Keith Smart tenta impôr em relação à doideira dadaísta de Don Nelson, o time ainda é baseado em contra-ataque, infiltrações e jogadas individuais. Wright sabe criar seu próprio arremesso, acerta seus arremessos quando a marcação corre para tentar defender Monta Ellis e Stephen Curry e ele ainda tem se entrosado muito bem com o David Lee.

Lee veio do Knicks com a função de melhorar o rebote da equipe mas tem sido bem útil no ataque. Faz o pick-and-roll com perfeição com todos os jogadores e quando tem a bola  no garrafão sabe distribuir, a inteligência dele em quadra merecia mais atenção de todos. Nos jogos em que o David Lee joga, o Wright tem médias de 17,8 pontos, 47% de aproveitamento, 3.9 arremessos de três feitos e 56% de aproveitamento nas bolas de longe. Nos jogos em que o Lee ficou de fora, machucado, as médias de Wright despecaram para 12,9 pontos, 34% de aproveitamento nos arremessos e 0,8 bolas de três por jogo com 18% de acerto. 

Os talentos do Dorrell Wright até poderiam ser aproveitados no Heat, mas nunca o foram e depois de até correr o risco de ficar sem time, achou o ambiente perfeito para exercer o seu jogo. É um dos motivos para a gente pensar duas vezes antes de sair tendo certeza absoluta que um jogador é ruim mesmo tendo visto ele jogar só em uma situação.


Quem a gente já viu em várias ocasiões e nunca foi o bastante para convencer era o Darko Milicic. Ele passou por Pistons, Magic, Grizzlies e Knicks antes de ir para o Wolves. Em todos os times virou motivo de piada e sempre insistem em lembrar que ele foi escolhido no Draft antes de Chris Bosh, Dwyane Wade e Carmelo Anthony. Ok, ele foi, não foi melhor que nenhum deles, mas e daí? Pensando além do Draft, ele foi realmente ruim? No Pistons não dá pra saber porque nem entrava, era o "Human Victory Cigar", no Magic jogou bem (8 pontos, 4 rebotes e 2 tocos em 20 minutos por partida) e manteve o mesmo nível de jogo no Grizzlies. Nada espetacular, clara afobação e nervosismo em situações de pressão, mas ainda assim, um cara com talento de sobra para jogar na NBA. Pivôs como o Marcin Gortat estão no mesmo nível ou mostraram até menos coisas do que ele e são adorados simplesmente porque não esperavam nada deles. Mesmo passados 7 anos desde o Draft de 2003, Darko ainda sofre com a maldição da expectativa. 

Mas aí veio o Wolves, o time dos renegados, para tentar resolver tudo isso. Lá ele recebeu a garantia de que seria titular e que iria jogar bastante, tirando o nervosismo e o medo de que iria para o banco depois de uma bobagem em quadra. Pelo Wolves ser uma porcaria, também ficou longe da imprensa e da pressão de torcidas mais fanáticas. Aos poucos ele foi se sentindo mais à vontade em quadra e esse ano tem sido sua redenção. Ele chegou lá no meio da temporada passada, não nesse ano como os outros casos desse post, mas mesmo assim considero que a melhora foi causada pela mudança de ambiente em fevereiro desse ano.

Foi nessa temporada que ele ganhou a responsabilidade de ser o pilar defensivo do Wolves e hoje lidera a NBA em tocos, com 2,9 por partida. Seus rebotes poderiam ser melhores, mais que os 6 que pega, mas pra quem joga ao lado do ímã Kevin Love até que não está mal. No ataque a média de 9,1 pontos por jogo pode indicar que ele não é bom o bastante, mas isso tem mudado também. 

Nos primeiros 10 jogos da temporada ele tentou se impor, chamar jogadas, forçar o jogo e não deu nada certo, estava tentando ser mais do que deveria. Não sei se por conta própria ou se por ordem do técnico Kurt Rambis, ele passou a arremessar só quando a chance parecia realmente boa e com isso seus números e aproveitamento cresceram. A confiança subiu ao ponto dele conseguir, pela primeira vez na carreira, três jogos seguidos com mais de 20 pontos: 23 pontos, 16 rebotes e 6 tocos contra o Lakers, 21 pontos, 4 rebotes e 3 tocos contra o Thunder e 22 pontos, 8 rebotes, 4 assistências e 5 tocos contra o melhor time da temporada, o Spurs

Nos perguntaram se a gente ficou surpreso com esses números ou se era mais um sinal do fim do mundo, e a resposta é não para as duas coisas. Eu ficaria surpreso se ele fizesse isso durante todos os jogos de uma temporada completa, mas acho comum e normal um jogador bom ter algumas sequências acima da média quando joga durante 6 meses seguidos. Darko é hoje um jogador veterano, com lugar garantido em um time e com algumas qualidades óbvias. Nada mais e certamente nada menos que isso. É bom nos acostumarmos a vê-lo misturar jogos comuns, medianos, com outros muito bons. Ele é um cara normal no fim das contas. Ou quase

Está ao lado de Darko no Wolves o maior exemplo de como às vezes basta uma mudança de time para o cara mostrar o que sabe: Michael Beasley. Ele me lembra um pouco o caso do Tracy McGrady, que parecia ser muito bom no Toronto Raptors mas que não conseguia se destacar jogando ao lado do seu primo Vince Carter. A grande diferença entre os dois é o Efeito Darko: T-Mac foi a 9ª escolha do Draft de 1997, Beasley foi a 2ª escolha do Draft de 2008. Ver o T-Mac indo mais ou menos rendia comentários do tipo "Imagina quando ele tiver o seu espaço. Tem futuro o garoto!", ver o Beasley indo mais ou menos ganhava um nervoso "Bust! E ainda tinha gente que achava que ele poderia ser melhor que o Derrick Rose!". 

Depois de anos crescendo sem pressão no Raptors, o T-Mac foi para o Orlando Magic como Free Agent ser o cestinha da NBA por dois anos seguidos, o Beasley foi trocado por uma escolha de segundo round e feijões mágicos para o Minnesota Timberwolves. Com apenas três minutos a mais por jogo ele tem 7 pontos a mais de média, pulou de 14 para 21 por partida. Os arremessos de três melhoraram de 27% para 45%! E hoje você até pode ver ele rindo em quadra:

- sup


Dava pra ver no Heat como ele não se encaixava lá. O Spoelstra morria um pouco a cada falha defensiva do Beasley e o jogador parecia completamente desinteressado na partida e fora de ritmo porque não suportava ver o Dwyane Wade chutar 25 bolas antes dele ter a chance de tentar a sua. No Wolves o ataque passa por ele, as jogadas são desenhadas para que Beasley finalize e desde o começo do jogo ele pega o ritmo da partida, participa e toma a iniciativa. Ainda não sou um dos que vai dizer isso do LeBron James, mas não é todo mundo que consegue render ao lado de gente como o Dwyane Wade que concentra tanto o jogo na mão dele. 

Nada contra o Wade, muito pelo contrário, é o estilo de jogo dele e foi assim que ele foi o melhor jogador dos playoffs de 2006 levando o Heat ao título, mas não é fácil encontrar gente que combine com esse jeito de jogar. E também o Beasley não é coitadinho, ele nunca parecia sequer interessado quando estava no Heat, claramente incomodado por não ser muito acionado. Com um pouco de vontade e treino ele poderia ter rendido bem mais em Miami. A mudança de time e ambiente não é sempre a libertação de um jogador coitado que estava preso nas amarras de um técnico do mal, às vezes o próprio jogador não tem o talento ou vontade de se adaptar. Esperto foi o o General Manager David Kahn de perceber a chance de levar o Beasley para o Wolves, saiu barato e já está dando muito resultado. 

Ainda tem muita gente que está subindo de nível nesse começo de temporada, por outros motivos, e vamos continuar nesse assunto em breve! 

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Preview 2010-11 / Minnesota Timberwolves

- SIM, EU ADORO JOGAR BASQUETE!!!


Objetivo máximo: Chegar perto dos playoffs, surpreender alguns times grandes
Não seria estranho: Ficar em último no Oeste
Desastre: Draftar o Ricky Rubio mas ele não querer ir jogar lá. Espera... já foi.

Forças: Um elenco muito novo e eficiente na transição
Fraquezas: Falta de identidade, ninguém faz ideia do que está acontecendo, o elenco não faz sentido e quase todo mundo fede

Elenco:

.....
Técnico: Kurt Rambis

Quando assumiu o Wolves, Rambis sabia que era um projeto a longo prazo. Passaria ao menos 4 anos à frente da equipe, cuidando do desenvolvimento dos pirralhos e colocando em prática o complexo sistema de triângulos tão famoso graças ao sucesso do Lakers de Phil Jackson. A ideia era não se importar com vitórias, focar apenas no amadurecimento de cada jogador em particular e fazê-los jogar como um time. Mas Kurt Rambis teve muitas dificuldades em colocar em prática os triângulos. Al Jefferson e Kevin Love não conseguiram executar as movimentações juntos, batiam cabeça, ocupavam os mesmos espaços, e Kurt Rambis foi obrigado a colocar Love no banco, limitando um pouco os seus minutos - justamente o contrário do que foi proposto quando contrataram o técnico, que era dar minutos à pirralhada. Após 60 jogos com o novo técnico, Kevin Love não teve medo de colocar a culpa do péssimo desempenho do Wolves nas costas do treinador, já que a temporada estava acabando e não tinha um único jogador sequer que tivesse conseguido compreender o tal do esquema dos triângulos. Uma coisa é conhecer a fundo a tática, como é o caso de Kurt Rambis, e outra completamente diferente é saber explicar isso de um modo compreensível. Phil Jackson tem anos e anos de experiência e mostrou-se um excelente professor, enquanto Rambis está lidando apenas agora com o fardo de um elenco inteiro de crianças cheirando a talco, com inteligências limitadas, tentando aprender um dos esquemas táticos que mais dependem do entendimento e da reação dos jogadores.

Ainda no final de sua temporada de estreia, o Wolves já abandonava lentamente os triângulos em nome de um jogo mais veloz de contra-ataques. Nas ligas de verão, em que o técnico se viu obrigado a lidar apenas com novatos ou jogadores muito novos, os triângulos foram para as cucuias e o foco foi na velocidade e no contra-ataque. Não faz sentido ignorar os triângulos por completo, já que são a especialidade do Rambis, mas ficou bem claro que não dá pra pegar um elenco de novatos e fazê-los compreender o estilo. A abordagem deve ser mais lenta e Rambis deve colocar a molecadinha para correr mais. Os triângulos exigem criatividade enquanto os novatos assustados precisam de jogadas mais fixas e pré-estabelecidas, então o meio-termo será um jogo corrido, que use a velocidade e o atleticismo do time, com alguns elementos dos triângulos no jogo de garrafão.

...
Quando Al Jefferson foi mandado para o Jazz, ficaram claras as intenções do Wolves e escrevi um post a respeito que valhe a pena citar aqui:

"Quando o Wolves resolveu finalmente trocar o Kevin Garnett, parabenizei a franquia. Não tem nada mais horrível para um time da NBA do que ser exageradamente mediano, ter um elenco grotesco, uma baita estrela que consegue segurar as pontas, brigar desesperado por uma classificação para os playoffs e perder sem chances na pós-temporada. O formato da NBA é brutal com os medianos, com os times que não estão brigando por título e nem são ruins o bastante para conseguir bons jogadores no draft. (...)


Se o David Stern tem razão e nenhuma equipe da NBA conseguiu ter lucro nos últimos tempos, não faz sentido manter uma equipe que não vencerá títulos, te dá prejuízo e não tem esperanças de melhora. A melhor saída é feder bastante para conseguir boas escolhas de draft, encerrar todos os contratos longos e imbecis que foram assinados, esperar a pirralhada amadurecer, e então assinar grandes estrelas para formar um elenco decente. (...)

Imaginei que o Wolves, ao trocar o Garnett, conseguiria um núcleo bastante jovem com uma futura estrela em Al Jefferson, e que a reconstrução duraria pouco tempo. Era só esperar a pirralhada pegar o jeito e depois conseguir um ou outro jogador para fechar algumas posições. Mas não funcionou.


Por um lado, promessas como Corey Brewer demoraram demais para se firmarem na NBA. Por outro, Al Jefferson tornou-se uma estrela rápido demais, num elenco incapaz de acompanhá-lo. Como todo time apostando em novatos, algumas escolhas não deram muito certo, alguns jogadores não souberam jogar juntos. Foi então que o engravatado David Kahn apareceu para pisar no freio e fazer todo mundo entender que reconstruções não podem ser feitas às pressas. Basta ver o Pistons: ao demolir acertadamente um time em declínio que não ganharia mais nada, assinou correndo dois jogadores disponíveis na hora para não ficar com um elenco furado e deu no que deu, o time fede, não tem flexibilidade para assinar outros jogadores porque torrou tudo em dois meia-bocas, e está fadado a ficar entre os medianos por muito, muito tempo. Falha épica, já diriam os gringos. É melhor assumir a bosta, no famoso "pisou na merda abre os dedos", e deixar o time fedendo com calma do que correr e assinar qualquer um."

O Wolves virou exemplo de que não dá pra ter pressa. Se o Al Jefferson ficou bom demais, rápido demais, tem que mandar embora mesmo, não adianta ter um jogador fodão em meio a um elenco que ainda precisa de tempo demais para ficar sólido. Se o esquema de triângulos não entra na cabeça dos jogadores, use menos, seja mais maleável, e vá ensinando aos poucos. Se os times da NBA só dão prejuízo e não há perspectiva de ser campeão, pague salários pequenos, para jogadores jovens, e espere bons novatos. A única merda é que o Wolves drafta mal, mas isso é outra história.

Esse clima de "não pode ter pressa" foi perfeito para o Darko Milicic, que finalmente recebeu atenção, carinho, esperança e até desistiu de voltar para a Europa. Será o parceiro de garrafão do Kevin Love, que finalmente pode ser titular, é muito mais indicado para o sistema de triângulos, está destruindo na pré-temporada e já mostrou que valeu a pena se livrar do Al Jefferson. Outro que jogou bem na pré-temporada foi o Michael Beasley, que sofreu muita pressão no Heat porque o time queria vencer nos playoffs sob comando de Dwyane Wade e o pobre pirralho não tinha estrutura nenhuma, metido na erva idiota lá e incapaz de manter a defesa que o técnico Erik Spoelstra exigia. Sem esse tipo de pressão, conseguiu estufar o peito, recuperar a confiança e ser o líder do Wolves mostrando como é um fominha safado que se pudesse nunca passaria a maldita da bola.

O legal da ida do Al Jefferson para o Jazz é que a bola pode passar mais tempo nas mãos do resto da pirralhada, que precisa de experiência para subir de nível e virar outro Pokémon, então jogadores como o Corey Brewer podem evoluir seu jogo ofensivo e tentar conseguir um arremesso consistente. Só esperemos que o Beasley não vire um buraco-negro no ataque e acabe com isso. Se o Wolves quer vencer, o Beasley precisa arremessar muito, mas como vimos o objetivo do time ainda não é a vitória, e sim a criação de um padrão, de identidade, e a evolução dos jogadores. Na ala temos Beasley, Webster, Corey Brewer, o novato Wesley Johnson e até o armador Wayne Ellington, o importante é que alguém daí adquira as qualidades para ser titular absoluto da equipe. Até lá, as vitórias e as derrotas não importam.

Enquanto isso, a armação continua sendo muito limitada e tem sonhos eróticos com o Ricky Rubio. Com o Jonny Flynn contundido e fora da rotação por uns tempos, os únicos armadores puros da equipe são o Luke Ridnour, que é basicamente uma criança de 12 anos com anemia, e o Sebastian Telfair, que é um anão que acha que está numa quadra de rua. Os dois são divertidíssimos de ver em quadra, mas não defendem nem ponto de vista e têm como forte a correria. Me diverti bastante com o Wolves na pré-temporada porque o Ridnour corre e sabe dar os passes certos nos contra-ataques, Beasley é um fominha talentoso, o elenco é cheio de gente explosiva que só sabe correr para frente como o Corey Brewer, e o Kevin Love é um dos melhores passadores da NBA - de qualquer posição, não só de pivô. Se eles não ficarem tentando levar os triângulos muito a sério, podem ao menos ser um time divertido, que vale acompanhar em noites sem sono no League Pass, enquanto todo mundo vai amadurecendo, esperando outros novatos, o Ricky Rubio e um padrão de jogo. Meu único medo é que o Kevin Love fique também bom demais rápido demais, o que abortaria de novo o projeto. O Wolves agora tem uma espécie de luta contra o tempo: conseguir um elenco sólido antes que o Love dê o fora dali ou encha o saco. Veremos quão longe o Wolves está disso com o amadurecimento dos novatos nessa temporada, porque o Love já larga na frente: tem tudo para já ser All-Star agora, imediatamente.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Avaliação anual de pivetes

- Agora segurar novato com as duas mãos é falta, professor?


Ontem foram divulgados os times de novatos e dos sophomores (os jogadores de segundo ano) que irão se enfrentar na noite de sexta-feira do fim de semana das estrelas. Os times são os seguintes:

Novatos: Stephen Curry (Warriors), Jonny Flynn (Wolves), Brandon Jennings (Bucks), Tyreke Evans (Kings), James Harden (Thunder), Taj Gibson (Bulls), Omri Casspi (Kings), Jonas Jerebko (Pistons) e DeJuan Blair (Spurs)

Sophomores: Derrick Rose (Bulls), Russell Westbrook (Thunder), Eric Gordon (Clippers), OJ Mayo (Grizzlies), Danilo Gallinari (Knicks), Michael Beasley (Heat), Kevin Love (Wolves), Marc Gasol (Grizzlies) e Brook Lopez (Nets)

A primeira parte da nossa função de pitaqueiro é ver quem faltou. No time dos novatos eu senti falta do Ty Lawson, que vem jogando muito como reserva do Billups no Nuggets, ele está sendo melhor que o James Harden como sexto homem do Thunder, por exemplo. Sua ausência, porém, é facilmente explicada. O draft de 2009 teve armadores demais! O time já tem Curry, Flynn, Jennings e Evans. Além do Lawson podemos apontar ainda o Darren Collison, Eric Maynor, Jrue Holiday e AJ Price com boas temporadas até agora! Esses últimos nem estão jogando tão bem para merecer uma vaga no jogo, mas é assustador o número de bons armadores desse ano, e isso porque o Rubio amarelou e ficou na Espanha!

O excesso de armadores acabou prejudicando também os ala-armadores, os jogadores da posição 2. Provavelmente Curry e Evans vão dividir essa posição no jogo e com isso arrancaram a vaga de outros bons novatos como Wesley Matthews, DeMar DeRozan e Terrence Williams. Os três tem sido bons mas nem chegam perto do nível dos armadores, os dois últimos farão falta por causa do show, mas não mereciam mesmo uma vaga. Em compensação o DeRozan estará lá no intervalo do jogo para disputar uma vaga no campeonato de enterradas com o Eric Gordon.

Nada contra o Eric Gordon, mas ele é só um ótimo arremessador e não deveria estar lá. Ele mesmo disse que só esperava ser chamado para o campeonato de três pontos! Essa disputa deveria ser apenas entre novatos, com o DeRozan enfrentando o Terrence Williams. Vocês viram as duas enterradas dele na vitória (VITÓRIA!!!) do Nets sobre o Clippers (ah, era o Clippers...)?


Já o time dos sophomores é muito forte. Muito forte! Forte mesmo, tipo raios gama. A gente não botava tanta fé na classe dos novatos do ano passado mas eles saíram melhor que a encomenda. Se considerarmos o time titular com Rose, Mayo, Gallinari, Love e Lopez, isso quer dizer que o time reserva seria Westbrook, Gordon, Beasley e Gasol. São só 4 jogadores porque só 9 são chamados para o jogo, mas garanto que só os 4 em quadra já venceriam os novatos. Pela qualidade dos jogadores e por ter jogadores de mais de uma posição, acho que os sophomores vão manter a tradição e levar o jogo.

Entre as principais ausências do time dos sophomores estão a dupla do Kings Jason Thompson e Donte Greene, o Roy Hibbert, que é forte candidato a jogador que mais evoluiu na temporada, o George Hill do Spurs e até a Lady GaGa da NBA, o Ersan Ilyasova.

E já que estamos falando dos caras que foram novatos na temporada passada, é hora de relembrar de um post meu do ano passado. Na verdade eu nem lembrava que eu tinha feito essa porcaria, mas o nosso leitor João Inácio lembrou e me avisou. O post é esse aqui. Nele eu crio várias categorias para medir a qualidade dos atletas (desde Mega Estrelas até Pedaços de Carne Desformes e Imprestáveis) e digo onde cada novato irá se encaixar dentro de 5 anos.

Como sei que vocês não vão clicar pra ler o post antigo, vou postar aqui as partes mais importantes, onde explico as categorias e depois coloco os novatos do ano passado em cada uma delas.

.....
"1.Mega Estrelas: São aqueles jogadores que vão jogar bem todo dia, que vão liderar franquias, que vão vender doces, biscoitos, tênis e celulares com seu nome, serão entrevistados pela Angélica e vão participar de vários All-Star Games.
Exemplos: LeBron James, Kobe Bryant, Tim Duncan, Chris Paul.

2. Estrelas Light: Sem áçucar, a estrela de soja só é uma estrela dependendo do desempenho do time na temporada. O cara só é cotado para participar do All-Star Game se o time está bem. Geralmente esse atleta é mais discreto e não é unanimidade entre os fãs, apesar de serem excelentes.
Exemplos: Antawn Jamison, David West, Pau Gasol, Stephen Jackson.

3.Caolho em terra de cego: Caolho em terra de cego é rei, mas ainda é caolho e não pega mulher. Esse tipo de jogador é muito melhor que a maioria da NBA mas ainda não pode se achar tudo isso.

São os jogadores que obviamente tem muito talento mas que nunca vão ser cogitados para liderar um time a uma campanha vitoriosa como uma primeira opção, são aqueles caras que só funcionam sendo a terceira opção do time. Em geral são jogadores que sofrem um certo preconceito porque um dia acharam que eles seriam Estrelas Light, ou sofrem pressão porque são novos e acham que podem virar uma Mega Estrela.
Exemplos: Lamar Odom, Rajon Rondo, Josh Howard, Richard Jefferson, Jose Calderon.

4. Role Player Integral: Cheio de gordura mas sem ser o Zach Randolph são aqueles caras que têm um papel específico no time e que sempre fazem esse papel muito bem. Eles são os jogadores limitados mas que, o que sabem fazer, fazem com perfeição. Costumam ser o sexto-homem de um bom time.
Exemplos: Shane Battier, Eddie House, Travis Outlaw, James Posey, Roger Mason

5. Role Player Desnatado: Se não tiver integral vai desnatado mesmo. Têm a mesma função dos role players integrais mas são incompetentes demais para serem regulares e confiáveis. É o tipo de jogador que joga bem em casa e mal fora ou bem contra time ruim e mal contra time bom.(Edit: Hoje eu chamo esses jogadores simplesmente de Radmanovics.)
Exemplos: Sasha Vujacic, Jared Jeffries, DeSagana Diop, JJ Barea

6. Zé Alguém: São aqueles caras que você sabe que estão na NBA, que participam dos jogos, mas que em um jogo disputado e que vale alguma coisa nunca vão estar em quadra nos momentos finais a não ser que algo bizarro aconteça (muitas contusões, muitos jogadores eliminados por falta, chantagem atômica).
Exemplos: Hilton Armstrong, Ryan Hollins, Charlie Bell, Trenton Hassell

7. Pedaço de carne desforme e imprestável: É aquele tipo de jogador que entra ano, sai ano e por algum milagre divino o cara continua com contrato. Na prática é só um pedaço de carne desforme e imprestável que nunca entra em quadra, só esquenta banco, entrega gatorade, aplaude e depois da temporada arranja outro time pra fazer a mesma coisa. Eles estão na liga mas não jogam.
Exemplos: Sean Marks, Mark Madsen, Brian Cardinal, Lorenzen Wright

Só saberemos ao certo onde cada um dos novatos desse ano vai se encaixar daqui um tempo, mas eu como blogueiro isento da responsabilidade de falar coisa com coisa, posso dar meus palpites de como será o status dos jogadores draftados em 2008 daqui umas 5 temporadas baseado no que vi nessa de 2008-09.

1. Mega Estrelas: Derrick Rose e OJ Mayo
2. Estrelas Light: Brook Lopez, Michael Beasley, Russell Westbrook, DJ Augustin, Greg Oden
3. Caolhos em terra de cego: Kevin Love, Eric Gordon, Jason Thompson, Jerryd Bayless, Rudy Fernandez
4. Role Player integral: Danilo Gallinari, Courtney Lee, George Hill, Nicolas Batum, DeAndre Jordan, Mario Chalmers, Marc Gasol
5. Role Player desnatado: Brandon Rush, Mareese Speights, Roy Hibbert, JaValle McGee, Ryan Anderson, Darrell Arthur, Luc Mbah a Moute, Mike Taylor, Anthony Morrow
6. Zé Alguém: Joe Alexander, Robin Lopez, Anthony Randolph, Donte Greene, Chris Douglas-Roberts, Kyle Weaver
7. PCDI: Kosta Koufos, Goran Dragic
0. Estarão fora da NBA: Alex Ajinca, DJ White, JR Giddens
................

A minha previsão era para os próximos cinco anos, então não posso dizer o que acertei e o que errei com toda a certeza, mas bastou um ano para que eu, um cara de opiniões fortes, mudasse totalmente de idéia sobre vários jogadores.

Acho, por exemplo, que subestimei Jason Thompson e Kevin Love. Os dois alas de força são melhores do que eu imaginava e tem tudo para subir um nível e virarem Estrelas Light a base de soja. Já o Michael Beasley causa cada vez mais duvidas em mim, o cara obviamente tem muito talento mas desaparece das partidas mais do que o saudoso Souza que jogava no meio campo do Corinthians nos anos 90.

Um que está em baixa mas que eu acho que não errei é o DJ Augustin. Ele tem cada vez menos espaço na rotação do Bobcats (que, convenhamos, nem tem banco de reservas!) mas é só porque ele é treinado pelo Larry Brown e com o Larry Brown ou você defende bem ou você vale menos que um absorvente usado. O Disque Jóquei Agostinho não é um grande defensor mas é rápido, tem bom passe, ótimo arremesso de três e se estivesse no Knicks estaria jogando muito. Ainda tem muita carreira pela frente.

Errei feio com o Danilo Gallinari. Achei que ele acabaria sendo só um arremessador mas agora que seus problemas nas costas são passado, o galináceo tá jogando muito bem. Sabe puxar contra-ataque, controla bem a bola e sabe até infiltrar bem. No fim das contas o Knicks agradece quando ele resolve jogar como um cara completo e não só como um clone branco do Rashard Lewis. Gallinari, assim como o surpreendente Marc Gasol (quem diria que aquele desengonçado faz mais que pegar rebotes?), também subiram um nível na minha lista.

Mas onde errei mesmo foi na previsão dos "Zé Alguém". Donte Greene está se saindo um ótimo defensor e importante peça do Kings, o Anthony Randolph parece que vai ser um bom jogador quando se livrar das garras do Don Nelson, o Chris Douglas-Roberts finalmente conseguiu começar a jogar na NBA o que jogava na universidade, e o Robin Lopez, para minha surpresa, não é só um Brook Lopez ruim de um universo paralelo onde todo mundo é cabeludo (lembram do episódio do South Park onde todo mundo no universo paralelo tinha barba? Aquilo era humor.)

Por fim, errei também com o Goran Dragic. Aquele moleque inseguro que parecia que ia se mijar a cada vez que entrava em quadra hoje é a arma mais confiável do banco do Phoenix Suns. Bastaram alguns jogos razoáveis para ele se sentir mais confortável e jogar o que prometiam que ele iria jogar há um ano e meio atrás. Outro dia meteu 24 pontos só no primeiro tempo contra o Jazz. Ele é, no mínimo, um role player desnatado.

Se em um ano eu errei tanta coisa, nem quero ver daqui a quatro anos! Mas tudo bem, o importante é que vocês leitores esqueçam de todas as bobagens que a gente fala e continuem nos lendo porque somos engraçadinhos e temos o abdome definido. Vamos agora brincar de prever o futuro dos novatos dessa temporada? Afinal, pisou na merda, abre os dedos.

1. Mega Estrelas: Tyreke Evans e Brandon Jennings
2. Estrelas Light: Stephen Curry
3. Caolhos em terra de cego: Ty Lawson, Jonny Flynn, Omri Casspi, James Harden
4. Role Player integral: Jordan Hill, DeMar DeRozan, Hasheem Thabeet, Terrence Williams, Chase Budinger, Jonas Jerebko, DeJuan Blair
5. Role Player desnatado: Earl Clark, Jrue Holiday, Tyler Hasnbrough, Rodrigue Beaubois, Wesley Matthews, Marcus Thornton, Darren Collison, Eric Maynor, Jeff Pendegraph
6. Zé Alguém: James Johnson, Jon Brockman
7. PCDI: Gerald Henderson, Austin Daye
0. Estarão fora da NBA: BJ Mullens

Não coloquei Blake Griffin e Ricky Rubio na lista porque eles nunca jogaram na NBA, mas boto muita fé no futuro dos dois. Aqui ainda tenho um pouco de dúvidas sobre o Brandon Jennings, mas acredito que seus altos e baixos são mais porque ele é um novato do que por falta de talento. Com Flynn, Harden e Casspi fui cauteloso mas gostaria de ver pelo menos um deles continuar melhorando seu jogo para ganhar pontos de experiência e subir de level antes do último chefão.

Entre os desnatados ainda precisamos de tempo para ver Earl Clark e Tyler Hansbrough na NBA, os dois são os mais cotados para subirem nessa lista até o ano que vem.

Sobre o Tyreke Evans eu falo mais tarde no post em que vamos comentar os reservas do All-Star Game que serão divulgados hoje à noite. Sim, é isso mesmo o que vocês estão pensando, já confessei um dos meus votos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Nate Robinson voltou

-Aaaaaah!

Olá pessoal, Bola Presa de volta depois de um pequeno recesso de ano-novo. Espero que tenham gostado do nosso show da virada. E eu tenho uma vida sim, não postei o último post à meia-noite e um, eu fiz o post antes e deixei programado pra ir ao ar no primeiro minuto do ano. Moderno, né? Coisas do século XXI.

Nesses dias fora a gente perdeu cerca de 20 jogos da temporada regular, foi angustiante mas deu pra correr atrás e ver tudo o que precisava. O grande momento desses dias do novo ano foi o jogo entre Atlanta Hawks e New York Knicks, a primeira prorrogação de 2010.

O Knicks venceu e o cestinha do jogo foi o Nate Robinson. Não, o bug do milênio não chegou atrasado e você não está lendo uma notícia atrasada, o Nate Robinson voltou e fez QUARENTA E UM pontos depois de ficar 14 jogos sem sequer pisar em quadra. Pelo jeito a resolução de ano novo do Mike D'Antoni foi perdoar as pessoas, dar uma nova chance a todos e ser um pouco mais tranquilo.

Os problemas entre o D'Antoni e o Nate Robinson já existem faz tempo. Começaram porque o jogador é um baita de um fominha! Ele é talentoso, ele sabe marcar pontos e joga com uma vontade e uma dedicação fora do comum, mas o seu "QI de basquete", essa expressão bizarra e feia que soa um pouco melhor em inglês, é igual ao de um macaco. Ele força arremessos em qualquer momento do jogo e força ainda mais no fim das partidas, é um cara qualquer metido a herói. Ele tem o espírito de Kobe e LeBron sem ter o talento deles.

Ele lembra bastante o JR Smith. Basta ver um jogo deles pra perceber que não são jogadores normais, eles podem fazer a diferença, o problema é que querem tanto decidir os jogos que às vezes definem para o lado errado. E o Nate Robinson está no time do Mike D'Antoni, um cara que valoriza demais o passe e a movimentação da bola. De que vale o time se espalhar pela quadra, espaçar bem a defesa adversária, se o que vem depois é mais uma jogada de isolação do Nate Robinson?

Durante a temporada passada o clima ficou ruim algumas vezes mas deixaram passar, afinal o Nate Robinson viveu alguns bons momentos e venceu alguns jogos importantes para o Knicks. Mas nesse ano a coisa esquentou já que David Lee, Al Harrington e a Beyoncé Gallinari estão jogando muita bola (olha o que o Gallo fez com o Roy Hibbert) e o Nate estava atrapalhando o desempenho dos três. Uma vez até foi publicado um número que mostrava que o Knicks tinha um aproveitamento de vitórias infinitamente melhor quando o Nate jogava menos de 15 minutos no jogo.

A gota d'água foi uma discussão sobre a jogada abaixo:


É isso mesmo que você viu. Com meio segundo para o fim do primeiro período do jogo contra o Nets, o Nate Robinson pegou a bola, virou e acertou a própria cesta. Os três pontos não valeram porque o tempo já tinha estourado e o Nate sabia disso, mas a atitude e risco levaram o D'Antoni à loucura. E, convenhamos, o técnico tinha razão. Mais valia ele atirar a bola para a outra cesta e tentar uma cesta maluca a favor da sua equipe. Para um cara que já tinha fama de tomar má decisões em quadra, essa foi decisiva.

D'Antoni então decidiu que Nate Robinson não ia mais jogar, o que foi bem exagerado. Ele tem seus defeitos, toma decisões erradas e tudo mais, mas é para corrigir isso que serve um técnico, não para simplesmente punir. A banição faria mais sentido se fosse em um time que briga pelo título e não pode aceitar erros, mas o Knicks está numa fase de descobrir quem são os poucos talentos que valem a pena manter para a temporada que vem. A melhor coisa que o D'Antoni poderia fazer era chamar o Nate Robinson de lado, dar um belo de um sermão e começar a treiná-lo no dia-a-dia para que ele usasse seu talento para o bem da equipe.

Com o JR Smith tem dado certo. Se compararmos o jogador de hoje com o de uns 2 anos atrás, a diferença é muito perceptível. Hoje ele tem muito mais noção de quando deve tentar ser herói e quando deve passar a bola de lado, ainda erra muitas vezes mas compromete bem menos o time. Além de algumas vezes vencer uns jogos sozinho, como quando meteu 10 bolas de 3 contra o Atlanta Hawks.

Durante esses 14 jogos o Nate Robinson chegou a ser multado em 25 mil dólares por ter exigido publicamente uma troca. Na verdade foi o agente dele que disse que o seu cliente tinha exigido a troca, mas o Tio Patinhas Stern não perde uma chance de faturar e aplicou a multa da mesma maneira. Dizem na imprensa americana que uma troca quase aconteceu, para o Memphis Grizzlies. Curioso que o Grizzlies pegou o Zach Randolph, o Iverson, o Tinsley e agora foi atrás do Nate Robinson. A solução deles para o problema de ninguém querer jogar em Memphis foi correr atrás dos caras que não são queridos em nenhum outro lugar da NBA! Tirando o fiasco do Iverson, o resto tem dado certo. O Grizzlies venceu 6 dos últimos 7 jogos, deu uma surra no Suns em Phoenix (onde Lakers e Celtics tinham perdido semana passada) e alcançou os 50% de aproveitamento (16 vitórias e 16 derrotas) depois de começar a temporada com 1 vitória e 8 derrotas. A sequência de vitórias começou assim que Iverson saiu, não que eu queira dizer algo com isso...

Como disse no começo do post, o D'Antoni resolveu dar uma nova chance ao seu jogador. Quando chamou Nate Robinson do banco de reservas ele nem respondeu, não tinha percebido. Depois de um cutucão do jogador ao seu lado é que ele se tocou e foi pra quadra "com borboletas no estômago", segundo ele mesmo. Fez trocentos pontos rapidamente e depois foi herói no fim do jogo. Marcou 22 dos últimos 24 pontos do Knicks, incluindo 11 dos 13 do time na prorrogação.

Depois da partida foi só alegria. Nate Robinson desabafou dizendo que entrou no jogo sentindo um baita frio na barriga mas empolgado e dedicado, "Vou fazer tudo o que o técnico me mandar". E depois ainda deu uma mini declaração de amor ao time, "É aqui que eu quero jogar e espero que possa ficar no time. É um novo ano, um novo começo e não estou mais olhando pra trás".

Acho que o D'Antoni não lidou direito com isso a princípio, o Nate foi meio apressado em exigir uma troca mas ao que parece tudo acabou bem, certo? No jogo seguinte ele foi bem mais discreto mas é até bom que seja assim. O papel do Nate nesse time, pelo menos por enquanto, é vir do banco, botar um fogo no jogo, ser a fonte de pontos da equipe no banco de reservas e, eventualmente, quando estiver num dia inspirado, ganhar uma partida ou outra. Se tentar mais do que isso ele corre novamente o risco de mais atrapalhar do que ajudar.

Abaixo os melhores momentos da vitória do Knicks sobre o Hawks. Destaque para os pontos do Nate the Great na prorrogação, o moleque estava muito inspirado!



Coisas que eu perdi quando estava fora:
- Passei uns dias fora e perdi o terceiro arremesso de último segundo do Kobe na temporada!



Dois meses de temporada e o Kobe tem 3 arremessos de último segundo salvando o Lakers de derrotas para times bem mais fracos: Heat, Bucks e agora Kings. Além disso o Kobe, que tinha feito 40 pontos ou mais em apenas 4 jogos em toda temporada passada, já passou dessa marca 7 vezes nesse ano. Com o Gasol contundido, esperem mais game winners e jogos de 40 pontos para esse mês. Essa temporada fenomenal do Kobe é mais um sinal de que o Lakers tem problemas.

- Ano novo, cabelo novo. E feio. Vocês viram o novo visual do Michael Beasley? Big Ben style. Só tá perdoado porque ele conseguiu uma enterrada alucinante contra o Charlotte Bobcats:

domingo, 27 de setembro de 2009

Mundo real

Delonte West se finge de morto pra não levar pipoco


Há um bom tempo atrás, postei aqui sobre a depressão do Delonte West e sua luta contra ela. Após explodir contra um juiz aleatório nos treinos de pré-temporada, o armador resolveu procurar ajuda para seu transtorno bipolar e, com remédios, terapia em grupo e individual, alegou voltar a ter prazer em jogar basquete. Transformar uma coisa que se ama em trabalho, em obrigação, é sempre um passo perigoso e Delonte West precisou de ajuda para voltar a render em quadra, deixando um pouco de lado as pressões de se jogar em um time que busca o anel de campeão todos os anos.

Infelizmente, no entanto, os problemas do West parecem um pouco mais complicados do que isso. Recentemente, ao dirigir uma motocicleta de três rodas (chamar de triciclo parece que ele tem 3 anos de idade), o armador do Cavs fechou um policial e foi parado. Assim que o policial se aproximou, West disse para o "seu guarda" que estava com uma arma na cintura, coisa pouca. Ao ser revistado, o cenário era outro: Delonte West tinha uma Beretta na cintura (coisa de quem mata zumbis em Racoon City), uma Ruger amarrada na perna (coisa de quem é xerife no Velho Oeste), e uma shotgun guardada numa daquelas malas para guitarra (coisa de gângster do século XXI), colocada em suas costas. Na Dime, um leitor que mora na mesma região de Maryland em que o Delonte foi preso disse, meio-que-brincando, que é assim que as pessoas se armam para ir na biblioteca, ou seja, a região lá é barra pesada.

Em todo caso, é bem claro que ninguém coloca uma shotgun nas costas se estiver indo comprar pão na esquina. Talvez o salário do Cavs seja uma droga e o West precise complementar a renda da família sendo um exército mercenário de um homem só durante meio-período. Talvez ele esteja vingando a morte da esposa, morta pelo Coringa. Ou então ele está metido em coisas pesadas: gangues, drogas, ameaças de morte ou invasões alienígenas. Seu pai contou que recentemente o West anda com muito medo, olhando por cima do ombro e preocupado com a própria segurança. Pra mim, um sujeito que fecha um policial e se explica com "olá, boa noite, eu tenho uma arma na cintura" ou não consegue mentir (no maior estilo "O Mentiroso", com o Jim Carrey) ou então acha mais seguro passar a noite na cadeia do que nas ruas. Pareceu a ação de um homem desesperado por segurança.

Antes de assinar com o Cavs, o Delonte West já tinha sido preso com maconha e prometido para a direção do time se afastar dessas coisas para poder fechar o contrato. Mas não é questão de falar com um cara, engravatado, e dizer que para ganhar milhões no novo emprego ele precisa ser um rapaz diferente. Por mais que a NBA procure esconder e disfarçar, seus jogadores são pessoas reais com problemas reais que nem sempre dá pra simplesmente deixar de lado. Na NBA rola até código de vestimenta, em que todo jogador que não entrará em quadra precisa estar de terno e parecendo um vendedor de seguros, tudo para que a gente esqueça que a maioria dos jogadores vem de regiões muito pobres dos Estados Unidos, da periferia, passaram dificuldades extremas e mantém em sua personalidade o lugar em que viveram. Uma coisa é ter que se preocupar em treinar basquete e tirar boas notas, outra completamente diferente é se preocupar em levar pipoco no caminho para casa e levar uma shotgun pra conseguir chegar na biblioteca. Quando escapam dessa realidade através do basquete, muitos jogadores não apenas fazem questão de não esquecer como também participam, ajudam, voltam. Ou simplesmente não deixam essa realidade de lado mesmo ganhando milhões e tendo vida boa. O Jamaal Tinsley foi baleado umas trocentas vezes, ele continua fazendo hoje em dia o que ele fazia quando era adolescente, alegando que tem dívidas com as pessoas de lá, que o ajudaram e o protegeram. O resultado é que ele não tem mais um emprego, time nenhum da NBA quer o sujeito no elenco (o fato dele nunca na vida ter pulado sequer uma gilete também não ajuda), mas não dá pra simplesmente exigir que um jogador deixe sua história de lado, sua vida, seus amigos, a realidade em que ele cresceu e que, muitas vezes, é a única que conhece. Não há contrato no mundo capaz disso, e muito menos um código de vestimenta, que não faz nada além de tentar enganar a torcida, fazendo o público acreditar que todos os jogadores são brancos, ricos e estudados, com infâncias felizes e novelinha "Carrossel", sonhando com a Maria Joaquina (que, aliás, ficou grandinha).

O Cavs disse que quer ajudar o Delonte West, e espero que não seja com multas, ameaças e punições, que não vão adiantar nada. Precisam é construir uma fortaleza para ele dormir seguro, contratar um exército de guarda-costas e dar para o West uma identidade falsa e um novo nome como parte do programa de proteção a testemunhas.

O Heat, por exemplo, se comprometeu a ajudar o Michael Beasley. Ainda novato, sem ter jogado uma partida sequer, ele foi pego fumando maconha durante o programa de treinamento para os recém-draftados, com dicas para gerenciar o dinheiro, se portar dentro e fora das quadras e - tã dã! - ficar longe das drogas. A multa na época foi de 50 mil verdinhas, e olha que o rapaz não tinha sequer recebido seu primeiro salário. A punição não adiantou de nada, Beasley continuou tendo problemas com drogas e com as pessoas envolvidas na brincadeira, até que a situação ficou um pouco impraticável. Michael Beasley se internou numa clínica de reabilitação com todo o apoio possível por parte do Miami Heat, que bancou as contas, arrumou os melhores médicos e ainda mandou uma equipe de treinadores para que ele pudesse continuar treinando basquete durante o processo, ainda que no máximo por 90 minutos diários.

Com essa história, aprendemos principalmente que não dá para misturar uma pessoa em reabilitação com o Twitter (ao saber que sua reabilitação duraria um mês a mais do que o planejado, Beasley soltou no Twitter mensagens de desespero um tanto suicídas), mas também aprendemos que existem modos mais eficazes de ajudar alguém do que tacando punição na cabeça. O Beasley se sentiu aceito e querido pelo Heat, depois de uma temporada em que enfrentou muitas críticas e teve seu papel relegado ao banco de reservas. Agora ele sente que faz parte de uma organização que o deseja, que acredita nele, que estará lá quando ele precisar. Sente que faz parte de algo maior e que, portanto, tem motivos para cuidar da própria saúde. Esperamos que o Delonte West receba também a atenção e o apoio necessários para sentir-se como parte de algo maior do que ele próprio, de modo que possa escapar dos buracos em que se enfiou. Nas entrevistas, ele é sempre muito divertido e engraçado, mas assim como o código de vestimenta trata-se apenas de um modo de disfarçar a origem, o que está por trás das coisas. O basquete que se lasque, o mais importante é o Delonte West conseguir dar um jeito na própria vida. Mas como vimos com Beasley e o Miami Heat, o basquete pode ajudar o West - assim como ajudou tantos outros garotos que, no esporte, encontraram apoio e refúgio. E, claro, alguns milhões de verdinhas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ruim um pouco demais

Wade finge que precisa mijar para poder dar o fora


O Quentin Richardson continua sua turnê pelos piores times da NBA. Desde o fim da temporada passada, já passou por Grizzlies, Clippers e Wolves. Mantendo a temática de seu passeio pelos Estados Unidos, imaginei que ele fosse acabar parando no Kings, mas na verdade ele acaba de ser mandado para o Heat. Não que a equipe de Miami seja tão horrível quanto as outras que Quentinho andou visitando, mas o Wolves tem potencial demais e, com uma carta aberta explicando que a pirralhada de lá vai ter minutos mesmo que isso signifique perder feio, uma troca era meio inevitável.

Nesse momento, ninguém em sã consciência quer o Quentin Richardson jogando em seu time. É verdade que ele é um bom arremessador de fora e um ótimo reboteiro para sua posição, mas sua mentalidade de "eu arremesso até minha mãe se eu puder" anda muito em baixa na NBA. Com um contrato exageradamente inflado (agradeça ao Nash por ter garantido o leitinho das crianças) e uma postura indesejada dentro das quadras, Quentinho só tem valor mesmo porque seu contrato termina ao fim da próxima temporada e gera espaço salarial para quem quiser arriscar aquisições como LeBron, Wade e Nowitzki, por exemplo.

É assim que o Quentin Richardson está mais rodado do que a Vivi Fernandes ou fita do "Lagoa Azul": vários times interessados em flexibilidade salarial em 2010 aceitam seu contrato gordo, mas trocam assim que surgir uma oportunidade melhor de economizar grana. O Wolves, por exemplo, trocou o Quentin Richardson pelo Mark Blount e, assim, conseguiu outro contrato que expira nessa temporada mas ainda economizou cerca de 2 milhões de verdinhas ainda nesse ano, porque o contrato do Blount é menor.

Isso significa que o Heat escolheu perder dinheiro para adquirir o Quentin Richardson! O espaço salarial de 2010 não foi comprometido, mas os bolsos dessa temporada acabam de ficar um pouco mais vazios para que o Heat tenha no elenco o cara que ninguém quer, aquele beijinho no meio dos brigadeiros gostosos em festa de criança (coco, como todos nós sabemos, não tem acento mas não engana: é escroto). Por que diabos o Heat se importou o bastante para fazer essa troca? A resposta acaba dedando a crise pela qual passa a equipe.

Pra começar, o elenco está tão fraco que o Quentin Richardson chega ao time com espaço garantido na rotação. O melhor arremessador daquelas bandas é o Daequan Cook, muito inconsistente e, convenhamos, longe de ser um arremessador legítimo. Diawara e Dorell Wright são bons defensores mas excessivamente limitados no ataque. Não há ninguém para substituir Shawn Marion e Jamario Moon, ninguém capaz de ser o ala titular. Se o Michael Beasley sair do garrafão e for jogar de ala pequeno, aí o Udonis Haslem é que não tem reservas. Ou seja, o elenco é um cobertor curto demais e ninguém, além do Wade, merecia ser titular. Num time sério (onde o Jamaal Magloire, clone ruim do Zach Randolph, não fosse considerado um jogador importante, por exemplo) a maioria dos membros do Heat esquentariam banco e teriam que lutar por minutos. No Heat, vão começar jogando, de modo que a chegada do Quentin Richardson traz profundidade ao time. Por "profundidade", entenda algo como a Mari Alexandre dizendo que leu "O Segredo": uma merda, mas a gente até comemora o fato dela não ser analfabeta.

Só que o buraco é mais embaixo, já diria o Mr. Magoo. Dwyane Wade não deu escândalo e nem tacou travesseiros como a gracinha do Kobe Bryant na época em que o Lakers só tinha ele, mas o Wade deixou bem claro que o elenco fede e que não há condições de que ele reassine com um time tão fraco. Pat Riley, doutorado na arte da discussão de Jardim de Infância e responsável pelas finanças, bate o pé e diz que não faz sentido gastar dinheiro agora com o time se o Wade não der certeza de que vai reassinar o seu contrato. No maior esquema do "dilema Tostines", os dois lados tem razão e portanto o time continuará parado nesse paradoxo, um estranho vórtex espaço-temporal que pode transformar o Heat no novo Cippers.

Em 2010 muitos jogadores geniais verão o fim de seus contratos e o mercado estará cheio de possibilidades para equipes que querem começar do zero. Se o Heat perder Wade, terá dinheiro para contratar jogadores de nível similar - caso, é claro, eles topem jogar em Miami. Com as estrelas contratadas, é possível comprometer-se com um plano de longo prazo e cercá-las com os jogadores mais apropriados, torrando uma grana louca neles. Agora, sem saber se Wade fica ou não fica, é complicado contratar ou trocar por jogadores porque o Pat Riley fica sem saber se está construindo um time ao redor do Wade ou do Carlos Boozer, por exemplo. Eu sei que o Clippers apenas soma jogadores aleatórios e coloca todo mundo pra rodar, mas no mundo real as contratações tentam ter um padrão e formar um todo coerente, de modo que o Wade precisa de uma decisão para que o Heat possa se preparar.

Mas o Wade seria débil mental de continuar num time tão porcaria se ele pode aceitar, na temporada que vem, propostas interessantes de times que estarão em condições muito superiores de brigar por um título. O que aconteceu é que o Heat se afundou demais na merda e perdeu aquele ponto de equilíbrio ideal: ser um time ruim, que precisa de alguns jogadores para crescer, mas que não é ruim demais a ponto de parecer um caso perdido. É isso que o Knicks quer tanto parecer ser, um time atraente, com potencial, mas que é claramente ruim porque precisa de uma grande estrela. Esse tipo de situação é tentadora para grandes jogadores que querem ressuscitar um franquia sem ficar em último lugar da NBA por uns anos. O Heat ficou em condições tão deploráveis que não dá pra levar muito a sério a ideia de que, com um par de jogadores novos, a franquia voltasse ao topo.

O Knicks caminha firme rumo a essa imagem de "eu fedo mas nem tanto, sou uma merda mas tenho esperança", meio que a garota feia dos filmes adolescentes com coque no cabelo, óculos enormes, e que a gente sabe que no final do filme vai soltar o cabelão, piscar os olhos com lentes de contato e maquiagem de primeira e ser uma delícia absurda. O Heat virou a garota obesa do fundo da sala, que pode até disfarçar o cecê passando vinagre mas não vai emagrecer o necessário nos próximos anos. Insistir na garota obesa seria um ato de fé e amor, mas acho que Wade não se encontra nessa situação. Desde o começo ele não gostou muito do draft do Beasley, alegando que a escolha deveria ter sido trocada por um jogador experiente (como o Kobe, tão puto da vida quando a franquia escolheu o Bynum), e não parece ter muitas expectativas de que essa dupla dê certo.

Sob esse aspecto, a contratação de Quentin Richardson é uma tentativa desesperada com toques de novela mexicana: mais do que melhorar um pouco o elenco mequetrefe, Quentinho é um dos melhores amigos do Wade e os dois treinam juntos ao fim de toda temporada da NBA. Foi uma tentativa de agradar o Dwyane Wade pelas beiradas, pegando no lado emocional. Pat Riley já tinha avisado que o Heat não iria contratar mais ninguém nessa temporada, que o time estava fechado, mas agora ele abriu uma exceção para trazer um amigo pessoal do Wade para jogar e, quem sabe, ser até titular. É muito golpe baixo, tipo dar flores e poeminha quando sua garota quer terminar com você. É feio, muito feio. Mas dá certo, crianças, então façam à vontade.

A vontade do Wade é de claramente dar o fora. Sua temporada passada foi surreal, depois dele dedicar toda suas férias em treinamentos insanos, específicos e exagerados que lhe permitiram ser o melhor jogador da seleção americana apesar de estar voltando de contusão (é como o treinamento que o Arenas tentou depois da primeira contusão, mas aí o joelho dele desmontou quenem Lego). Diz a lenda que o Wade está se dedicando num volume ainda maior de treinamentos, e se for verdade seus números de MVP vão estar ainda mais elevados. O problema é que ninguém falou das estatísticas débeis mentais do Wade na temporada passada, e nem levou a sério sua campanha para ser MVP, simplesmente porque seu time fede. É bem óbvio que o Wade não vai aturar isso mais uma vez: o Heat tem uma temporada, com o amiguinho Quentinho ajudando, para provar que pode ser ruim-mas-nem-tanto e colocar o Wade como concorrente real ao prêmio de MVP. Se não acontecer, o Heat provavelmente terá nova cara na temporada que vem - com uma nova estrela, se alguém aceitar jogar por lá. Talvez contratando mais amiguinhos dos jogadores famosos. Ou talvez as praias ajudem.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Exilado no Canadá

Shawn Marion mostra o número de
meses em que jogará no Raptors


Existe um joguinho ocorrendo entre os dirigentes da NBA para se divertir um pouco que não tem necessariamente nenhuma relação com ganhar partidas de basquete. Numa espécie de "Jogo do Mico" da vida real, o último time que ficar com o Marcus Banks perde. O Celtics se livrou dele na grotesca troca com o Wolves pelo Olowakandi. O time de Minessota não renovou o seu contrato mas o Suns quis continuar a brincadeira (dirigentes são entediados, sabe como é), assinou o Banks e mandou ele para o Heat na troca do Shaq. Agora, Marcus Banks acaba de ser trocado de novo, dessa vez para o Raptors - junto com Shawn Marion. A equipe de Toronto, por sua vez, manda para Miami o Jermaine O'Neal e o campeão de força nominal, Jamario Moon.

O Banks praticamente não jogou em todas as equipes em que foi parar, mas seu valor como piada interna, como jogo secreto, é inegável. Talvez sem ele a troca não tivesse saído, já que era cogitada há muito tempo mas faltava alguma coisa para que finalmente ocorresse de fato. Resta agora saber para qual time o Raptors vai mandar o Marcus Banks, e quem vai morrer com o mico na mão. Aposto que alguns sites de aposta devem estar criando uns bolões agora mesmo. Levando em conta que os jogadores que vão para o Clippers costumam morrer ou encerrar a carreira, eu acho que o Banks morre nas mãos deles e todos os outros dirigentes da NBA vão se divertir e voltar aos seus afazeres normais (coçar a bunda, claro).

Dado meu palpite, é hora de falar dos jogadores secundários nessa troca: Marion e Jermaine O'Neal. Para o Heat, a troca era óbvia. O Shawn Marion não deu muito certo por lá, pra começo de conversa. Não que ele estivesse fedendo, longe disso, mas você não contrata a Monica Mattos pra ficar na sua casa lavando louça, por mais que ela deixe seus pratos brilhando. O Marion até fazia o serviço bem feito, mas o Heat trocou por uma grande estrela capaz de fazer estrago no Leste, coisa que não aconteceu. Como o contrato do Marion acaba ao fim dessa temporada, o Heat tinha duas escolhas: trocar o Marion por qualquer coisa, nem que fosse uma paçoca para não sair de mãos vazias, ou então renovar com ele e mantê-lo na equipe por vários anos. É como dizem, em time que está ganhando não se mexe, então o Heat - que não está ganhando porcaria nenhuma - não podia manter o mesmo elenco e achar que Joel "Quem?" Anthony iria tapar o buraco no garrafão. O mais irônico dessa história é que, com Dwyane Wade plenamente saudável, Mario Chalmers saindo melhor do que a encomenda, e Beasley melhorando seu jogo, tudo que o Heat precisava agora para ter chances no leste era de Shaquille O'Neal, aquele que estava em fim de carreira e eles trocaram por um Marion que não deu certo. O time do Heat é baixo, sem nenhum jogador no garrafão capaz de acertar o próprio nome, e sem defesa alguma debaixo da cesta. Como uma troca Marion por Shaq de novo seria admitir o fracasso, o jeito foi trocar pelo outro O'Neal, aquele que está sempre contudido e tem um contrato ridículo.

Eu era um baita fã do Jermaine quando ele chutava traseiros lá em Indiana, mas até para mim assinar um contrato de 126 milhões por 7 anos (uma média de 18 milhões por ano, mas que na verdade lhe paga 23 milhões em seu último ano de contrato) pareceu completamente débil mental. Havia potencial, ele era uma estrela, mas alguém se empolgou demais na hora de assinar os cheques. Com tantas contusões, lembrar quanto dinheiro o Jermaine vai enfiar nas orelhas beira o ridículo, mas ele ainda é um jogador impressionante, principalmente no setor defensivo. Infelizmente ele nunca mais recuperou o ritmo nos arremessos que uma vez teve no Pacers, mas ainda é ao menos competente na hora de pontuar. Acontece que ele e o Bosh na verdade têm estilos similares, ou seja, não gostam muito de jogar muito próximos da cesta, e o Raptors rende melhor quando apenas um deles está em quadra e a posição de ala de força vai para o Andrea Bargnani, que anda jogando cada vez melhor apesar do nome de miguxa.

Trocar o Jermaine era meio inevitável, portanto. O Raptors deu trabalho para o Orlando Magic na temporada passada e agora, após perder o porra-louca TJ Ford e adicionar Jermaine O'Neal (o que deveria ter melhorado o time, se o Universo fosse lógico), foi parar no grupo de piores times do Leste. E convenhamos, é mais difícil ser o pior time do Leste do que ser o melhor, porque a disputa é mais acirrada. Deixar como estava não podia, o Bargnani merece passar mais tempo em quadra, e o Jamario Moon não estava numa boa fase: após uma ou duas jogadas bastante idiotas, se queimou com o técnico e com o Chris Bosh, e chegaram a cogitar que ele perderia numa partida de damas para o Kwame Brown, dado seu intelecto não muito privilegiado. O Raptors, então, não sai perdendo muito e ganha uma possível estrela em Shawn Marion. Se ele vai ser o mesmo dos tempos de Suns não se sabe, mas se não funcionar o contrato dele acaba e pronto, dinheiro para o time de Toronto gastar contratando algum urso ou guarda florestal.

Boto uma fé no Marion por lá, no entanto. O manager do Raptors, Bryan Colangelo, foi o responsável por montar o Suns da era corra-por-sua-vida e parecia determinado a repetir a dose no Canadá. Com TJ Ford e Bosh, tinha as bases de um time veloz e desencanado dessa tal defesa, mas aos poucos o projeto foi se desvirtuando: o ex-técnico Sam Mitchell foi diminuindo a velocidade e o time quase que deu certo antes de desmoronar. Com a saída de Jermaine e Shawn Marion podendo jogar em sua posição natural, de 3, pela primeira vez nos últimos 50 anos, o Raptors tem tudo para impôr uma correria amalucada e é bem capaz que dê certo. Como todo jogador de basquete, o Marion vai querer escapar de Toronto bem rápido e jogar num lugar que exista de verdade, mas se tudo estiver dando bem certo por lá até consigo vê-lo reassinando com a equipe. O próprio Marion, que assim que ouviu a troca deve ter pensado em se matar, disse que agora está mais calmo e talvez renove seu contrato com o Raptors para a próxima temporada. Quer dizer, isso se alguém convencer o Bosh a ficar por lá também, já que vazou um depoimento dele praticamente contando os dias para se livrar do Canadá. O negócio é o seguinte: se o time de Toronto quer ser uma equipe minimamente relevante pela próxima década, essa segunda metade da temporada tem que ser perfeita. Tudo tem que se encaixar perfeitamente, em total sincronia, para Marion e Bosh continuarem por lá. Ou seja, acho que já era.

Os ares em Miami parecem bem melhores, em parte por causa de milhares de gostosas de biquini, mas também porque o Heat passa a ser uma força legítima no Leste se o Jermaine ficar saudável. Jamario Moon pode trazer defesa para a equipe se o Beasley continuar vindo do banco, mas mais para frente deve ser uma opção na reserva com Beasley titular. E Jermaine cuidará da defesa do garrafão - tudo que ele fizer além disso será lucro. Talvez seja um pouco tarde para contar com o Heat chutando traseiros nos playoffs, é preciso um pouco de química, de tempo, de saúde. Mas as chances nessa temporada são muito boas e, para a temporada que vem, talvez dê para considerá-los até um time de verdade. Só o que melhor fica por vir: o contrato do Jermaine acaba na já lendária temporada de 2010, então o Heat vai ter grana para reassinar o Wade com um contrato máximo e de brinde assinar outro jogador com um contrato similar. Se o Jermaine não der certo, abraço no cara e não esqueça de escrever. Ironicamente, em 2010 poderemos ver um Heat com Wade e Bosh, por exemplo. O que já dá para babar um pouco, e é bem mais realista do que feder por anos e ficar contando com a boa vontade do LeBron de mudar de time, não é mesmo, Knicks?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O que fazer com Jermaine O'Neal?

Da série "acho que fiz caca"


Alguns times têm que decidir o que fazer com o Kwame Brown, outros o que fazer com o Eddy Curry. Portanto, decidir o que fazer com o Jermaine O'Neal é um luxo para poucos, mesmo que ele seja um problema em muitos aspectos e, às vezes, mais atrapalhe do que ajude.

Das 43 partidas do Raptors na temporada até agora, Jermaine jogou apenas 29, isso contando os jogos em que passou meia dúzia de minutos em quadra antes de sair mancando. É impossível contar com ele, montar um esquema consistente, depender de sua presença. Suas lesões têm destruído sua promissora carreira desde os tempos no Pacers, que eventualmente foi obrigado a decidir o que fazer com o rapaz. O pessoal de Indiana tinha em mãos um All-Star, um jogador técnico e dominante capaz de liderar um time para granfes feitos, mas como lidar com seu salário de mais de 20 milhões de dólares quando ele mal entrava em quadra? Sua ausência, aliada a terríveis decisões do pessoal engravatado, levaram o Pacers a feder - e muito. Jermaine pediu para ser mandado para um lugar onde pudesse ser aproveitado, onde pudesse fazer a diferença. Sua saúde dava sinais de melhoras no final da temporada e a produção em quadra parecia razão para esperança. Rapidamente, foi parar em Toronto numa troca que aparentava envolver duas estrelas potenciais em Jermaine e TJ Ford. Agora, olhando com mais calma, parece que as duas equipes simplesmente queriam se livrar o mais depressa possível da bomba que tinham em mãos, estrelas cujas contusões tornaram-nos um fardo grande demais para suas equipes.

É aquela velha história da galinha do vizinho ser sempre melhor do que a nossa, principalmente se a galinha do nosso vizinho é uma de raça, tipo a Mari Alexandre. O TJ Ford parece um excelente armador, jovem, veloz, reboteiro, joga demais, mas quem conhece de perto sabe todos os podres. O TJ é frágil, teve lesões graves na coluna, ameaçou se aposentar do esporte depois que médicos alertaram que ele quase ficara aleijado após uma queda feia. Além disso, é agressivo demais no ataque, o que compromete tanto sua condição física quanto a capacidade de controlar o ritmo da equipe, sabendo quando atacar a cesta e quando passar a bola. Os times de TJ Ford são muitas vezes obrigados a ficar parados, assistindo o nanico correr de um lado para o outro da quadra sozinho.

O Pacers queria se livrar do contrato exagerado do Jermaine O'Neal e de sua presença que não permitia que o time fosse bem - já que ele estava sempre machucado - nem que fosse absolutamente mal, porque acabava sempre dando uma força. Para se renovar e colocar o controle em novas mãos, mais jovens, é necessário ter a coragem de feder um pouco, por uns tempos, e às vezes se livrar dos jogadores que impedem esse processo natural e obrigatório. Dois times querendo se livrar de dois estorvos que pareciam ser bastante apetitosos aos olhos alheios: um casamento perfeito que só poderia ter como resultado final dois times insatisfeitos. Afinal, casamento em que as duas partes estão satisfeitas, só naqueles casamentos arranjados em que uma russa quer nacionalidade americana, e um americano rico quer comer uma russa. Fora isso, a gente sabe que vai dar merda.

O TJ Ford jogou 34 dos 41 jogos do Pacers até agora. Ou seja, sofreu novamente com contusões. O time está fedendo como nunca e está lá no fundo da tabela do Leste. E, pra ser bem sincero, às vezes parece que o Pacers joga até melhor sem ele, com a bola mais nas mãos do Danny Granger e mais oportunidades para Marquis Daniels (por quem tenho um estranho Complexo de Drew Barrymore desde os tempos dele no Mavs) e para Jarret Jack.

Com o Jermaine, a história é mais complicada. Quando está em quadra, não há dúvidas de que torne o Raptors um time melhor. O problema é que talvez ele não melhore o time o suficiente. A situação acaba lembrando mais ou menos a do próprio Pacers, quando decidiu trocar sua estrela para dar espaço para o "Granny Danger": o Raptors não fede nem cheira, não está dando certo, muito provavelmente ficará fora dos playoffs, mas não estará entre os piores times. Não há chances mínimas de título e nem planos de tacar tudo no lixo e começar de novo, o que acaba deixando o time inteiro no limbo, sem saber para onde correr. Jermaine não resolve todos os problemas do Raptors, mas resolve alguns. Ele tem seus dias de estrela, mas em geral está no banco vestindo um terninho - que aliás não combina em nada com sua eterna cara de bebê.

Creio que o Raptors não está em condições de aceitar soluções pela metade. A crença de que o time estava apenas a uma peça de alcançar grandes feitos no Leste ainda permanece, embora eu ache ela tão pertinente quanto achar que a Terra está flutuando em cima de uma tartaruiga espacial. Então, se o Jermaine não é a peça que faltava, existem duas opções: trocá-lo imediatamente pela peça que falta, pois a data limite para trocas termina em 19 de fevereiro, ou então mantê-lo e esperar seu contrato terminar para liberar espaço na folha salarial para a lendária temporada de 2010 (LeBron, Wade, Bosh, dizem que talvez até Jesus Cristo e Buda).

Como antigo fã de Jermaine O'Neal que se achou velho quando ele parecia não ser mais capaz de ficar em pé, confesso que fiquei surpreso com seu rendimento em Toronto. Sua defesa continua impecável, embora os arremessos não tenham conseguido voltar ao velho ritmo e seu corpo não aguente mais o jogo físico de trombada que ele, com muito custo, havia desenvolvido em Indiana. Agora, é um jogador que pode ao menos contribuir sempre que consegue levantar da cama, e acho que ainda há espaço para ele na NBA se a natureza deixar. Ainda assim, concordo que o melhor a fazer é deixar Jermaine ir embora, por troca ou fim de contrato. Não que outra peça venha suprir aquilo que ele não conseguiu, é apenas que o Raptors também tem um Danny Granger que precisa de espaço para se desenvolver. Trata-se de uma versão com nome de garota e hábitos alimentares de uma Tartaruga Ninja: Andrea Bargnani.

Quando o Jermaine está desmontado como se fosse feito de Lego, o Bargnani é titular e tem médias excelentes de 17 pontos, 6 rebotes, 1.3 tocos e acerta 45% dos seus arremessos de três pontos. Jogar com o Bosh permite a "tática Rashard Lewis" de obrigar o defensor adversário a sair do garrafão e acertar arremessos de fora se ele não o fizer. Quando Jermaine joga, Bargnani joga em outras funções, passa menos minutos em quadra, e com isso faz apenas 8 pontos, pega 3 rebotes e acerta somente 34% dos arremessos de fora. A diferença é grande demais e é hora do conterrâneo do Super Mario ganhar confiança. Pra mim, todo time que não parece ir a lugar nenhum deveria começar a pensar em suas futuras estrelas, e o Raptors deveria estar distribuindo minutos para o Bargnani, para o Ukic (o armador que volta e meia tanto me impressiona) e para qualquer urso ou guarda florestal que parecer promissor lá no Canadá. Até porque eu duvido muito que o Chris Bosh continue por lá quando seu contrato se encerrar.

Pelo que parece, o pivô perdeu a paciência com a equipe. Na última partida contra o Hawks, surtou por completo com os erros de seu coleguinha Jamario Moon (que merecia respeito ao menos pela sua força nominal). Com o Raptors na frente e 90 segundos para o final, Moon deixou Joe Johnson livre para uma bandeja em que sofreu falta, diminuindo a diferença para um ponto. Com 55 segundos para o final, caiu na "tática Billups" de "eu vou fingir que arremesso pra ver se você é imbecil e vai pular no meu cangote" usada pelo Mike Bibby e cometeu uma falta, que resultou em dois lances livres e o Hawks liderando por um ponto. Em seguida, com 36 segundos para o final, deu um arremesso idiota de três pontos precipitado e bem, bem errado, que terminou de vez com o jogo. O Bosh arrancou os cabelos e, assim que a partida terminou, criticou o Moon abertamente, tanto pelas falhas defensivas quanto pelo arremesso desnecessário. Acrescentou que a mentalidade do time está errada, que no final dos jogos eles fazem tudo equivocado, e que não dá pra vencer assim.

Desconfio que, com essa equipe, o Bosh não queira ficar em Toronto. Como o contrato do Jermaine acaba potencialmente junto com o do Bosh, talvez acabe sendo tarde demais para usar a grana para contratar alguém de peso e convencer o pivô com pescoço de dinossauro a ficar. A lógica, portanto, se os engravatados estiverem dispostos a manter sua maior estrela, seria trocar Jermaine imediatamente - por alguém que, preferencialmente, não comprometa os minutos do Bargnani.

Os Nelsons Rubens do mundo da NBA falam constantemente de uma troca de Jermaine por Shawn Marion. Esse é um dos meus boatos preferidos, só perdendo para aquele que diz que a Maísa é na verdade uma anã e tem mais de 40 anos. Para o Raptors, essa troca traria uma defesa mais do que necessária, uma ajuda nas bolas de três pontos, daria uma força nos rebotes e permitiria que o Bargnani fosse titular ao lado do Marion. Além disso, o Jamario Moon iria para o banco de reservas, lugar a que ele pertence, já que contribui e muito para uma equipe mas jogar os minutos decisivos já é demais. Para o Heat, a troca traria tamanho - simples assim. Assistir Houston e Miami foi hilário, porque o Yao Ming podia fazer o que quisesse, incluindo pegar rebotes ofensivos no meio de 4 defensores enquanto dançava a macarena, e acabou o jogo com 12 arremessos convertidos em 12 tentados. Com Jermaine O'Neal, o Heat não teria que usar como titular o pivô Joel "Quem diabos?" Anthony, e o novato Beasley receberia muito mais minutos - coisa que ele está precisando urgentemente para pegar o jeito da brincadeira.

Por que essa troca não seria feita? Bem, provavelmente porque o Heat não é otário de pegar um jogador que tenha que entrar em quadra de cadeira de rodas. Antes de mais nada, é preciso que o Jermaine prove que pode jogar, que está saudável, e isso é como pedir para que o Clippers não tenha ninguém contundido no elenco. No entanto, há sempre uma possibilidade. Como acho que a temporada do Raptors já era, a prioridade deve ser mostrar que o Jermaine ainda dá pro gasto e forçar uma troca. Se não for pelo Marion, será por qualquer outra coisa que convença o Bosh a ter um pouco de fé, nem que seja uma troca por uma cinta pra dar na bunda do Jamario Moon. Mas nesse mundo de casamentos que são perfeitos porque dão errado, fico torcendo para ver o Marion no Raptors. Seria uma combinação ideal, ainda que - pode apostar - o time de Toronto não vá chegar a lugar algum do mesmo jeito.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Preview da temporada - Divisão Sudeste

Orlando é um time gostoso de ver

Como todo site de basquete que se preza, faremos um preview da temporada da NBA. "Preview" para quem não sabe é uma mistura de recapitulação do que aconteceu nos últimos meses com o que nossas poderosas mentes projetam para o futuro. Ou seja, a soma de coisas que vocês já sabem com coisas que nós aqui achamos que tentamos adivinhar, uma ciência exata.

Foi no preview do ano passado, quando o Bola Presa ainda era algo como um projeto de participante do BBB, que tinha sua beleza mas ainda não os quinze minutos de fama, em que eu disse que o Bulls seria o campeão do Leste. Como o Derrick Rose está aí pra provar, eu errei, mas fui motivo de piada durante toda temporada. Então curta nossos previews como uma piada do futuro, será mais divertido assim.

O formato que escolhemos é o de dar motivos para assistir ou não assistir aos jogos desse time na temporada. Afinal existem mutretas internéticas para acompanhar qualquer jogo que você quiser pela internet, mas assistir quem? O Clippers ou o Pacers? O Lakers ou o Bulls? O Spurs ou... brincadeira, claro que você não vai assistir ao Spurs.

Os previews estão divididos por divisão e colocamos os times na ordem em que acreditamos que será a classificação depois dos 82 jogos.


Orlando Magic

Motivos para assistir:
Se você gosta de bolas de três e de enterradas, esse é o time certo para se assistir. No ano passado, o Orlando Magic foi o segundo time que mais arremessou bolas de 3 em toda a NBA, mais do que o Suns e atrás só do Warriors. Foram 25,3 bolas de 3 tentadas por jogo! Imagina se o Antoine Walker jogasse lá! Também é legal para ver enterradas porque o Dwight Howard foi o líder, disparado, em enterradas na temporada passada. Foram 267 enterradas, mais de 3 por jogo e 59 enterradas a mais do que o segundo colocado, Amaré Stoudemire. Assistir ao Magic é ver um jogo de NBA Live com pessoas de carne e osso.

Como curiosidade, será legal também ver como o Magic lida com o JJ Redick. Ele vive enchendo o saco porque quer dar o fora de lá e ir para um lugar em que tenha minutos de jogo. Não é irônico que o chamado "melhor arremessador do mundo" por muita gente (não o Damon Jones) não tem espaço no time que mais arremessa de 3? De qualquer forma, o Magic não atendeu seu pedido de troca e disse que nesse ano ele terá sua chance de finalmente brilhar na NBA.

Motivos para não assistir: O motivo para não assistir ao Magic é o mesmo motivo de assistir. Eles são aquela mesma coisa sempre! Depois do terceiro jogo assistindo a um festival de bolas de 3, a coisa fica meio cansativa.

Mas a verdade é que tudo depende também do nível de inspiração do Jameer Nelson. Se começar o jogo e ele estiver jogando bem, pode esperar uma atuação divertida do time do Mickey, com ele inspirado o time joga em velocidade e o jogo flui mais fácil. Mas quando o Jameer Nelson joga mal, aí sai de baixo, aí a coisa é menos criativa do que Feira de Ciências de 5° série e as bolas de 3 são quase um estupro de tão forçadas.

Outro lado ruim de ver o Magic é que para impedir o Dwight Howard de enterrar a bola, os times costumam bater nele, ou seja, o jogo fica lento e você perde minutos preciosos da sua vida assistindo a um cara de 2,15m ficar amassando o aro.


Miami Heat

Motivos para assistir:
O Miami vai acabar na frente do Wizards sim, e se der tudo certo é capaz até de ameaçar o Orlando no título do Sudeste. O motivo desse meu otimismo é o principal motivo para se ver o Miami Heat: Dwyane Wade.

Na minha vida de futurólogo da NBA eu aprendi algumas coisas. Uma das mais importantes é: nunca aposte contra LeBron James, Dwyane Wade, Kobe Bryant e Tim Duncan. O LeBron levou aquele Cavs para as finais da NBA, o Kobe fez 81 pontos em um jogo e o Duncan acerta até bola de 3 quando interessa. O Wade, por sua vez, despedaçou o Pistons e depois virou praticamente sozinho uma final contra o Mavs em 2006. Eles não são imbatíveis, mas é melhor não apostar contra.

O Wade saudável como estava nas Olimpíadas já é motivo pra ver todos os jogos do Heat, mas além disso tem mais gente por lá que é boa. O Shawn Marion é o faz-tudo que se encaixa em qualquer time e está em ano de contrato, ou seja, ele vai jogar mesmo pra poder continuar ganhando uma fortuna. E ainda tem o Beasley, que é o cara que mais faz parecer fácil o difícil ato de marcar pontos. Ele dá uns arremessos aqui, outros ali, faz umas infiltrações, ganchos, enterradas, ele faz tudo e faz parecer fácil. Mesmo que não seja um jogador completo, já pode beirar os 20 pontos por jogo em sua primeira temporada.

Motivos para não assistir:
O Heat tem um elenco estranho, são três jogadores fora de série (se o Beasley realmente der certo), o Haslem que é um ótimo jogador de apoio e o resto é de talento duvidável. Seja duvidável porque o cara tem cara de uma criança de 10 anos (Chris Quinn) ou porque tem o joelho tão forte quanto o de uma criança de 5 (Shaun Livingston).

Isso pode significar que as jogadas espetaculares do Wade podem ser exceções em um time sem qualquer entrosamento. Vale lembrar que a idéia inicial é usar o Marcus Banks como armador principal, o que pode dar bem errado. O técnico Eric Spoelstra disse que planeja usar um esquema ofensivo parecido com o usado pela seleção americana nas Olimpíadas de Pequim. Pode ser bom, porque era um esquema que usava bastante velocidade e contra-ataques, mas dava certo com o Kobe, Kidd, LeBron e cia. Será que dá certo com o Mark Blount?

Saiba dos riscos quando você for assistir ao Heat. Pode vir show dos Beatles ou show da Rita Lee tocando Beatles, são coisas bem diferentes.


Washington Wizards

Motivos para assistir:
Eu não acredito no Wizards nessa temporada, até pensei duas vezes em colocar eles na frente do Hawks! A que ponto chegamos! Mas vou confiar que quando o Arenas voltar, em dezembro ou janeiro, ele volte de uma vez por todas e o Wizards seja um time decente o bastante para ficar na frente do Atlanta.

Mas mesmo se eles não se recuperarem, é um time até legal de se ver jogar. Além do Caron Butler, que é espetacular, tem o DeShawn Stevenson fazendo suas palhaçadas, o Nick Young tentando ser o Kobe, o Pecherov que parece o Stewie do Família da Pesada e ainda pode ficar tentando descobrir como funciona a porcaria da Princeton Offense. Pura diversão!

Ou você fica vendo seus DVDs da Vivi Fernandes até o Arenas voltar. É mais fácil.

Motivos para não assistir:
Enquanto o Arenas não voltar você nem precisa justificar se não quer ver um jogo do Wizards, a gente entende e deixa quieto. Mas mesmo quando o Arenas voltar a coisa pode ser meio feia.

Nos playoffs do ano passado, quando o Agente Zero voltou, ele estava claramente fora de forma e completamente sem entrosamento com os companheiros. Imagina ele de novo sem passar por uma pré-temporada, sem treinar e junto com o Etan Thomas, que também não joga há mais de uma temporada e irá lutar com um novato pela vaga de titular deixada pelo contundido Brendan Haywood.

Dá pra imaginar o nível de entrosamento que esse time vai ter com os dois em quadra? O negócio pode até dar certo, mas até lá vai ser feio. Recomendo cautela para os menores de 16 anos.


Atlanta Hawks

Motivos para assistir:
Te dou dois motivos para assistir ao Hawks: Josh Smith e Joe Johnson.

Há umas duas temporadas o técnico do Hawks, Mike Woodson, disse que o Joe Johnson era tão bom quanto o Kobe, só não tinha o reconhecimento da imprensa. Acho que ele exagerou um pouco, mas ele vale o ingresso sim, o cara é pura finesse, uma maravilha de ver jogar, um dos jogadores mais completos da NBA.

Já o Josh Smith não é nada de finesse, é muita força. E você tem que concordar que o Josh Smith é especialista nas duas coisas que mais fazem os torcedores pularem da cadeira no meio de um jogo, as enterradas e os tocos. O cara é uma máquina de dar tocos quando alguém acha que vai para uma bandeja sozinha no contra-ataque.

Se você realmente se importa com o Hawks, o que eu duvido, você ainda pode acompanhar a evolução do fenômeno reboteiro Al Horford, do segundo-anista Acie Law e até ver como o Mike Bibby se comporta agora que ele está no último ano do seu contrato. Mas só faça isso se não tiver namorada, um video-game ou uma peteca, senão é perda de tempo.

Motivos para não assistir:
Ué, é o Hawks. Mas tudo bem, dou três motivos para você não ver jogos do Hawks então:

-Você gosta de basquete
-Você tem bom senso
-Você não assiste nada que envolva o Zaza Pachulia

Brincadeiras à parte, quem acompanhou a série contra o Boston nos playoffs do ano passado sabe como o Hawks pode ser em um jogo um time empolgante e no jogo seguinte parecer um time juvenil que te dá desgosto de viver.


Charlotte Bobcats

Motivos para assistir:
Pegue tudo o que eu disse acima do Josh Smith e troque o nome por "Gerald Wallace", é a mesma coisa mas com mais chances de contusão.

Além dele tem o Okafor, que nunca foi tão bom quanto deveria ser mas sempre toma uma enterrada bonita na cabeça. A versão 3.0 do Mbenga é legal de assistir pelo motivo errado, mas é legal.

Além disso, tem a volta do Adam Morrison, que obviamente nunca vai dar certo na NBA mas que tem o bigode mais firmeza da história da liga. Sim, bigodes são motivos pra ver um jogo, assim como eu só vejo o Celtics jogar pra ver que penteado o Scott Pollard está usando.

Motivos para não assistir:
Vai dar errado. Eu não estou torcendo para eles se ferrarem, mas essa experiência com o Larry Brown parece aqueles casamentos de artista que você já começa a contar os dias para o divórcio assim que vê os dois recém-casados na Caras. Outro dia ele já deu uma entrevista dizendo que os armadores DJ Augustin e Ray Felton estão se esforçando muito para respeitar o sistema ofensivo, mas que eles estão se esforçando tanto que não tá dando certo, eles têm que se soltar mais.

Aí quando eles se soltarem mais o cara vai dar um piti e vai brigar com todo mundo. Aí o Gerald Wallace vai ter dor nas costas, o Okafor vai torcer o pé, o Adam Morrison já voltou a sentir dor no joelho, o Sean May está gordo, o Matt Carroll é coleguinha de classe do Chris Quinn e o ginásio vai ser atacado por terroristas que vão acusar o Nazr Mohammed de ter traído o movimento.

Então o Larry Brown vai repetir uma frase que ele já disse antes mesmo da temporada começar: "Eu deveria ter me aposentado", que foi o que ele disse, em tom de brincadeira (ainda), depois daquele jogo em que o Bobcats perdeu o primeiro período por 40 a 9.