Podemos ficar oficialmente com medo do San Antonio Spurs? Desde sempre eles são aquele time que você pensa mil vezes antes de deixar fora da briga pelo título, e quando você toma coragem e afirma "é um bando de velho" eles aparecem lá para encher o saco. Ano passado o time surpreendeu acabando a temporada regular em 1º lugar no Oeste, mas caíram logo de cara nos playoffs. O que esperar da versão 2012 do Spurs que atualmente está em 2º na conferência, vêm de 9 vitórias seguidas e perdeu apenas 1 jogo em casa?
No ano passado os números de ataque eram absurdos, o segundo mais eficiente de toda a NBA. Mas ver o time correndo tanto e mandando bolas de 3 na cabeça de todo mundo era não só esquisito demais como também falhou na hora H, nos playoffs. Nessa temporada algumas coisas parecem diferentes, estão com um jogo mais consistente e vencendo com coisas mais confiáveis e resistentes que bolas de 3 de Matt Bonner. Ao invés disso eles tem Tim Duncan em boa forma, Tony Parker imparável nas infiltrações e, isso é bem importante, Tiago Splitter envolvido no ataque.
Quem nos lê há algum tempo sabe que não somos nem um pouco patriotas. Tipo, nem um pouco mesmo. Não gosto mais ou menos do Leandrinho do que gosto do Anthony Morrow, por exemplo. Por isso nada de patriotada em reconhecer a importância de Tiago Splitter nesse time do Spurs. Há anos que eles estão a procura de um parceiro de garrafão para Tim Duncan, e não só não encontram como veem Duncan envelhecendo e piorando cada vez mais. O Duncan de hoje em dia não tem metade dos recursos ofensivos que tinha até 2005, por exemplo. Até um tempo atrás a vontade era ter um jogador de garrafão que pudesse liberar Duncan para jogar na posição 4, de ala de força, mas hoje isso nem importa tanto. Duncan até rende melhor de pivô mesmo e apenas precisa de outro jogador que pegue rebotes e que o deixe descansar. Com menos minutos em quadra ele tem parecido menos cansado, mais veloz e, portanto, mais decisivo. Splitter tem tido valor duplo: Joga ao lado de Duncan ou na posição dele.
A presença de Splitter também é importante porque, nas palavras de Gregg Popovich, ele tem "uma inteligência para o basquete fora do comum". Ao saber se posicionar no pick-and-roll ele tem feito a vida de Tony Parker bem mais fácil nas infiltrações. Não que o francês não infiltre mesmo no meio de um corredor polonês, mas qualquer ajuda é bem vinda. E se aos poucos Splitter vai pegando pontinhos no ataque, na defesa ele também tem ajudado. Ele é um dos vários responsáveis pelo Spurs tomar 3 pontos a menos, em média, dentro do garrafão em comparação a temporada passada. Parece pouco, mas na média faz bastante diferença e a evolução de Splitter faz diferença nessa conta.
Contando os pontos marcados e feitos a cada 100 posses de bola, resultados parecidos em relação ao ano passado. O ataque marca 4 pontos a menos, a defesa sofre 4 pontos a menos. Como esses números se repetem em muitos times e até nas estatísticas gerais da liga, acho que podemos colocar isso na equação locaute + calendário + falta de training camp. Mas mais importante que os números totais é como o Spurs consegue ou evita esses pontos. Como citei acima, a defesa pode ter eficiência parecida no geral, mas melhorou no garrafão, justamente onde perdeu a série para o Memphis Grizzlies nos playoffs do ano passado.
No ataque alguns números ainda são bem parecidos. O time ainda marca 23% de seus pontos em bolas de 3 pontos, marca altíssima, a 5ª da liga, atrás apenas de atiradores pirados como Magic, Warriors, Nets e Clippers. Os pontos no garrafão ainda são os mesmos 42 por jogo, maior parte deles cortesia de Tony Parker, não tanto dos pivôs. Onde finalmente vemos um número que chama atenção pela mudança é nos pontos de contra-ataque. Ao invés de 15 por jogo como no ano passado, agora são só 11. O time não tem menos jogadores capazes de jogar assim, pelo contrário, mas simplesmente escolheu correr menos e tomar mais conta da bola. Não à toa o time subiu de 8º para 2º no ranking de turnovers por posse de bola, só o Sixers erra menos.
Com tantos chutadores de 3 pontos, como Gary Neal, Danny Green e mesmo Manu Ginóbili, o Popovich não tem muita opção senão usar o que tem e esperar que as bolas caiam. Mas por experiência em vencer o Suns ele sabe que somar bolas de 3 e correria já é suicídio demais, então baixou um pouco o ritmo da equipe e cortou erros. Ele Spurizou um pouco seu Spurs, pra não perder a identidade, acho. Outra coisa que mudou em relação ao ano passado é a distribuição de minutos. Na temporada passada 3 jogadores (Parker, Jefferson e Ginóbili) tinham mais de 30 minutos por jogo, com outros 5 tendo mais de 20. Nesse ano apenas Parker passa dos 30 e são 10 jogadores no total jogando pelo menos 20 minutos por jogo.
Com o time confiando em mais gente e poupando melhor seus jogadores, ao mesmo tempo que joga num ritmo menos alucinado, podemos esperar o Spurs pelo menos mais inteiro e com pernas nos playoffs, algo que pareceu faltar no ano passado. Mas a conclusão que podemos ter mesmo é que no fundo esse é o mesmo time de 2011, com alguns pequenos e pontuais ajustes. Embora isso possa soar desanimador, não é. O Spurs do ano passado teve muito azar. Pegou na pós-temporada um time que sempre o deu problemas, que estava em ótima fase e mesmo assim a série foi disputada. Todos os times venceram seus jogos em casa com exceção do Jogo 1, que o Spurs jogou sem Manu Ginóbili.
Se você pensar bem e com calma, lembrará que aquele time era sim muito bom. Apenas teve azar e alguns defeitos expostos naquela série. Mas ao invés do time entrar no desespero e querer tacar tudo para o alto, atacaram na medida do possível esses problemas. O ritmo é mais lento, o time erra menos, chuta duas bolas de 3 a menos por jogo (embora a porcentagem de pontos vindos desse tipo de chute seja a mesma, como vimos) e Tiago Splitter tem sido trabalhado para melhorar a defesa de garrafão. Somente na hora do vamos ver, de novo, saberemos se foi o bastante. Mas fizeram o possível e são o time em melhor forma na NBA no momento. Quer dizer, não que isso importe para eles, segundo o Richard Jefferson: "Em San Antonio sequências de vitórias não significam nada. Popovich ainda quer que a gente melhore e vai estar muito bravo a cada pedido de tempo".