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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Chance perdida


Arremesso: Travis Outlaw está fazendo errado


Já até nos encheram o saco no formspring querendo saber quando vamos tirar aquele bando de "Calma ae" na coluna de links da nossa planilha de Free Agents. Calma, pessoal! Passamos um período com muitas mudanças, muitos contratos novos e tentamos dar atenção para o que era mais importante, como o trio de Miami, Carlos Boozer e Amar'e Stoudemire e para o que não poderia ficar para depois, como a análise das Summer Leagues. Agora, aos poucos, vamos falando de algumas contratações de menos nome ou menos impacto, mas que merecem ser comentadas.

Hoje falaremos de um time que começou o verão americano com grana sobrando o bastante para dar uma festa em um iate, mas que preferiu gastar para resolver umas dívidas e no máximo passar um fim de semana no Guarujá. Ou, em termos de basquete, começaram sonhando com LeBron James e se deram por satisfeitos depois com Travis Outlaw:  o New Jersey Nets.

O Nets começou a offseason deixando para trás vários resquícios da temporada mais fracassada da sua história: tem um novo dono, um bilionário russo de história estranha (Mikhail Prokhorov, sobre quem estou pesquisando para fazer um post da série "Dono da Bola"), não paga mais 8 milhões de dólares para o Bobby Simmons mostrar que não sabe jogar basquete, trocou de técnico, General Manager e não seria nenhuma surpresa se aparecessem com novos logos e uniformes só para esquecer do ano passado.

Quem acompanha o futebol inglês como eu já estava esperando que bilionário russo era sinônimo de gastos absurdos e contratações de jogadores de mais nome que talento, os homens do dinheiro da Premier League parecem gostar mais de manchetes anunciando contratações e euros do que de vitórias. Mas eis que o Nets então, ao perder LeBron James, fez algumas das contratações mais discretas e xoxas da liga, a primeira delas sendo Travis Outlaw.

O ala, que eu não vou chamar de fora-da-lei como ato em homenagem à ATO, Anti-Trocadilhos Organizados, chega para ser o que sempre quis ser na carreira: titular. Ele chegou na NBA no famoso draft de 2003 e direto do colegial. Tinha se destacado nos anos anteriores com boa técnica de arremesso, velocidade, boa altura e uma forma física alucinante. Relatos da época dizem que ele colocava moedas no topo da tabela! Com bom potencial, mas ainda meio cru, foi a 23ª escolha. O Blazers foi bem em não queimar o garoto nos seus primeiros anos e apenas trabalhava o rapaz em treinos. Seus minutos de jogo subiram de 2 minutos por partida no ano de novato para 13, depois 16, 22, 26, até chegar no auge, 27, na temporada retrasada.

No ano passado, porém, caiu de novo para 20 minutos e seu jogo, pela primeira vez, regrediu. No começo era legal ver que Outlaw, que além de uma aberração física, estava também refinando seu arremesso e se tornando um bom reboteiro. Durante sua melhor temporada ele até começou a ser chamado de "Sr. 4º período" em Portland, todas as bolas do time na reta final do jogo eram na mão dele. Em vários jogos ele arremessava mais que o Brandon Roy quando o time precisava de uma cesta urgente. Depois de se tornar um exímio arremessador ele mesmo disse que é apaixonado pelo seu arremesso e que é viciado em treiná-lo. O que parecia bom, no entanto, virou vício. Não demorou muito para o Travis Outlaw virar um buraco negro e arremessar toda bola que chegava nele, o que passava por ele não voltava, e também se tornou um jogador previsível, já que nunca infiltrava, enterrava ou procurava um companheiro livre, era só arremesso, arremesso e arremesso. Não à toa perdeu espaço para jogadores mais completos como Nicolas Batum e Rudy Fernandez.

A graça de acompanhar o Travis Outlaw no Nets vai ser ver como ele encara o seu papel e como o técnico Avery Johnson vai usá-lo. Eles estão contratando um jogador para ser uma das estrelas do time, alguém para confiar a bola com regularidade, ou é só mais um arremessador? Gostar ou não do Outlaw e da sua contratação depende exclusivamente do que você espera dele e de como se usa o seu talento.

No melhor dos cenários ele pode ser uma espécie de Luol Deng do Nets. Recebe pouco a bola, mas quando recebe tem a luz verde para arremessar. Deng, porém, tem aprendido a infiltrar, é ótimo em contra-ataque e um excelente reboteiro para sua posição. Também tem ao seu lado Derrick Rose, que sabe mais do que Devin Harris quando acionar seus companheiros. O pior dos cenários é o Travis Outlaw ser um novo Ricky Davis. Tem a luz verde para pontuar porque tem talento para isso mas sempre toma as decisões erradas: quer ser herói quando não deve, acha que é o melhor do time só porque é um pontuador, não ajuda em mais nada porque aceitou o rótulo de "scorer" e acha que pegar rebote, defender e essas frescura é função dos outros.

O salário médio de 7 milhões anuais pelos próximos 5 anos indica que eles estão esperando algo mais próximo da primeira opção, claro, mas achei uma contratação arriscada. Outlaw não deu indícios no passado recente de maturidade e de boas decisões em quadra, se nem com Roy e Andre Miller controlando o ritmo de jogo ele era obediente, imagina com o porra-louca do Devin Harris! A possibilidade do bom cenário existe, mas eu não me animaria demais com essa contratação se torcesse para o Nets. O Ronnie Brewer poderia exercer a mesma função e ser melhor em muito mais coisas e saiu bem mais barato para o Bulls. O Wesley Matthews, que precisou de só uma temporada para ser melhor do que o Outlaw em sete, saiu pelo mesmo preço do Jazz para o Blazers.

A segunda contratação foi de Johan Petro. Sim, Johan Petro. Na NBA você pode ser uma eterna promessa, não aprender a jogar mesmo depois de 6 anos entre os profissionais, não ter médias superiores a 6 pontos e 5 rebotes por jogo, nunca dar um pequeno indício de que pode melhorar o seu jogo, nunca ter tido uma partida boa sequer e mesmo assim ganhar um contrato de 10 milhões de dólares distribuídos em 3 temporadas. Tá bom que o Brook Lopez precisa de um descanso e eles não precisavam ir atrás de um gênio, mas precisava chutar o pau da barraca assim? Salários parecidos irão ganhar outros dois pivôs reservas e gringos, Nikola Pekovic no Wolves e Timofey Mozgov no Knicks. Os dois podem acabar sendo tão inúteis quanto Petro, mas pelo menos a gente ainda não sabe disso! Eles também tem uma história recente de algum sucesso para justificar a aposta, o Petro fez o que? Quando até a contratação só para fechar o elenco é ruim é que a coisa tá fedendo.

A terceira contratação até que não foi das piores, embora eu já tenha xingado muito esse ser humano nos últimos anos: Jordan Farmar. Com algumas diferenças de importância e de relevância no seu meio, o Farmar é o Robinho da NBA. Robinho surgiu bem em 2002, melhorou até 2004 e aí resolveu que queria ser o melhor do mundo. Não queria sair do Santos para qualquer time porque queria ir para um lugar onde pudesse ser o melhor do mundo. Foi para o Real Madrid porque queria ser o melhor do mundo. Saiu do Real Madrid porque na reserva não dava para ser o melhor do mundo. Foi para o Manchester City porque lá o projeto novo poderia alavancá-lo para ser o melhor do mundo. Voltou para o Santos porque virou reserva na Inglaterra e não poderia perder espaço na Copa do Mundo, afinal ser o melhor da Copa é o melhor atalho para ser o melhor do mundo. Robinho, em resumo, foi reserva em seus dois times na Europa, não é metade do que poderia ter sido, hoje é, forçando a barra a seu favor, o terceiro melhor jogador do Santos e mesmo assim ele insiste nesse papo imbecil de ser o melhor do mundo. A quantidade de vezes que eu escrevi "melhor do mundo" nesse parágrafo é o número de tapas na orelha que o Robinho precisava pra acordar pra vida.

Jordan Farmar fez uma excelente carreira universitária pela UCLA, começou bem na NBA em 2006, chegou a ser colocado lado a lado com Rajon Rondo como dois promissores jovens armadores no começo de 2007 e desde então insiste que quer ser titular na NBA. Ele ignora que o Phil Jackson preferiu usar o Smush Parker (e tinha jurado que nunca mais diria esse nome) ao Farmar no seu primeiro ano e que nunca pensou em tirar o Derek Fisher da posição nos anos seguinte. Também esquece que em 2007-08 já tinha virado o terceiro armador do time, perdendo a vaga de reserva para o Javaris Critentton (sim, o da confusão com o Arenas) e só foi salvo porque o Critentton foi para o Grizzlies na troca-doação do Pau Gasol. O Grizzlies nem pediu ele na troca! O Grizzlies! Sem contar os inúmeros jogos em que o Sasha Vujacic e o Shannon Brown usaram os minutos que seriam do Farmar só por defender ou arremessar melhor.

Robinho, se você é reserva no Manchester City, você nunca vai ser o melhor do mundo. Farmar, se você está disputando (e perdendo) vaga com Critentton, Vujacic e Shannon Brown, você nunca vai ser titular. Vou entrar na dança e estabelecer como objetivo do Bola Presa ter mais acessos que o UOL, quem será que consegue primeiro, nós, o Farmar ou o Robinho?

Depois de tanto falar que só ficaria no Lakers se virasse titular ou que iria mudar para um time onde começasse os jogos, Farmar não recebeu nenhum telefonema quando seu contrato acabou. Aí acho que alguém deu um toque de brother no rapaz, que aceitou o contrato de 12 milhões por 3 temporadas pelo Nets. Lá ele vai fazer o que é capaz de fazer, ser reserva. Ele tem velocidade, eventualmente tem grandes momentos e é um arremessador de três decente, obviamente tem espaço na NBA, mas precisou tomar um gelo para se tocar de que espaço é esse. Para o Nets foi importante ter um armador reserva que mantenha o ritmo rápido de jogo do Devin Harris, mas não vai ser algo que vai mudar os rumos da equipe.

A última contratação do Nets nessa offseason foi o glorioso Anthony Morrow, um dos melhores achados do Don Nelson nos últimos anos. O Morrow está, sem dúvida, na lista dos cinco melhores arremessadores de três da atualidade e não ficaria surpreso se algumas pessoas o considerassem O melhor, nem diria que essa pessoa deve ser a mãe dele. Seu aproveitamento é de 45,5% nas duas temporadas que jogou, o que é um absurdo para o número de bolas que ele arremessa.

Tudo o que um arremessador quer da vida é espaço. E para isso ele precisa que o seu marcador fique distraído ou ocupado com outra coisa, o que dá mais certo costuma ser um jogador de garrafão forte que chama a marcação dupla ou um driblador, que força a infiltração, passa pelo seu marcador e exige que outro largue a sua responsabilidade para tapar o buraco. Em seus bons dias esses dois tipos podem ser chamados de Brook Lopez e Devin Harris. Se os dois jogarem bem nessa temporada é possível que levem o Anthony Morrow nas costas, mas não será o contrário. É mais uma contratação para ajeitar o time, não para revolucioná-lo. Até porque a não ser que o Anthony Morrow mostre, de repente, que é um excelente marcador (quem conseguiria provar isso no Warriors?) e tem um jogo ofensivo além dos seus arremessos, ele deve ser reserva do ótimo Courtney Lee.

Com dinheiro de sobra para contratar uma grande estrela, o Nets chega perto do fim do período de contratações mantendo boa parte do time que foi o pior do ano passado e mais três reservas e um titular de passado recente duvidoso. E isso sem contar que eles mesmo admitiram que o Derrick Favors, terceira escolha do Draft 2010, ainda não está pronto para fazer muito estrago na NBA, é um projeto futuro. Será que em 2015 o Nets vira um grande time? Já tamo chegando, paiê? E agora?

Você sabe porque o Nets chama Nets? Apenas para rimar com os outros times da região, o New York Mets e o New York Jets. Merece o último lugar ou não merece?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Casamentos perfeitos

T-Mac, se liga, é a última vida!


A principal diferença entre Tracy McGrady e Kevin Martin, dois grandes jogadores que acabaram de ser trocados, é que um sempre quis ser estrela enquanto o outro se tornou estrela meio que por acaso. Quando T-Mac foi draftado pelo Raptors, não via a hora de deixar o time que pertencia ao seu primo Vince Carter para poder brilhar em um time que fosse inteiramente seu. Conseguiu uma equipe só para ele no Magic, onde descobriu que carregar uma franquia inteira nas costas é uma merda. Ele queria ser estrela e conseguiu, foi cestinha da NBA duas vezes seguidas, mas aprendeu que sem um elenco decente não é possível ganhar jogos. Foi ficando cada vez mais frustrado, mais insatisfeito, até que não aguentou mais e chutou duas bolas pra fora da quadra:


O mais engraçado desse vídeo é que o T-Mac parece bem calmo até que, de repente, uma vontade incontrolável de ser expulso lhe toma o corpo, enquanto o Juwan Howard tenta desesperadamente impedí-lo de chutar a bola porque se o McGrady não estiver em quadra não iria sobrar ninguém no Magic capaz de amarrar o próprio cadarço. Após esse incidente a troca foi inevitável e o T-Mac foi ser estrela no Houston, onde ele sabia que, com o apoio de uma outra estrela, poderia ser campeão.

O Yao Ming é meio tímido, não tende a dominar jogos, e o McGrady nunca deixou de carregar nos ombros a responsabilidade pela equipe. Dava discursos sobre ser a estrela, sobre recair sobre ele o peso da vitória, e garantiu que se a equipe fosse eliminada nos playoffs a culpa seria sua. Mas aí ele jogou bem pra burro, fez tudo que poderia, foi eliminado mesmo assim e aí - depois do lendário choro na entrevista coletiva - percebeu que a culpa era do resto do time. McGrady sempre balançou de um lado para o outro nessa história de assumir a responsabilidade ou delegá-la para a equipe, mas nunca cogitou não ser a estrela, o astro principal. Quando as dores nas costas começaram a destruí-lo e minar seu tempo de jogo, disse que esperava ser campeão logo para poder se aposentar. Estava apenas esperando as honras para poder se livrar do fardo.

Kevin Martin é o extremo oposto. Foi draftado com a vigésima sexta escolha depois de jogar numa faculdade obscura e mal entrava em quadra pelo Kings, até acertar o arremesso da vitória contra o Spurs nos playoffs de 2006.


Quando lhe deram mais minutos na temporada seguinte, ele explodiu apesar do seu jogo silencioso, quase invisível, em que marcou mais de 20 pontos por jogo dando o menor número de arremessos por partida de toda a NBA. Quando a temporada terminou e Kevin Martin tinha números incríveis, havia batido recordes com o número de lances livres cobrados e convertidos, o Kings lhe ofereceu um questionável contrato de 55 milhões de doletas por 5 anos, um contrato que nem a mãe do Martin esperava. Tanta grana para um jogador que não era uma estrela, vinha de apenas uma grande temporada e se portava timidamente em quadra foi uma ação duramente criticada. Um salário de mais de 10 milhões por ano deveria ser entregue a alguém que pudesse carregar nas costas o Kings inteiro, algo que não parecia ser o caso de Martin. Ele virou estrela pela grana que recebia, pelas suas estatísticas, não por quem ele era. Embora seus números sejam de um pontuador nato, Kevin Martin arremessa pouco, não tem um drible devastador, não arma o jogo e não tem explosão rumo à cesta nem força física. Tem um corpo de quem ainda escuta os álbuns da Xuxa e descobriu agora que meninos tem pipi, não gosta de ser um líder e não é vocal na quadra, preferindo ficar quietinho. Ele é apenas um jogador coadjuvante, mas bom demais, eficiente demais, pontuador demais, ladrão de bolas demais, para ser considerado coadjuvante. O Kings achou que ele merecia 55 milhões então ótimo, sorte dele que vai ter grana para comprar muitos álbuns da Xuxa e enfiar o resto nas orelhas.

Assim que Tracy McGrady chegou no Knicks, agiu como estrela. Ele é obviamente o jogador mais talentoso da equipe, o mais experiente, e apesar de estar completamente sem ritmo de jogo começou como titular. Exigiu a bola nas mãos logo de cara, atacou a cesta mesmo sem qualquer sinal de velocidade, e fez os torcedores explodirem com duas cestas com falta ainda no primeiro quarto. Movido pela torcida amalucada do Knicks, arremessou e bateu para dentro do garrafão sempre que deu na telha, colocando em prática o seu "veteranoból", aquele basquete de velhinhos que não envolve pulos, força ou velocidade, e se aproveita das manhas de quem sabe onde estar na quadra, como enganar a pirralhada e como usar os juízes ao seu favor. Para alegria do técnico Mike D'Antoni, que estava desesperado por um armador desde que o Chris Duhon caiu de produção de uma temporada para a outra, McGrady é inteligente o bastante para armar o jogo, tem boa visão de quadra e encontra os companheiros livres com os passes certos, mas tudo isso sem correr. O resto do time batendo para a quadra de ataque como gatos no cio e o McGrady trotando devagarinho, na velocidade em que ele consegue, jogando de armador principal pela primeira vez na carreira. Ainda assim cansou logo e mal participou da prorrogação, em que o Eddie House provou que sem o Garnett para comer o seu fígado se ele fizer cagada (e com o D'Antoni que quer mais é que todo mundo arremesse mesmo) ele vai arremessar o tempo inteiro, ganhar uns jogos sozinho e perder dez vezes mais jogos por culpa sua e de sua falta de cérebro.

A estreia do T-Mac foi digna de uma estrela, de um jogador que domina o esporte, se encaixa em qualquer lugar, sabe chamar a torcida e sabe como conseguir pontuar do jeito que bem entender. Falta oxigênio, joelho, ter nascido quando já existia internet, mas fora isso ele ainda é espetacular. Só que, como em todo o resto de sua carreira, para ele ser estrela e chamar a responsabilidade para si é preciso um time horrível à sua volta que lhe trará derrota atrás de derrota. Cada vez mais cansado, questionando se seria capaz de enfrentar o Celtics depois de sentir dores no joelho após duas partidas, T-Mac faz o que consegue. Mas ele não consegue vencer.

Já a estreia do Kevin Martin foi, assim como ele, muito mais discreta. Começou no banco de reservas, o que é muito sensato porque ficaria bem feio colocar Ariza ou Battier no banco depois de tudo que eles fizeram juntos na temporada até agora. K-Mart começou devagar, arremessou algumas bolas quase por obrigação, tentou não participar muito, e foi ajudando a equipe em todos os aspectos mesmo sem seus arremessos caírem: roubou bolas, pegou rebotes, soube encontrar seus companheiros livres. Quem não prestou atenção nem reparou que ele estava em quadra. Em sua segunda partida, instruído a arremessar mais, acabou errando mais. Mas só dá para notá-lo por causa do arremesso esquisito, do jeito engraçado que ele joga, porque ele nunca chama o jogo, jamais compromete a equipe, nunca dá para xingá-lo. Ganhará os jogos cobrando lances livres, arremessando bolas de três apenas quando estiver livre, preferindo cavar o contato ao invés de tentar um arremesso forçado. Ele não é uma estrela mesmo que tenha números de estrela, mesmo que bata recordes, que sua eficiência o coloque estatisticamente ao lado de lendas como Michael Jordan e Nate Archibald.

O Knicks precisa de atenção. Precisa de audiência na TV, marketing, barulho, o que for preciso para atrair as grandes estrelas ao término da temporada, já que a equipe terá dinheiro para assinar dois contratos máximos. T-Mac é perfeito para isso, ele será uma estrela mesmo aos 80 anos, mesmo quando não acerta os arremessos, mesmo na derrota. Já avisou que o que ele quer da vida é poder jogar, e que está mais do que disposto a assinar um contrato pequeno e permitir que duas estrelas venham jogar com ele em contratos máximos. Está se preparando para sumir nas sombras, brilhando agora para se tornar ajudante na temporada que vem. São os últimos suspiros do McGrady que conhecemos, mesmo que ele não ganhe uma partida sequer. Ainda que para o Knicks perder não dê resultados porque a escolha de draft desse ano não é deles (o Sampa City me avisou nos comentários que a escolha era do Jazz, e aí fui descobrir que o Knicks mandou para o Suns quando trocaram pelo Marbury), o que importa mesmo, mais do que as vitórias, é o T-Mac ter bons números para iludir outras estrelas a jogar com ele. O casamento foi perfeito para os dois, nem importam os resultados.

O Houston sente falta de Carl Landry, único pontuador do time em quartos períodos, e perdeu suas duas partidas até agora no final porque a equipe não sabia como marcar pontos de modo algum. Mas o casamento com o Kevin Martin também é perfeito, um jogador inteligente e discreto que não quer ser e nem nunca será uma estrela. Ele pode ajudar como quiser, como conseguir, sem nunca ter que chamar a responsabilidade que se espalha por todo o elenco graças ao planejamento de uma vida toda do técnico Rick Adelman. Cansei de ver o Rafer Alston querer decidir jogos pro Houston e eu tendo um aneurisma cerebral, e ando cansando do Aaron Brooks querer bancar o herói em momentos impróprios. É um alívio ver que o Kevin Martin vai eventualmente começar a ganhar jogos, decidir partidas, tudo daquele jeito estranho de moleque de 12 anos que não sabe jogar basquete, e eu nem vou perceber quando ele errar porque é inteligente e discreto. Quando acertar também não vai querer ser estrela, não vai reclamar de minutos, de vir do banco, de não ter certo número de arremessos. Enquanto até o Travis Outlaw diz que estava louco para sair do Blazers porque lá ele nunca teria o número de arremessos que merece, o Kevin Martin entra para a história com o menor número de arremessos para atingir sua média de pontos. Não consigo imaginar alguém que se encaixe tão bem no atual momento do Houston, mesmo que as derrotas continuem vindo. Essa sim é uma equipe, ao invés do erro lendário de juntar duas estrelas e ver o que acontece. Com o Houston não deu certo, será que dará com o Knicks?

Por que tantos times acreditam que, juntando dois jogadores fantásticos, ganharão títulos? Contusões, elenco de apoio, tática, psicológico, identidade, química - uma tonelada de fatores que vão muito além de ganhadores de contratos máximos. O Celtics percebe que, com outro clima no vestiário, tem menos chances de ser campeão apesar de reunir tanta gente fantástica no mesmo lugar, todos com contratos máximos e alguns a preço de banana. É por isso que desejo boa sorte para quem T-Mac receber como ajuda na temporada que vem. Como torcedor feliz com a equipe pela primeira vez em anos, acompanhando o basquete coletivo e sem estrelas do Houston Rockets, prefiro ficar com o Kevin Martin.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tente outra vez

Greg Oden mostra sua famosa técnica de se contundir no joelho


Quando vimos Greg Oden ser draftado aos 19 anos, sabíamos pelas rugas em seu rosto que ele na verdade tinha uns 82 anos e iria se aposentar em breve. Se ele durasse alguns anos, seria o bastante para o time forrado de pirralhos do Blazers amadurecer um pouco e tentar ganhar um ou dois anéis de campeão. Nem seria necessário ele ser um grande jogador, bastaria que ele quebrasse um bom galho, principalmente defensivamente, e ele já seria capaz de se aposentar tendo feito parte de um time memorável, de garotos que se tornaram homens, um processo de renovação que levou o Blazers do fedor completo à real disputa por um título.

O que ninguém esperava é que, na verdade, o Oden fosse o "Jimmy Bolha". O mundo aqui fora é muito perigoso para ele, que precisa permanecer toda sua vida fechado dentro de uma bolha para tentar se manter saudável. No mundo exterior ele tem poucas chances de sobreviver, só se ferra - e atravessa o país causando um monte de confusões.

O histórico de lesões do Oden comprova essa teoria. No seu único ano de basquete universitário, jogou o tempo inteiro com uma lesão na mão direita que o obrigava a arremessar lances livres com a canhota. Muita gente achou que isso foi benéfico para o próprio Oden, porque mostrou como ele era capaz de jogar muitíssimo bem ainda que lesionado, além de fazer propaganda do seu talento com as duas mãos. Mas após ser draftado com a primeira escolha do draft, Greg Oden contundiu o joelho ao tentar (olha que bizarro!) levantar do seu sofá, ainda em casa. Tem gente que jura de pé junto que ele na verdade se machucou dançando "Dance Dance Revolution" num daqueles tapetes de dança, o que eu prefiro acreditar porque é menos ridículo do que se arrebentar saindo do sofá, parece coisa do Eddy Curry, que corre o risco de romper um tendão tentando ir ao banheiro depois de tantos anos comendo lasanha na cama.

A cirurgia para reparar o joelho tirou o Oden de toda a sua temporada de novato, mas muita gente também achou que no fundo foi uma coisa boa: o time aprendeu a jogar sem ele, amadureceu bastante, conseguiu ser levado a sério, e passou a esperar o Oden numa boa, que assim conseguiu voltar com menos pressão e tendo que jogar menos minutos. A situação também mostrou o caráter do jovem pivô, que pediu desculpas às lagrimas para seu técnico e para o dono do Blazers por deixar o time na mão antes sequer de poder entrar em quadra. Satisfeitos com a mostra de dedicação do rapaz, confiaram plenamente que ele voltaria com toda vontade possível.

E voltou. Mas perdeu 20 jogos na sua temporada de estreia com mais uma lesão no joelho. Ao invés de questionarem se o produto era paraguaio, no entanto, passaram a se preocupar com o excesso de faltas cometidas quando ele de fato estava em quadra. Toda vez que um chinês vota no Yao Ming para o All-Star, o Greg Oden comete uma falta - o que significa que ele acaba passando a maior parte do seu tempo no banco de reservas. Se analizássemos a carreira do Oden num daqueles gráficos pizza, O Eddy Curry comeria esse gráfico, mas antes disso perceberíamos que o Oden passou a maior parte do tempo contundido e a outra maior parte no banco por excesso de faltas. A menor fatia da pizza, que não daria nem pra encher o buraquinho do dente, representaria o tempo que ele jogou basquete pra valer - minutos raros mas que mostram, realmente, que o talento do Oden é real. Quando está em jogo e não acerta ninguém com uma cotovelada acidental, desiquilibra o jogo defensivamente. No ataque, é habilidoso com as duas mãos e finaliza com força no garrafão.

Foi assim que, para a temporada de agora, todo mundo ficou esperando que ele aprendesse a cometer menos faltas, não que fosse mais saudável. A lesão na mão ajudou sua ambidestria, a lesão no joelho ajudou o time a amadurecer, a segunda lesão no joelho lhe deu tempo para se acostumar melhor com os critérios de falta da NBA. Quando se trata do Greg Oden, parece que se cair um piano na cabeça dele vão dizer que foi bom para melhorar seu ouvido musical. Uma hora alguém vai acabar percebendo que ele não precisa de um bom treinador, precisa é de um bom plano de saúde (e de um creminho anti-rugas, vai).

Nessa temporada, fiquei bem confuso a respeito de seu amadurecimento defensivo. Em algumas partidas, mostrou ter sacado direitinho que na NBA é mais importante atrapalhar o arremesso do que gerar contato de verdade, principalmente quando se é um novato e todos os juízes do planeta vão preferir marcar uma falta em você quando o Kobe se aproxima de um raio de dois quilômetros de uma cesta. Contra o Houston, por exemplo, vi o Oden dominar o garrafão defensivo e obrigar a equipe inteira a ficar arremessando de três, como se todo mundo do Rockets fosse o Rasheed Wallace e tivesse fobia de chegar perto do aro. Mas em outros jogos, vi o Oden parecer o mesmo fedelho afoito de sempre, indo atrás do toco, do contato, todo estabanado e ingênuo, com cara de quem acreditaria que o filho da Mari Alexandre é dele mesmo. As atuações foram bem mistas, sem um critério que pudesse indicar evolução. Ofensivamente, no entanto, pude notar uma melhora constante, uma noção cada vez melhor de posicionamento. O problema é que, como qualquer ser humano mamífero e bípede, ele depende um tanto de ritmo: quando consegue passar vários minutos em quadra, vai participando do ataque e produz mais e mais, mas quando sai de quadra rapidamente por cometer faltas em excesso, não consegue acertar arremessos nem que a vaca tussa.

Mas não deu pra acompanhar essa saga do Greg Oden aprendendo a não matar os jogadores adversários de porrada por muito tempo, afinal ele está fora de sua bolha e portanto fadado a virar farofa. Contra o Houston (parece que eles já se enfrentaram umas oito vezes nessa temporada, já enjoei de ver o Blazers jogar), o Oden se contundiu mais uma vez. Em notícia igualmente chocante, a Vivi Fernandes não é virgem.



Como dá pra ver no vídeo, o contato com o Aaron Brooks foi mínimo. Já vi mais contato físico do que isso em partida de tênis, quando duas tenistas trocam beijinhos depois da partida. Mas a queda desiquilibrada do Oden foi o bastante para o joelho virar poeira outra vez, ele ter que apelar para a faca de novo, e perder essa temporada inteira. É a terceira lesão nos joelhos em três anos, e a segunda vez que ele perde a temporada toda. No maior esquema "tente outra vez", é bem claro que ele vai tentar dar uma de Ronaldo e voltar mais uma vez, e mais uma vez, e mais uma vez, até que perceba que não precisa se esforçar tanto e se contente em jogar bem gordo. Novamente chorando, Greg Oden pediu perdão para seu técnico e até para Brandon Roy, quando foi visitado pela estrela do Blazers. A reação de todo mundo é a mesma: essas coisas acontecem, não tem como prever, e portanto não faz sentido se desculpar. O Oden é um cara legal, preocupado, esforçado, suou as pitangas para recuperar a forma física nas últimas férias, e vai fazer tudo de novo. A torcida reconhece o esforço e sabe que essas coisas são aleatórias, simples acaso. Com ele ainda no chão, esperando a chegada da maca, os torcedores que lotavam o ginásio de Portland começaram a gritar seu nome.

É bom saber que os engravatados, os jogadores, os torcedores, seus técnicos, todo mundo apoia o garoto, admira sua dedicação e esforço, sua vontade de estar saudável, e entende que basta estar vivo para que merdas aconteçam. Mas quanto tempo mais esse Blazers pode se dar ao luxo de ficar dependendo de sorte ou azar? O elenco montado é simplesmente profundo e talentoso demais, e nessa temporada já foi bastante complicado tentar arrumar minutos - e dinheiro - para todo mundo. O jovem Jarryd Bayless, por exemplo, acabou perdendo na disputa do palitinho e terminou no final do banco da equipe, jogando apenas os minutos finais dos jogos já decididos. Rudy Fernandez já reclamou de seu papel na equipe publicamente, assim como o Travis Outlaw, que sempre quer arremessar mais. Martell Webster acabou de voltar de contusão e recuperou seu espaço no time. Andre Miller veio do Sixers querendo ser titular, e de tanto chorar até conseguiu a vaga e um pirulito de groselha, mas a alegria não durou muito e ele já voltou pro banco. O que veremos, em breve, é essa quantidade surreal de talento exigindo mais tempo de quadra, mais arremessos, vaga de titular, e contratos maiores e mais gordos. A reconstrução do Blazers foi excelente, exemplo pra qualquer time do planeta, mas o número de anos que dá pra segurar todo mundo junto é limitado. Quando a equipe dá sinais de que vai crescer e brigar com os grandes, é preciso uma subida vertiginosa que prove para todos que se trata de um projeto de verdade, com chances de título, e que merece que todo mundo se mantenha modesto com relação a minutos e a dinheiro, senão todo mundo foge achando que vai ser valorizado e receber a atenção que merece num time "de verdade". Ou seja, basta as coisas darem errado um par de vezes e os descontentes vão debandar em busca de contratos melhores em outros lugares. Não dá pra segurar muita gente muito barata por muito tempo.

Essa temporada já foi pelo ralo. A não ser que o pó de pirlimpimpim do Houston Rockets seja emprestado para o Blazers, a equipe de Portland não vai conseguir sobreviver sem o Greg Oden, sem o Nick Batum (que fez uma cirurgia no ombro no começo da temporada) e sem o Travis Outlaw (que acabou de quebrar o pé), todos peças fundamentais da equipe. O negócio por lá anda tão ruim que até o técnico Nate McMillan rompeu um tendão num treino e vai pra mesa de cirurgia, tudo enquanto o dono da equipe luta contra o câncer. Novela mexicana das boas.

O Blazers virou rapidamente o segundo time de todo mundo, a pirralhada que qualquer um gosta de acompanhar ganhando barba na cara e chutando os traseiros dos times grandes. Mas é possível que, em breve, eles passem do ponto e comecem a desmanchar se não houver uma evolução clara no elenco e as peças fundamentais não ficarem saudáveis. O Greg Oden é um cara bacana, seria legal de ir tomar um café, ele se esforça pra burro e quando está em quadra é exatamente do que o time precisa, mas já estamos chegando no momento de olhar arrependido para o draft e pensar que, com outro jogador escolhido em seu lugar, esse Blazers já estaria chegando mais longe e aproveitando, enquanto é tempo, essa quantidade enorme de jogadores jovens e baratos. Imaginem só como seria esse time com o Brandon Roy armando para o Kevin Durant, por exemplo. Mas se o negócio for continuar apostando no garrafão, até uns jogadores mais secundários estariam fazendo um belo de um estrago: que tal Al Horford garantindo os rebotes, ou Joakim Noah dando uma força na defesa? Todos eles seriam melhores do que ver o Greg Oden fazendo um estrago no próprio joelho, né?

O Blazers começa a entrar numa corrida contra o tempo, e talvez não valha a pena contar com o Oden. Será que dá pra ganhar qualquer coisa com o Przybilla no garrafão? Em algum lugar, o Greg Oden deve estar nesse momento pedindo desculpas, que são inteiramente aceitas. Mas e daqui há 10 anos, será ele o novo Sam Bowie (o cara draftado antes do Jordan que sumiu pelo excesso de lesões)? Ou o novo Yao Ming (que dominou enquanto os osso deixaram)? Infelizmente, parece que suas lesões não permitirão que ele dure muito tempo - exatamente como a idade no seu rosto indicava. Uma carreira curta, como a vida útil desse Blazers que vemos hoje.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Imperdíveis

Garnett e sua reação ao saber que a Terra é
redonda e que a água é molhada



A onda de preguiça no Celtics continua (e, dependendo de para quem você perguntar, aqui no Bola Presa também. Nossos telefones não param de tocar, todas as nossas atendentes estão ocupadas, recebendo reclamações sobre constância, mas vamos estar cuidando disso, servimos bem para servir sempre!). Como comentei num post recente, a derrota para o Lakers na noite de Natal mexeu com a motivação da equipe de verde, que parece até ter tentado retomar o fôlego, mas não anda dando certo. Ontem, na derrota para o meu Houston Rockets, o Celtics perdeu em casa e quase nem percebeu. Quando se deram conta de que poderiam perder já era tarde demais, mas não existiu aquela reação desesperada de quem nota o placar e luta desesperadamente contra ele, o Kevin Garnett não tentou processar o cara do placar como último recurso, e também não estourou uma veia ao reclamar das falhas defensivas de sua equipe. Ninguém ficou feliz com a derrota, é claro, ficaram todos bem frustrados, mas nem de longe com a intensidade que já tiveram um dia. Isso por algum motivo me lembrou a Adriane Galisteu na época da morte do Ayrton Senna, "meu namorado morreu, foi bem triste, mas agora vou comprar uns sapatos e apresentar algum progama na televisão". No vestiário do Boston, apesar da situação lamentável evidenciada por três derrotas seguidas, tenho certeza de que o Glen Davis comia uma barra de chololate enquanto alguém, em algum canto próximo, bocejava (provavelmente o Cassell, que ainda não entrou em quadra na temporada e também não conseguiu voltar para o seu planeta).

Eu não vejo nenhum problema com isso. Repito sempre que me perguntam (embora, convenhamos, não seja algo que me perguntem muito nas ruas) que a temporada da NBA é longa demais, quase débil mental. A temporada regular tem jogos em excesso e ela vale pouca coisa, apenas engorda os bolsos de uns engravatados fumando charuto e contunde brutalmente nossos jogadores favoritos. Deixem o Celtics dar um migué, levar com a barriga um ou outro joguinho, não está valendo nada mesmo. Pedir que eles joguem com intensidade uma partida contra o Bobcats é como pedir que alguém se empolgue vendo o Duncan colecionar selos. No entanto, a situação começou a sair consideravelmente do controle dos homenzinho verdes (não estou falando de alienígenas, porque é óbvio que os aliens continuam com tudo sob controle). Deixar um jogo ou outro para lá é diferente de perder em sequência da porcaria do Knicks, do risível Bobcats, e da droga do meu Houston Rockets (sim, meu time fede e todo mundo por lá toma soro no café da manhã). Se não fossem as vitórias em cima do Wizards ultra-desfalcado e do Kings, que não existe e é apenas uma ilusão de ótica, seriam seis derrotas seguidas. O negócio começa a estragar a moral do time, qualquer um começa a acreditar que dá pra vencer o Celtics, e como diria a Ana Maria Braga versão O Segredo, "querer é poder". Quando eles enfrentarem o Wolves, até o Al Jefferson vai estar salivando e pensando que se o Bobcats consegue, qualquer um consegue. Se o Cavs, o Lakers e os outros grandes não tiveram pelo menos um medinho ao entrar em quadra contra o Boston, as coisas ficarão muito mais difíceis para os planos de repetir o anel de campeão. É preciso que exista um receio, um respeito pelos atuais campeões, e isso desaparece no primeiro segundo em que enfrenta-se um "time em crise", ou com uma sequência considerável de derrotas. Amanhã, como tínhamos anunciado, o Celtics pega o primeiro rival de verdade do Leste, que é o Cavs. Vai ser a oportunidade perfeita para que Garnett e seus amigos mostrem quem é o macho alfa dessa budega, derrotem LeBron e recuperem um pouco de sua honra (em algumas culturas, recuperar a honra após perder para o Bobcats seria impossível e todo mundo no Celtics teria que enfiar uma faca na barriga, à la harakiri). Amanhã, será uma questão de mandar uma mensagem para o resto da liga. Afinal, que mensagem você acha que eles passaram perdendo para um time em que um dos titulares consegue tomar um toco do aro?



Vendo esse lance, eu consigo até ouvir na minha cabeça o "tóim" que é característico de replay de pegadinha, e confesso que até bate uma certa saudadezinha do João "pára pára pára" Kléber (fica a pergunta para nossos leitores de Portugal, como anda o homem por aí?). Se o erro do Von Wafer é desmoralizante (talvez quase tanto quanto chamar "Wafer"), pior ainda é perder para um time que coloca ele no quinteto titular porque o Tracy McGrady é feito de Lego e desmontou. Já do outro lado, o Cavs está tranquilo: é verdade que eles perderam para o Wizards, naquela polêmica do drible da lagosta ou seja lá o que for, mas já descontaram tudo no Bobcats, num esforço coletivo em que todo mundo no Cavs marcou por volta de 15 pontos só porque parecia um número legal, na verdade cada um poderia ter feito 40 se quisesse. A partida de amanhã é imperdível para ver como times em fases opostas vão brigar pela liderança do Leste, e que mensagem cada um deles passará para os futuros adversários - mensagem que ficará na memória de todo mundo para a hora dos playoffs.

Quer dizer, o jogo é imperdível se você não estiver interessado em outro jogo também imperdível da rodada, claro. Estou falando de Bucks e Nets, a volta de Richard Jefferson a... estou brincando. O outro jogo imperdível da rodada é a volta de Billups a Detroit, comandando um Nuggets que vem de 5 vitórias seguidas e está chutando traseiros no Oeste. É verdade que Carmelo Anthony estará fora, afinal ele quebrou um dedo e ficará longe das quadras por pelo menos três semanas, mas isso é mais motivo ainda para assistir ao jogo. Não que o Carmelo fosse estragar tudo, mas é que assim Billups terá liberdade total para comandar a budega, arremessará todas as bolas (a não ser quando por engano a bola for parar nas mãos de JR Smith, que sem dúvidas irá arremessar no mesmo instante) e assim Billups será a estrela absoluta do time. Por um lado, espero ver o Billups num clima de "olha a merda que vocês fizeram", no maior estilo "Baba baby, baby baba" da Kelly Key. Mas por outro, talvez ele jogue num clima de "obrigado por me trocarem", afinal ele parece ter se encaixado perfeitamente bem em Denver e provavelmente não deverá enfrentar seu grande amigo, Richard Hamilton, que está contundido. Se ele estará todo sorrisos ou todo cara-de-mau a gente não sabe, mas de todo modo ele tem tudo pra jogar demais amanhã.

Do outro lado da moeda, o Iverson vai querer provar que o problema não era ele, que ele não é tão amaldiçoado quanto o Clippers, e que um time com ele pode dar certo. Eu ainda não consigo opinar sobre isso, "prefiro pular, seu Sílvio", mas a verdade é que o time está segurando bem as pontas apesar dos altos e baixos. Eram 7 vitórias seguidas até que eles perderam para o Blazers, com um erro de Iverson no último arremesso, mas como ele acertou alguns desses ainda nessa temporada, acho que tem algum crédito. Engraçado é que o Blazers só ganhou por causa de uma cesta do Travis Outlaw, que na temporada passada fez fama por dominar os quartos períodos. Qual a lógica dele ser tão dominante no final dos jogos sendo que no resto ele costuma feder um bocado? Chegamos a um ponto em que o Blazers já tem jogadas específicas traçadas para que o Outlaw finalize quando os jogos estão apertados, o que beira o ridículo se você pensar em como o resto do elenco é muito superior em todos os aspectos. A única explicação minimamente razoável em que eu consigo pensar é que o Outlaw é apaixonado pelos próprios arremessos, ele fecha os olhos quando está com sua esposa e fica imaginando um jumper dele mesmo de meia-distância, e por isso não tem nenhum medo de chutar nos momentos decisivos, pelo contrário, ele chutaria até no funeral da própria mãe se deixassem. Mas ele não é o JR Smith, ele tem mais cabeça, se contém melhor, mas quando dão carta branca para ele, ou quando ninguém mais tem coragem para tentar um arremesso, pode ter certeza de que ao Outlaw nunca faltarão bolas. Os resultados costumam ser positivos até, e o Pistons se lascou por causa disso, mas ainda assim os resultados têm vindo para o time de Detroit e será muito bacana ver como eles enfrentarão o Nuggets em boa fase - principalmente de Nenê, que está chutando traseiros e agora inclusive consegue sair do chão, o que obviamente contraria várias leis da física e deve levar a uma nova compreensão de uma teoria quântica da gravidade.

Como o jogo em Detroit começa uma hora depois do embate entre Cavs e Celtics (que por sua vez começa às 23h, com transmissão pela ESPN), meu plano é ver o primeiro jogo inteiro, mudando para o Pistons apenas no intervalo do primeiro para o segundo tempo (com transmissão pelos canais genéricos virtuais), e depois assistir ao final do jogo do Pistons quando o do Cavs acabar. Recomendo a tática para todo mundo, a não ser para quem quiser de fato ver o Richard Jefferson enfrentando o Nets, seu ex-time. Mas assistir a um jogo inteiro só por isso é um pouco esquisito. Afinal, como diz aquele velho ditado, uma Tartaruga Ninja só não faz verão (vai me dizer que não parece?).

sábado, 3 de janeiro de 2009

Motivação

Sai desse corpo, que ele não te pertence!


Não fui apenas eu que fiquei preguiçoso e diminui um pouco a frequência dos posts nesse final de ano (já que ninguém é de ferro). O Celtics também deu sinais de preguiça e as 19 vitórias em sequência, que viraram farofa no jogo épico contra o Lakers no Natal, agora são lembrança distante depois que a pequena viagem pelo Oeste terminou com 3 derrotas e apenas uma vitória. E a vitória nem vale, porque foi contra o Kings e eles não são um time de verdade, são apenas um amontado de gente que sequer sabe pular. Foram derrotas em Los Angeles, em Golden State e em Portland, três das cinco que o Celtics perdeu nessa temporada, e tudo num intervalo de 5 dias. Das outras duas derrotas, uma foi para o Nuggets de Billups e a outra para o Pacers, no primeiro jogo da temporada e provavelmente em uma falha na Matrix (que o Hawks seja rival do Celtics eu até posso aceitar, mas o Pacers não, tem que ser um erro de programação!)

O melhor começo de temporada da história da NBA, com 21 vitórias e apenas 2 derrotas, é um absurdo e sinal claro de que o Celtics é ainda melhor do que aquele que ganhou o título passado. No entanto, apenas sete desses jogos foram contra equipes do Oeste, incluindo vitórias em cima de Warriors e Blazers - que depois se vingaram. Novamente, como na temporada passada, não estamos lidando com um time invencível, mas sim com um time que está deitando e rolando contra oponentes mais fracos e tendo um problema ou dois contra os times de verdade no Oeste.

De fato, o Leste parece bem mais forte do que nos anos anteriores, mas vamos encarar a realidade: por enquanto, Heat, Nets e Bucks estariam nos playoffs - os três, times que fedem muito. Ainda não dá pra levar aquelas bandas a sério, do mesmo modo que não dá pra levar o recorde do Celtics a sério demais. Podemos ver história sendo feita, o maior número de vitórias de todos os tempos e blablablá, mas pra mim o que importa mesmo são os confrontos com o Cavs. Por trás da aberração dos números, do calendário fácil e da disparidade exagerada de talento no Leste, poderemos assistir ao verdadeiro Celtics indo para Cleveland (onde o Cavs permanece invicto na temporada) na sexta-feira que vem, e você deveria colar um lembrete na geladeira para não esquecer, até porque deve passar na televisão (se a ESPN daqui não passar, é porque eles são débeis mentais e decidem o jogo que vão transmitir na base do uni-duni-tê). Depois disso, lá em fevereiro, o Celtics faz uma viagem de verdade pelo Oeste com direito a revanches contra Lakers e Nuggets e outros adversários como Suns, Spurs, Hornets e Mavs. Acho que os anos de temporada regular estão pesando nas minhas costas, estou ficando um velho chato, na verdade tudo que eu queria era que o Celtics e o Cavs enfrentassem apenas os times do Oeste, quem tivesse mais vitórias ganhasse o mando de quadra, e então se pegassem numa melhor de 7 jogos pra ver quem vai pra Final da NBA logo de uma vez.

Fica difícil pro próprio Celtics manter a concentração e a intensidade em todos os jogos sabendo que aqueles que realmente importam são raros. O time fica querendo vencer o Lakers e acaba sendo um porre ter que se importar com os times pequenos. É nessas horas que os "recordes" acabam sendo bastante úteis. A sequência de vitórias do Celtics, que chegou a 19 seguidas, foi a maior que a franquia já tinha alcançado. Começa então a pintar aquele clima de manter a marca, de alcançar novos recordes, e aí até o jogo contra o Thunder é importante em nome dos números. Depois que a sequência foi quebrada com a derrota para o Lakers, lá se foi aquele objetivo secundário e o time relaxou de vez, deu preguiça. É como um cara qualquer que consegue não deixar uma peteca cair por 10 horas. Não serve pra nada, a tarefa é fácil, o número de horas é enganador, mas e se ele bater o recorde de 15 horas? E se tentar o recorde de 20 horas? Acaba se tornando uma motivação para continuar com aquela besteira, torna-se um vício à parte. Para o Celtics, a temporada regular é uma besteira mas o esforço precisa ser mantido, mesmo que através de objetivos tolos secundários. Contra o Warriors, por exemplo, o Boston jogou sem a menor vontade, cometeu erros tolos no quarto período e parecia simplesmente se esforçar o mínimo possível. Sem recorde, sem Lakers, sem importância, pra que correr contra o time do maluco do Don Nelson? Acabaram perdendo.

Mas contra o Kings e depois o Blazers, o ânimo já estava de volta. A intenção parecia ser recomeçar uma sequência de vitórias o mais rápido possível. Obra, nitidamante, de Kevin Garnett. Se ele perde no par-ou-ímpar, vai sequestrar a mãe do infeliz ganhador até que ele aceite uma revanche. Para ele, todos os segundos de um jogo são o momento esportivo mais importante de sua vida (o que, aliás, lembra bastante aquele narrador de NBA do canal "Esporte Interativo", que narra uma cobrança de lateral como se fosse um momento histórico e sempre parece que vai estourar uma veia de tanta emoção). Resumindo, o Garnett é um pentelho, e agora todo mundo está pegando no pé dele por isso. Tem gente dizendo que ser campeão lhe subiu demais à cabeça, que ele está com "Complexo de Frodo", que virou estrelinha. Ué, só posso deduzir que esse pessoal não conhecia o Kevin Garnett antes. Lá em Minessota ele ficava bastante escondido e arrisco dizer que foi o melhor jogador invisível que já existiu, num time horrível, numa franquia inexpressiva, com um técnico risível, e uma fama injusta de feder nos playoffs. Ele gritava como um orangotango no cio, batia no peito, mostrava os dentes, bebia sangue, dava cabeçadas na parede, palitava os dentes com ossos humanos, ficava repetindo durante o jogo que ele era o melhor jogador de todos os tempos, criava duelos pessoais com jogadores aleatórios e se empolgava com isso durante as partidas. Mas ninguém assistia, um ou outro caso em especial virava uma anedota e o Garnett era apenas "intenso", nada mais. Agora, no time campeão (e, consequentemente, no time odiado da vez), trocentos jogos transmitidos o tempo inteiro, todas as câmeras apontadas e o Grande Irmão conhecido como YouTube sempre de olho, é possível ver de perto como Garnett sempre foi e notar direitinho até onde vai sua intensidade e paixão desmedida pelo esporte. Aquilo não é teatrinho, não é um personagem que surgiu num time vencedor, porque ele fazia exatamente as mesmas coisas quando ninguém assistia e o time era uma piada. Trata-se apenas da maneira com que ele lida com o basquete e com a pressão que coloca sobre si mesmo. Se ele parece um maluco, que seja: todos os caras bacanas parecem uns malucos (vai dizer que o Einstein não era bacana?). O Kobe é um nerd do basquete, o Artest ousa se divertir com o jogo, o Rasheed fica entediado quando fica apenas cumprindo seu papel. Todos eles levam sua paixão longe demais, a níveis que destoam do resto dos jogadores, e são portanto considerados loucos. Não apenas é uma besteira tratar isso como loucura como também essa paixão é o que de mais humano podemos encontrar no esporte. Gente de verdade grita, bate no peito e se dedica inteiramente àquilo que ama. Quando o Garnett xinga o coleguinha que fez merda na quadra, como aconteceu quando ele fez o Glen Davis chorar, eu não deixo de achar ele um pentelho chato pra caralho, mas o respeito como um ser humano com emoções. Não há dúvidas de que ele é o coração do Celtics. Taticamente, ele é o coração defensivo, ele dita o ritmo da marcação, aponta as falhas, dá ordens e lidera pelo exemplo. Quando o jogo está parado, ele é o coração afetivo, ele é a intensidade, a motivação da equipe. O Celtics perdeu três partidas para o Oeste numa temporada regular que não serve pra nada? Um recorde inútil foi interrompido? Para o Garnett, isso é questão de vida ou morte. Em pouco tempo, questão de horas, o Boston estava de volta nos trilhos.

Exatamente por isso é que a vitória do Blazers foi tão espetacular e surpreendente. O Celtics jogou com vontade, o Garnett estava berrando, e o time de Portland estava sem sua maior estrela, Brandon Roy. Incrível como ele faz falta, porque mesmo numa noite tremendamente inspirada do armador Steve Blake, que ditou o ritmo do jogo e acertou trocentas bolas de três pontos, o Blazers carece de alguém para chamar e executar as jogadas. Não importa em que posição o Roy jogue, é ele quem faz as coisas acontecerem. Com sua ausência, Blake manteve a mão calibrada, Greg Oden conseguiu não cometer 5 faltas enquanto coçava o nariz, e tudo acabou dando certo para o Blazers - até mesmo os juízes não perceberem a presença de 6 jogadores em quadra e acabarem validando uma cesta que, pelas regras, não pode ser cancelada.

Sinceramente, não achei que o time de Portland jogou particularmente bem, e até fiquei um bocado enlouquecido com a ruindade do Travis Outlaw, que parece um maníaco com a bola nas mãos, ignora os companheiros e é completamente apaixonado pelo próprio arremesso. Ele até pode ser um grande jogador, teve ótimos números, é excelente nos minutos finais dos jogos, mas o Blazers é profundo e coletivo demais para se deixar ser dominado por um jogador como ele, que já reclamou em voz alta sobre seus minutos, sobre o número escasso de arremessos e sobre seu contrato. Ou seja, ele precisa ir brilhar em outro lugar. Só que mesmo com o Outlaw sem noção, sem Brandon Roy, sem um jogo impecável, o Celtics novamente motivado virou farofa nos minutos finais. Mais uma vez, isso é um lembrete de que o Blazers é o time do futuro acontecendo agora (uma confusão espaço-temporal nos moldes do "De Volta para o Futuro"). Mas também é um lembrete de que o Celtics tem suas fragilidades, não importa quantas vitórias eles tenham em cima de times mequetrefes do Leste. Fiquemos no aguardo desesperado pelo confronto com o Cavs semana que vem e a viagem para o Oeste em fevereiro. E espero que o Garnett mantenha o time imensamente motivado até lá, com uma nova sequência de vitórias como um novo motivo para que os jogos sejam levados bem a sério. Mesmo que, no fundo, a gente saiba que não vale pra nada.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Está valendo

"Pela união dos seus poderes, eu sou Brian Scalabrine!"


Finalmente começou! Estou tão feliz, mas tão feliz que finalmente estamos na temporada regular que até vou comentar um pouquinho de todos os jogos de ontem. Mas não se acostumem, hoje à noite tem uma caralhada de jogo e aí não dá pra ficar comentando de tudo, tenho mais o que fazer, ausência de pauta é cortesia de primeiro dia da temporada.


Boston 90 x 85 Cleveland

O jogo não foi lá uma obra-prima do basquete bem jogado, do basquete moleque, basquete menino. Pra falar a verdade foi um joguinho bem arrastado, que ficou interessante mais pela vontade de vencer dos dois times, que ainda estavam em um clima de playoff e rivalidade, do que pela qualidade técnica.

Pelo Celtics o Ray Allen pensou que no ano passado deu sorte jogar mal contra o Cavs, então jogou mal de novo. O Garnett, como comentaram no nosso chat, deve ter deixado o anel de campeão cair no chão e ficou o tempo todo procurando por ele, esquecendo de ir jogar. Sobrou então tudo nas costas do Paul Pierce, que arrebentou com aquela budega.

Como vocês lembram, o Paul Pierce disse após as finais da última temporada que ele era o melhor jogador do mundo. Acho que ele está mesmo achando que isso é verdade e que chegou a hora de fazer o resto das pessoas concordarem com ele. Ontem foi um bom começo, ele simplesmente ignorou qualquer tentativa de marcação do LeBron James, que se esforçou, mas ainda não é um primor na defesa como é no ataque.

Falando em LeBron, ele teve seu típico jogo apagado: 22 pontos, 7 rebotes e 6 assistências contra a melhor defesa da NBA. Falando sério, não dá pra acreditar nos números desse cara, ele realmente esteve apagado ontem, o jogo não fluiu, ele errou demais mas mesmo assim ele teve números que muito cara bom no auge da carreira não tem, não dá pra acreditar.

No final do jogo o LeBron teve a chance de diminuir a diferença do Boston para 1 ponto com dois lances livres mas errou um deles, depois teve mais uma chance e errou outro. Até chamaria ele de amarelão, mas como ele vai calar a minha boca nos próximos 81 jogos, deixo quieto.

A estréia do Mo Williams foi discreta, não estragou e nem salvou o Cavs, mas foi só uma estréia e justo enfrentando o entrosado e forte Celtics, vamos dar um tempo antes de pegar no pé do cara. Aliás, nem sei se vamos pegar tanto no pé dele, já que ontem ele me surpreendeu.

Lembro de um jogo do Bucks no ano passado em que Mo arremessou as primeiras 5 ou 6 bolas do Bucks na prorrogação e errou todas. Ele nem cogitou passar a bola pro Michael Redd ou pro Bogut, foi patético. Ontem o Cavs estava abaixo por três no finalzinho e ele obedeceu a tática "Fresh Prince of Bel-Air" do técnico Mike Brown, só entregou a bola na mão do LeBron James antes de ir se esconder num cantinho escuro da quadra pra não atrapalhar. Mo Williams passando a bola e Scott Pollard usando um anel de campeão no mesmo dia, ai ai, que dia doido.

Falando em anel, nada mal a tal de cerimônia de entrega dos anéis de campeão. Quer dizer, nada mal se você gosta de um filme meloso e torce para o Celtics. Ver um bando de negão de 2 metros chorando porque ganharam do meu time na final não é o que eu chamo de diversão. Mas tá, tudo bem, eu fiquei um pouquinho emocionado ao ver o Paul Pierce daquele jeito. Mas não chorei junto, era só um negocinho que eu tinha no olho.


Bulls 108 x 95 Bucks

A graça do jogo era a volta do Scott Skiles a Chicago. Pra quem não lembra, o Skiles era técnico do Bulls até a temporada passada, quando num ato pouco cristão os dirigentes do Chicago o mandaram embora na véspera de Natal. História que daria, sem dúvida, um terrível filme de Sessão da Tarde. Diziam que o clima dele com os jogadores era péssimo, era o Skiles que proibia todo mundo de usar aquelas faixas na cabeça, o que revoltava os jogadores.

A volta dele não teve tanta graça porque os jogadores do Bulls não usaram faixas na cabeça só para provocar. Esse fair play é o tipo de coisa que estraga o esporte. Dentro de quadra era a estréia oficial do Derrick Rose pelo Bulls. Que foi armador titular e fez dupla com o Thabo Sefolosha. Isso significa que o banco do Bulls tinha Hinrich, Ben Gordon, Nocioni e Joakim Noah. Isso não foi o time titular deles em muitos jogos no ano passado? Bizarro.

Mas deu certo. Rose foi bem com 11 pontos, 9 assistências e, pelo que disseram, liderança. Parece que ele está tentando mesmo ser o líder dentro de quadra de que o Bulls tanto precisa. Mas vamos com calma que foi só o primeiro jogo e foi só contra o Bucks, que teve problemas com o que poderia ser sua grande arma, Andrew Bogut.

Bogut terminou a temporada passada em excelente forma e teve ótimos jogos na Olimpíada de Pequim (alguns jogos horríveis também, diga-se de passagem) e o jogo deveria ser em cima dele para tirar proveito da dupla Gooden e Tyrus Thomas, obviamente menos talentosa que o australiano. Mas Bogut passou o jogo inteirinho com problemas de falta e a estratégia não deu certo, mais uma vez ficou tudo na mão canhota do Michael Redd e eles perderam.


Lakers 96 x 76 Blazers

O dia não foi bom para os pivôs. Bogut teve problemas de falta, Bynum foi discreto e o Greg Oden foi um desastre. O vovô-novato do Blazers jogou 12 minutos, errou os 4 arremessos que tentou, acabou zerado e saiu, adivinhem, contundido. Parece que a torção no pé direito não foi nada de mais, mas já dá a impressão de que o pivozão é bichado mesmo.

Falando em pivô bichado, essa estréia me lembrou a do Yao Ming pelo Houston, que também começou na liga cheio de holofotes sobre sua cabeça e zerou na primeira partida. A diferença é que o Yao teve problemas na imigração para os EUA e nem pré-temporada ou Liga de Verão jogou, ele só chegou e fez sua estréia na NBA.

Pelo lado do Blazers, dois jogadores deram um showzinho à parte, Rudy Fernandez, com ótima estréia, e o Travis Outlaw, o cara que mais ama o próprio arremesso no universo. Ele não disse com essas palavras, mas ele faria sexo com o próprio jump shot se isso fosse possível.
Tirando isso, o time foi esmagado pela defesa do Lakers. O Portland é muito novo e tem algumas caras novas, é possível que a gente veja algumas sapecadas dessa até eles pegarem entrosamento, mas vou demorar pra perder as esperanças nesse Blazers.

Já o Lakers foi uma beleza! Gasol muito mais eficiente na posição 4, Kobe sem ser fominha, Ariza acertando até bolas de 3, Jordan Farmar melhor do que nunca e, mais importante do que isso tudo, o time jogou bem na defesa! Pressionou, fechou o garrafão e segurou o Blazers a 76 pontos! Incrível começo do time do Phil Jackson.

Destaque também para a boa partida do Lamar Odom, que já começa a temporada como principal candidato a melhor 6° homem da NBA. Ele foi ótimo vindo do banco, foi o líder dos reservas, jogou praticamente como armador e foi importantíssimo para manter a alta velocidade do time. Em inúmeras vezes ele mesmo pegava o rebote e já saia na correria pra frente, algo meio Jason Kidd.

O que não foi nada Jason Kidd foi o passe que ele deu para o Sasha Vujacic. O passe foi preciso, foi exatamente na mão do esloveno, que estava livre. Uma pena que ele estava no banco de reservas. O Lakers precisa de agasalhos menos amarelos.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Draftados em 2003 - parte 3

Pelo menos 50% dos novatos do Suns em 2003 eram bons


Nessa série de artigos sobre os draftados em 2003 estamos analisando jogador a jogador em busca dos erros e dos acertos de cada time, vendo como cada um se saiu e rindo descaradamente de algumas equipes que nunca sabem o que estão fazendo.

Se você não acompanhou os posts anteriores porque tinha algo melhor pra fazer da vida, ou se acompanhou mas tem menos memória do que time que contrata o Marbury, leia a primeira parte, em que vimos LeBron, Carmelo e Wade chutando uns traseirois; e depois a segunda parte, em que Reece Gaines e Troy Bell formam uma das piores duplas da história dos drafts.

Agora, na sequência, veremos as últimas escolhas do primeiro round. Prepara-se para um certo brasileiro que deixou muito time arrependido...


21 - Boris Diaw (Atlanta Hawks)

Taí um dos jogadores, pra mim, mais misteriosos da NBA. Foi draftado para ser armador principal no Hawks. Mostrou sinais de talento mas nunca nada muito espetacular. Lembro de ler um punhado de videntes dizendo que o Diaw ainda seria um belo jogador, que ele tinha muito potencial e seria um grande armador. No Hawks não deu certo mas também, até uns dois meses atrás, coisa nenhuma dava certo por lá. Quem salvou a carreira do Diaw, portanto, foi o Joe Johnson. Ele era um arremessador carregador-de-piano buxa-de-canhão no esquema do Suns que acabou acertando mais arremessos do que se esperava. Jogou bem demais, deixou muita gente impressionada, aprendeu até a armar o jogo quando o Nash sentava, e aí de repente ele decidiu que com o fim do contrato queria ir liderar alguma equipe. Algum maluco obviamente ia apostar no garoto mas o Hawks chutou o balde acertando com ele um contrato surrealmente enorme. Para não sair de mãos abanando, o Suns arrumou um sign-and-trade e aí, em troca do JJ, recebeu o potencial mal aproveitado do Diaw (e mais duas futuras escolhas de draft).

O Suns tentou o francês na armação. Não deu muito certo. Aí tentaram ele de ala, onde a produção aumentou um pouco. Uma hora, resolveram arriscar como ala-pivô, causando um aumento ainda maior em seus números. E então o Amaré machucou, o Suns pra variar não tinha ninguém para colocar no lugar, e alguma mente insana propôs: "o Diaw já jogou em tudo quanto é posição, coloca ele de pivô também só pela piada." Não sei se foi assim mas é a única hipótese plausível para um armador de 2,03 metros ir parar na posição de pivô. E como esse Universo tem um senso de humor muito bizarro, foi justamente aí que Diaw floresceu. Marcar pivôs quinhentas vezes maiores que ele era moleza, ele jogava de costas para cesta, chutava de longe, passava a bola no garrafão com habilidade, e aí ganhou o prêmio de Most Improved Player, o jogador que mais evoluiu no ano. (valeu pela correção, "eumesmo"!)

Desde então é só ladeira abaixo para o francês. Alguns dizem que ele se nega a treinar ao fim da temporada e fica completamente fora de forma, outros dizem que os Monstars foram vistos conversando com o Diaw e o Pernalonga. Mas o motivo mais esquisito e justamente por isso mais possível é a volta do Amaré. Sem jogar como pivô, o armador Diaw nunca mais foi o mesmo. Ainda assim, espero que ele ganhe um anel com o Suns o mais rápido possível: seria trágico o time mais divertido da década virar farofa sem ter ganhado nada. Aí é que só vai ter retranca na NBA mesmo...

22 - Zoran Planinic (New Jersey Nets)

Um daqueles jogadores absurdamente talentosos no basquete internacional, inteligentes, com fundamentos até pra lavar as mãos, mas que sabe-se lá porque simplesmente fedem na NBA, nunca têm nenhuma oportunidade e voltam para seus países de língua esquisita e basquete arrumadinho antes que sequer consigamos decorar seus nomes bizarros. Planinic, Jasikevicius, Spanoulis e até o Esteban Batista entram nesse grupo, e eu morro de curiosidade para saber o que há de tão errado com eles fora o fato de que alguns não devem tomar banho, afinal lá na Europa é bem frio.

Seja qual for a razão, o Planinic assistiu muito o Kidd jogar, ganhou uma grana, sentiu o fedor da cidade de New Jersey por vários anos e aí voltou pra Europa sem que nenhum time mostrasse interesse e sem que qualquer um no Nets percebesse. Devem ter notado um armário vazio no vestiário mas duvido que alguém se lembrasse de quem era.

23 - Travis Outlaw (Portland Trail Blazers)

Não importa o que aconteça com o planeta Terra e quantos times da NBA se afundem irremediavelmente, escolhas como essa continuarão acontecendo nas noites de draft. O Outlaw é mais um daqueles jogadores que não tem coordenação para usar um garfo e uma faca, mas não precisa: ele quebra cocos com a cabeça, pula para a estratosfera e engole gaivotas, faz duzentas mil flexões de braço quando está entediado e quebra tabelas durante suas noites de sonambulismo. Tipos assim podem destruir a NBA inteira com um braço só, enterrando na cabeça de quem vier, como foi o caso do Dwight Howard, ou podem se transformar em Kwame Browns e Marcus Fizers. Ou seja, podem salvar um time ou levá-los para o buraco de vez. Em geral, deviam ser escolhas a serem evitadas. O Josh Howard tinha chutado vários traseiros no basquete universitário mas tinham dúvidas sobre o rendimento dele na NBA, então preferem apostar num cara que não sabe nem qual é a mão direita mas consegue enterrar do meio da quadra.

Nesse caso em particular, pra quem tem muita paciência, até que deu certo. O Travis Outlaw finalmente começou a colocar seu potencial em ação nessa temporada e é parte fundamental na campanha história do Blazers até agora. Mas e se tivesse dado errado?

24 - Brian Cook (Los Angeles Lakers)

O David West está lá, com seus quase 20 pontos e 10 rebotes de média por jogo, e chega a ser engraçado pensar que o Hornets cogitou pegar o Cook em seu lugar. Com tanta falação sobre o Cook, um ala-pivô forte e que sabia arremessar de 3 pontos com precisão, fica difícil crucificar o Lakers por essa. O que acontece é que todos os defeitos do Cook já eram conhecidos (defesa, falta de critério no arremesso, incapacidade de proteger a bola) mas ele simplesmente não conseguiu progresso em nenhum desses quesitos. Diz a lenda que ele treina tanto quanto o Romário, o que é sempre um problema quando você tem o talento de um biscoito. Pelo menos para os fãs do Lakers, ele conseguiu ser trocado pelo Trevor Ariza, que trouxe atleticismo e um novo ritmo ao time de Los Angeles. Enquanto isso, o Cook ainda não foi aproveitado em Orlando. A essa altura, já devem ter percebido que ele não presta.

25 - Carlos Delfino (Detroit Pistons)

O Pistons campeão tinha talento demais no time, era apelação tipo bater em quem tá tonto no Street Fighter. Carlos Delfino e até o próprio Darko sofreram um bocado com a falta de espaço num time que transpirava talento pelos poros. O Delfino é talentoso mas inconstante, nunca foi nem será um Ginobili da vida mas no dia certo ele pode fazer boas imitações de seu compatriota narigudo. Em Detroit as oportunidades foram escassas, mas o potencial estava lá e foi o bastante para chamar a atenção do Raptors que, no momento, estava interessado em montar um time com jogadores de todo o globo, talvez pra ganhar mais dinheiro exportando camisetas. O Delfino é um bom reserva e seu estilo se encaixa milhões de vezes melhor no Raptors do que se encaixava no Pistons. Ele nasceu para uma correria maluca e criatividade desesperada que em geral saem do controle. Mas tem seu espaço, seus minutos, e o Raptors pode muito bem chegar longe nos playoffs graças a uma profunidade no banco que muitos ignoram só porque eles são um time do Canadá e deveriam estar jogando hóquei ou sendo guardas florestais.

26 - Ndudi Ebi (Minessota Timberwolves)

Levante a mão quem se lembrava que ele existia ou sequer havia ouvido seu nome antes. Ninguém? Foi o que eu pensei. A história do Ndudi é um bocado triste e começa na escola com seus coleguinhas zoando seu nome. No basquete universitário deixou todo mundo de queixo caído: jogava dentro e fora do garrafão em qualquer posição, era físico e com bom arremesso, mas sem o entendimento do jogo, incapaz de tomar decisões em quadra, um talento bruto sem qualquer experiência. Mas o talento foi o bastante para que o considerassem a próxima grande coisa da NBA depois de LeBron James. É muito divertido pensar que já estivessem pensando no "próximo LeBron James" antes mesmo do LeBron ter sequer sido draftado.

Aí o "próximo LeBron" ouviu os caras errados e resolveu ir pra NBA de uma vez ao invés de ganhar experiência na universidade. A pior coisa que pode acontecer para um moleque dessa idade é ele se apaixonar por si mesmo. O fedelho se achava a última bolacha do pacote, entrou no draft, mostrou-se incapaz de jogar no nível da NBA imediatamente e no entanto se negou a ir para a Liga de Desenvolvimento porque se dizia "bom demais". Depois de dois anos sem mostrar sinais de que poderia jogar no próximo nível, e sem poder mandá-lo jogar na D-League para ganhar alguma condição de jogo, o Wolves resolveu que era melhor ir assistir o filme do Pelé. Resultado: alguém ouviu falar de algum time que tenha resolvido apostar no Ndudi depois disso? Nem eu.

O mais triste, pra mim que sou fã do Kevin Garnett, é que o Wolves passou 3 anos punido pela Liga sem escolhas de draft no primeiro round e, quando eles finalmente puderam escolher, pegaram um cara que jogou meia dúzia de partidas em dois anos. E ainda tem uns manés que dizem que o Wolves perdia por culpa do KG. Sei.

27 - Kendrick Perkins (Memphis Grizzlies)

O Perkins foi para o Celtics na noite do draft, trocado junto com o Marcus Banks por Troy "Zé Ninguém" Bell e Dahntay "Só enterro" Jones. Diz a lenda que a troca tinha a simples intenção de adquirir o Perkins e apostar nele para ser o pivô do futuro do Celtics. Na época, a vaga era do Marc Blount, um pivô que gosta de arremessar e odeia coisas como correr, andar, levantar os braços e defender. Era justamente o potencial defensivo do Perkins que impressionava o Celtics e rapidinho ele já era titular gerando climas desconfortáveis com o Blount, que acabou sendo mandado para empilhar coquinho na descida. É óbvio que não demorou para ficar claro que o Perkins era tão atlético quanto a Dercy Gonçalves e não era lá essas coisas na defesa. O irônico é que eles acertaram: o Perkins realmente é o pivô do futuro do Celtics porque só sobrou ele por lá e se não tem ninguém, vai tu mesmo. E o Perkins pode estar ganhando um anel de campeão daqui pouco tempo para mascarar sua falta de talento.

28 - Leandro Barbosa (San Antonio Spurs)

Todo mundo sabe que eu acho o Spurs um porre, mas se tem uma coisa que os safados sabem fazer é draftar. Eles simplesmente escolhem aqueles valores internacionais que ninguém mais notou e é batata, os caras sempre são bons. O Spurs draftou Parker, Ginobili, Oberto, Scola, Beno Udrih, Leandrinho e agora o Splitter. O único problema é que eles não são fãs de manter esses jogadores (coisa de time que já está montado) e se livram desse monte de talento por preço de banana. O Leandrinho foi trocado por uma escolha de draft na mesma noite porque o Suns achou que a correria do brasileiro se encaixaria bem por lá, o que acabou resultando no prêmio de Sexto Homem do Ano na temporada passada. O Udrih foi trocado por dinheiro e agora destrói no Kings. O Scola foi trocado por uma lapiseira 0.5 e agora está lá fracassando no Houston, mas a gente sabe que ele é bom.

Ser mandado para o Suns foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com o Leandrinho. No Spurs ele seria obrigado a se tornar um robozinho e seguir o técnico Popovich, coisa que o Barbosa não é lá muito excepional em fazer. Quer matar o Leandrinho, basta colocar ele num ataque de meia quadra. Quer matar o Popovich, basta colocar outro jogador que corra muito e pense pouco para arremessar no time dele. Então ir para o Suns foi perfeito para a saúde de ambas as partes.

Sei que tem um monte de brasileiros que queriam o Leandrinho titular em outras equipes, liderando times e tendo médias de 60 pontos por jogo. Mas, ainda que eu seja fã dele, tenho que admitir que não consigo pensar em muitos times em que o Leandrinho se encaixaria. Jogar meia quadra corta bastante sua produção, minimiza sua maior qualidade que é a velocidade, e armar o jogo e defender sempre foram suas maiores deficiências. Então coloque-o no Spurs ou no Pistons e assista enquanto o Barbosa apodrece no banco e comete suicídio se enforcando com o cadarço. Para ele, os times ideais seriam Warriors, Raptors, Sonics, e acho que só nesse último ele teria chances de ser titular. No Suns ele tem chances de vir do banco, se focar no ataque e correr como um desesperado, e ganhar um anel. Não poderia estar melhor.

O potencial do "Brazilian Blur" é gigantesco e o prêmio de Sexto Homem do Ano, esperamos, foi apenas o começo. Ele ainda será cotado entre os melhores armadores da NBA e, quem sabe, até jogue um All-Star Game. Mas eu volto a bater na tecla de que ele deve merecer chegar lá, deve provar que é melhor ou mais divertido, não que é "mais brasileiro". Ninguém merece votos no All-Star por ser mais brasileiro, ou mais chinês, ou mais argentino, e não me interessa se o resto do mundo está votando em seus compatriotas e sendo ridículo!

Toda vez que saem os resultados parciais para o All-Star Game eu fico com vergonha pelos chineses. O Yi Jianlian está em quinto lugar nos alas do Leste e ele sequer está na lista para votação! Os chineses simplesmente não sabem brincar, não tem nada mais ridículo do que votar num cara que tem 12 pontos por jogo só porque ele nasceu no seu país. Eu olho a lista e fico constrangido, de verdade. O mundo inteiro fica assistindo os chineses serem ridículos. Imagino a cara que o Yi faz quando vê os resultados da votação. Tenho certeza que, ao invés de ficar feliz, ele deve ficar vermelho e rezar baixinho para nunca ter que ir para um All-Star ser assistido pelo mundo todo tendo média de 12 pontos com cada torcedor sabendo que ele só está lá porque tem os olhos puxados e um bando de chinês parou de jogar Ragnarok para votar nele. É com isso em mente que torço para que o Leandrinho vá porque ele comanda, porque ele é memorável, não porque nasceu na terra da caipirinha. Pior ainda seria o Nenê ganhando uns milhões de votos, já pensou que vergonha ele sendo titular de um All-Star? Toda a brincadeira vai pelo ralo e seria melhor cancelar a partida do All-Star e todo mundo ao redor do globo ir jogar gamão com o vovô.

29 - Josh Howard (Dallas Mavericks)

Ah, o Josh Howard. Estava esperando ancioso por ele. Ele é o Reece Gaines do Mundo Bizarro: um cara que sabe fazer absolutamente de tudo em quadra mas não é especialista em nada. Só que o Gaines era um lixo e desapareceu, enquanto o Howard é genial.

O Josh Howard sempre vai simbolizar para mim o absurdo do draft da NBA. Tem um cara lá no universitário cheio de fundamento, faz de tudo, arremessa, defende, passa a bola, é atlético, se destaca em sua equipe e você está lá assistindo seus jogos e avaliando seu rendimento todos os dias. Mas ao invés de draftá-lo, você prefere escolher um estrangeiro maluco que dizem ser o próximo Dirk, um chinês que ninguém nem sabe quantos anos tem, um adolescente direto do colegial que, diz a lenda, engole espadas pegando fogo? A gente acha que o draft é cheio de ponderação e análises detalhadas mas parece que todo mundo gosta mesmo é de chutar. Os jogadores comprovados, como Josh Howard e David West, vão ficando de lado porque todo mundo quer arriscar aquele cara meia-boca que um dia pode ser o novo Jordan. É tudo pelo potencial, e aí os caras que sabem jogar basquete agora e não são nem serão o Jordan ficam de escanteio.

Times que querem arriscar demais draftam o Kwame Brown na 1a escolha, às vezes. Times que são inteligentes e draftam jogadores prontos para contribuir acabam se dando muito melhor. Como seria a NBA hoje se qualquer um dos times anteriores tivesse draftado o Josh? O Wolves teria feito estrago nos playoffs com Garnett e Josh Howard ao invés do Ndedi sentado no banco? Como seria o Josh Howard jogando ao lado de Kobe Bryant? Como seria ele nesse Blazers de hoje?

Sou um baita fã do Josh Howard e é impossível não ser fã do Dallas simplesmente por draftá-lo. Hoje em dia é preciso ser uma franquia de muita coragem para nadar contra a maré e aceitar draftar um cara bom que nunca será absurdamente espetacular. Draftar um cara bom é sinal de coragem. Baita mundo estranho esse.

...
Na futura última parte desse artigo (eu juro que será a última, eu juro!) , menções às escolhas da segunda rodada que deram certo, e algumas que não deram mas renderam boas histórias. Além disso, como seria o draft se fosse refeito nesse momento? Em que posição o Josh Howard seria escolhido? Faça a sua lista, poste nos comentários, e compararemos no próximo post. Até lá!

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Mundo Bizarro

Joe Johnson, no cio, ataca o pobre do Yi Jianlian


No meu tempo, a gente brincava de pião na rua. Tinha inflação alta todo mês. Pornografia, só quando alguém surgia com uma revistinha. E o Hawks era uma merda de time. Ou seja, eu estou velho e não estou psicologicamente pronto para ver o Atlanta Hawks chegar aos playoffs. No meu mundo, isso vai causar uma fissão irrecuperável no continuum do espaço-tempo, seja lá o que isso queira dizer.

Desde que resolveram montar um time em volta do Joe Johnson, que era apenas mais um jogador naquele antigo ataque divertido do Suns, o Hawks virou motivo de piada. Um time tão jovem que cheira a Hipoglós, sem um armador principal, com o péssimo costume de escolher no draft todo ano gente da mesma posição (chegou ao absurdo deles poderem fazer dois times só de alas, se quisessem) e ninguém que lembre, nem de longe, um pivô. Até acho vários jogadores desse grupo talentosos, mas o elenco é sempre cheio de buracos. O Tyronn Lue, por exemplo, sempre disse que seu papel na NBA é ser um armador reserva, que ele não tem talento para ser titular. Apesar da sinceridade e humildade raras hoje em dia, no Hawks ele foi obrigado a ser titular por tanto tempo que deve até ter mudado de idéia. Uma coleção de alas e ninguém para armar o jogo, ninguém que chute de fora, ninguém que pegue rebotes? Talento, sim, mas dá pra fazer um time mais esburacado? Analisando friamente eu até pensei, na temporada passada, que o Hawks pudesse fazer um estraguinho. Mas o elenco era jovem demais, capenga demais, e aí desisti deles. Último lugar do Leste até que o mundo saia de órbita e o Bulls se tranforme em saco de pancada. Na minha ingenuidade, achei que isso nunca iria acontecer.

Acontece que, de um dia para o outro, outro time aí resolveu mostrar que dá pra ganhar uns jogos desse esporte esquisito mesmo sem ter idade para beber depois das partidas: o Portland Trail Blazers.

Eu gosto de imaginar eles como sendo o New York Knicks do Mundo Bizarro. O Knicks aceita qualquer jogador famoso e talentoso, independente de salário ou de como se encaixará na equipe, e virou uma concentração de fominhas e jogadores acima do peso. Já o Blazers se livrou de jogadores de nome e peso (literalmente) porque não se encaixavam no conceito do time. Lá se foram Zach Randolph e Steve Francis para que outros times otários assinassem seus trazeiros gordos incapazes de passar a bola. Além disso, o Blazers é recheado de jogadores atléticos ao invés de obesos, e jogadores sólidos ainda que não absurdamente talentosos. Foram dois anos de trocas inteligentes e higienização do elenco e agora surgem os resultados de um time que virou repentinamente exemplo de boa adminstração.

O elenco é jovem e sem estrelas, mas não há alguém sentado no banco de reservas que não possa contribuir de alguma forma. Jarret Jack tem um ano de experiência como titular na armação e agora faz muitos pontos vindo do banco. O genial Steve Blake foi mandado para o Nuggets mas se disse triste demais de deixar o Blazers e prometeu voltar, o que cumpriu logo ao término do seu contrato (um time bem administrado sempre atrai uns jogadores inteligentes). Travis Outlaw, antigamente apenas um cara que conseguia pegar uma moeda apoiada no alto da tabela (dizem as lendas!), agora é um dos jogadores mais importantes na rotação da equipe. James Jones era um baita chutador sólido no Suns, casa de todo chutador feliz. Channing Frye está dando sinais de voltar aos bons tempos depois que um ano na maldição do Knicks roubou seu talento (deve ser algo na comida de New York). A ida do Randolph, embora arriscada, abriu espaço para o LaMarcus Aldridge desabrochar (e espaço no ônibus também, que devia ser apertado com o Randolph dentro.) E sendo o mais próximo de uma estrela ali no Blazers depois de ganhar o prêmio de Novato do Ano (e por ter Rookie Of the Year no nome), o Brandon Roy virou o maestro da coisa toda.

Dá pra saber que a coisa tá boa quando você tem gente pra todas as posições e ainda pode se dar ao luxo de nem usar o Sergio Rodrigues que, na minha opinião de blogueiro metido, chuta uns traseiros. Fora que estão esperando Rudy Fernandez voltar da Europa e o Greg Oden voltar da mesa de cirurgia. Olha só, que time lindo, que gracinha, que fofura, vai ter um futuro brilhante, dá um abraço no papai! Vão perder um monte esse ano, ter uma boa escolha de draft e depois o céu é o limite!

O único problema é que eles resolveram ganhar agora. Espírito de equipe, técnico destruidor, defesa por zona, contribuição de todo mundo, Roy pra MVP, essas coisas aí. Mas o maior motivo pra eles estarem vencendo agora deve ser simplesmente eles não terem visto o Beasley jogar. Já o Wolves, por sua vez, levou o Antoine Walker para lá só para garantir as derrotas em série. Receita moleza: coloque o Antoine Walker por uns 10 minutinhos, acrescente água, e pronto! Derrota e boa posição no draft garantidas!

O Hawks também não deve estar assistindo o Beasley, ou então eles simplesmente cansaram de draftar tantos alas. Vai ver se inspiraram em ver o Blazers ganhando com seu time de maternal. Mas era desse conceito de idade que o Joe Johnson já reclamava desde o começo da temporada: "Agora somos todos experientes, não podemos mais usar a idade como desculpa. É hora de todo mundo jogar para vencer. Estou cansado de receber marcações duplas todos os jogos e não ver meus companheiros se aproveitarem disso. Precisamos jogar como adultos e principalmente aprender a fechar os jogos." Boa receita, Joe Johnson. Depois de jogar com o Nash, não é tão fácil jogar com esse bando de incompetente, né?

Saber fechar os jogos, justamente, parece a fórmula principal. O Blazers jogou pelo ralo a idéia de que a inexperiência perde as partidas no final (como o Sonics fez bilhões de vezes nessa temporada) e resolveu vencer todos os quartos períodos de suas partidas. O resultado? Treze vitórias seguidas, oitava posição no Oeste e um manual de como vencer o Jazz. Na derrota de ontem para o time de Utah, eles ainda assim fizeram tudo certo - exceto vencer o quarto período. Erraram lances livres, as bandejas giravam dentro do aro e saíam. Acontece. Só precisamos ver agora como a pirralhada reage ao fim da sequência de vitórias. Descobrir se eles estão querendo draftar o Beasley ou se vão desbancar o Nuggets na divisão (estão só meio jogo atrás) e garantir a 4a vaga. Dá pra imaginar o Blazers no 4o lugar do Oeste se aproveitando das regras estúpidas de colocação na NBA? Eu sei, o Hawks está no 4o lugar do Leste também, mas lá as coisas são mais simples. Fora Celtics, Pistons e Magic, basta você não ter op Marbury que já é meia vitória garantida. Ainda assim, palmas para a gurizada.

Tente explicar, para alguém que só começou a acompanhar a temporada agora, que Hawks e Blazers estão em quarto lugar de suas respectivas conferências, que o Chicago fede, que o Miami é o último colocado do Leste, que o Washington sem Arenas vai para os playoffs, e que o Isiah Thomas ainda não perdeu o emprego. Eu prefiro nem tentar.

Mas se ele começar a chorar ao saber que o Isiah não foi demitido, ou não acreditar na posição do Blazers, mostre para ele esse vídeo: a cravada da temporada até agora, Travis Outlaw na cabeça do coitado do Rodney Carney. Alguém ainda duvida que ele pegue uma moeda no alto da tabela?