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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Spurs retocado

Splitter não se assusta com as enormes narinas de JJ Hickson

Podemos ficar oficialmente com medo do San Antonio Spurs? Desde sempre eles são aquele time que você pensa mil vezes antes de deixar fora da briga pelo título, e quando você toma coragem e afirma "é um bando de velho" eles aparecem lá para encher o saco. Ano passado o time surpreendeu acabando a temporada regular em 1º lugar no Oeste, mas caíram logo de cara nos playoffs. O que esperar da versão 2012 do Spurs que atualmente está em 2º na conferência, vêm de 9 vitórias seguidas e perdeu apenas 1 jogo em casa?

No ano passado os números de ataque eram absurdos, o segundo mais eficiente de toda a NBA. Mas ver o time correndo tanto e mandando bolas de 3 na cabeça de todo mundo era não só esquisito demais como também falhou na hora H, nos playoffs. Nessa temporada algumas coisas parecem diferentes, estão com um jogo mais consistente e vencendo com coisas mais confiáveis e resistentes que bolas de 3 de Matt Bonner. Ao invés disso eles tem Tim Duncan em boa forma, Tony Parker imparável nas infiltrações e, isso é bem importante, Tiago Splitter envolvido no ataque.

Quem nos lê há algum tempo sabe que não somos nem um pouco patriotas. Tipo, nem um pouco mesmo. Não gosto mais ou menos do Leandrinho do que gosto do Anthony Morrow, por exemplo. Por isso nada de patriotada em reconhecer a importância de Tiago Splitter nesse time do Spurs. Há anos que eles estão a procura de um parceiro de garrafão para Tim Duncan, e não só não encontram como veem Duncan envelhecendo e piorando cada vez mais. O Duncan de hoje em dia não tem metade dos recursos ofensivos que tinha até 2005, por exemplo. Até um tempo atrás a vontade era ter um jogador de garrafão que pudesse liberar Duncan para jogar na posição 4, de ala de força, mas hoje isso nem importa tanto. Duncan até rende melhor de pivô mesmo e apenas precisa de outro jogador que pegue rebotes e que o deixe descansar. Com menos minutos em quadra ele tem parecido menos cansado, mais veloz e, portanto, mais decisivo. Splitter tem tido valor duplo: Joga ao lado de Duncan ou na posição dele.

A presença de Splitter também é importante porque, nas palavras de Gregg Popovich, ele tem "uma inteligência para o basquete fora do comum". Ao saber se posicionar no pick-and-roll ele tem feito a vida de Tony Parker bem mais fácil nas infiltrações. Não que o francês não infiltre mesmo no meio de um corredor polonês, mas qualquer ajuda é bem vinda. E se aos poucos Splitter vai pegando pontinhos no ataque, na defesa ele também tem ajudado. Ele é um dos vários responsáveis pelo Spurs tomar 3 pontos a menos, em média, dentro do garrafão em comparação a temporada passada. Parece pouco, mas na média faz bastante diferença e a evolução de Splitter faz diferença nessa conta.

Contando os pontos marcados e feitos a cada 100 posses de bola, resultados parecidos em relação ao ano passado. O ataque marca 4 pontos a menos, a defesa sofre 4 pontos a menos. Como esses números se repetem em muitos times e até nas estatísticas gerais da liga, acho que podemos colocar isso na equação locaute + calendário + falta de training camp. Mas mais importante que os números totais é como o Spurs consegue ou evita esses pontos. Como citei acima, a defesa pode ter eficiência parecida no geral, mas melhorou no garrafão, justamente onde perdeu a série para o Memphis Grizzlies nos playoffs do ano passado.

No ataque alguns números ainda são bem parecidos. O time ainda marca 23% de seus pontos em bolas de 3 pontos, marca altíssima, a 5ª da liga, atrás apenas de atiradores pirados como Magic, Warriors, Nets e Clippers. Os pontos no garrafão ainda são os mesmos 42 por jogo, maior parte deles cortesia de Tony Parker, não tanto dos pivôs. Onde finalmente vemos um número que chama atenção pela mudança é nos pontos de contra-ataque. Ao invés de 15 por jogo como no ano passado, agora são só 11. O time não tem menos jogadores capazes de jogar assim, pelo contrário, mas simplesmente escolheu correr menos e tomar mais conta da bola. Não à toa o time subiu de 8º para 2º no ranking de turnovers por posse de bola, só o Sixers erra menos.

Com tantos chutadores de 3 pontos, como Gary Neal, Danny Green e mesmo Manu Ginóbili, o Popovich não tem muita opção senão usar o que tem e esperar que as bolas caiam. Mas por experiência em vencer o Suns ele sabe que somar bolas de 3 e correria já é suicídio demais, então baixou um pouco o ritmo da equipe e cortou erros. Ele Spurizou um pouco seu Spurs, pra não perder a identidade, acho. Outra coisa que mudou em relação ao ano passado é a distribuição de minutos. Na temporada passada 3 jogadores (Parker, Jefferson e Ginóbili) tinham mais de 30 minutos por jogo, com outros 5 tendo mais de 20. Nesse ano apenas Parker passa dos 30 e são 10 jogadores no total jogando pelo menos 20 minutos por jogo.

Com o time confiando em mais gente e poupando melhor seus jogadores, ao mesmo tempo que joga num ritmo menos alucinado, podemos esperar o Spurs pelo menos mais inteiro e com pernas nos playoffs, algo que pareceu faltar no ano passado. Mas a conclusão que podemos ter mesmo é que no fundo esse é o mesmo time de 2011, com alguns pequenos e pontuais ajustes. Embora isso possa soar desanimador, não é. O Spurs do ano passado teve muito azar. Pegou na pós-temporada um time que sempre o deu problemas, que estava em ótima fase e mesmo assim a série foi disputada. Todos os times venceram seus jogos em casa com exceção do Jogo 1, que o Spurs jogou sem Manu Ginóbili.

Se você pensar bem e com calma, lembrará que aquele time era sim muito bom. Apenas teve azar e alguns defeitos expostos naquela série. Mas ao invés do time entrar no desespero e querer tacar tudo para o alto, atacaram na medida do possível esses problemas. O ritmo é mais lento, o time erra menos, chuta duas bolas de 3 a menos por jogo (embora a porcentagem de pontos vindos desse tipo de chute seja a mesma, como vimos) e Tiago Splitter tem sido trabalhado para melhorar a defesa de garrafão. Somente na hora do vamos ver, de novo, saberemos se foi o bastante. Mas fizeram o possível e são o time em melhor forma na NBA no momento. Quer dizer, não que isso importe para eles, segundo o Richard Jefferson: "Em San Antonio sequências de vitórias não significam nada. Popovich ainda quer que a gente melhore e vai estar muito bravo a cada pedido de tempo".

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

As poucas palavras de Splitter

Splitter viu muita coisa estranha em seu primeiro ano de NBA


Sim, eu sei, faz tempo que a gente não escreve aqui. Mas as coisas estão corridas e não está fácil manter o ritmo. Por sorte (sorte?!) o mundo da NBA também anda tão lento que nem estamos deixando de acompanhar nada. Alguns jogadores estão cogitando ir para o exterior, pouquíssimos estão realmente assinando contratos, e a NBA e a associação de jogadores enrolam, enrolam e nunca se encontram para discutir pra valer o fim da greve. Tá parecendo briga de namorado em que um diz "se ele quisesse realmente falar comigo ele ligaria, eu que não vou ligar!". E nessa quem fica deprimido no sofá comendo brigadeiro é a gente.

Nesse tempo de vacas magras, anoréxicas, vamos achando assunto por aí. O mais recente foi meio por acaso, antes do jogo de ontem entre Paulistano e São José pelo campeonato Paulista de basquete a seleção brasileira estava treinando no clube aqui da capital. Consegui, assim, uma rápida entrevista com o Tiago Splitter, o solitário representante da NBA na seleção brasileira.

Eu estava meio receoso em conversar com ele. Se tem uma coisa que ele não parece gostar ou nunca está disposto é dar entrevistas. Lembro ainda daquele "Bola da Vez" que ele participou na ESPN Brasil e que eu considerei um desastre, todas as perguntas, das mais interessantes até as mais tolas, viraram respostas curtas e que não inspiravam novos questionamentos. Nada de errado com isso, claro, tem gente que simplesmente não gosta de falar, não se sente à vontade ou que só diz algo realmente relevante se entrevistado por aquelas mágicas pessoas que tem um dom bizarro de fazer as pessoas se abrirem. Quem já assistiu algum documentário do Eduardo Coutinho sempre pensa durante o filme em como diabos ele faz as pessoas ficarem tão à vontade diante de uma câmera! Eu não tenho essa resposta, definitivamente não sou um grande entrevistador e por isso fui lá falar com o Splitter esperando pelo pior.

A entrevista, no fim das contas, foi como a própria primeira temporada do brazuca na NBA: não foi um desastre, mas também não foi nada de mais. Tentei puxar assuntos diferentes mas durante todo o tempo ele manteve o semblante sério (que não estava nada sério antes da entrevista, cheio de risadas enquanto combinavam o pôquer de mais tarde) e respondeu sempre o básico, o politicamente correto e, no fundo, o que a gente já sabia. Aliás, é esse um dos motivos que me fazem pensar que entrevistas com atletas são absurdamente superestimadas. Vira e mexe tem site aí se gabando de ter conversado com o atleta X, aí quando você vai ler é um monte de lugar comum. Não é culpa entrevistador, que certamente tentou tirar algo legal, nem do entrevistado, que diz o que quiser. A culpa é de tentar dar tanto valor para algo que não é tão interessante assim. Assistir a meia dúzia de vídeos do Splitter e fazer uma análise do jogo dele teria rendido bem mais comentários interessantes do que esse texto que vocês estão lendo agora.

Conversando sobre a sua primeira temporada, ele confirmou que o Spurs, até mais do que outros times da NBA, treinam muito pouco de maneira coletiva durante a temporada regular, explicando assim porque ele ficou fora da rotação do time por tanto tempo e porque às vezes parecia bastante perdido, principalmente no ataque, quando tinha chances em quadra. Ter se machucado durante a pré-temporada foi crucial e ele sabia disso, mas sem poder fazer nada a respeito apenas tentava compensar nos poucos treinos que tinha. Também não podemos esquecer de quando o Richard Jefferson disse que ele ficou perdidão lá na primeira temporada dele pelo Spurs, mesmo participado do período de treinos, e que todo mundo lá sempre dizia que a segunda temporada é mais fácil. Mas o próprio Splitter lembrou muito bem que o Gary Neal apareceu como novato e se destacou mesmo assim. Bom que ele que lembrou do Neal e não me obrigou a dizer o mesmo, iria parecer uma ofensa e o cara é bem grande.

Sobre os playoffs ele disse que o que o time concluiu ao fim da série contra o Grizzlies foi que o que pesou foi aquele jogo 1 que perderam em San Antonio. O resto da série foi parelho e com o time da casa vencendo os jogos restantes, o diferencial foi aquela estréia, jogo que o Manu Ginóbili não atuou por estar machucado (contusão que aconteceu em um inútil último jogo da temporada regular). Segundo o Splitter o time do Grizzlies mudou após aquela partida, ganhando muita confiança e passando esse sentimento para a sua torcida, que empurrou o time e fez os jogos em Memphis ainda mais difíceis do que seriam inicialmente. Sobre Zach Randolph, que Splitter teve que defender bastante, o comentário do brasileiro foi aquele típico elogio-crítica de quando você não quer admitir que seu adversário é tão bom assim. Ele reconheceu que o cara é cheio de recursos, mas também disse que chegou uma hora que qualquer coisa que ele jogasse para cima caía dentro da cesta.

Para a próxima temporada Splitter disse estar bastante focado no seu arremesso de meia distância. Afirmou que nunca foi seu forte, que provavelmente nunca vai ser, mas que tem treinado para adicionar isso ao seu arsenal ofensivo. Ele precisa mesmo, na NBA é muito importante para um pivô (especialmente para os que não são tão fortes, caso do brasileiro) ter algum jogo de fora para poder ser menos óbvio e assim ganhar espaço onde ele é mais eficiente, lá perto da cesta. Serge Ibaka virou uma das sensações da última temporada e fez o Thunder se sentir à vontade para trocar Jeff Green quando desenvolveu esse arremesso. Perguntei se isso era incentivo do Spurs, mas parece que não, desde o ano passado o trabalho individual com o Splitter tem sido geral, um pouco de tudo, sem foco em um tipo específico de defesa ou fundamento. Legal que o Splitter, portanto, tenha pessoalmente essa noção da importância de um arremesso de meia distância na NBA. E decepcionante que o Spurs não pareça tão perfeito assim, eles tem uma imagem a manter, afinal!

Perguntei também da influência do Tim Duncan em seu jogo, muita gente estava esperançosa de ver o quanto o brasileiro, que já é muito técnico, poderia aprender com um dos caras com mais recursos no garrafão na história do basquete. Mas pelo o que o Splitter me disse, não acontece tanto assim. A influência do Duncan parece ser mais em termos de comportamento do que qualquer outra coisa. O pivô brasileiro disse que seu companheiro de time está sempre tentando acalmar e tranquilizar a equipe em momentos mais complicados do jogo e pedindo tranquilidade na hora de finalizar as jogadas, para conter a afobação da ala mais nova do elenco de San Antonio. Mas é assim algo mais mental mesmo, nada de ensinar algumas manhas ou movimentos. Perguntei, no maior bom humor, se então a gente nunca veria ele aprendendo aquele arremesso usando a tabela patenteado pelo Duncan, Splitter nem esboçou um sorriso, me olhou com uma cara entediada e disse "Essa é uma jogada dele. Não é porque a gente treina junto que eu vou fazer também". Tá aí o que a gente leva na cara quando tenta ser metido a engraçadinho.

Também conversamos sobre a troca do George Hill, que foi mandado para o Indiana Pacers em troca do novato Kawhi Leonard. Ele não quis se comprometer, disse que o Hill jogou muito bem ano passado, mas que entende que a diretoria do Spurs já procurava há algum tempo um ala com mais características defensivas. Nas entrelinhas eu percebi ele bastante satisfeito com a movimentação, ele até havia comentado antes de como a defesa tinha sido um dos problemas durante a temporada do Spurs. Deve ter ouvido muita bronca do Popovich por causa do Richard Jefferson, acredito.

Sem querer piorar ainda mais o humor do Splitter, dei por encerrada a conversa. Não acrescentou lá muita coisa ao que já sabíamos dele e de sua temporada no Spurs, mas valeu a tentativa. Agradeci, me despedi, desejei boa sorte para a seleção e pouco tempo depois estavam todos rindo de novo e falando da tal "noite do pôquer". Pelo jeito ela acontece toda noite mas, por algum motivo que eu não saquei, ontem não iria rolar. Marcelinho Machado disse que estavam todos fugindo só porque ele sempre ganhava. Não sei se é verdade, mas eu apostaria que o Marcelinho blefa bastante, mas que às vezes tem uma trinca mesmo, uma a cada dez tentativas, talvez. Splitter, por outro lado, é a poker face por excelência, nem precisa das aulas do Tim Duncan pra isso.
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Atualização: Muita gente nos comentários dizendo que pensava que o Splitter era um cara bacana e que estão decepcionados. Não é bem assim. Ele não respondeu muita coisa, é bem quieto, mas é o jeito dele, não parece ser marra. Tem gente que gosta de falar, tem gente que não gosta.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Preview 2010-11 / San Antonio Spurs

 Ele é como qualquer um de nós


Objetivo máximo: Mais um título. O ano é ímpar, afinal.
Não seria estranho: Chegar longe mas perder para Lakers ou Mavs
Desastre: Cair na primeira rodada e ver os cabelos brancos nascerem na cabeça do Duncan

Forças: Time entrosado, técnico espetacular, defesa bem montada e Tim Duncan
Fraquezas: Parte do time está ficando velha demais e a outra parte ainda parece muito inexperiente

Elenco:








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Técnico: Gregg Popovich


Eu sempre entro na nossa página da semana dos técnicos para ver o que podemos aproveitar de novo aqui. E o texto do Popovich feito pelo Danilo está perfeito! Como a gente tinha bem menos leitores naquela época e já faz dois anos, acho que vale a pena a reciclagem completa:


"O técnico que todos amam odiar, o técnico que não cansa de ganhar, que faz os nerds das pranchetas terem orgasmos múltiplos e coloca para dormir todo o resto da civilização ocidental contemporânea. Tudo porque Popovich foca seus esforços na defesa enquanto tem fama de ser um dos técnicos mais severos e controladores no ataque (ele é tipo mulher ciumenta). Tente dar um arremesso que Popovich não planejou com antecedência de 48 horas e você será colocado no banco. Para conseguir arremessar uma simples bola, Tony Parker precisa preencher um formulário e autenticar em três vias - seja lá o que isso significar. Mas a verdade é que os jogadores no Spurs apenas obedecem o que está instituído, colocando em prática um ataque maquinal e absurdamente funcional. Duncan estará sempre em posição para seu clássico arremesso usando a tabela, Tony Parker sempre poderá infiltrar e passar a bola para a zona morta e Bruce Bowen sempre estará livre por aquelas bandas, pronto para arremessar de três e ser um bundão. Apenas Ginóbili é inesperado porque ele faz as mesmas coisas de modos extraordinários, com aquelas passadas malucas e destrambelhadas que, segundo o próprio Popovich, matam ele do coração.

Quando falo do Popovich, sempre uso como exemplo sua relação com Tony Parker. O francês tinha uma cota máxima de arremessos que podia dar de trás da linha de 3 pontos (sem brincadeiras!) e, quando começou sua sua carreira no Spurs, era obrigado a passar a bola para fora do garrafão ao invés de fazer as bandejas que hoje lhe são marca registrada. Com o tempo, foi ganhando mais liberdade com o técnico - o que equivaleria a uma mãe dizer que a filha não pode ir para a balada, mas que agora pode passar maquiagem dentro de casa. Para nós, fracassados que perdemos para o Spurs a torto e a direito, sua relação ditatorial com o time, respostas mal humoradas e cara de quem está com uma eterna apendicite nos fazem odiar Gregg Popovich como poucos no mundo. Mas tem mais: "Pop" (como alguém tão mal encarado pode ter um apelido tão fofucho?) era dirigente do Spurs, demitiu injustamente o técnico do time e se auto-proclamou o novo treinador, cargo que exerce desde então. Se ele não fosse um branquelo em um time texano, provavelmente o presidente Bush iria colocar o exército para intervir na questão. E o mais engraçado é que Popovich disse que deve se aposentar assim que acabar o contrato de Tim Duncan, ou seja, provavelmente não quer testar como seriam seus resultados sem um dos melhores jogadores de todos os tempos ao seu lado. Bem, se pudesse escolher, eu também não testaria.

E não adianta me dizer que estou com dor de cotovelo porque sim, estou com dor de cotovelo. O Gregg Popovich ganhou demais na vida, deixa pelo menos um blog na internet dar a entender que o cara é fracassado, tá legal?"


O que eu posso acrescentar é que nos últimos dois anos anos o Popovich ganhou um desafio novo. Ele teve que lidar com jogadores muito jovens que, por serem jovens, oras, não tinham a disciplina e inteligência tática que todos os comandados do Spurs nos últimos 10 anos tiveram. Ele precisou de paciência extra e voltou aos seus tempos de professor para conseguir lidar com DeJuan Blair, George Hill e Roger Mason, que de uma hora para outra viraram peças fundamentais em um time sem a profundidade que já tivera no passado. Mas ele fez um bom trabalho e a pivetada está dando resultado, é de se esperar que ele também tenha paciência e sucesso com o Tiago Splitter, que não é pirralho mas precisa de tempo para se adaptar ao jogo americano.

......
O sucesso na evolução dos pivetes que eu citei acima e o fato do Splitter ser um jogador já bem rodado são os motivos que me fazem pensar que essa temporada é a que o Spurs tem mais chance de voltar ao título desde que disputaram a final do Oeste contra o Lakers em 2008. As últimas duas temporadas serviram apenas para o Duncan parecer mais velho, para o Ginobili e o Parker se machucarem várias vezes e para a pivetada errar bastante e deixar o Pop louco da vida vendo o Roger Mason forçar bolas de três.

Mas depois de dois anos parece que está tudo certo. O Tony Parker chegou a ser envolvido em boatos de troca e falaram por aí que ele estava interessado em ir para o Knicks, mas ele sempre foi bem fiel ao Spurs e acredito que não tenha nenhum problema em ficar lá. Sem contar que pode ir para o Knicks quando for Free Agent e quando o time de NY estiver um pouco melhor, melhor jogar ao lado de Duncan e Manu enquanto ainda pode. O argentino já havia melhorado muito na segunda metade da temporada passada e depois de descansar durante toda a offseason ele deve estar inteiro fisicamente, é o que basta pra ele ser o homem do quarto período no time.

Já Duncan recebeu muitos elogios de Gregg Popovich. "Ele está mais magro e mais bem condicionado. Mais magro do que estava no meio da temporada passada". E completou com as razões para esse esforço extra, "Ele está levando tudo isso muito a sério. Ele quer voltar a vencer". Por mais cara de bundão que o Duncan tenha, ele não é bundão. Ele até foi legal e sincero o bastante para dizer que essa nova regra sobre as faltas técnicas é um exagero e um erro da NBA. A derrota para o Suns no ano passado marcou apenas a segunda vez na carreira que Duncan passou três temporadas em sequência sem título! E caras acostumados a ganhar não encaram muito bem derrotas, muito menos depois de tomar uma varrida de um time que até pouco tempo atrás era seu maior freguês. Vamos ver o Duncan a fim de jogar como há tempos não vemos.

Com o trio em forma e motivado o Spurs vai longe, não há dúvida em relação a isso. Mas até aí nada de mais, o Lakers tem seu trio, o Mavs tem elenco forte, assim como Blazers, Nuggets (pelo menos até o Carmelo parar de dar piti) e pelo menos três ou quatro times do Leste. A diferença vai ser nos detalhes: entrosamento, preparo físico e principalmente o elenco de apoio.

Eu fiquei bem encafifado quando o Spurs pagou uma boa grana para reassinar o Richard Jefferson mesmo depois dele milagrosamente ter optado por sair do seu contrato milionário. Talvez tenha sido um pensamento de "ruim com ele, pior sem ele" ou talvez um voto (caro) de confiança. Quando o Richard Jefferson jogou bem no ano passado o Spurs era um time difícil de parar, como foi na série contra o Mavs, mas muitas vezes ele era um Bruce Bowen que não defendia e nem acertava bolas de três, ou seja, um pedaço de carne que se movia. Qual será o que vai entrar em quadra nesse ano? Não sei, mas na pré-temporada ele tem jogado muito bem, inclusive acertando 50% das suas bolas de 3! Se ele for um arremessador de três confiável o Spurs já pode comemorar por ter feito a decisão certa em mantê-lo. Outro que pode ajudar nesse quesito que fez falta no ano passado é o novato James Anderson, embora também não seja nenhum especialista.

No garrafão o Duncan vai contar com a ajuda de Tiago Splitter e DeJuan Blair. O brazuca, em teoria, deixaria o TD jogar mais fora do garrafão, onde eu acho que ele é melhor e daria mais altura para o time, valorizando o lado defensivo. Já o DeJuan Blair deixa o time mais veloz, muito mais forte no rebote ofensivo (o cara nasceu pra fazer isso), mas obriga o Duncan a jogar na posição 5 e às vezes compromete na defesa. Na pré-temporada o Splitter não jogou e o Blair empolgou com médias de 13 pontos e quase 9 rebotes em míseros 25 minutos por jogo. Por isso acho que o brasileiro começa a temporada no banco, mas isso vai ser irrelevante ao longo da temporada, os dois devem revezar nas duas posições do garrafão junto com Duncan e Antonio McDyess e eventualmente até jogar juntos. Tudo depende de treino, de entrosamento e do adversário que vão enfrentar.

Richard Jefferson e James Anderson podem ser a resposta para os problemas de arremesso de três da equipe, Blair e Splitter para o garrafão, mas o Spurs não arranjou ninguém para atuar como defensor de perímetro. Alguns especialista em basquete universitário até apontaram o James Anderson como alguém que pode virar um grande defensor em nível profissional, é esperar para ver. No ano passado eles às vezes colocavam o baixo George Hill para marcar jogadores da posição 2 e 3 só porque ele é o melhor defensor de perímetro do elenco. Era melhor que nada, mas não é solução de problema. Se cruzarem nos playoffs com pontuadores mais altos como Kobe Bryant e Kevin Durant, a coisa pode engrossar pra eles.

No ano passado o Spurs pagou toda aquela grana para o Richard Jefferson e passaram pela primeira vez em muito tempo do limite salarial. Como justificativa disseram que queriam usar os últimos anos de carreira do Duncan e do Ginobili para ir com força total atrás de outro título. Estão certos. Com os dois em forma e com a ajuda do resto do time, que tem chance de ser o melhor elenco de apoio nas últimas 3 temporadas, as chances de voltarem a ser o time chato, pentelho, sonolento e vencedor que a gente conhece são bem grandes. Como disse nessa análise bem mais detalhada sobre o Spurs há uns dois meses, o Spurs ainda não voltou, mas pode voltar.

E pra quem acha que o Spurs não é empolgante, saca só que show é o Duncan!!! Showtime, baby!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Por pouco de novo

Scola quer seu abraço, vai lá, campeão!


Eu gostaria muito de ter escrito aqui antes do jogo entre Brasil e Argentina a conversa que tive com o Felipe, nosso webdesigner. Saímos para bater um basquete na segunda-feira e conversando sobre o jogo da seleção eu disse: "Acho que o Brasil ganha. Mas pra isso a gente tem que abrir uma vantagem e administrar ela no final. Se chegar no fim do jogo empatado, o Scola vai acertar tudo pra Argentina e o Leandrinho vai errar pro Brasil".

Juro por Lady Gaga que eu disse isso. Deveria ter postado aqui para pagar de adivinho, porque foi isso o que aconteceu. O jogo foi disputadíssimo desde o primeiro segundo até o último, mas quando era para decidir, o Scola simplesmente não errou. Seja bem marcado, mal marcado, contestado, no arremesso, na bandeja e por fim, pra fechar o caixão, até quando tentou errar um lance livre.

Sobre a Argentina, não achei que fizeram nada de novo, fizeram o que a gente disse desde o começo. Todo o time é inteligente, todo mundo sabe o que fazer em quadra, cometem poucas bobagens e compensam a falta de pontuadores com o Luis Scola. Eventualmente o Carlos Delfino tem boas noites de pontuação e para o azar dos brazucas, o jogo de ontem foi uma delas. Outra zica brasileira foi ter a volta do Fabricio Oberto, que apesar de bem mais lento e velho do que em seu auge, quebra um galho enorme para o Scola com seu bom passe e aproveitamento embaixo da cesta.

O Ruben Magnano tentou parar o Scola usando o Tiago Splitter, o Anderson Varejão, o Guilherme e até o Marquinhos. Tentou trocar a marcação no pick-and-pop, tentou não trocar, tentou macumba e só não apelou para as armas de fogo porque é um gentleman. Tem dias em que não dá certo mesmo. Em algumas jogadas a gente vacilou, é verdade, mas no geral não perdemos o jogo porque marcamos mal o Scola.

Aliás, perder esse jogo não foi nenhuma desgraça. Foi um jogo disputado em que a grande estrela da partida, o melhor jogador em quadra, resolveu a parada nos minutos decisivos, nada mais natural no basquete. Sem contar que nos classificamos em terceiro no nosso grupo e eles em segundo, apesar dos times em nível técnico parecido, não foi absurdo perder o jogo, na teoria eles eram mesmo os favoritos. Mas no que devemos pensar não é só nesse jogo, mas no total do torneio. O Brasil venceu 3 jogos e perdeu outros 3. Os três vencidos foram lavadas, abrimos diferença e matamos o jogo. As três derrotas foram resultados apertados, jogos decididos no último minuto. Quando acontece três vezes em uma semana não é coincidência. O que faltou para o Brasil nesse mundial foi saber decidir jogos. Só.

A defesa do Brasil não é perfeita, mas não consigo imaginar nada melhor desse elenco. Até jogadores que sempre foram criticados (por nós também) por serem defensores fracos tiveram momentos ótimos, como Marcelinho Huertas, o Machado e o Leandrinho. Reafirmo aqui que nunca vi (e provavelmente nunca vou ver) o Barbosa marcando tão bem quanto naquele jogo contra os EUA. O ataque também esteve do jeito que sempre sonhamos. Não temos o nosso Scola/Nowitzki/Durant para colocar a bola na mão e esperar os dois pontos acontecerem de alguma forma, mas o lado bom é que dessa vez sabíamos disso. Em campanhas passadas ficávamos esperando milagres ofensivos de Leandrinho, Marcelinho e Tiago Splitter e eles não apareciam. Dessa vez colocamos a mão da nossa grande estrela no torneio, Huertas, e executamos um ataque coletivo e bem pensado. Quase chorei hoje quando vi que em todo o primeiro tempo a seleção havia cometido apenas 3 erros no ataque. Antigamente eram 3 erros a cada 5 minutos de jogo, geralmente tentando forçar alguma jogada individual idiota.

Temos um bom elenco que demonstrou muita vontade, raça e disciplina. Um técnico que entende de basquete, tem comando sobre o grupo e que melhorou o ataque e a defesa do time. Parece piada dizer isso, mas é verdade: o time melhorou em tudo, agora só falta ganhar.

Saber ganhar jogos apertados é difícil. Até porque muitas vezes é uma questão individual, não de treino coletivo, instrução do técnico. Claro que ter um mongolóide no banco não vai ajudar, mas é o momento do jogo com a defesa mais apertada, jogadores mais tensos e juízes dispostos a deixar o jogo rolar. Não é à toa que os jogos costumam ser decididos em jogadas simples, como uma isolação, um pick-and-roll ou um bloqueio para arremesso. A Argentina usou muitas jogadas durante o jogo inteiro, tanto que no último quarto vimos até Oberto e Jasen aparecerem no ataque, mas quando o bicho pegou foi só pick-and-pop com o Scola ou a isolação dele contra algum marcador brasileiro. Já o Brasil parecia não saber o que decidir, e errou dando a bola na mão de Leandrinho, que tem muitos talentos, mas definitivamente decidir que jogada fazer não é um deles. Quanto menos ele tem a bola na mão, melhor.

Outro que não pode decidir jogos é o Tiago Splitter, e o Brasil também tentou ele na hora H. Geralmente jogadores de garrafão só conseguem decidir jogos em equipes que tem arremessadores muito bons em volta deles. Pensa bem, o Splitter está empurrando o Oberto para perto da cesta e você está marcando o Marquinhos ou o Alex, o que você faz? Corre para forçar um erro do Splitter ou deixa ele marcar a cesta só para não deixar os dois livres? Deixa livre, claro! Se o Splitter conseguir dar o passe, dane-se, qual a chance do Alex acertar uma bola de três? E pior, qual a chance dele acertar com a pressão do fim do jogo? Quase zero. Quem acompanha NBA pode ver isso muito bem. Às vezes o pivô do time é a estrela, mas quem decide é o cara do perímetro. Até porque em fim de jogos os juízes costumam deixar a pancadaria rolar um pouco mais e isso só dificulta o trabalho dos pivôs, que também têm aproveitamento pior nos lances livres. No Lakers o Shaq recebia pouco a bola no fim dos jogos porque ele sofria faltas de propósito, já que fede na linha de lance livre.

Claro que existem exceções, mas todas tem explicação. O Scola e o Nowitzki são jogadores completos. Eles podem receber e bola em fim de jogo porque se precisar eles nem entram no garrafão e resolvem a parada com um arremesso de longe, além de serem bons no lance livre. Outros como o Duncan e o Garnett são passadores acima da média e costumam ter bons arremessadores no time. É só buscar vídeos de qualquer título do Spurs e ver os jogos, quando se arriscavam a dobrar a marcação no Duncan no fim dos jogos ele entregava a bola para Steve Kerr, Stephen Jackson, Manu Ginobili, Bruce Bowen ou qualquer outro grande arremessador que o acompanhou na carreira. O Brasil não tem esses arremessadores, Splitter não é um grande passador e ele não é efetivo quando recebe a bola longe da cesta.

Para a partida de hoje em especial, acho que a melhor decisão teria sido deixar o Marcelinho Huertas trabalhando com vários bloqueios para achar espaço no garrafão. Ele estava com a mão calibrada, confiante e claramente muito motivado. Fez a partida da sua vida e eu esperava ver a paz no Oriente Médio antes de ver ele fazer 32 pontos num jogo, mas foi o que aconteceu. De qualquer forma, seria uma solução para hoje, isso não vai acontecer sempre.

Falando em momentos decisivos, lembrei de um caso interessante na NBA, o Los Angeles Clippers. Infelizmente não tenho mais os números, mas vale pelo caso. Na temporada 2004-05, o Clippers liderou a liga em jogos perdidos por 5 pontos ou menos (ou eram 3 pontos? Jogos apertados, enfim). Era um número assustador de derrotas no fim do jogo. Aquele time tinha o Marko Jaric (o puto que é CASADO com essa deusa) na sua melhor temporada na NBA, Bobby Simmons no único ano em que foi decente, Corey Maggette, Chris Kaman bem pivete e Elton Brand na época em que ainda fazia 20 pontos e 10 rebotes todo jogo. Parecia bom, mas não vencia no final.

No ano seguinte conseguiram a pechicha de trocar Jaric-Lima pelo muso Sam Cassell. Aproveitaram e conseguiram uma troca por Cuttino Mobley, o experiente arremessador que fez história como parceiro e amigo de Steve Francis no Houston Rockets. Com a dupla experiente o Clippers passou a ser um dos times que mais venceu jogos apertados na NBA. E assim chegou aos playoffs, à semi-final do Oeste, e só foi eliminado no jogo 7 pelo Phoenix Suns. Era dito por todos os jogadores e era óbvio para quem via os jogos que a razão da mudança era a presença de dois jogadores experientes e bons na decisão. Quando precisava armar, Cassell armava, no fim do jogo, quando precisavam de pontos, ele ia lá e fazia seu arremesso tradicional, o step back, e matava a parada.



Falta para o Brasil ter esse Sam Cassell para matar as partidas decisivas. Ele poderia ter vencido Argentina, a Eslovênia e os EUA. E ele não é Leandrinho, Huertas, Marquinhos ou qualquer um que estava no elenco desse Mundial. Acho que o Brasil tem seu melhor time em muito tempo, talvez o melhor dos últimos 15 anos, mas com esse pequeno e muito decisivo defeito.

Citando o gênio Dunga, qual o legado dessa seleção? Podemos ver por dois lados, o do time, pensando em resultados; e o social. Para o lado do time não tem legado, foi só o primeiro campeonato importante e serviu para mostrar na prática nossos defeitos e qualidades. Deu pra ver que sonhar com medalha é demais mas com Olimpíada é bem real.

Pelo lado social foi mais importante, mas ainda pequeno. Aquela quase-vitória sobre os EUA deve ter feito muita gente que ignorava o basquete desde o Oscar falar sobre o esporte, e motivado algumas pessoas até a bater uma bolinha. Isso é uma grande coisa. Lembro que comecei a querer jogar tênis quando as TVs começaram a passar jogos do Guga. Não precisei de muito tempo para começar a gostar mais do esporte do que do Guga, aliás torcia até mais para o Patrick Rafter, por ser fã de um bom saque-e-voleio. Mas foi com um brasileiro na mídia que eu tive o primeiro contato com o esporte.

Acredito que a seleção ter bons resultados seja importante para isso. Não torço para o Brasil vencer por amor à nossa pátria, sei que incomoda muita gente mas não dou a mínima pra isso, torço pelo efeito que esses bons resultados podem trazer para o esporte. Gostaria, por exemplo, de descobrir na próxima temporada da NBA um leitor do blog que está começando a acompanhar a liga americana depois de ter se encantando com o Scola na partida de ontem. A presença da seleção nacional chama a atenção e depois o basquete bem jogado por alguém (seja lá em que território esse cara nasceu) conquista o torcedor. É uma fórmula simples e que parece bem encaminhada. Sem contusões e pensando em uma solução para não perder todos os jogos apertados, o Brasil deve estar na briga com os grandes em todas as próximas grandes competições.

domingo, 22 de agosto de 2010

Uma zona

O Nash dá conselhos para o Leandrinho: "no Canadá tem 
muito urso, mas é melhor que apodrecer no banco"


Volta e meia, sempre tem um carinha perdido por aí dizendo que na NBA não é permitida a tal "defesa por zona", tão usada no basquete da FIBA que se joga no resto do planeta. Assim, quando a seleção dos Estados Unidos enfrenta outras seleções em torneios mundiais, em que valem as regras da FIBA, haveria uma suposta dificuldade em se acostumar, em aprender tudo correndo e em cima da hora. Balela. A partir da temporada 2001-02 a marcação por zona, tão implementada no basquete universitário e portanto conhecida pela imensa maioria dos jogadores, passou a valer sem frescura. Antes, um monte de regras chatinhas dificultava as marcações duplas e a defesa sem a bola, mas já faz quase 10 anos que isso mudou. Todo time decente da NBA eventualmente marca por zona, e a gente viu como o Thunder conseguiu usar essa defesa para dar uma canseira no Lakers nos playoffs passados.

O que não pode é um defensor ficar dentro do garrafão por mais de 3 segundos sem estar acompanhado por outro macho do time adversário. Isso não impossibilita as defesas por zona de forma nenhuma, apenas impede que um gigante chinês fique embaixo do aro o tempo inteiro, obrigando que ele esteja sempre próximo a algum jogador adversário que ocupe aquela área. Se não tiver nenhum adversário no garrafão, o gigante chinês precisa sair do garrafão também. Além disso, aquele desenho de um semi-círculo no chão também impede os defensores de ficarem ali "guardando cachão", como se diz em linguagem de esconde-esconde. Dentro daquele semi-círculo, não importa se o defensor está parado lendo um livro, filosofando, trocando figurinhas ou contando anedotas: se tocar num jogador que esteja atacando a cesta, vai ser falta do defensor, e toca ter sua retina derretida pelas imagens do Ginóbili ou do Dwyane Wade cobrando lances livres.

Ou seja, a marcação por zona existe e está lá, em todas as partidas da NBA (menos as do Warriors, eles nem fingem que defendem). Mas a regra dos três segundos de defesa e o semi-círculo garantem que exista um caminho mais aberto para a cesta, favorecem o time que ataca, e facilitam a vida do jogador que ataca o aro lhe presenteando com muitas faltas e lances livres. O resultado disso é que, na NBA, os placares são mais altos e há um foco maior no jogo de garrafão - não necessariamente dos pivôs, mas de todos os jogadores, incentivados a infiltrar mais. Há mais de um ano atrás, o Rodrigo Alves do Rebote fez um levantamento estatístico fenomenal para descobrir quantos arremessos de três pontos tenta-se por jogo em diversos países, com a finalidade de tentar entender o motivo dos jogadores brasileiros arremessarem tanto de fora. Mesmo eu tendo desenterrado isso de um armário mofado virtual, todo mundo deveria dar uma olhada nesse artigo e nos dados levantados. É fácil perceber que, mesmo jogando partidas mais longas, o pessoal da NBA arremessa muito menos da linha de três do que o resto do planeta. E olha que o Orlando Magic sozinho deve ter inflado essa estatística um bocado.

Sem dúvida nenhuma isso faz parte da cultura de cada país, que pratica o esporte com seu temperinho próprio. No Brasil, por exemplo, a gente arremessa de três como se todo mundo fosse o JR Smith e a marcação por zona é associada a "covardia", coisa de quem "não sabe jogar". Isso fica bem claro no desabafo idiota do Nezinho ao ser campeão do NBB:



Mas há também um grande fator para os jogadores da NBA arremessarem bem menos de três pontos: as regras. Como vimos antes, as infiltrações valem a pena. Nas regras da FIBA, todo time marca por zona o tempo todo, o garrafão fica uma bagunça, infiltrar é quase impossível, e os jogos viram um festival de arremessos de três pontos. As grandes equipes do mundo sabem jogar de várias maneiras, mas se consagram com grandes arremessadores no elenco. Pior do que a seleção brasileira de basquete arremessar demais de três pontos é como os arremessos saem, se jogadas foram planejadas para que saiam livres, se os jogadores são bons arremessadores, se há técnica e velocidade no arremesso. Pelas estatísticas coletadas pelo Rebote, os brasileiros não arremessam tãaaao mais do que o resto do mundo, o que assusta é mesmo o aproveitamento, que fede muito.

Entendo perfeitamente a euforia da torcida brasileira com a presença de um garrafão realmente forte no Mundial de Basquete, formado por Varejão, Nenê e Tiago Splitter, galerinha toda da NBA reunida. Entendo também o receio com a seleção americana, que está mandando para o Mundial um time de reservas dos reservas dos reservas, formado por uns carinhas aí que toparam não tirar férias, e não tem absolutamente ninguém relevante para jogar dentro do garrafão. Mas a verdade é que, contra as melhores defesas do mundo dentro das regras da FIBA, o garrafão acaba sendo muitíssimo secundário. Os Estados Unidos podem colocar 5 jogadores em quadra capazes de arremessar de todo lugar, defender forte pra burro, e aí infiltrar no garrafão nos únicos momentos em que isso é possível: nos contra-ataques. O Brasil, mesmo que ainda tivesse Nenê, que volta para casa agora por estar contundido, teria dificuldades em impor um jogo de garrafão e não tem arremessadores técnicos e inteligentes o bastante para derrotar defesas por zona.

A seleção dos Estados Unidos demorou, mas eles finalmente aprenderam um troço importante: o problema não é levar para o Mundial uma seleção de restos, sem as maiores estrelas da NBA. O problema é levar os jogadores errados para as regras que irão enfrentar. Já vi seleção americana sem um único arremessador, e aí eles levam cacetada na orelha mesmo, não tem jeito. Isso também tem a ver com cultura e com as regras: como na NBA os jogadores que infiltram são beneficiados, é normal que haja uma maior admiração por eles do que pelos simples arremessadores. O Ray Allen nunca vai ter tantos fãs quanto o Dwyane Wade, é simples assim. Então muitas vezes leva-se aquela estrela fodona que não sabe arremessar de três e a equipe não funciona, quando um monte de jogadores secundárias teriam rendido muito mais. Claro que na NBA existem muitos jogadores que podem fazer de tudo ao mesmo tempo, mas levar gente focada nos arremessos é sempre o passo mais fácil para vencer no âmbito internacional. Não é mero acaso que o Carmelo Anthony, apaixonado pelo próprio arremesso, sempre acaba sendo cestinha da seleção americana, e que LeBron e Wade voltaram das Olimpíadas com arremessos de três pontos bem mais calibrados depois de tanto treino. Some a isso o fato de que a linha de três pontos na FIBA é cerca de um metro mais perto do aro do que a da NBA e teremos arremessadores muito eficazes e felizes. Não precisa levar LeBron, Carmelo, Wade e Dwight Howard, tá tudo bem colocar uns pirralhos para arremessar, como Eric Gordon, Stephen Curry, Danny Granger, Kevin Durant, e deixar qualquer manezinho dentro do garrafão mesmo. No basquete internacional, isso é o mais importante para vencer.

A FIBA parece estar ciente disso e colocou em prática algumas mudanças de regras. Pra começar, a linha de três pontos ficará mais longe uns 50 centímetros, o garrafão terá o mesmo formato retangular que o da NBA e o semi-círculo embaixo do aro será adotado. O formato atual do garrafão faz com que os jogadores tenham mais dificuldade de se aproximar da aro com um jogo de costas para a cesta, porque os 3 segundos máximos que um jogador ofensivo pode ficar no garrafão começam a contar mais cedo. Isso também leva vários pivôs europeus a arremessarem de três pontos, pra fugir do jogo lento e truncado do garrafão. Agora a vida de quem joga de costas para a cesta ficará mais tranquila, os arremessos de três ficarão mais dificultados pela distância e o semi-círculo vai recompensar um pouco os jogadores que decidirem infiltrar mais. Não sei exatamente quando as regras passam a valer oficialmente (ouvi dizer que é apenas em 2012, alguém me tira a dúvida?), mas vários torneios do mundo já estão implementando as mudanças, inclusive o NBB. Será uma ducha de água fria na nossa cultura apaixonada pelo arremesso e talvez, aos poucos, mude mesmo o nosso modo de jogar. Não ficaria nada surpreso se daqui a alguns anos a FIBA também colocasse em vigor a regra dos três segundos de defesa, de modo a abrir ainda mais o caminho para a cesta. Embora as diferenças sejam culturais e tem muita gente que gosta bem mais do basquete internacional do que do estilo de jogo da NBA, não dá pra negar que o modelo da NBA é mais dinâmico, privilegia o ataque e é muito mais popular. Se o objetivo é colocar doce na boca da criançada, o caminho é mesmo inibir a bagunça que é o garrafão do basquete internacional.

Mas, por enquanto, em que as regras da FIBA são o paraíso dos arremessadores, o basquete brasileiro ainda sofre mesmo é com a falta de arremessadores competentes e inteligentes. É curioso como nosso trabalho de base, que é limitado por verbas escassas e dificuldades culturais, parece gerar em maior quantidade jogadores enormes de garrafão e forma arremessadores sem critério ou sem a técnica de arremesso adequada. Nos arremessos, Leandrinho sempre deixou muito a desejar (antes mesmo de entrar no draft os relatos de sua mecânica esquisita já espantavam algumas equipes), e sua capacidade de infiltração é muito limitada fora da NBA, em que o garrafão é mais fechado. Seu estilo de jogo simplesmente não casa com o basquete internacional, assim como sua personalidade não casa com ser líder uma equipe como esperam que ele seja na seleção brasileira.

Engraçado é que descobri recentemente, numa entrevista da revista Dime, que o Leandrinho é quem pediu para ser trocado. Depois de tantos anos em que sair de Phoenix era o grande pavor de sua vida (lembro de um causo em que ligaram para o quarto de hotel do Leandrinho avisando que ele tinha sido trocado só de brincadeira e ele saiu chorando na frente dos colegas de equipe), parece que agora ele quer um papel maior, mais oportunidade de jogo, novas chances de ganhar minutos em quadra. Pediu para ir para o Raptors porque é amigo do engravatado Bryan Colangelo e acha que lá terá oportunidades para ser titular. Bacana. Mas mesmo essa maturidade e vontade de jogar não conseguem camuflar o fato de que Leandrinho não quer liderar uma equipe e tem uma enorme dificuldade em organizar as jogadas ofensivas de qualquer time (papel que Goran Dragic faz muito melhor e tornou o Barbosa desnecessário no Suns). Seu jogo depende da velocidade, não dos arremessos, e de receber a bola em contra-ataques, não de chamar jogadas. Seria muito tolo imaginar que ele pode chegar chutando traseiros na seleção brasileira quando tudo que acontece por ali vai contra seu estilo de jogo.

Do mesmo modo, Varejão e Splitter devem render muito bem na NBA na próxima temporada, mas serão limitados pelas possibilidades do basquete internacional. Varejão deve render muito, apesar da forma física meio baleada, quando se trata de defesa. Mas as principais armas ofensivas adversárias estarão no perímetro e, ofensivamente, Varejão não conseguirá segurar as pontas. Splitter é um jogador refinadissimo embaixo da cesta, do tipo que arrota em francês, mas a defesa por zona torna suas atuações muito mais complicadas - dificilmente conseguirá dominar uma partida por completo. Curiosamente os melhores momentos da seleção brasileira surgem quando Marcelinho "irch" Machado acerta a mira, então não dá pra esperar milagre nem do Splitter, nem da seleção - a gente já sabe que o Marcelinho vai ganhar um jogo e perder outros dois se receber sinal verde para arremessar.

Não acredito que o Splitter vai chegar na NBA chutando traseiros e dominando o garrafão do Spurs, falta físico e levará um tempo para que ele se acostume com mais contato e mais espaço para se mover perto do aro. Mas arrisco dizer, sem muito medo, que ele será eventualmente melhor na NBA do que foi na Europa, tudo graças às regras diferentes. Dar espaço para o Splitter atuar é pedir para ele te fazer de bobo, assim como o Duncan faz tão bem até hoje e terá o maior prazer (embora a cara não vá mostrar) de ensinar para o Splitter como lidar com os brutamontes que estarão lá para marcá-lo.

As notícias são boas para os brasileiros na NBA, mas no Mundial não consigo ver qualquer traço de esperança. Como expliquei em outro post, não vemos muito motivo em ficar torcendo para a seleção só porque compartilhamos as mesmas linhas imaginárias, idioma e piadinhas com a Preta Gil - mas dessa vez o sucesso da seleção apontava para uma atenção que o esporte não recebe há décadas no país e que traria recursos, incentivo e apoio para a base. Infelizmente não será dessa vez. Com ou sem Nenê, iriamos enfrentar defesas por zona incríveis durante todo o Mundial e o jogo de garrafão estaria imediatamente limitado, exigindo um preparamento ofensivo que - focado na defesa - o técnico Magnano não conseguiu colocar em prática. Sem Nenê, então, pior: perdemos defesa no garrafão e voltamos a olhar apenas para o perímetro, onde Leandrinho estará pensando em como será legal jogar na terra de seu colega Steve Nash, o Canadá, onde não terá que liderar uma equipe e nem ficar arremessando o tempo inteiro.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Spurs em busca do equilíbrio

Splitter já sorriu mais que o Duncan em sua carreira pelo Spurs


O Spurs já foi o time mais odiado de muita gente. Eu, por exemplo, já torci mais contra o time do Texas do que a favor de outros durante anos. Os motivos eram, basicamente, três:

1- Eles ganhavam demais. A gente sempre quer ver o time mais forte perder para algum que seja mais fraco e simpático.
2- Na época que eles eram o grande time da NBA eu não era lá muito fã de times muito defensivos, fui começar a ver graça nisso um tempo depois.
3- O Tim Duncan, a estrela do time e um dos melhores jogadores da história do basquete, não é lá o cara mais carismático e que dá espetáculo. Preferia ver meus outros ídolos ganhando campeonatos.

Com o tempo isso foi caindo por tabela. Apesar do Duncan ainda não ser tão carismático, ele passou a ter mais graça dentro dessa nova geração de jogadores que gostam tanto de tatuar os próprios nomes nas costas e usar correntes com cifrão pendurados no pescoço. Ele é tão diferente do padrão da liga que passou a ser mais legal. Também passei a gostar muito mais dele quando foi um dos poucos jogadores a se revoltar contra a decisão do David Stern, em 2005, de criar um código de vestimenta na NBA, obrigando todos os jogadores a abandonarem as roupas que costumavam usar (incluindo aí até as correntes com cifrão que o Duncan nem usava) para se apresentarem sempre com roupas sociais. Paul Pierce, Allen Iverson e Stephen Jackson também se manifestaram contra, mas deles eu esperava a revolta, do Duncan não. Ele mostrou, finalmente, a pessoa que existe por trás da poker face.

Hoje também não dá pra odiar eles por vencerem demais. Não ganham um título desde 2007 e nos últimos três campeonatos só chegaram uma vez perto, indo para as finais do Oeste em 2008. Estão sempre entre os melhores, mas não ganham, aí viraram o Dallas e ninguém odeia o Dallas, seria como odiar a Portuguesa.

Por fim, tem a questão da defesa. No seu auge o Spurs era um time defensivo que servia apenas para arruinar com nossos sonhos de ver times lindos como o Suns vencer um título, era o bastante para nos irritar. Hoje acho até bem legal ver como um time monta sua defesa e não me incomodo com times focados nesse lado da quadra. E mesmo se ainda me incomodasse, o Spurs não é mais aquele ferrolho. Nos últimos três anos, na média de pontos a cada 100 posses de bola, eles caíram do terceiro lugar para o quinto, e ano passado foram oitavos. Nesse tempo Bruce Bowen se aposentou, o Duncan não consegue ser mais efetivo como antes e eles até usaram o Matt Bonner como titular.

Em plena decadência, com muitos jogadores acima de 30 anos e com outros se aposentando, o Spurs chegou à hora de tomar uma decisão difícil. Sai trocando todo mundo e monta um time jovem ou tenta juntar mais gente velha em torno dos antigos jogadores para montar um time que se perder vai ser chamado de velho e se ganhar, de experiente?

Não dá pra dizer qual das duas formas é certa e qual é errada, as duas já deram todo tipo de resultado. Depende de quem são os veteranos, quem são os pivetes por onde passa a renovação, se os treinadores sabem lidar com esse tipo de time e muitas outras coisas. Não existe roteiro para a vitória.

O Spurs tentou primeiro a opção dos veteranos. Na temporada 2008-09 tinha Kurt Thomas, Fabricio Oberto, Michael Finley e Bruce Bowen no elenco. Não deu certo. No ano passado ainda insistiu nos mais velhos, afinal usava Antonio McDyess sempre que podia ao lado de Tim Duncan, mas o time só melhorava quando tinha bons momentos dos novinhos George Hill e DeJuan Blair.

Quando para muitos essa era a mensagem de que o time deveria ir pelo caminho da renovação, o Spurs entendeu que a mensagem era de que era hora de misturar. Afinal George Hill estava jogando bem, mas manteria o mesmo nível sem Ginobili e Duncan do seu lado? Os mais novos não são tão bons para bancar uma renovação (como seria o Rondo para o Celtics, se eles quisessem) e os mais velhos não dão conta do recado sozinhos. Era hora de misturar.

Mesmo antes do fim da temporada passada o time já fez um novo contrato com o Manu Ginobili, que quando esteve saudável na temporada passada mostrou que ainda pode alcançar o sétimo sentido durante alguns minutos de jogo e se tornar o melhor jogador da galáxia. Acontece com menos frequência do que antes, mas quando ele está pegando fogo não existe arma de fogo que possa pará-lo.

Depois disso veio o presente dos deuses. No ano passado o Spurs aceitou pela primeira vez em anos ultrapassar o limite salarial e pagar multas por excesso de salário. A extravagança foi para contar com Richard Jefferson, o ala que parecia ser o que faltava para o time. Parecia, acabou tendo a pior temporada da carreira, foi um zero à esquerda em muitos jogos e ainda tinha mais um ano de contrato ganhando 15 milhões de dólares. E não é que ele desistiu do contrato? Por motivos bem explicados pelo Danilo nesse post, preferiu sair dos 15 milhões para conseguir um contrato mais longo, e conseguiu: 38 milhões de dólares por 4 anos com o próprio Spurs.

Apesar do Jefferson não ser uma maravilha, eles não tinham conseguido ninguém para a posição dele entre os Free Agents. Então até que acabou sendo bom negócio manter o mesmo jogador mas pagando 8 milhões ao invés de 15.

Depois de manter o quarteto de Tony Parker, Manu Ginobili, Richard Jefferson e Tim Duncan, estava na hora da renovação. Ainda tem George Hill e DeJuan Blair, um ano mais experientes, e buscaram no draft o promissor James Anderson. Depois da Summer League, assinaram com o bom arremessador Gary Neal. A cereja do bolo foi trazer, finalmente, o brasileiro Tiago Splitter.

Muita gente fazia piada nos Estados Unidos dizendo que o Splitter não existia. Falam dele ir pra NBA desde que ele tem uns 18 anos e ele só foi agora, com 25! Uma vez ele desistiu de ir pro draft, depois adiou, depois foi escolhido mas decidiu ficar na Europa, foi uma novela gigantesca, mas podemos afirmar hoje que valeu a pena. O brasileiro ficou mais forte fisicamente, aprimorou sua técnica e até a liderança (era capitão no Caja Laboral) e ganhou mais nome ao sair da Espanha como MVP do campeonato nacional e campeão. Ele é a síntese do que o Spurs quer ser na próxima temporada: é novo, afinal é até um novato na NBA, mas tem mais bagagem e talento que muito veterano da liga.

E como diria o Polishop, não é só isso. Splitter também é o primeiro jogador em sei-lá-quantos anos a deixar o Tim Duncan voltar para a posição 4. É um bocado ridículo ter o melhor ala de força de todos os tempos no elenco e usá-lo fora de posição! Agora vão poder deixar o Splitter na posição cinco e o Duncan poderá sair mais do garrafão, onde poderá usar seu arremesso de meia distância usando a tabela (marca registrada) e onde tem mais opção, liberdade e espaço para usar seu arsenal infinito de jogadas ofensivas.

Dá pra dizer dessa vez com certeza que o Spurs voltou como dissemos no ano passado com o Richard Jefferson? Não, mas dá vontade.

Se eu fosse listar 5 coisas que o Spurs precisava melhorar do ano passado para esse, seriam defesa de perímetro, arremessos de 3, pivô, tocos e movimentação ofensiva.

A defesa de perímetro não melhora nada até o James Anderson provar o que alguns analistas dizem, que ele pode vir a ser um especialista na área. Mas se isso não acontecer nesse ano, não vai ser com Richard Jefferson ou Manu Ginobili que eles vão parar grandes jogadores de ataque. O arremesso de três deve melhorar com o próprio Anderson e o Gary Neal. Os dois são novatos, mas eu confio mais nos olheiros do Spurs do que na minha mãe. Sério, os caras não erram nunca. São muito bem pagos, viajam o mundo inteiro atrás de grandes talentos e não à toa o Spurs sempre acha alguém escondido no fim do draft, já foi assim com Tony Parker, Manu Ginobili, Luis Scola, Goran Dragic, Leandrinho, Tiago Splitter, DeJuan Blair, Beno Udrih, John Salmons, todos escolhidos depois da posição 20 em drafts recentes.

A parte do pivô é resolvida com o Tiago Splitter, que dá segurança para a posição, deixa o Duncan sair do garrafão e é um bom defensor, também dando uma ajuda nos tocos. O Spurs era um garrafão muito vulnerável quando tinha McDyess ou Matt Bonner em quadra.

A movimentação ofensiva ainda é um mistério. Deve melhorar com Duncan participando mais do jogo e Richard Jefferson deu sinais nos playoffs, em alguns jogos, de que pode ser muito útil quando se mexe ao invés de ficar parado para ser o arremessador que não sabe ser, mas vai entender a cabeça do Tartaruga Ninja.

O Spurs poderia ter tentado uma troca por um dos alas que estavam dando sopa e não saíram caro, como Ronnie Brewer, Josh Howard ou Matt Barnes, todos seriam mais úteis que o Richard Jefferson, então não dá pra dizer que a offseason foi perfeita. Também dava pra ter cogitado e feito propostas envolvendo o Tony Parker, que já deu sinais de que não ficaria nada ofendido com uma troca. Não foi perfeito, mas com bons nomes muito jovens para dar um gás nos veteranos, tem tudo para ser um time melhor que o do ano passado. O Spurs não voltou, mas pode voltar.

...
Duas novidades no Bola Presa
1- Temos uma promoção nova valendo uma camiseta do Leandrinho e uma bola. Confira aqui.

2- Finalmente colocamos no ar nossa pesquisa para saber quem são os jogadores frustrados que leem o Bola Presa. É mais legal que o Censo e pode ser vista e respondida aqui.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O jogador mais importante

O mais importante é o do topete de mangá

Começamos por aqui nossa cobertura do Copa América de basquete. Como todo mundo sabe, o basquete internacional não é nossa especialidade e então não temos a pretensão de fazer uma cobertura melhor que a do BasketBrasil, do Draft Brasil ou do Rebote, por exemplo. Mas como às vezes é até melhor fazer as coisas meio sem responsabilidade, vamos nos divertir por aqui até o fim do torneio. Caso aconteça algo digno de revelância na NBA (Iverson no Grizzlies?) fazemos um parênteses na cobertura do torneio que dá vagas ao mundial de 2010.

A estréia foi boa, uma vitória sobre a República Dominicana. Uma seleção que nunca assustou muito nessas competições mas que num ataque súbito de patriotismo conseguiu de uma vez só chamar Al Horford, Charlie Villanueva e Francisco Garcia. O Trevor Ariza também foi chamado mas acabou não indo por contusão.

O elenco impressiona, mas a verdade é que eles não fizeram nenhuma preparação exemplar e nem jogaram juntos em anos anteriores. A minha previsão era que eles fossem para a briga com um esquema tático simples e recheado de jogadas individuais. Não foi desafiador como acertar o dia do apocalipse mas acho que acertei.

No primeiro tempo os dominicanos sobreviveram nas bolas de 3 do Francisco Garcia, o Chicão. Foi uma bola atrás da outra mesmo com o Alex tendo entrado no time titular só para marcar o ala do Kings. Só assim os dominicanos sobreviveram a um primeiro tempo fraco de Villanueva, que estava gordo e forçando um arremesso atrás do outro. Mal de jogador da NBA que joga basquete FIBA pela primeira vez achando que é uma mamata.

Esse primeiro tempo me assustou porque mesmo com só um grande jogador no time, os dominicanos sairam perdendo só por 2 pontos. O Brasil começou bem a partida, mesclando um bom jogo de meia quadra com a correria dos contra-ataques, coisa que não é fácil de fazer. Nem sempre um time sabe ler a jogada bem o bastante para saber se é hora de contra-atacar ou de esperar. Porém, essa boa execução estava acabando em muitos arremessos de 3 errados, não conseguíamos abrir diferença.

Nem todos os arremessos foram forçados, muitos eram em boa situação, mas a precisão não estava lá. E o drama aumentou quando Tiago Splitter saiu do jogo com 3 faltas. Sem o nosso pivô com topete de mangá, todo esse esquema vai pelo ralo. Os contra-ataques são mais escassos pela falta de rebotes, a defesa fica mais fraca e o jogo de garrafão some, já que o Varejão, como dito no nosso chat (que estará online em todo jogo do Brasil), tem o mesmo instinto ofensivo do Amaral.

Sim, o Leandrinho é nosso jogador mais talentoso. O Varejão é um grande reboteiro, bom defensor e líder em quadra, e o Alex foi até nosso herói do jogo de hoje com bolas de 3 certeiras nos momentos mais cruciais da partida. Mas a verdade é que esse time está todos nas costas do Tiago Splitter, ele é o pilar que sustenta todos os outros talentos e sem ele o Brasil não tem chance contra ninguém.

O primeiro motivo pra isso é que ele é nosso melhor defensor de garrafão. O segundo é que a maioria dos times do campeonato não tem um pivô bom o bastante para marcá-lo, e o terceiro e decisivo é que o Brasil não tem banco de reserva. Entraremos nesse assunto mais a fundo depois, mas a verdade é que hoje foi um jogo difícil e o Moncho Monsalve só confiou no Marcelinho Machado e no Guilherme, este último inclusive para entrar no lugar do Splitter quando ele estava com problemas de falta. A maior prova possível de que o Moncho não confia em nenhum pivô reserva.

Usar o Guilherme na posição 3 já não é grande maravilha, mas não compromete. Usar na posição 4 é pedir pra ele ser inútil, parece técnico de futebol colocando volante de lateral só pra queimar o coitado com a torcida. Com o Nenê ou qualquer outro bom pivô que soubesse jogar de costas para a cesta, o Brasil poderia descansar o Splitter e ainda ter um bom ataque que começasse jogando a bola no pivô.

Destaque também para a paciência do time do Brasil. Durante alguns instantes do terceiro quarto a República Dominicana parecia melhor e a seleção não sabia o que fazer, começou a bater o desespero e aqueles arremessos imbecis apareceram. Até o Varejão arremessou uma bola horrível de três que parecia a confirmação da derrota. Mas algumas boas defesas depois e o time retomou a calma.

Foi só o primeiro jogo e contra um time desorganizado e que perdeu Horford e Villanueva com cinco faltas no período derradeiro, é verdade. Mas deu pra ver mais coisas boas do que ruins na seleção brasileira. Com Splitter jogando bem e sem problemas de falta esse time vai longe no torneio.

Aqui tem a ficha do jogo e abaixo os melhores momentos do jogo em um vídeo do BasketBrasil:



Novos links
Dêem uma olhada na nossa barra lateral. Lá embaixo, após os links de blogs gringos de basquete, colocamos links para blogs de outros esportes. São blogs de tênis, futebol, Fórmula 1 e futebol americano. Já que sempre usamos referências a outros esportes aqui, acho que vale a divulgação, tem coisa boa por lá.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Fuçando no lixão

Esse gesto, na língua para surdos, significa "Eu fedo"


Tentando salvar umas verdinhas, essa é a época do ano em que os times mandam um punhado de jogadores para o olho da rua. Equipes em busca das últimas peças para compor seus elencos para os playoffs costumam, então, dar uma olhada no que foi jogado fora, no que não deu para aproveitar, e ver se há algum resto ali que dê para usar de alguma forma. Em geral é um trabalho degradante de revirar o lixo, melecar as mãos, deparar-se com um ou outro Kwame Brown no meio da sujeira e ficar enojado, mas volta e meia tem alguma coisa que vale a pena. Vamos, então, dar uma olhada no lixão e ver o que alguns times optaram recentemente por levar para casa!


Sem Amar'e Stoudemire, que cedo ou tarde ainda vai ter que usar um olho de vidro, o Suns definitivamente sente falta de uma presença física no garrafão e é obrigado a colocar, ao lado de Shaq, jogadores mais mirrados como Grant Hill ou Matt Barnes. No meio de um monte de papel higiênico usado, então, o Suns encontrou um pouco de estrume descartado pelo Nets: trata-se de Stromile Swift.

Não dá pra acreditar que mais alguém tenha coragem de oferecer um contrato para ele, é assustador. Assim como tem gente que passa a vida inteira ainda acreditando no Kwame Brown, no Isiah Thomas e no Gustavo Nery, parece que nunca se esgota a esperança de que o Swift torne-se finalmente um bom jogador. É sempre aquele velho caso do apreço pelo potencial, e basta dar uma olhada no Stromile para perceber que todas as ferramentes físicas estão lá, de verdade. Toda temporada parecia que ele finalmente deslancharia, e as enterradas violentas e pontes-aéreas sensacionais pareciam apenas uma prévia de algo que se tornaria a norma, não a exceção. Foram anos e anos fedendo no Grizzlies, sempre com enterradas incríveis e partidas medíocres, mas uma hora ele iria jogar pra valer, afinal é muito novo, muito inexperiente. Até que o Grizzlies aparentemente se encheu e o contrato acabou.

Meu Houston Rockets, então, precisava desesperadamente de uma presença física para jogar ao lado de Yao Ming, e adivinha quem estava dando sopa? Confesso que entrei na empolgação, eu era jovem, ingênuo e ainda achava que a Sandy era virgem, então vibrei com a contratação do Stromile Swift na certeza de que ele tinha muito potencial e seria a peça que complementaria perfeitamente o jogo mais técnico e comedido do pivô chinês.

Bem, com o Swift na equipe o Houston começou a aparecer em vários Top 10 de jogadas semanais, com enterradas monstruosas seguidas sempre daquele sinal de "sou da paz" que ficou característico. Quem acompanha pelo YouTube, então, acha que está tudo ótimo, mas quem acompanha de perto nunca viu um jogador tão inútil em quadra. Ele é a versão jogador de basquete da Angela Bismarck cantando, e sempre com esse papo de que "está se aperfeiçoando", de que "está aprendendo". Coisa nenhuma, em matéria de técnica ele é o mesmo jogador desde seu primeiro minuto na NBA.

Meu Rockets se livrou rapidinho dele, junto do novato Rudy Gay, em troca do defensor e pau-pra-toda-obra Shane Battier, e embora eu não queira falar sobre essa troca (imagina só ter o Rudy Gay nesse time ao invés do T-Mac zumbi!) fiquei bem feliz na época por ter me livrado do Swift. Na verdade, ainda fico feliz hoje, talvez até tenha valido a pena. O engraçado é que a troca mandou o coitado justamente de volta para o Grizzlies, o que é engraçado porque supostamente eles deveriam saber a merda que estavam recebendo. Quando a palavra "potencial" está em jogo, parece que os times têm memória curta, mas é claro que não deu certo.

Talvez no Nets, então, com Jason Kidd, ele pudesse se tornar o novo Kenyon Martin, aquele cara que fede mas tem os dotes físicos para pegar ponte-aérea atrás de ponte-aérea e até parecer bom. Até o Mikki Moore fez a carreira dele assim, eu também poderia, mas o Stro não conseguiu. Afundou no banco e deixou até de ser estrela de YouTube (embora seu currículo por lá seja extenso, vale muito a pena conferir). Já faz mais de 8 anos que ele é "jovem e cheio de potencial", acho que chega uma hora em que você olha para a cara do sujeito e percebe que ele tem rugas e uns cabelos brancos, fica meio ridículo. Ainda assim, o Suns deve achar que ainda vale uma tentativa.

Ironicamente, se eu tivesse que imaginar ele dando certo num lugar, seria no Suns. O que não quer dizer nada, claro, porque se eu tivesse que imaginando ele dando certo com algum jogador seria com o Kidd, e nós sabemos que não funcionou. Até poderia dizer que o "Stro Show" (apelido cheio de força nominal, aliás) vai ajudar de leve o Suns, enterrar aqui e ali e tapar uns buracos. Mas eu é que não cometo o mesmo erro duas vezes, vai ser um fracasso retumbante assim como o Kwame Brown foi (ou está sendo?) em sua nova chance com o Pistons. Quem fede, fede.


Outro jogador em quem eu botei fé no Rockets foi o Luther Head. Apesar da inconsistência, dá para ver nele o potencial para se tornar um pontuador respeitado e um bom atirador da linha de três pontos. Por alguns minutos, eu até conseguia imaginar meu Houston reconstruindo o elenco em cima dele e do Yao, o que hoje mataria qualquer um de dar risada. Baixo demais, péssimo defensor, incapaz de armar o jogo, não existe posição em que Luther Head se encaixe. Pior ainda é sua mecânica pouco ortodoxa de arremesso, em que ele se taca para frente na hora de arremessar mesmo quando está livre (uma versão inversa do Ben Wallace, que sempre se taca para trás mesmo quando não faz sentido) e parece lhe exigir muito fisicamente. Depois de um punhado de arremessos ele está exausto e pequenas variações na mecânica já causam erros grosseiros. Definitivamente, nem um pouco confiável para alguém que só faria carreira se marcasse uns 20 pontos por jogo. Considere ele uma versão do Ben Gordon mas com as pilhas terminando antes do quarto período. Bem inútil, não é mesmo? Por isso, o Rockets mandou o sujeito embora, economizou uma grana, e agora o Miami Heat acaba de assiná-lo. Os arremessos de três pontos são uma clara deficiência da equipe, que acaba dependendo demais do Daequan Cook, e o Luther Head pode ajudar um pouco. Com o Wade armando o jogo, o Head pode jogar na posição 1 e não comprometer a equipe na armação, o que parece uma boa idéia. No meio do lixo, até que o Heat saiu no lucro. O único problema é que o empresário do Luther Head recusou outras propostas porque procurava garantias de que seu cliente iria ter minutos consideráveis em quadra, o que sempre é uma dor de cabeça: se ele sentar nos playoffs (diabos, o Heat vai pros playoffs!), será que vai arrumar encrenca com a comissão técnica?


Melhor ainda se saiu o Cavs, que recuperou o Joe Smith, mandado embora pelo time-outrora-conhecido-como-Sonics. Há pouco tempo atrás, ainda no Bulls, por diversas vezes ele era o melhor jogador em quadra com seu arremesso de meia distância consistente e bastante técnica no garrafão. Quando foi trocado para Cleveland, trouxe poder ofensivo para o banco de reservas e ganhou seu espaço. Ele é praticamente a antítese do Ben Wallace ou do Anderson Varejão, por ser meio mole mas versátil na parte ofensiva. Sem Ben Wallace e desesperado por alguém de mais de 20 centímetros no garrafão capaz de levantar os braços, o Joe Smith caiu dos céus. Além do mais, já tendo passado um bom tempo com o time, não terá que aprender os esquemas táticos (até porque eles não existem mesmo) e já tem certa química com o resto do elenco, tanto dentro quanto fora das quadras. Parece uma adição pequena, mas o Cavs precisava da possibilidade de ter um reserva capaz de assumir a carga ofensiva do Ilgauskas quando ele vai pro banco, já que Varejão e o novato JJ Hickson acham que "arremesso" é coisa de baseball. O banco passa a ser mais versátil, completo, e o Ben Wallace nem faz tanta falta assim, pra ser bem sincero. Não há nada que ele acrescente à equipe que não esteja lá em outras formas, e por isso acho que o Joe Smith será muito mais importante - e eficiente.


Outro jogador que o Cavs tentou contratar foi o Drew Gooden. Ele também já passou um bom tempo no Cavs e se encaixaria muito bem naquilo de que o time precisa: rebotes e arremessos de meia distância. Não conte com o Gooden para trabalhar ofensivamente dentro do garrafão, mas para efetuar o papel do Ilgauskas, ou seja, corta-luz na cabeça do garrafão, uma ameaça constante nos arremessos se deixado livre e rebotes ofensivos, o ala seria perfeito. Aliás, ele é inclusive bom demais para estar aí no meio de tanto lixo, sem emprego, bebendo nos bares e dizendo pra mulher que estava procurando trabalho. Acontece que o Kings, como deu a entender nas últimas trocas, parece cada vez mais interessado em deixar a pirralhada, especialmente o surpreendente Jason Thompson e o pivô-que-chuta-de-três Spencer Hawes, suar as pitangas. Seria bastante razoável deixar o Gooden no time até o final da temporada e tentar assiná-lo por menos grana então, quando o contrato acabar, mas acho que o Kings pensou duas coisas: primeiro, que o Gooden iria querer dar o fora dali bem rapidinho; segundo, que o Gooden tem mais de 12 anos. É uma abordagem audaciosa mas respeitável: "já que a gente está fedendo, então vamos feder de verdade e ter só meninada por aqui". Admiro o núcleo jovem do Kings, a limpeza que eles estão fazendo nas finanças é incrível, e agora um time que parecia fadado a ser mediano pela próxima década tem espaço para nascer de novo. É triste ver o Kings, que foi um dos times mais legais dos últimos tempos, lascado e nas últimas colocações? É claro que é, mas dá para ver alguma esperança. Assim, lá se foi o Gooden para a sarjeta.

Acontece que o Drew Gooden, por ser bom demais para o resto do estrume, está sendo abordado por muitas e muitas equipes. Além do Cavs, estão na briga o Mavs (que precisa de toda ajuda que puder arrumar para se fincar à oitava vaga para os playoffs) e o Spurs, que parece ser o favorito. Vários lugares, inclusive, dão como certa a ida de Gooden para San Antonio, e faz bastante sentido. O Spurs sempre faz estragos com uma dupla de garrafão composta por Duncan e mais algum bípede, basta haver algum pouco talento. Nessa temporada, com a contusão do Frabricio Oberto, o outro bípede ao lado de Duncan é o Matt Bonner, obviamente a maior mudança no Spurs desde que o Tim Duncan esboçou um sorriso uns 4 anos atrás. Em geral, o complemento no garrafão deles é sempre alguém para pegar rebotes, marcar duro e abusar no corta-luz, coisas em que Matt Bonner deixa muito a desejar. Ao invés disso, cria um perigo na linha de três pontos, alarga a defesa retirando marcadores do garrafão e converte seus arremessos quando livre. Parece ótimo, tem funcionado bem, mas é obviamente um desvio perigoso da tática que o Spurs emprega de modo tão eficaz na última década. Seria legal ter o Matt Bonner no banco para utilizar essa formação nos jogos em que for necessária, mas é preciso alguém capaz de dar umas cotoveladas e pegar uns rebotes embaixo da cesta. O Drew Gooden parece se encaixar muito bem dentro dessa necessidade e, quando fecho meus olhos, consigo vê-lo nitidamente acostumado com a parte tática da equipe e recebendo um anel de campeão no uniforme do Spurs. Também consigo ver a Mara Maravilha pelada puxando meu pé de noite, e não consigo saber o que me assusta mais; provavelmente o Gooden campeão. Malditos anos ímpares em que o Spurs sempre ganha tudo!

Faz sentido para ambas as partes e é bem possível que o Gooden, se ganhar um anel e tiver minutos consideráveis, continue sua carreira no Spurs pelas próximas temporadas. Pior do que ver o San Antonio ainda mais forte, no entanto, seria a situação ainda mais complicada para o nosso Tiago Splitter conseguir um espaço na NBA. É culpa do Kings, custava segurar o Gooden um pouco mais? Por que todo mundo demite jogadores-lixo mas deixa os melhores, de graça, para o Spurs e para o Celtics? É nessa hora em que aparecem os times grandes de verdade, em que todos os jogadores querem estar, e os times mequetrefes, dos quais todos os jogadores querem fugir. O Clippers, por exemplo, deve acorrentar seus jogadores nas camas para que não escapem durante a noite, enquanto o Spurs sempre consegue melhorar o elenco enquanto boceja, sem que nenhuma gota de suor tenha que cair para isso. Mundo injusto.