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sábado, 8 de janeiro de 2011

Spurs enganado

O arremesso é feio, mas os cabelos...


Em 2009 a grande brincadeira era que o San Antonio Spurs voltaria para ser campeão de novo. Afinal eles foram o time mais estável dos últimos 10 anos mas nunca conseguiram vencer dois títulos em sequência, insistiam em vencer só em benditos anos ímpares: 1999, 2003, 2005 e 2007. Mas a volta por cima não foi o que aconteceu, o Spurs tomou de 4 a 1 do quase sempre freguês Dallas Mavericks e começamos a achar que a era de ouro de Tim Duncan e Gregg Popovich começava a virar passado.

Sentindo a mesma coisa, Popovich e o General Manager RC Buford mudaram uma de suas regras básicas nesses anos de sucesso e decidiram abusar no dinheiro e trocar por Richard Jefferson. Ultrapassariam o limite do salary cap, pagariam multas e tudo isso que eles sempre abominaram, mas parecia o jogador que faltava para dar um empurrão no envelhecido time. Não foi o que aconteceu, Jefferson teve uma temporada bem abaixo da média no ano passado e a única ajuda além do trio Duncan, Ginobili e Parker veio de contribuições esporádicas dos jovens George Hill e DeJuan Blair. Pouco para compensar as várias contusões e maus momentos de vários jogadores do elenco.

Para essa temporada a grande esperança estava na adição do brazuca Tiago Splitter, que se consagrou na última temporada espanhola e teria tudo para ser um novato diferente, já mais velho e experiente que o resto da pivetada que acabou de sair do Draft. Mas Splitter perdeu boa parte da pré-temporada machucado, pegou o bonde andando e ainda está com dificuldades, ganhando poucas oportunidades para jogar. Ele faz bons jogos volta e meia, em outros não faz nada de errado sem se destacar e em outros fica apagado por não entrar ou só fazer faltas. Se a grande mudança no elenco não está nem jogando às vezes, como o Spurs tem a melhor campanha da liga depois de um terço da temporada?

Essa é uma pergunta que eu demorei muito para poder esboçar uma resposta. Assisti a mais jogos do Spurs nesse ano do que nas últimas duas temporadas juntas e percebi uma coisa logo de cara, estava mais divertido do que costumava ser. Placares altos, infiltrações de Parker e Ginobili, rebotes ofensivos do Blair e um show de três pontos do trio Gary Neal, Richard Jefferson e Matt Bonner. Sim, o Spurs era uma potência ofensiva até nos dias em que o Tim Duncan mal tocava na bola. O Spurs, conhecido por jogar sempre do mesmo jeito até quando mudava de jogadores, revolucionou a sua maneira de jogar. Comecei a explicar isso em outro post semanas atrás:

"Dos últimos muitos anos. Explico, o Spurs é o terceiro melhor ataque da temporada até agora e a oitava melhor defesa. É a primeira vez desde que Tim Duncan chegou ao time, em 1997, que o Spurs é melhor ranqueado no ataque do que na defesa. Pra quem acompanha a NBA há pouco tempo pode parecer normal, mas quem viu o Spurs desses últimos quase 15 anos acha isso uma aberração. O Spurs atacando mais do que defendendo é insano como ver o Barcelona retranqueiro, no mínimo. E tem o ritmo de jogo, eles são hoje o 10º time mais veloz da NBA, nas outras temporadas da "Era Duncan"o Spurs ficou duas vezes com o 19º ataque mais veloz e depois disso sempre depois da casa dos 20, algumas vezes beirando as últimas posições."

Desde que escrevi isso poucas coisas mudaram. Hoje o Spurs é o ataque mais eficiente da NBA (112 pontos a cada 100 posses de bola), marcando 105.3 pontos por jogo (4º melhor) e é o 11º time mais veloz, com 93 posses de bola por jogo. Outros números mostram a mudança: hoje o Spurs é o quarto time que mais faz pontos em contra-ataque, 16.2 por jogo, 4 a mais que no ano passado e à frente de time conhecidos por seus contra-ataques como OKC Thunder e Phoenix Suns. No ano passado o Spurs era o 8º pior no mesmo quesito.

Nesse texto eu já disse muitas das razões do Richard Jefferson ter subido de produção da temporada passada para essa, mas é também bem claro que ele se beneficiou dessa maior velocidade do time. Desde os tempos do Nets que ele gosta e sabe sair no contra-ataque e finalizar perto da cesta. Essa maior liberdade ofensiva do time favoreceu também o Manu Ginobili, que é o cara mais criativo do mundo desde Leonardo Da Vinci e ainda passa a bola melhor que o faz-tudo italiano. Além do Tony Parker, que finalmente pode gastar à vontade e sem restrições toda a velocidade que tem. Desses, o Ginobili merece o maior destaque, ele está jogando mais tempo com os titulares do que o normal e ganhou mais responsabilidades de armação  do que no passado recente, resultado não só da mudança de estilo do time como também da recuperação física do argentino, que parecia meio baleado nas duas últimas temporadas. E sejamos honestos, é assim há um bom tempo: se Ginóbili joga bem, o Spurs joga bem. Nessa temporada até em alguns jogos em que o time não esteve no seus melhores dias ele estava lá pra fazer tudo certo no final. Foi assim contra o Pacers nessa semana e contra o Bucks no começo da temporada, e tantas vezes entre esses dois jogos.

Uma das qualidades do Ginobili está em saber quando tomar conta do jogo e quando envolver todo mundo. E geralmente ele não precisa ser o herói, porque caras imprevisíveis como o novato Gary Neal e Matt Bonner estão jogando melhor do que qualquer cara mais otimista no melhor do seus dias e depois de uma boa noite de sexo poderia prever, é por causa deles que hoje o Spurs é o 2º melhor da NBA em aproveitamento de 3 pontos, 39% por jogo, atrás apenas do Warriors. É compartilhando a bola que o Spurs consegue ser um dos melhores ataques mesmo com Duncan em seu pior ano ofensivo na carreira e nenhuma aberração tipo Kevin Durant no elenco, hoje o time do Popovich é o 5º com mais assistências na liga. Para finalizar as qualidades, impressiona como eles conseguem correr bastante e ser o 8º time que menos comete turnovers.

Eu estou impressionado com a capacidade do time de se reinventar de uma hora para a outra e mais ainda em ver como isso deu resultados tão positivos rapidamente. Muitas vezes times tentam mudar de atitude de uma hora para a outra mas não sabem como, mas como esse texto do blog Spurístico "48 minutes of Hell" confirma, o Spurs sabe contratar. E contrataram bem para cobrir os defeitos ofensivos do time desde a temporada passada e estão colhendo os frutos. Mas apesar de tudo isso, esse post não é uma babação de ovo no melhor time da temporada.

Numa ironia das mais profundas dos últimos milênios, o Spurs pode estar caindo no conto do vigário que ele mesmo ajudou a expor tantas e tantas vezes nos últimos 10 anos. Lembram do espetacular Dallas Mavericks de Steve Nash, Dirk Nowitzki, Michael Finley e Don Nelson? Ou do encantador Phoenix Suns do mesmo Nash e Amar'e Stoudemire? Foram duas das equipes que mais encantaram e divertiram a liga americana em uma época dominada por Spurs e Lakers. Eles faziam tudo isso que o Spurs faz nessa temporada, eram rápidos, criativos, com jogadores talentosos, coadjuvantes que metem bolas de longe com altíssimo aproveitamento e estavam sempre entre os melhores ataques da NBA. Porém, quando chegavam os playoffs esses times tomavam na cabeça. Na hora de passar pela defesa forte e ataque disciplinado do Spurs eles eram desmascarados e caíam quando estavam chegando perto do título.

Foi esse estilo de jogo defensivo e equilibrado (que outros times praticam mas que sempre foi a marca do Spurs) que fez o Mavs largar mão da super velocidade e o Suns ir até atrás do Shaq pra mudar de estilo de jogo (sem sucesso, como lembramos). De repente, em uma das muitas voltas que o mundo dá, o Spurs é o time que ataca, ataca, encanta e defende mal. Tá bom que não é tãaao mal assim, ainda estão com a 11ª melhor marca da NBA, mas volta e meia eles enfrentam times que mostram todos os vários defeitos do sistema defensivo da equipe. Atualmente eles são apenas o 18º no ranking de times que menos cedem pontos no garrafão, o 9º time que mais sofre arremessos de quadra por partida e no aproveitamento de 3 dos adversários é o 3º pior time, só (argh!) Cavs e Clippers são piores. E as bolas de três são porque protegem o garrafão? Necas, são só o 18º também em proteger a área pintada.

Como nem tudo pode mudar tão drásticamente, a Terra ainda é redonda, comer carne humana não é bem aceito socialmente e o Popovich está insatisfeito. Olha o que ele disse sobre essa questão ataque/defesa do Spurs: "Isso não é a gente, nós não jogamos assim. Eu não tenho idéia de como estamos marcando tantos pontos. Eu não estou comprando essa idéia". Quer dizer que o Spurs revolucionou o seu estilo de jogo e nem era isso que eles queriam? Não faz sentido. Mas pelo menos é uma pequena mostra de que não estão satisfeitos com sua defesa.

Se você pegar os jogos que eles fizeram contra o Mavs (aquele sem o Nowitzki) e o contra o Lakers, verá que esse time é capaz de executar uma defesa bem forte, mas até agora esses jogos foram exceção, não regra. Contra o time de LA a dupla Manu Ginobili e George Hill deu uma aula de como defender Kobe Bryant e a pressão nos passadores no perímetro fez com que eles pouco utilizassem Pau Gasol. Mas em compensação, o que foi aquela derrota para a o Knicks essa semana ? Foi a primeira vez em toda a carreira do Duncan no Spurs que eles tomaram 128 pontos em um jogo sem prorrogação. Aliás, a última vez que o Spurs tinha tomado mais que 128 pontos em um tempo normal havia sido em 1993, quando os hoje técnicos Vinny Del Negro e Avery Johnson ainda jogavam na equipe.

E no dia seguinte outra derrota, dessa vez para o Boston Celtics. Perder para o Celtics em Boston não é nenhum desastre, mas foi mais um exemplo de como o Spurs é um Phoenix Suns de 2011. O jogo foi pau a pau, talvez o melhor da temporada até agora, mas tomaram 105 pontos, deixaram o Boston chutar acima dos 60% nos arremessos de quadra e tomaram 34 pontos no garrafão, incluindo algumas bandejas bem fáceis nos minutos finais de jogo.

O Spurs é mesmo o melhor time desse começo de temporada, talvez por pouco sobre Boston Celtics e Dallas Mavericks e levando em conta que o Miami Heat demorou pra engrenar. Mas reconhecer isso não é dizer que eles tem um futuro fácil pela frente, eles precisam se manter saudáveis (o que foi impossível para eles nos últimos anos) e arrumar um jeito de acertar essa defesa se querem ser realmente levados a sério na disputa pelo título. O Popovich já disse que quer isso e o Duncan afirmou que "nós queremos ser é um clube defensivo", então a vontade está aí, é transformar em realidade para não ser mais um dos times velozes, ofensivos e perdedores que o próprio Spurs ajudou a destruir na última década.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Insistência premiada

Afflalo melhorou até na arte de sair em fotos estranhas


Pessoal, como disse essa semana, a coisa anda corrida no fim do semestre e os posts vão ser mais escassos nessa semana, mas aos poucos vão saindo. Até o fim de semana tem Filtro e uma promoção de Natal da adidas. E agradecemos a todos que comentaram sobre as camisetas, vamos pensar em alguns modelos e postar aqui no blog para vocês escolherem as que a gente vai colocar pra vender. Quer dizer, se a gente conseguir botar pra vender, é melhor não prometer nada antes de saber os preços. Vai que o Cavs é campeão antes da gente vender camisetas. Nunca brinque com a maldição de Dan Gilbert!

O post de hoje é uma continuação desse aqui. Antes tinha falado dos jogadores que tinham melhorado em relação à temporada passada depois de mudar de time (aliás, perdão por ter esquecido do metamorfoseado Marco Belinelli!), agora vou falar dos que melhoraram ficando no mesmo lugar, venceram pela insistência (a palavra bonita usada para designar a teimosia).

Talvez a história mais impressionante e interessante sobre os que ficaram no mesmo lugar já tenha sido contada aqui, é a do Richard Jefferson. Ele recebeu um ultimato do técnico Gregg Popovich, ou treinava como um desgraçado e melhorava o seu jogo ou já poderia começar a pensar em mudar de time. Resolveu treinar, hoje tem um arremesso de três maravilhoso e está ajudando o Spurs a ser o melhor time desse primeiro quarto de temporada. Para ler a história inteira sobre a mudança do Richard Jefferson, clique aqui.

Mas é interessante notar algo que não falei naquele post, que é como o Spurs está jogando diferente dos últimos anos. Dos últimos muitos anos. Explico, o Spurs é o terceiro melhor ataque da temporada até agora e a oitava melhor defesa. É a primeira vez desde que Tim Duncan chegou ao time, em 1997, que o Spurs é melhor ranqueado no ataque do que na defesa. Pra quem acompanha a NBA há pouco tempo pode parecer normal, mas quem viu o Spurs desses últimos quase 15 anos acha isso uma aberração. O Spurs atacando mais do que defendendo é insano como ver o Barcelona retranqueiro, no mínimo. E tem o ritmo de jogo, eles são hoje o 10º time mais veloz da NBA, nas outras temporadas da "Era Duncan" (adoro chamar períodos esportivos de "Era", me sinto falando de algo importante. Meu Corinthians só perdeu o Brasileirão por causa da "Era Adílson Batista") o Spurs ficou duas vezes com o 19º ataque mais veloz e depois disso sempre depois da casa dos 20, algumas vezes beirando as últimas posições.

A mudança de um jogo lento e defensivo para um mais focado na velocidade e no ataque devem ser levados em consideração também na hora de explicar porque o Richard Jefferson melhorou tanto em comparação à temporada anterior.

Outro que tem melhorado também é o Elton Brand. Nos números a mudança é discreta: Passou de 13 para 15 pontos de média, melhorou em dois rebotes e em 3% no aproveitamento dos arremessos. Mas na prática ele tem jogado muito melhor, o novo Sixers do técnico Doug Collins está deixando a bola menos tempo na mão do Andre Iguodala (o que não ajuda meu sofrido time de fantasy) e tentando envolver mais o Elton Brand. Depois de dois anos patéticos (e muito bem pagos) o ala está finalmente parecendo mais confortável em quadra, tem feito ótimas partidas em que participa do jogo e até tem jogadas desenhadas pra ele. É finalmente a opção que o time buscava no jogo de meia quadra, já que passaram os últimos anos vivendo só dos contra-ataques.

O problema é só que isso não é o bastante. Embora a defesa do Sixers seja aceitável, o ataque ainda é um dos piores da NBA. Sim, o Jrue Holiday melhorou, o Elton Brand melhorou e mesmo assim eles são bem ruins, é esse o tamanho do buraco em que está o Sixers. O problema parece ser mesmo as peças que não se encaixam e a solução acaba sendo fazer coisas idiotas como deixar o Thaddeus Young no banco para colocar o Jason Kapono só pela necessidade de ter pelo menos um arremessador em quadra, é perda absurda de talento para cobrir alguns buracos. E pior, Brand está jogando bem, mas não o bastante para que algum outro time se sinta tentado a pegar o seu contrato que ainda tem esse e mais dois anos de duração e quase 18 milhões por temporada. Elton Brand parecia destinado a não funcionar no Sixers, mas melhorou, uma pena que ainda não justifica um décimo do que recebe.

Merece atenção pela evolução também o Nate Robinson. Critiquei a troca do Eddie House por ele no ano passado porque não via o que o Nate poderia acrescentar que o House não fazia. Os dois são jogadores que sempre entram e, no linguajar americano esportivo, em referência ao beisebol, vão para o home run. Eles não tentam rebatidas simples e seguras para fazer o time andar, querem o mais difícil e valioso. Quando dá certo são os heróis do jogo, quando dá errado, é patético. A diferença está no estilo, Eddie House faz isso com bolas de três, Nate Robinson faz engolindo a bola só pra ele.

No entanto, ele mudou nessa temporada. Não é o Jason Kidd que parece dar um sorriso de Mona Lisa toda vez que descobre um jeito de finalizar uma jogada sem precisar arremessar, mas o Nate está passando a bola, entendendo o ataque do Celtics e servindo mesmo como um bom reserva para o Rajon Rondo. Parece ser o típico caso do jogador que chegou no meio da temporada e não entendia nada, mas que agora, depois de um training camp e tempo de estudo, conseguiu sacar o que estava fazendo em quadra. E nunca pensei que ia dizer que o Nate Robinson sabe o que faz em quadra, ele é o cara que arremessou contra a própria cesta só por diversão!



Mas acho que o meu favorito nessa brincadeira de pokémon de quem mais evoluiu é o Arron Afflalo. Ele precisa agradecer ao papai do céu (ou ao Joe Dumars) todos os dias por ter sido mandado do Pistons para o Nuggets em troca de fraldas usadas e um vale CD (também conhecido como uma escolha de 2º round de 2011).

No Pistons ele estaria brigando por posição com o Richard Hamilton e o Ben Gordon em um time que está completamente perdido e historicamente investe em jogadores velhos ao invés de apostar na pirralhada. E ao invés disso está em um time que precisava de um jogador com a suas características para o time titular e está no playoff todo ano. Quando ele chegou em Denver só pediram que ele defendesse bem o ala-armador adversário e, eventualmente, acertasse uns arremessos de três quando ficasse livre. No ano passado, seu primeiro ano no Nuggets, ele subiu de 16 para 27 minutos por jogo e dobrou sua média de pontos de 4 para 8. Foi um ótimo defensor e teve um aproveitamento de 43% nas bolas de 3 pontos, número de especialista.

Se ele só continuasse assim já seria muito bom e ele teria meu voto no inexistente prêmio Gilberto Silva de Role Player do ano. Mas não, ele melhorou ainda mais. Aos poucos o Chauncey Billups está piorando com a idade, o Carmelo Anthony, dependendo do seu humor, pode ser só mais um cara na quadra ou a melhor máquina ofensiva da NBA, e entre esses altos e baixos o Afflalo viu uma chance para chamar o jogo e ser mais que um simples arremessador. Ainda acerta suas bolas de longe, são 42% de aproveitamento nesse começo de temporada, mas aumentou o número de arremessos próximos à cesta (de 0,3 para 1,2 por jogo) e no aro (de 1,8 para 2,2), melhorando significativamente o aproveitamento nessas posições. Com isso sua média de pontos subiu de novo, de 8.8 para 12.8 por jogo. Ele também melhorou nos rebotes e dobrou sua média de tocos, de 0,4 para 0,8 por jogo. Parece pouco, mas para alguém de 1,96m e segundo armador, beirar a média de 1 toco por jogo é algo especial. Entre os jogadores da sua posição ele só fica atrás de Dwyane Wade (1,05) e Chicão Garcia (0,9).

Ou seja, o Afflalo invadiu partes do jogo que não eram lugar dele até o ano passado e tem surpreendido todo mundo por estar fazendo isso de maneira tão confiante e eficiente. Outro dia vi ele fazer várias infiltrações e puxando contra-ataques como quem sempre tivesse feito isso. É tão bizarro como ficar vendo o Kevin Love meter uma bola de três atrás da outra. Uma coisa é saber fazer, outra é fazer bocejando. Se o Melo sair mesmo do Denver em um futuro próximo eu espero que o Afflalo ganhe ainda mais espaço e melhore ainda mais seu jogo e estatísticas.

Alguns outros jogadores melhoraram sem mudar de time, mas ao contrário dos citados aqui, eles não estão exatamente na mesma situação de antes. Mesmo ficando na mesma franquia, estão em outras realidades. No Toronto Raptors, por exemplo, a evolução nítida de Sonny Weems, Reggie Evans e Andrea Bargnani se dá em muito porque agora eles tem mais tempo de quadra e mais responsabilidades nas mãos. Mesma coisa com Andray Blatche e JaValle McGee no Wizards, desde o fim da temporada passada eles receberam as duas vagas no garrafão do time e é natural que estejam melhorando. São novos, tem talento e pouco a pouco vão melhorando, embora ainda não o bastante para fazer o Wizards botar medo em alguém.

Mas dentre todos os que melhoram e os que foram citados nesse texto, só um tem uma chance clara e real de mostrar seu basquete melhorado no All-Star Game, o destruidor de brasileiros Luis Scola. E o engraçado é que eu acho que ele não mudou em nada o seu jogo dele em relação aos últimos anos, é o mesmo Scola de sempre. As mesmas qualidades e defeitos estão lá, mas agora o time finalmente se tocou do quão bom esse safado é. E ele também ganhou mais confiança e tem atacado mais o adversário. O resultado são os mesmos minutos de antes, o mesmo aproveitamento, mas os arremessos tentados aumentaram, os lances livres dobraram e sua média de pontos subiu de 16 para 21 por partida! O talento para ser um All-Star na NBA não é novidade pra quem já viu o Scola jogar na Europa e pela seleção argentina, mas só agora virou realidade nos EUA e ainda com um fator importante na América, apoio estatístico: 21 pontos e 9 rebotes por jogo é número de respeito. Entre os alas de força só Dirk Nowitzki e Amar'e Stoudemire pontuam melhor que Scola. Falta só o time ganhar um pouquinho mais dos seus jogos.

O assunto é bem grande e daria pra achar mais jogadores que estão melhorando, mas teremos mais chance para isso ao longo da temporada. Falaremos da evolução do Shannon Brown quando comentarmos do Lakers e da melhora do Joakim Noah (já posso dizer que ele é um dos melhores passadores entre os pivôs sem assustar ninguém?) quando falarmos do novo Bulls com Carlos Boozer.

O próximo post é para comentar o oposto, quem piorou. Mas preciso de mais tempo para meditar e entender porque Tyreke Evans, Darren Collison, Jason Thompson e Robin Lopez me fizeram ir no Google descobrir se a palavra "involuir" existe nos dicionários.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A decisão de Richard Jefferson

Spurs e Knicks jogam durante um terremoto


Logo depois da humilhante eliminação do San Antonio Spurs para o Phoenix Suns nos playoffs do ano passado, uma varrida de 4 a 0 que ninguém poderia prever, o técnico Gregg Popovich chegou para o Richard Jefferson e disse "Entre em forma, treine ou vamos trocá-lo na primeira oportunidade". E completou, "Você tem a chance de voltar para a escola e treinar ou só fazer dinheiro nos últimos anos da sua carreira". 

O Richard Jefferson teve uma carreira ótima no New Jersey Nets e um ano discreto, mas bom, no Bucks antes de ir para o Spurs. Era considerado na época por nós e quase todo mundo como a peça que o Spurs precisava para voltar a lutar pelo título. Não era o defensor fora de série para substituir Bruce Bowen, mas tiraria o peso ofensivo do trio Parker, Duncan e Ginobili, especialmente dos últimos dois, que já estão chegando na menopausa, e não faria feio na defesa. No Nets nunca foi de anular uns Kobes da vida, mas não comprometia um time que precisava da defesa para puxar os contra-ataques, marca registrada daquela equipe liderada pelo Jason Kidd.

Mas sabe quando você vê o Big Mac lindo e grande na TV e aí recebe aquele lanche amassado, fino e com alface velha caindo pelos lados? Isso foi o Richard Jefferson no Spurs. Seus arremessos de longe não caíam, ele pouco infiltrava e na defesa parecia bem mais lento do que o normal, denunciando os 30 anos de idade que batem na sua porta. E o mais triste da história inteira foi que o Richard Jefferson ainda tinha mais um ano de contrato em que ganharia mais de 16 milhões de dólares. Não só ele não havia salvado o Spurs como agora impedia que eles tentassem de novo com outro jogador. Lembremos que o Spurs sempre foi um time muito cauteloso com dinheiro e pela primeira vez em anos toparam ultrapassar o luxury tax (entenda mais sobre o o salary cap da NBA nesse post) e pagar multas só pela chance de ter o Richard Jefferson e voltar a lutar por um título.

E voltando à conversa entre técnico e jogador, Richard Jefferson respondeu ao seu técnico: "Eu não quero só fazer dinheiro, quero jogar o melhor que eu puder".  Foi o "The Decision" que não passou na ESPN.

Fizeram treinos físicos que o Richard Jefferson afirmou "que não eram divertidos", pelo menos duas horas de trabalhos todos os dias com toda a equipe de preparadores físicos e técnicos que o Spurs tinha espalhado pelo país. Ele viajou para onde estava cada um deles para aprender tudo de novo. Praticou bastante o seu arremesso, em especial o do canto da quadra, na zona morta, aquele que consagrou o Bruce Bowen e matou Mavs, Suns e cia. tantas vezes nos últimos anos. Também estudou mais os sistemas ofensivos e defensivos do Spurs. Fez treinos específicos sobre as movimentações de quadra pedidas pelo técnico durante a temporada.  Popovich, aliás, participou de algumas etapas dessa volta à escola do RJ.

Jefferson disse que tinha muitas dificuldades na última temporada e que todo mundo respondia dizendo que no primeiro ano é sempre mais difícil pra sacar como funciona o time, mas que no segundo ano, com a experiência do ano anterior, é mais fácil jogar no Spurs. Um dos motivos é que Gregg Popovich não é um técnico que só aparece na hora do jogo e manda fazer uma jogada, que só delega poderes e faz discursos no vestiário, é um dos raros casos na NBA em que um treinador se preocupa em desenvolver o jogador. As escolhas de segundo round de Draft que viram ótimos jogadores são um mérito duplo, primeiro dos scouts, os olheiros bem treinados e pagos que sabem ver um bom talento, e depois dos técnicos, que sabem aperfeiçoar o jogador ao invés de só esperar pelo melhor.

Junto com os treinos houve a preocupação econômica. O jogador tinha um ano de contrato sobrando no valor de 16 milhões e a opção de sair e virar um Free Agent. Richard Jefferson se sentia mais confortável com um contrato mais longo para não correr o risco de estar sem nada no ano que vem quando os salários podem cair drasticamente, mas também não queria simplesmente optar por não ganhar tanto dinheiro e acabar com um contrato mais longo e também mais vagabundo. Chegaram então a um acordo, o Jefferson optou por desistir dos 16 milhões e já que estava treinando conforme o prometido para Popovich, ganhou um contrato novo de 38 milhões por 4 temporadas. Sem dúvida o voto de confiança mais caro e arriscado que eu já vi o Spurs fazer na vida. Se tínhamos dúvidas sobre o porque do Spurs pagar uma nota preta pelo Jefferson ao invés de investir menos em caras como Matt Barnes, a resposta é confiança.

Só foram cinco jogos pelo Spurs nessa temporada, mas tudo parece ter ido pelo melhor caminho possível. Nesses cinco jogos o Richard Jefferson tem média de 20 pontos por jogo, segundo cestinha do time, meio ponto atrás de Manu Ginóbili, e aproveitamento de arremessos espantoso, de 64%! É o terceiro melhor aproveitamento da liga e o único dos 15 primeiros da lista a não ser um jogador de garrafão. Em bolas de três é atualmente o quinto melhor da liga com insanos 60% de aproveitamento. Em lances livres está cobrando 5,8 lances livres por jogo, mais do que os 3,5 que tinha de média no ano passado. Não só acerta mais de longe como é um jogador mais agressivo ao atacar a cesta. Segundo Manu Ginóbili, RJ também tem jogado com mais confiança sabendo exatamente o que deve fazer em quadra.

O melhor jogo do Jefferson até agora foi contra o Suns, o time que os eliminou no ano passado. Para compensar os 9 pontos de média que teve na série contra eles nos playoffs de 2010, meteu 18 só no quarto período, incluindo quatro bolas de três da zona morta, onde enjoou de treinar na offseason.



Defensivamente o Spurs ainda não alcançou o nível do ano passado, que já não era o ideal, e Richard Jefferson entra no meio do bolo, mas o momento é de otimismo. A aposta do Spurs em renovar com Richard Jefferson e Manu Ginobili rendeu até agora 4 vitórias, só uma derrota, para o impressionante Hornets, e é o sexto melhor ataque da NBA.

Após o jogo contra o Suns todos os repórteres estavam atrás de Richard Jefferson e ele atrás de Manu Ginobili. Quando perguntaram o motivo ele explicou que no ano passado era só fazer um jogo um pouco melhor que todos os jornalistas iam lá perguntar se agora ele iria embalar e o Manu começou a fazer piada com isso, ele estava então esperando o argentino chegar para ele ouvir tudo de novo. Se tudo continuar assim a piada vai se repetir tanto que daqui a pouco o narigudo não vai rir mais, vai virar rotina.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Preview 2010-11 / San Antonio Spurs

 Ele é como qualquer um de nós


Objetivo máximo: Mais um título. O ano é ímpar, afinal.
Não seria estranho: Chegar longe mas perder para Lakers ou Mavs
Desastre: Cair na primeira rodada e ver os cabelos brancos nascerem na cabeça do Duncan

Forças: Time entrosado, técnico espetacular, defesa bem montada e Tim Duncan
Fraquezas: Parte do time está ficando velha demais e a outra parte ainda parece muito inexperiente

Elenco:








.....
Técnico: Gregg Popovich


Eu sempre entro na nossa página da semana dos técnicos para ver o que podemos aproveitar de novo aqui. E o texto do Popovich feito pelo Danilo está perfeito! Como a gente tinha bem menos leitores naquela época e já faz dois anos, acho que vale a pena a reciclagem completa:


"O técnico que todos amam odiar, o técnico que não cansa de ganhar, que faz os nerds das pranchetas terem orgasmos múltiplos e coloca para dormir todo o resto da civilização ocidental contemporânea. Tudo porque Popovich foca seus esforços na defesa enquanto tem fama de ser um dos técnicos mais severos e controladores no ataque (ele é tipo mulher ciumenta). Tente dar um arremesso que Popovich não planejou com antecedência de 48 horas e você será colocado no banco. Para conseguir arremessar uma simples bola, Tony Parker precisa preencher um formulário e autenticar em três vias - seja lá o que isso significar. Mas a verdade é que os jogadores no Spurs apenas obedecem o que está instituído, colocando em prática um ataque maquinal e absurdamente funcional. Duncan estará sempre em posição para seu clássico arremesso usando a tabela, Tony Parker sempre poderá infiltrar e passar a bola para a zona morta e Bruce Bowen sempre estará livre por aquelas bandas, pronto para arremessar de três e ser um bundão. Apenas Ginóbili é inesperado porque ele faz as mesmas coisas de modos extraordinários, com aquelas passadas malucas e destrambelhadas que, segundo o próprio Popovich, matam ele do coração.

Quando falo do Popovich, sempre uso como exemplo sua relação com Tony Parker. O francês tinha uma cota máxima de arremessos que podia dar de trás da linha de 3 pontos (sem brincadeiras!) e, quando começou sua sua carreira no Spurs, era obrigado a passar a bola para fora do garrafão ao invés de fazer as bandejas que hoje lhe são marca registrada. Com o tempo, foi ganhando mais liberdade com o técnico - o que equivaleria a uma mãe dizer que a filha não pode ir para a balada, mas que agora pode passar maquiagem dentro de casa. Para nós, fracassados que perdemos para o Spurs a torto e a direito, sua relação ditatorial com o time, respostas mal humoradas e cara de quem está com uma eterna apendicite nos fazem odiar Gregg Popovich como poucos no mundo. Mas tem mais: "Pop" (como alguém tão mal encarado pode ter um apelido tão fofucho?) era dirigente do Spurs, demitiu injustamente o técnico do time e se auto-proclamou o novo treinador, cargo que exerce desde então. Se ele não fosse um branquelo em um time texano, provavelmente o presidente Bush iria colocar o exército para intervir na questão. E o mais engraçado é que Popovich disse que deve se aposentar assim que acabar o contrato de Tim Duncan, ou seja, provavelmente não quer testar como seriam seus resultados sem um dos melhores jogadores de todos os tempos ao seu lado. Bem, se pudesse escolher, eu também não testaria.

E não adianta me dizer que estou com dor de cotovelo porque sim, estou com dor de cotovelo. O Gregg Popovich ganhou demais na vida, deixa pelo menos um blog na internet dar a entender que o cara é fracassado, tá legal?"


O que eu posso acrescentar é que nos últimos dois anos anos o Popovich ganhou um desafio novo. Ele teve que lidar com jogadores muito jovens que, por serem jovens, oras, não tinham a disciplina e inteligência tática que todos os comandados do Spurs nos últimos 10 anos tiveram. Ele precisou de paciência extra e voltou aos seus tempos de professor para conseguir lidar com DeJuan Blair, George Hill e Roger Mason, que de uma hora para outra viraram peças fundamentais em um time sem a profundidade que já tivera no passado. Mas ele fez um bom trabalho e a pivetada está dando resultado, é de se esperar que ele também tenha paciência e sucesso com o Tiago Splitter, que não é pirralho mas precisa de tempo para se adaptar ao jogo americano.

......
O sucesso na evolução dos pivetes que eu citei acima e o fato do Splitter ser um jogador já bem rodado são os motivos que me fazem pensar que essa temporada é a que o Spurs tem mais chance de voltar ao título desde que disputaram a final do Oeste contra o Lakers em 2008. As últimas duas temporadas serviram apenas para o Duncan parecer mais velho, para o Ginobili e o Parker se machucarem várias vezes e para a pivetada errar bastante e deixar o Pop louco da vida vendo o Roger Mason forçar bolas de três.

Mas depois de dois anos parece que está tudo certo. O Tony Parker chegou a ser envolvido em boatos de troca e falaram por aí que ele estava interessado em ir para o Knicks, mas ele sempre foi bem fiel ao Spurs e acredito que não tenha nenhum problema em ficar lá. Sem contar que pode ir para o Knicks quando for Free Agent e quando o time de NY estiver um pouco melhor, melhor jogar ao lado de Duncan e Manu enquanto ainda pode. O argentino já havia melhorado muito na segunda metade da temporada passada e depois de descansar durante toda a offseason ele deve estar inteiro fisicamente, é o que basta pra ele ser o homem do quarto período no time.

Já Duncan recebeu muitos elogios de Gregg Popovich. "Ele está mais magro e mais bem condicionado. Mais magro do que estava no meio da temporada passada". E completou com as razões para esse esforço extra, "Ele está levando tudo isso muito a sério. Ele quer voltar a vencer". Por mais cara de bundão que o Duncan tenha, ele não é bundão. Ele até foi legal e sincero o bastante para dizer que essa nova regra sobre as faltas técnicas é um exagero e um erro da NBA. A derrota para o Suns no ano passado marcou apenas a segunda vez na carreira que Duncan passou três temporadas em sequência sem título! E caras acostumados a ganhar não encaram muito bem derrotas, muito menos depois de tomar uma varrida de um time que até pouco tempo atrás era seu maior freguês. Vamos ver o Duncan a fim de jogar como há tempos não vemos.

Com o trio em forma e motivado o Spurs vai longe, não há dúvida em relação a isso. Mas até aí nada de mais, o Lakers tem seu trio, o Mavs tem elenco forte, assim como Blazers, Nuggets (pelo menos até o Carmelo parar de dar piti) e pelo menos três ou quatro times do Leste. A diferença vai ser nos detalhes: entrosamento, preparo físico e principalmente o elenco de apoio.

Eu fiquei bem encafifado quando o Spurs pagou uma boa grana para reassinar o Richard Jefferson mesmo depois dele milagrosamente ter optado por sair do seu contrato milionário. Talvez tenha sido um pensamento de "ruim com ele, pior sem ele" ou talvez um voto (caro) de confiança. Quando o Richard Jefferson jogou bem no ano passado o Spurs era um time difícil de parar, como foi na série contra o Mavs, mas muitas vezes ele era um Bruce Bowen que não defendia e nem acertava bolas de três, ou seja, um pedaço de carne que se movia. Qual será o que vai entrar em quadra nesse ano? Não sei, mas na pré-temporada ele tem jogado muito bem, inclusive acertando 50% das suas bolas de 3! Se ele for um arremessador de três confiável o Spurs já pode comemorar por ter feito a decisão certa em mantê-lo. Outro que pode ajudar nesse quesito que fez falta no ano passado é o novato James Anderson, embora também não seja nenhum especialista.

No garrafão o Duncan vai contar com a ajuda de Tiago Splitter e DeJuan Blair. O brazuca, em teoria, deixaria o TD jogar mais fora do garrafão, onde eu acho que ele é melhor e daria mais altura para o time, valorizando o lado defensivo. Já o DeJuan Blair deixa o time mais veloz, muito mais forte no rebote ofensivo (o cara nasceu pra fazer isso), mas obriga o Duncan a jogar na posição 5 e às vezes compromete na defesa. Na pré-temporada o Splitter não jogou e o Blair empolgou com médias de 13 pontos e quase 9 rebotes em míseros 25 minutos por jogo. Por isso acho que o brasileiro começa a temporada no banco, mas isso vai ser irrelevante ao longo da temporada, os dois devem revezar nas duas posições do garrafão junto com Duncan e Antonio McDyess e eventualmente até jogar juntos. Tudo depende de treino, de entrosamento e do adversário que vão enfrentar.

Richard Jefferson e James Anderson podem ser a resposta para os problemas de arremesso de três da equipe, Blair e Splitter para o garrafão, mas o Spurs não arranjou ninguém para atuar como defensor de perímetro. Alguns especialista em basquete universitário até apontaram o James Anderson como alguém que pode virar um grande defensor em nível profissional, é esperar para ver. No ano passado eles às vezes colocavam o baixo George Hill para marcar jogadores da posição 2 e 3 só porque ele é o melhor defensor de perímetro do elenco. Era melhor que nada, mas não é solução de problema. Se cruzarem nos playoffs com pontuadores mais altos como Kobe Bryant e Kevin Durant, a coisa pode engrossar pra eles.

No ano passado o Spurs pagou toda aquela grana para o Richard Jefferson e passaram pela primeira vez em muito tempo do limite salarial. Como justificativa disseram que queriam usar os últimos anos de carreira do Duncan e do Ginobili para ir com força total atrás de outro título. Estão certos. Com os dois em forma e com a ajuda do resto do time, que tem chance de ser o melhor elenco de apoio nas últimas 3 temporadas, as chances de voltarem a ser o time chato, pentelho, sonolento e vencedor que a gente conhece são bem grandes. Como disse nessa análise bem mais detalhada sobre o Spurs há uns dois meses, o Spurs ainda não voltou, mas pode voltar.

E pra quem acha que o Spurs não é empolgante, saca só que show é o Duncan!!! Showtime, baby!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Chamado para a realidade


Assim como o Richard Jefferson, eu também abriria mão de 15 milhões pra não ter 
que ver a Eva Longoria nos treinos do Spurs sabendo que ela não vai dar pra mim


Já comentamos aqui: ninguém deveria ganhar 100 milhões de dólares. Principalmente se for num período tão curto quanto quatro ou cinco anos. É simplesmente errado, não importa qual seja sua profissão: médico, político, bombeiro, salvador de pandas, jogador de basquete. A quantia é completamente fora da realidade, não há nada que um ser humano possa fazer com 100 que ele não possa fazer com apenas 1. O valor é tão exorbitante que acaba gerando aquelas maluquices de sempre: uma dezenas de mansões com milhares de cômodos, e aí a grana absurda para manter cada um desses cômodos limpos; uma coleção de carros milionários, e a grana para mantê-los funcionando mesmo que eles não sejam feitos para enfrentar o trânsito do dia-a-dia e fiquem mofando na garagem. Como diria a Luciana Gimenes, "te dou um dado?": uma grande parte dos jogadores da NBA vai à falência poucos anos após se aposentar, frente à impossibilidade de manter esses padrões de vida tão elevados (Antoine Walker, estou olhando pra você).

Existe também o óbvio absurdo que é um sujeito ter tantos milhões que dá até pra enfiar uma parte na orelha, e outro não ter nem o que comer ou o dinheiro do busão. É vergonhoso e um tanto sujo. Mas a NBA é um negócio milionário em que cada equipe fatura muitas centenas de milhões de dólares por ano com bilheteria, transmissão dos jogos para todo o planeta, propagandas, venda de uniformes, patrocínio nos ginásios, cachorro-quente, cards, figurinhas, videogames. Para onde deve ir todo esse dinheiro? Os engravatados são responsáveis pelas contratações, pela administração, pelas finanças, mas as pessoas consomem a marca NBA para ver os jogadores, um bando de gigantes suados correndo de um lado para o outro tentando encaixar uma esfera laranja num lugar exageradamente alto. É justo, portanto, que ao invés de um bando de gordinhos de terno enchendo ainda mais seus cofres, o dinheiro vá para as mãos dos jogadores, que fazem a parte mais importante do espetáculo.

Mas os tempos são outros. Segundo David Stern, menos da metade dos times da NBA teve, nos últimos anos, qualquer traço de lucro. Estão afundadas em problemas financeiros, contratos absurdos, enchendo os bolsos do Eddy Curry com 11 milhões de verdinhas por ano e perdendo audiência num mercado mundial em crise. Por que louvar tanto Kobe Bryant e LeBron James, alguns perguntam? Porque a NBA perdeu muito público depois da aposentadoria de Michael Jordan, com esses fãs insuportáveis que curtem uma necrofilia e diminuem os jogadores atuais apenas porque supostamente "não podem alcançar o grande mestre". Louvar os melhores da atualidade não é apenas reconhecê-los e lhes dar o lugar que merecem, é também salvar a NBA de uma nostalgia doentia que pode matá-la. Nossa liga favorita, assim como boa parte do mundo capitalista, está em crise. David Stern alega que a NBA, como um todo, terá um prejuízo de 400 milhões de dólares apenas nessa temporada (embora eu chute que 2/3 disso seja culpa do Clippers e o resto seja o contrato do Curry).

Por isso, o sindicato dos jogadores e os engravatados da NBA se unem sempre que um acordo entre eles acaba, geralmente a cada 5 ou 6 anos, para redigir um novo acordo trabalhista. É ele quem estipula o tamanho e a duração dos contratos possíveis, como os contratos funcionam, a porcentagem da grana que pode ser repassada para os jogadores, a progressão do teto salarial de cada equipe, a grana garantida dos novatos. Quando David Stern e os representantes dos jogadores não chegam a um acordo, além de se xingarem de "bobo" e pararem de se mandar cartões de Natal, surge a possibilidade de uma greve. Foi o que aconteceu na temporada de 1998-1999, que teve apenas 50 jogos (um alívio enorme, poderia ter greve todo ano!), já que um acordo entre as partes não foi alcançado.

O atual acordo trabalhista após a greve terá validade até 30 de junho de 2011, ou seja, deixará de funcionar exatamente quando os times poderão assinar Free Agents na temporada que vem. Para garantir que esses jogadores possam ser contratados, um novo acordo deve ser alcançado até lá - ou então nos aproximaremos novamente de uma greve dos jogadores. Durante o último All-Star Game, que é quanto todo mundo está contente demais para perceber que tem algo importante acontecendo nos bastidores, David Stern fez uma proposta para o acordo trabalhista. Detalhes não foram divulgados, mas sabemos que os jogadores e as equipes ficaram ultrajados, putos da vida, negaram qualquer possibilidade de aceitar a oferta, mandaram o David Stern ir empilhar coquinho na descida, e ficaram de devolver uma contra-proposta (algo que aconteceu apenas agora, dia 2 de julho, e da qual não temos quaisquer informações).

Mas o importante para a gente são os boatos sobre a tal oferta ultrajante do David Stern. Aparentemente o teto salarial da NBA, além de diminuir um bocado (algo que quase aconteceu já para essa temporada), ficaria "duro", ou seja, sem as trocentas bilhões de regras e exceções que o Denis explicou tão bem no Bola Presa e que permitem contratações mesmo aos times endividados. Além disso, os jogadores receberiam uma parte menor da grana gerada na NBA, que atualmente é de 57%, garantindo que as equipes tenham dinheiro para tentar driblar a crise. O período máximo dos contratos também seria menor (variando entre 3 e 4 anos, ao invés de ir até 6) e o valor máximo dos salários seria drasticamente diminuído. Esses contratos, aliás, não seriam mais inteiramente garantidos, dando às equipes mais oportunidades para se livrar de jogadores e desfazer cagadas (Eddy Curry!) sem pagar nenhuma multa.

A NBA se tornaria menos bacanuda para os jogadores e é claro que ninguém vai aceitar ganhar menos dinheiro, em contratos menores e mais curtos com menos garantias, sem espernear um pouco contra isso. Mas a situação aconômica legitima a maior parte dessas mudanças, não dá para carinha ficar ganhando 100 milhões numa NBA que só tem prejuizo, e nem para jogador ficar enchendo os bolsos com milhões enquanto está fora de forma, gordo, rolando escada abaixo, comendo frango assado com a mão enquanto senta na privada, suspenso por portar armas, essas coisas. O acordo trabalhista final não deve ser tão radical quanto o proposto por David Stern, mas ele realmente está tentando salvar as franquias delas mesmas, da burrice de seus engravatados, de seus contratos ridículos e da falta de vínculo com a realidade. Cedo ou tarde algumas dessas medidas terão que ser aceitas, e aí os jogadores assinarão novos contratos na temporada que vem em condições muito mais desfavoráveis do que podem assinar agora.

Aí está a razão de alguns jogadores estarem escolhendo encerrar seus contratos monstruosos nessa temporada. Vale mais a pena assinar um contrato novo agora, mesmo que ganhando bem menos, do que ter que assinar um contrato na temporada que vem, em que eles devem ser menores e com menos garantias. Richard Jefferson ganharia 15 milhões de dólares na próxima temporada, um valor surreal que ele não vale nem a pau, mas assim que entrasse em vigor o novo acordo trabalhista, assinaria um contrato menor, mais curto, com as equipes contratando menos gente graças a um teto salarial menor, e talvez seu contrato nem fosse garantido, com ele podendo ser demitido a qualquer momento (algo que teria facilmente acontecido durante sua passagem desastrosa pelo Spurs).

Ao abrir mão de 15 milhões, Richard Jefferson assina um contrato bem longo segundo as regras antigas, garantido, que vai lhe manter por muitos anos a mais, e ainda se aproveita de um mercado inflacionado em que jogadores medianos devem sair bem caros. Afinal, várias equipes estão com espaço salarial para contratar estrelas que eventualmente assinarão com outras equipes, tendo que assinar uns caras mais-ou-menos para não ficar com as mãos abanando. Além disso, sabendo que várias equipes podem contratar estrelas (desesperadas pelos maiores contratos possíveis antes que as novas regras entrem em vigor), os times estão sendo obrigados a renovar o contrato de seus jogadores por preços abusivos e inflacionados para não perdê-los, como foi o caso do Hawks com o Joe Johnson e do Grizzlies com o Rudy Gay.

Esse é o momento perfeito, portanto, para todo e qualquer jogador abrir mão de seu contrato - por mais milionário que seja - e assinar um novinho em folha o mais comprido possível, para garantir o leitinho das crianças (em mamadeiras de diamante, claro). Desse ponto de vista, não é nada estranho ver Richard Jefferson, Paul Pierce e Dirk Nowitzki abrindo mão de seus contratos. Estranho é que o Kobe Bryant tenha extendido o seu na temporada passada ao invés de encerrá-lo e assinar outro com o Lakers, ainda maior e mais longo. Mas com essa extensão acaba com ele ganhando 30 milhões, talvez o Kobe nem se arrependa.

Há uma chance de que o Richard Jefferson consiga um contrato de mais de 10 milhões com algum time desesperado por qualquer jogador para melhorar o elenco, mas mesmo que ele não consiga estará no lucro. É apenas uma questão de pensar a longo prazo, garantindo agora um dinheiro que entre pelos próximos 5 anos ao invés de 15 milhões agora e um futuro completamente incerto. Não é preciso um contrato muito gordo para que ele some mais de 15 milhões nos próximos 5 anos, enquanto nas novas regras que entrarão em vigor seria bem possível que ele perdesse o emprego e não arrumasse um contrato a não ser pelos valores mínimos. Quando se trata de lidar com o próprio contrato, não existem muitos jogadores burros na NBA - e nem jogadores bonzinhos.

Tem muita gente falando da incrível bondade samaritana de Pierce e Nowitzki, que aceitaram contratos um pouco menores do que podiam, supostamente para permitir que mais jogadores sejam adicionados aos seus elencos. Em parte, os dois realmente precisavam perceber que seus contratos são fora da realidade e que não vão vencer sem um banco de reservas mais profundo. Mas o principal é que os dois estão cientes das mudanças que ocorrerão ao teto salarial, de como será mais difícil adicionar estrelas a partir da temporada que vem, e de como terão mais dificuldades em conseguir contratos longos. É melhor topar um dinheirinho a menos agora e garantir um contrato longo. E se querem continuar competitivos, buscando títulos, faz sentido entender que vai ser mais difícil conseguir jogadores de peso daqui pra frente, já que terão que topar menos grana em tetos salariais mais baixos e os jogadores de mais peso já estarão em contratos longos conseguidos às pressas antes das novas regras entrarem em vigor. Ninguém é burro e ninguém é santinho, os jogadores podem chorar que serão prejudicados no novo acordo trabalhista, mas a verdade é que sabem perfeitamente bem a situação econômica em que suas franquias se encontram. Os que se importam em vencer sabem que terão que ser mais flexíveis e topar menores contratos para manter os times competitivos, e os que querem encher o cofre do banco sabem que precisam aceitar os maiores valores possíveis agora, enquanto há tempo.

Nowitzki e Paul Pierce são espertos e realistas. Encerraram seus contratos não para testar o mercado, receber ofertas e flertar com outras equipes, mas sim para assinar contratos longos, estáveis e mais dentro da realidade para garantir seus times no topo. Richard Jefferson não é maluco, não preferiu perder 15 milhões apenas para não ter que lidar com o porre do Greg Popovich (que é chato mas nem tanto assim), ele apenas quer um contrato mais longo que no final das contas vai ser ainda mais lucrativo.

Outros casos iguais devem acontecer, e vamos comentando cada um deles conforme forem surgindo. Também vão pintar trocentos contratos inflados, com os times aproveitando a última temporada com esse alto teto salarial e os jogadores querendo garantir os maiores contratos possíveis, como foi o caso do contrato de Amir Johnson com o Raptors, por exemplo. Como sempre, o Bola Presa fará a análise completa de cada troca ou contratação, mesmo que a gente demore um pouco para poder ir ao banheiro de vez em quando. Mas o importante é lembrar que esse oba-oba de contratações desenfreadas tem data para acabar e por isso todo mundo está correndo para garantir sua fatia do bolo. Se o David Stern estiver certo e algumas de suas propostas forem aceitas, teremos equipes mais comedidas, contratos menores, menos gente apostando em Eddy Currys ou Jerome James. Ou seja, uma NBA mais legal e mais dentro da realidade. Em que o Knicks estará lascado.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Vitória sem vingança

Nash imita o Cristo Redentor


Para quem não é fã do Spurs, os últimos 10 anos não foram tempos muito divertidos. Desde 2003, parece que o Spurs não fez outra coisa além de chutar o traseiro do Phoenix Suns. Quanto mais a NBA ficava defensiva, quanto mais os times se transformavam em enormes retrancas, quanto mais os times pareciam todos iguais tentando arranjar peças similares umas às outras, mais o Suns se levantava como uma alternativa viável, um basquete diferente, uma mentalidade quase insana, mas que também era capaz de dar resultado. Com apenas um único problema: não era capaz de dar resultado coisa nenhuma. Porque o Spurs não deixava.

Como acontece com todo projeto político, para provar que seu plano dava resultado, o Suns teve que - funhé! - abandonar seu plano. Primeiro foi a contratação de Shaquille O'Neal, dando ao Suns um jogo de meia quadra e um cara para trombar com Tim Duncan, depois foi a mudança de técnico para tentar se focar na defesa. Não deu certo.

Os erros foram se acumulando, o tempo foi passando, e a gente desistiu de um monte de coisas: a Alinne Moraes não vai ficar pelada, eu não vou ganhar na loteria, e o Suns não vai ganhar do Spurs. Como surpresas, no máximo esperamos um pneu furado pela manhã que nos poupe de chegar no trabalho, ou um incêndio que acabe com o escritório, talvez um Jogo 7 nos playoffs entre o Spurs e o Suns e olhe lá. Mas não conseguimos acreditar na vitória mesmo quando ela era mais provável.

Levou anos para o Spurs finalmente não ter as peças necessárias para colocar em vigor o esquema tático absurdamente rígido do técnico Gregg Popovich. Faltava um defensor no perímetro, um arremessador de três da zona morta, arremessadores experientes que gostem de arremessar com os pés parados, um biruta de posto no garrafão pra fazer faltas duras no lugar do Duncan. Levou anos para o Spurs sem as engrenagens certas ainda contar com lesões de Ginóbili e Tony Parker, tirando da equipe qualquer esperança de ritmo de jogo, algo tão essencial para um time regular como esse. Durante as últimas semanas recuperaram todos os jogadores de contusão, conquistaram algum ritmo, conseguiram descobrir em George Hill alguém para defender e arremessar da zona morta. Mas ainda ficaram claros os buracos no elenco que Popovich não podia tapar sem jogar seu plano de jogo pela privada.

Levou anos para o Spurs ser um time de defesa mais capenga e que, portanto, depende mais do ataque e joga melhor em velocidade. Levou anos para o Suns ser um time com melhores reboteiros, que joga melhor num ataque de meia quadra, defende melhor e corre menos. Com o Spurs correndo mais, querendo usar um time mais rápido e mais baixo (Parker, Ginóbili e George Hill) e o Suns correndo menos, tendo mais opções no jogo individual (Jason Richardson, Grant Hill), não dava nem pra saber qual dos dois times jogava mais na correria do que o outro. E mesmo assim a gente achava que o Suns iria ganhar sem sequer confiar nas nossas próprias palavras. No fundo aquela certeza de que o Spurs ia dar um jeito, como sempre deu. O Ginóbili iria arrumar um modo de ganhar os jogos no final se tacando no chão argentinamente.

Os quatro jogos da série viram Grant Hill sair contundido para voltar minutos depois como se nada tivesse acontecido, e Steve Nash sair sangrando de quadra para voltar minutos depois - com 6 pontos tomados na cabeça e um olho a menos na cara - como se nada tivesse acontecido. Ué, os dois não deveriam ter morrido misteriosamente enquanto alguém aleatório do Spurs (eu chutava o Matt Bonner) marcaria 50 pontos inesperados? O Nash não deveria morrer em quadra vítima do ataque de um navio bucaneiro por estar jogando caolho, fantasiado de pirata?

Tudo deu certo para o Suns e bizarramente errado para o Spurs. Foi um encontro muito diferente daquele que ficamos acostumados, com um Spurs diferente e baleado que se encaixou muito pior em um Suns diferente e reforçado em aspectos mais diversos do que só o campo ofensivo. É até difícil acreditar que, mais do que vencer o Spurs, o Suns varreu a equipe de San Antonio com um estrondoso 4 a 0 na série. Fico feliz de não ter sido com Shaquille O'Neal, às custas do projeto de um Suns ofensivo, se vendendo apenas para se livrar do rival. Mas não há como não ficar com um pingo de tristeza ao ver as consessões que o Suns fez para sair vitorioso dessa série, jogando com um pivô, segurando a bola, pegando rebotes ofensivos. Há muito do Suns de resistência, do Suns rebelde e subversivo que aprendemos a amar, como um Nash vovô jogando muito, Amar'e pontuando mas incapaz de defender, um pivô chamado Channing Frye que só arremessa de três pontos, um banco de reservas que corre como louco (até mais do que o time titular). Mas essa vitória não muda nem compensa as derrotas anteriores - agora é tarde.

Assisti emocionado ao Duncan se aproximar de Nash, após o fim da partida, e pedir desculpas pelo talho que abriu na cabeça do canadense. Duncan estava sorridente, sinal claro do apocalipse. Depois, Duncan foi dar tapinhas no ombro do Amar'e e dizer que agora é a hora do garoto. Parker abraçou o Nash com nobre admiração, depois de ter dito um dia antes que é um grande fã do armador canadense e que aprendeu muito assistindo a ele jogar durante os últimos anos. Até o Ginóbili conseguiu abraçar Grant Hill sem se jogar no chão e pedir uma falta. Esse time do Spurs é grandioso, saiu de quadra com um sorriso no rosto, consciente de que perde apenas porque a máquina não tem mais as mesmas peças. Simplesmente chegou a hora do Suns de ir em frente. É claro que a equipe de Phoenix respira aliviada e se sente parcialmente vingada, mas pegou um adversário combalido e o enfrentou depois de anos adulterando seu elenco. Legal, estou feliz pra burro e torço para o Suns coroar essa vitória com um anel de campeão depois. Mas ficamos longe de ter aquela vingança, aquela vontade de sangue que as séries passadas tiveram. Não apenas estamos fadados a nunca ver um Jogo 7 entre Suns e Spurs, como também só vimos o Suns vencer frente a esse Spurs sem muitas chances, quase desistente, dócil, cheio de abracinhos no final. Bowen e Horry não abraçariam ninguém, a não ser para bater carteiras - mas felizmente o basquete os engoliu faz um tempo.

O San Antonio Spurs é como chocolate amargo, parece horrível perto do docinho gostoso que estamos acostumados desde bebês tomando Ovomaltine. Mas aos poucos vamos acostumando e tomando gosto pela coisa. Com os anos aprendi a apreciar mais e mais o basquete do Spurs, admirar Tim Duncan e bater palmas para o jogo subversivo de Tony Parker e Ginóbili que, muito aos poucos, foram dobrando o esquema tático de Popovich. Mas esse não é o mesmo Spurs que chegou numa semi-final de conferência passando bolas decisivas para o Richard Jefferson errar seus arremessos livres. Dá pra imaginar o Suns não tendo que marcar um dos arremessadores do Spurs? Culpa do Spurs que apostou as fichas no cara errado, mérito do Suns que fez as trocas certas e soube reforçar fraquezas do time sem colecionar grandes defensores.

Nem acredito que vi o Suns passar do Spurs, resolvi até postar rápido antes que a NBA resolva cancelar o resultado por doping ou alguma loucura do tipo, haverá tempo de se falar melhor dessa partida mais pra frente, enquanto esperamos o vencedor de Lakers e Jazz. Mas uma parte de mim percebe claramente que não há uma vingança acontecendo aqui: um Suns diferente venceu um Spurs mais diferente ainda. Em quatro partidas fáceis, quase sem graça. Todo aquele desgosto de ver o Suns experimento de cientista maluco ser eliminado por um Spurs brutal e violento continuará para sempre entalado na garganta. O Nash sangrou por uma cotovelada sem querer de um Duncan que até pediu desculpas constrangido, é uma outra realidade. A vitória dessa noite vem com alegria para o Suns e com aceitação para o Spurs, que sabe de sua necessidade de, agora, reconstruir. Mas não há espaço para alivio na equipe de Phoenix. Os tempos são outros e o Spurs era uma equipe babinha: pela frente, deve vir Lakers. Não vai adiantar nada se livrar de uma zica que durou uma década para ser eliminado de novo. Se não for campeão, esse Suns vai desmontar e se vender de novo, cada vez mais longe do projeto inicial. Quem será que contratarão, na temporada que vem, pensando apenas em parar Kobe e Gasol?

quarta-feira, 10 de março de 2010

A máquina sem peças

"Por favor, não tire o Kidd do meu lado ou perceberão que eu fedo, amém."


Como acabei não postando ontem por pura e indesculpável preguiça, resolvi que hoje vou me punir e, por isso, vou falar do San Antonio Spurs. Toda hora tem alguém me perguntando no "Both Teams Played Hard" o que diabos aconteceu com o time nessa temporada, e o desespero dos fãs é compreensível: o time sempre foi chato, mas pelo menos ganhava jogos. Agora que não ganha mais, os torcedores ficaram com uma bomba nas mãos.

A primeira dificuldade do Spurs nessa temporada tem sido a falta que faz Bruce Bowen. Sua saída da NBA tornou o mundo um lugar melhor, os pássaros cantam, as borboletas voam e as pessoas mandam dinheiro para o Haiti, mas sua defesa forte, suja e eficaz era essencial para o esquema tático da equipe. O Spurs tem uma impecável rotação defensiva e sabe colocar em prática muito bem uma série de defesas por zona, desde que a estrela adversária esteja sendo defendida no mano-a-mano pelo Bowen. A maioria das pessoas não imagina o impacto que sua aposentadoria causou na estrutura defensiva da equipe, e essa dificuldade já vem desde a temporada passada, quando ele não tinha mais físico para segurar os armadores adversários e começou a passar mais tempo no banco de reservas. Havia por baixo dos panos, em San Antonio, o sensacional "projeto Ime Udoka" que pretendia substituir Bowen por um jogador com as mesmas características. Udoka foi roubado do Blazers e cultivado com carinho por ser um excelente defensor capaz de marcar jogadores de todas as posições e ainda por cima acertar arremessos de três da zona morta - marca registrada de Bowen. Ainda não sei bem o que aconteceu, se o Udoka é pior do que parece, se ele não entendeu o esquema do Spurs ou se ele cutuca o nariz, o técnico Popovich é muito chato e acaba afundando uns jogadores sem que nunca saibamos o que está acontecendo. Mas o projeto obviamente foi abortado, o Udoka foi pra rua e o Spurs ainda não sabe como marcar Kobes, LeBrons, Nashs e Carmelos - o que explicita ainda mais as deficiências defensivas de Tony Parker e Ginóbili, que ficavam camufladas num sistema em que precisavam fazer menos e se posicionar mais.

As bolas de três pontos da zona morta também fazem uma falta brutal para o Spurs. Por muitos anos, foram um dos aspectos mais fundamentais da movimentação ofensiva da equipe. É impossível marcar o Duncan no garrafão, um armador penetrando, e conseguir cobrir as zonas mortas da quadra ao mesmo tempo. Não dá pra contar quantas vezes alguns times marcaram o Spurs perfeitamente, para então serem mortos pelos arremessos de três do Bowen, o cara de quem ninguém se lembrava (até ele quebrar seu pé). Quem assumiu essas bolas com sua aposentadoria, em geral, foi Roger Mason. Ele quebra um galho, mas além de sua inconsistência e tendência a fazer merda no final dos jogos, ainda há sua dificuldade com a zona morta. Mason é um bom arremessador de três pontos, mas prefere outras regiões da quadra para arremessar.

Esse simples fato explica o maior mérito e a maior dificuldade do Spurs: o técnico Gregg Popovich. Sem dúvida nenhuma ele desenhou um esquema maravilhoso, impecável, campeão, chato pra burro, que ganhou vários anéis de campeão. Mas o esquema não é maleável, não depende de que jogadores estão no time ou em quadra. O esquema é aquilo que ele é, cabe aos jogadores se encaixarem a ele. Quando o Tony Parker chegou na NBA, confessou que se focava nos contra-ataques porque era o único jeito de pontuar sem que o Popovich percebesse e ficasse bravo com ele. Quando penetrava no garrafão, as ordens eram para passar a bola para os lados - alimentando os jogadores de garrafão ou a zona morta - e não tentar uma bandeja. Quando arremessava de três, o Popovich surtava no banco de reservas, chegando ao ponto de limitar seus arremessos de fora para apenas um ou dois por jogo - se arremessasse mais do que isso, ele seria punido. Parker, então, comia pelas beiradas. Usava sua velocidade apenas nos contra-ataques, guardava aquilo que fazia de melhor porque não se encaixava na tática do time, e foi aos pouquinhos se soltando em quadra. Depois de um tempo, Popovich foi permitindo ao Parker finalizar mais, pontuar mais, mas nunca soltou as rédeas. O mesmo aconteceu com o Manu Ginóbili, mas como o argentino fazia suas maluquices para salvar o Spurs de situações terríveis, o Popovich foi aos poucos confiando nele - ainda que eu tenha visto ele ir parar no banco por algum drible mais plástico ou a insistência de tentar driblar a dupla-marcação. Lembro também de uma entrevista do técnico do Spurs afirmando que seu coração morria um pouquinho toda vez que o Ginóbili pegava na bola, mas que não tinha outro jeito. Aos poucos, foi dando certo.

Mas o resto do elenco, sem tanta moral, jogo de cintura ou personalidade, vai se anulando para encaixar no esquema do Popovich. O esquema é sempre o mesmo, o Spurs não era o time mais regular da década passada à toa. Todo jogo era perfeitamente idêntico ao anterior, o que garante ao time uma tranquilidade e segurança que permite estar perdendo por 20 pontos no último período e ainda saber que vai dar tudo certo. O Duncan não teria aquela cara de "vou tirar um cochilo no meu travesseirinho" se ficasse nervoso no final das partidas. Mas e quando o time não tem as peças para rodar o esquema? E quando é preciso mudar o jogo, quebrar um galho, lidar com as lesões? É aí que o Popovich se afunda e o Spurs despenca pelas tabelas.

Richard Jefferson foi trocado por dois contratos expirantes e todo mundo babou dizendo que o Spurs agora era forte candidato ao título. O problema é que Jefferson jogava bem no Nets no contra-ataque, usando sua velocidade, ao lado de Jason Kidd. Ainda assim, faltava agressividade e recursos para ser a primeira opção ofensiva, ele sempre se contentou em ser a segunda ou terceira. Nos seus melhores dias, era comum o pessoal debater se o Richard Jefferson conseguiria segurar um time sozinho (assim como se fala bastante do Tayshaun Prince) assim que passasse a ser a principal arma no ataque. No Bucks, sem Kidd e num jogo mais lento, não funcionou. Jefferson é limitado, seu arremesso é inconsistente, e sua defesa é apenas razoável - e isso quando ele está interessado em jogar na defesa. No Spurs, sua defesa deveria substituir Bruce Bowen, seus arremessos de três deveriam vir da zona morta. É claro que isso não funcionou, ele só serve se for a terceira opção de um time que corra muito e use sua capacidade atlética. Restringido pelo chato e briguento do Popovich, Jefferson foi apagando e passando a bola de lado ao ponto de terem que pedir por favor para ele ser mais agressivo. Quando passou a ser, o esquema tático do Spurs ficou todo bagunçado e o time piorou drasticamente. O mais incrível com o Jefferson é que, por causa disso, ele vem piorando seus números e suas atuações mês a mês, desde o começo da temporada. Esse é o problema desses esquemas que não se adaptam aos jogadores e exigem peças específicas: o Richard Jefferson não encaixou, então não há salvação. Pode dar a descarga.

Tá bom que ele veio pro Spurs quase de graça, o time não perdeu nada, mas os contratos expirantes mandados para o Bucks permitiriam à equipe de San Antonio brincar de contratar alguém da imensa lista de jogadores talentosos que terminam contrato nessa temporada. Nos últimos anos, essa tem sido a tônica do Spurs ao contratar jogadores: eles não perdem nada, mas deixam de ganhar muito. Richard Jefferson não funcionou e tirou deles a chance de conseguir algo melhor ao fim da temporada; Luis Scola era apenas uma escolha de segunda rodada que eles mandaram para o Rockets em troca de um jogador que preferiu voltar para a Europa; e a equipe deixou de draftar Josh Howard ou Leandrinho porque preferiu mandar a escolha pro Suns para não se comprometer financeiramente e ter grana para tentar contratar o Kidd (que no fim das contas preferiu ficar em New Jersey). Ou seja, o Spurs não perdeu nenhum grande jogador do seu elenco numa troca idiota, mas deixou de ter Leandrinho, Scola, e alguma estrela pro ano que vem.

Aliás, esse lance do Kidd não ter topado ir para San Antonio é sintomático: não apenas a cidade é famosa por ser meio chata (a cara do time!), mas o Popovich é famoso por ser um pentelho. Muitos jogadores sabem das restrições do sistema tático e além do medo de acabar não se encaixando, ainda tem a óbvia queda na produção e nos números do jogador, que dificultam um contrato depois. Quando o Kidd foi trocado para o Mavs e teve que se encaixar num esquema tático que lhe fazia tocar a bola de lado, ficou bem claro como grandes estrelas podem sofrer quando são mal utilizadas. Não acho que teria sido muito diferente no Spurs, o Kidd não teria nunca rendido como poderia em outros formatos, e nem acho que ele teria algo a acrescentar à equipe nesses moldes.

Essa busca constante do Spurs por regularidade, jogadores encaixados e constantes, tem sofrido ainda mais por culpa das contusões. Tony Parker já passou um tempão fora da temporada com uma torção no tornozelo, lesão grave no quadril, gripe e até uma intoxicação alimentar. Agora, como se não bastasse, acabou de quebrar a mão e deve passar até 6 semanas parado. O Ginóbili também se machucou e ficou doente, mas pelo menos agora está jogando em alto nível, assim como aconteceu com o Duncan. O tempo em que o time passa sem qualquer um dos três é desastroso, e só não foi pior porque o Spurs conseguiu bons imitadores para substituí-los. George Hill é um armador pirralho que lembra muito o Parker, mas é mais físico, mais forte e melhor defensor - e o mais importante, é obediente e o Popovich se apaixonou. O novato DaJuan Blair, que deveria ter ganho o prêmio de MVP no jogo dos novatos do All-Star, é um monstro no garrafão e segurou as pontas da equipe toda vez que o Duncan não jogou ou teve minutos limitados. Os dois são o futuro do Spurs e serão grandes jogadores, se encaixam no esquema tático e se sentirão em casa pela próxima década. Mas não há substituto para o Bowen, não há substituto para o Ginóbili porque faltam outros pontuadores na equipe. Richard Jefferson não serve em nenhum dos papéis, ele depende imensamente de um armador que corra e distribua a bola, coisa que o Parker nunca vai fazer e sequer faria sentido no modo com que joga o Spurs.

Uns anos atrás, eu sabia que o Spurs ganharia sempre do mesmo jeito, com as mesmas jogadas e a mesma defesa. Agora, cada jogo é uma surpresa, um tropeço diferente, uma lesão nova, um reserva com mais minutos, uma total falta de ritmo ou regularidade. Para um time que se acostumou a ser constante e sereno como a cara de bunda do Duncan, esses tempos de novidade são terríveis. A equipe precisa compreender que, pela idade avançada de seus jogadores, jamais terá de volta aquela constância se mantiver o mesmo elenco - sempre alguém estará contundido. Por outro lado, mudar o elenco é a parte mais arriscada de um esquema tático tão fixo. O Spurs parece preso num paradoxo terrível que me permite dormir tranquilo sabendo que eles não vão ganhar nada nos próximos anos. O único problema é que sem esse time chato para torcer contra, os playoffs vão ficar muito mais chatos! Não contem pra ninguém que eu disse isso, mas torço para que o Spurs se recupere logo. A primeira chance para isso acontecerá ao fim da temporada, quando o contrato do Ginóbili termina e a equipe terá que decidir se assina novamente o argentino ou traz outro jogador disponível. A questão é complicada, mas sabemos que desse jeito o Spurs vai mal das pernas. Manu pode até ter umas partidas sensacionais daqui pra frente e salvar a equipe, mas nos playoffs não há chances sem aquela consistência que fez história, sem a defesa que parou tantas vezes o Nash na base da porrada. O Spurs precisa de culhões para tomar decisões importantes, algo terrível de se fazer quando os torcedores são tão mal acostumados. Quem aí, torcedor do Spurs, está disposto a ver o time fazer mudanças drásticas e feder por uns tempos, e ainda seria capaz de acompanhar os jogos sem dormir ou tentar a forca?

domingo, 20 de setembro de 2009

Bate que eu gosto

Voadora estilo "Mortal Kombat"


No início do mês, Bruce Bowen anunciou sua aposentadoria das quadras de basquete. E se não falei nada na ocasião, era somente porque eu estava ocupado demais comemorando o fato, estourando champagne. Vou sentir tanta falta do Bowen quanto sentiria falta de uma apendicite, mas a verdade é que ele deixa o basquete com três anéis de campeão nos dedos e oito seleções para os melhores times de defesa da NBA. Mais do que uma carreira vencedora, Bowen nos deixa uma clara imagem do que é, hoje, o basquete de resultado. Do que uma pessoa que fede pode fazer para ter sucesso e ser alguém na vida.

A infância do Bowen não teve "Xou da Xuxa", não. Sua mãe vendeu a TV pra comprar drogas e o pai era alcoólatra, o que não constitui exatamente o kit criança feliz. Jogando basquete, Bowen conseguiu certo destaque, uma bolsa de estudos e salvou seu futuro, dando o fora de casa. Mas não era grandes coisas e, ao entrar no draft de 93, não foi escolhido. Acabou indo jogar na França, além de ligas de basquete genéricas nos Estados Unidos como a CBA (o equivalente basquetebolístico das pilhas Durabell), e ralou um bocado antes de conseguir ter uma chance na NBA de verdade. Quando conseguiu não fez nada demais, era um jogador extremamente limitado e não arrumava um contrato. Ficou passeando de um lado para o outro sem fazer nada de relevante, tipo a Mari Alexandre depois da "Casa dos Artistas". Foi parar no Heat, no Celtics, no Sixers e no Bulls, mas foi apenas em sua segunda passagem pelo Miami que acabou destacando-se como um bom jogador defensivo. Toda equipe pode aproveitar um desses caras que não tem habilidade mas sabe defender, jogando um punhadinho de minutos por jogo só, para não comprometer. Em geral, esses especialistas em defesa ficam no time titular, segurando a estrela adversária, e vão sentar assim que a equipe precisa de poder ofensivo, quando as estrelas saem da quadra. É o caso do Dahntay Jones no Nuggets, Antoine Wright no Dallas, Trenton Hassel no Nets e do Nicolas Batum no Blazers. Foi assim que, focando-se na defesa, dedicando-se a cumprir esse papel em quadra, Bruce Bowen garantiu alguns minutinhos em quadra, de modo que seu ataque medonho e sua porcentagem de aproveitamento nos lances livres (que faz até o Shaq apontar e dar risada) não chegassem a comprometer muito as equipes dispostas a acolhê-lo.

Foi então que o Bowen foi parar na situação perfeita. Um time com potencial para ser campeão precisava apenas de alguém obediente, capaz de fazer o que fosse necessário pela equipe, defender as estrelas rivais e acertar arremessos de três pontos dos cantos da quadra. A descrição parece feita sob medida para Bruce Bowen, que foi contratado pelo Spurs e imediatamente abraçou sua função inteiramente. Seus arremessos de três da zona morta tornaram-se uma arma essencial da equipe, mas foi sua defesa que permitiu que atingissem outro nível. O Duncan reina, blablablá, o Parker chuta traseiros, blablablá, Whiskas sachê, mas foi a marcação de Bowen que permitiu que essas estrelas enfiassem tantos anéis nos dedos. Foram três desde 2001, quando ele chegou à equipe, sempre como titular absoluto e peça essencial do elenco.

Genial que um garoto numa realidade tão ruim tenha encontrado a situação ideal em que foi capaz de realizar-se, ter sucesso e deixar seu nome na história, tudo através de muito esforço, dor e trabalho duro. É a história perfeita para um filme com o Will Smith que emocionará milhões ao redor do mundo. Quer dizer, até que nos lembramos quais meios Bruce Bowen usou para honrar suas obrigações com aquilo que lhe era pedido em quadra.

Às vezes nos esquecemos que a NBA é um negócio, uma forma de gerar e ganhar dinheiro como qualquer outro. Com exceção de um punhado de fãs apaixonados malucos, como o Mark Cuban, a maioria dos donos de times da NBA estão interessados em lucros, regendo suas equipes como se fossem empresas. É assim que vemos jogadores importantes sendo mandados embora apenas para economizar dinheiro, é a crise, tudo corte de desespesas, moçada. Quando uma empresa precisa de alguém para fazer um serviço sujo e imoral, vai atrás de um funcionário que tope a brincadeira. Alguém sempre topa, mesmo que não seja bonito. Assim, por mais que a história de Bruce Bowen seja bonita porque ele escapou de seu destino através do basquete, para mim ele sempre será o cara que topou fazer o trabalho sujo sem questionar. O funcionário que usa de quaisquer recursos, limpos ou não, para fazer seu trabalho. Na vida real, certamente acharíamos terrível um engravatado tentar acabar com a carreira de outro apenas para se dar bem na empresa, conseguir atingir suas metas, seus sonhos. Então por que acharíamos isso legal no esporte?

Em sua primeira temporada no Spurs, Bruce Bowen deu aquela legendária voadora no rosto do Szczerbiak que lhe rendeu o apelido de Bruce "Lee" Bowen (o coitado do Bruce Lee teria vomitado com a comparação). A partir de então, sua trajetória no Spurs já estava traçada. Para alcançar seus objetivos, tornou-se um especialista em deixar o pé embaixo dos advesários que pulam para o arremesso, causando contusões. Aprendeu a bater, chutar e irritar por debaixo dos panos, quando os árbitros não estão olhando. E, com isso, tornou-se um vencedor.

Tudo que ele fez está previsto, faz parte do basquete. Bater sem que o juiz veja é também uma arte, que exige treinamento, esforço e dedicação. Bowen ralou pra tornar-se um campeão apesar das limitações físicas e técnicas. Fez o melhor que poderia dentro de suas dificuldades. Mas eu adoraria ensinar para os meus filhos que não são os fins que realmente importam, mas os meios. Não importa os campeonatos que o Bowen alcançou, mas sim o modo como ele atingiu esses objetivos. Para quem acha que, no esporte, vale qualquer coisa em busca da vitória, volto a lembrar que o esporte é apenas um dos aspectos de nossas vidas e, portanto, reflete os valores que mantemos diariamente. Não há espaço para o Bruce Bowen no esporte que amamos, ao qual dedicamos nossas vidas e através do qual assistimos o mundo. Não há espaço para o Bowen num local que deveria ser constituído pelo respeito entre pessoas que expressam-se através da mesma arte. Mas há espaço para o Bowen no basquete que só visa os resultados, o lucro, a vitória. Há espaço para ele na Era do Spurs.

A queda do time de San Antonio, portanto, casa perfeitamente com a queda de rendimento do Bruce Bowen. Sem suas capacidades defensivas o time fica debilitado (o Suns teria sido campeão um par de vezes sem o Bowen pra arrebentar o Nash de porrada), mas ficou bem claro que ele não tem mais fôlego pra acompanhar a moçada. Foi perdendo minutos, o Spurs caiu de produção, sentiu a falta de outros jogadores também, e foi eliminado na primeira rodada dos playoffs na temporada passada. Ime Udoka foi contratado e treinado para substituir Bowen há anos, mas ele simplesmente não é tão eficiente - defende bem, mas nada fora de série, e nem fora das regras. Para o seu lugar, o Spurs conseguiu Richard Jefferson, cuja especialidade é pontuar, atacar a cesta. Frente à decadência de Bowen e à necessidade de uma mudança no time e na mentalidade ofensiva da equipe, não houve qualquer exitação em abrir mão de um funcionário diretamente responsável pela conquista de três anéis de campeão. Para trazer Jefferson do Bucks, o Spurs mandou o Bowen sem arrependimentos e não fez questão de recontratá-lo quando surgiu a oportunidade. É o auge do basquete de resultados: quando não presta mais, vai pro lixo.

Talvez o maior legado de Bowen ao basquete, para nós, seja o fim da ingenuidade com que lidamos com o esporte. Por vezes, imersos em nossa paixão pelo basquete, somos levados a acreditar que os jogadores estão em quadra por paixão, amor, testando seus próprios limites e ajudando a expandir os limites dos outros. Respeitando, admirando e compartilhando a mesma linguagem, o mesmo esporte. Com o Bowen lembramos que trata-se de dinheiro, de lucro, de empresas, de resultado. Ele bate, desce o braço, lesiona, contunde, o time vence, a torcida fica feliz e a franquia lucra zilhões. Pior do que a defesa dos torcedores cegamente apaixonados sempre foi a defesa da NBA, que sempre se negou a suspender ou coibir. Na verdade, sempre premiou Bowen com menções nas eleições de melhores defensores da liga, compreendendo que aquilo que importa é quem levanta o caneco no final do dia. Eficiência.

Amanhã, teremos uma coletânea de vídeos do Bowen, com seus momentos mais polêmicos, engraçados, e as contusões mais explícitas. Mas hoje, ficamos apenas com a constatação de que Bowen deixa para traz um esporte maculado. Antes que possamos dizer "parangaricutirimirruaru", ele estará comentando basquete na TNT ou na ESPN, e deve ser um baita sujeito engraçado (como dá pra ver na série de comerciais que o Denis postou), vou me divertir com ele e dar risada. Mas o que ele deixou em quadra é prova ainda maior de caráter, de visão de mundo, do que ser simpático quando não há nada em jogo. O desesperador é que ele é apenas um exemplo, um ícone mais fácil de ver, apontar o dedo e criticar. Mas não se trata de um fenômeno isolado, nem nas quadras nem nas ruas. Formamos uma cultura bitolada pela ideia de vencer, seja no emprego, no esporte ou no vestibular. Mas no mundo em que o Bowen venceu, vocês me desculpem, mas eu quero é ser fracassado. Se pra chegar lá em cima é preciso bater, eu prefiro ficar aqui e apanhar.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Incentivos fiscais

Foyle continua atrás de seu troféu de MVP


Já que estamos em época de assinar contratos na NBA, que tal falar desses contratos? Não o valor que o Lamar Odom quer, não de quanto o Blazers ofereceu pelo Paul Millsap, mas sim das bizarrices que podemos encontrar no meio das cláusulas contratuais dos jogadores da NBA.

Li um artigo nessa semana no NJ.com, um site de New Jersey, do Dave D'Alessandro em que ele fala sobre alguns dos "incentivos" mais esquisitos da NBA. O link para a matéria está aqui.

Não sei como o jornalista conseguiu essas informações, tentei muito achar outras na internet mas não tive sucesso, pelo menos as que ele disse já valem o texto. Por exemplo: o Baron Davis ganha 1 milhão de dólares de bônus se ele jogar pelo menos 70 jogos da temporada e levar o time a 30 vitórias.

Eu entendo perfeitamente que se queira dar um benefício a um jogador que já sofreu de contusões a carreira dele inteira para que ele se cuide mais, mostra que é uma preocupação do time. Mas incentivo em dinheiro? Que tal os 12 milhões por temporada que ele recebe? Não incentivam o bastante para ele no mínimo cuidar do físico? E pior, dos 70 jogos ele só precisa ganhar 30! Você vai pagar mais dinheiro para o melhor jogador do seu time se ele liderar a equipe a menos de 50% de aproveitamento? Só não digo que foi o dinheiro mais mal gasto da história porque o Baron Davis falhou e só jogou 65 jogos na temporada passada.

Enquanto alguns ganham incentivos para ficarem em forma, outros ganham para melhorar seu desempenho. O Matt Bonner, por exemplo, que tem a função básica de ser um bom arremessador no Spurs, tem seu benefício baseado no aproveitamento de seus arremessos. Até aí tudo bem, só foi bizarra a conta que eles fizeram para dar o bônus: a soma da porcentagem do seu aproveitamento dos arremesssos de quadra, de seu aproveitamento de lances livres e do seu aproveitamento na bola dos três pontos tem que dar mais de 169%. Quem teve essa idéia? A Carol?

Mas vamos lá: 49% de arremessos de quadra + 44% nas bolas de 3 + 73% nos lances livres = 166. Funhé. Se o Bonner tivesse um aproveitamento mais decente da linha do lance livre teria levado 100 mil dólares pra casa. Sério, isso parece mais gincana do Luciano Huck do que uma liga profissional de basquete.

Dei esses dois exemplos primeiro porque por mais estranhos que pareçam, eles fazem sentido. O Matt Bonner tem capacidade de somar os 169% mesmo que isso seja difícil e o Baron Davis realmente precisa jogar bastante para o Clippers ter alguma chance de ser chamado de time. Mas tem outros incentivos que são completas aberrações da natureza.

O Nick Collison, por exemplo, aquele ala de força reserva do Thunder que volta e meia é titular improvisado de pivô. Sabem quem é? Lembram? Então, ele ganhará 100 mil dólares a mais se for eleito o MVP da temporada! Ele teve média 8,2 pontos por jogo e 6,9 rebotes e tem um bônus para ser MVP no seu contrato. O Collison deveria pedir também um bônus bem gordo de jogador que mais evoluiu na temporada, já que é um prêmio garantido pra ele se vier o prêmio de MVP.

Mas na verdade o jogador não pede nada. Quem aparece com esses incentivos geralmente são os times, para exigir alguma coisa que acham essencial, ou o agente do jogador, pra ganhar uma grana extra. O agente do Collison, fui até procurar, é o Mike Higgins, um mago que conseguiu contratos de quase 7 milhões por ano para o Nazr Mohammed e 4,5 milhões para o Marcus Banks. O cara é realmente bom de lábia pra fazer passar umas coisas bizarras na NBA.

Sabe quem mais ganha dinheiro se for MVP? Adonal Foyle. Ele, que jogou um total de 63 minutos na temporada passada em Orlando e Memphis, ganharia meio milhão de dólares se fosse MVP. E deve ter ficado arrasado por não ter nem pisado na quadra nas finais do ano passado, quando já tinha voltado para o Magic, porque ganharia outros 500 mil se fosse o MVP das finais. Essa foi por pouco!

Desses incentivos listados na matéria eu conhecia só um, que ficou bastante famoso dois anos atrás, que é o do Larry Hughes. Na matéria do D'Alessandro está dito que o incentivo era de 1,6 milhão caso o seu time conseguisse 55 ou mais vitórias. Mas lembro de há 2 anos ter lido que o incentivo era de 2 milhões de dólares para 50 vitórias. De qualquer maneira, o cara ganha singelos 13 milhões de dólares para ser um jogador mediano e tem incentivos desse tamanho para fazer o mínimo que se espera de um cara com um contrato desse, vencer jogos.

Uma idéia até que boa é do Miami Heat. Seis dos seus jogadores recebem quase 20 mil dólares para aparecer para jogar nas Summer Leagues e participar do programa de condicionamento físico para a equipe. Pat Riley, conhecido por seus treinos físicos destruidores, não fica com dó de gastar dinheiro se for para ter seus jogadores em forma.

O Rafer Alston tem incentivos bacanas, mas que ele, coitado, nunca vai alcançar. 15 mil dólares para cada vez que for eleito jogador da semana, 50 mil se for o jogador do mês e 325 mil se for para um All-Star Game. Prefiro prêmios assim do que aqueles que indicam estatísticas, faz o cara tentar ser um jogador melhor e não um tarado por números à lá Ricky Davis.

Isso acontece com o Tony Battie, que ganha 100 mil verdinhas se jogar pelo menos 50 jogos e tiver média de 8 rebotes por jogo. Recebe mais 100 mil se jogar 50 jogos e tiver média de 5 lances livres por jogo. E pode levar ainda outros 100 mil se estiver na lista de jogadores ativos (os que jogam ou ficam de uniforme no banco) por pelo menos 50 jogos e o time passar para a segunda rodada dos playoffs. Em outras palavras: se você jogar deve pegar rebotes e ser agressivo no garrafão. Se não jogar, a gente só te perdoa se o time for longe.

Esses incentivos, que é um nome bem simpático e do bem para a graninha extra, fazem mais sentido quando são oferecidos para caras medianos, com salários menores. Incentivos pra quem ganha mais de 10 milhões já acho palhaçada. Caso do Carlos Boozer, que apesar dos 12 milhões por temporada ainda recebe um extra se jogar pelo menos 65 jogos, ter média de mais de 32 minutos por jogo e ficar entre os 12 melhores (de média ou total) em rebotes na temporada. Pô, mas isso não é o mínimo que você espera de um ala de força que é o cara mais bem pago da equipe?

Por último, mas não menos importante, está a premiação mais engraçada. Luke Ridnour, o cara que lutou bravamente para tentar ser titular sobre o Ramon Sessions, ganha 1,5 milhão de dólares se for eleito o jogador de defesa do ano! Sério? Eu juro vender minha alma pro diabo, correr pelado na parada gay e postar um vídeo dançando macarena se o Ridnour for o jogador de defesa do ano. Poderiam oferecer a vaga de General Manager do Bucks pra ele caso virasse o jogador de defesa do ano!

Ufa! Esses foram os exemplos dados pelo Dave D'Alessandro em sua matéria. E imagino que ainda existam muito mais que eu gostaria de saber como descobrir. E uma coisa que descobri fora da matéria é que esses incentivos podem sim acabar contando no limite do teto salarial das equipes. Todos os contratos passam pelas mãos da NBA e eles analisam esses incentivos para ver se deve valer ou não na conta do limite salarial.

Isso é bom para que não exista a maracutaia de, por exemplo, o Cavs oferecer um contrato mínimo para o LeBron e dar um bônus de 20 milhões de dólares se ele tiver média de pelo menos 10 pontos por jogo. Seria um jeito bem sacana de burlar a regra do teto salarial e a NBA está prevenida contra isso.

...
Eu aumento mas não invento
E já que o dia é de bizarrices... Ficaram sabendo que o Richard Jefferson largou a noiva quase no altar? Ligou pra todo mundo cancelando o casamento duas horas antes da cerimônia começar. E o pior era que a moreninha dele era bem firmeza.