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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Pai rico, pai pobre

"Essa cidade é pequena demais para nós dois", aí os dois foram embora.

Comentamos bastante aqui sobre a saída do Jerry Sloan do Jazz. O técnico já teve desentendimentos com inúmeros jogadores durante sua longa carreira, bateu cabeça com o Deron Williams nos últimos meses, e dessa vez resolveu dar o fora, estava cansado. Não acho, de verdade, que o Deron tenha feito algo tão horripilante a ponto de tirar do time um técnico que passou metade da sua vida discutindo com armadores, mas a torcida de Utah não concorda comigo. Nas três partidas sem Jerry Sloan, três derrotas para o Jazz, Deron Williams foi bastante vaiado pelos torcedores. Defendemos aqui que o Sloan passou tempo demais no comando do time, sempre nesse limbo em que o time vai para os playoffs mas não tem chance de títulos, e de que era hora de mudar. Por mais difícil que seja, todos os torcedores precisam entender que o objetivo é ganhar títulos e que, volta e meia, é preciso abortar um time bom simplesmente porque ele não será bom o bastante.

Aparentemente, o Jazz estava realmente disposto a mudar as coisas. Negociou silenciosamente possíveis cenários de troca pelo Deron Williams ainda enquanto ele batia cabeça com o Jerry Sloan. Após a saída do técnico, no entanto, as negociações não pararam. Até que, sem nenhum aviso, Deron acabou de ser mandado para o Nets em troca de Devin Harris e Derrick Favors, além de duas escolhas de primeira rodada (uma do Nets, outra do Warriors) e 3 milhões de verdinhas. Definitivamente a negociação já está rolando há muito tempo, apenas aguardando que o Carmelo não fosse para o Nets (aliás, leia tudo sobre a troca do Carmelo para o Knicks em nosso post aqui), mas ninguém sabia dela. Não é legal que o mundo da boataria seja a maior perda de tempo do planeta?

Como todas as trocas do Jazz, temos sempre que levar em conta primeiro os motivos financeiros. O Jazz é o time que mandou Ronnie Brewer e Eric Maynor em trocas por nada apenas para liberar espaço salarial porque Utah é um mercado pequeno e limitado. O contrato do Deron Williams era de gordos 14 milhões, e seria de 16 milhões na temporada que vem, última do seu contrato. No meio desse ano, Deron seria liberado para assinar uma extensão se quisesse, e os boatos já começaram a aparecer de que ele não assinaria a extensão para manter aberta a possibilidade de jogar no Knicks, com Carmelo e Amar'e, caso o Jazz não tivesse chances de título até lá. Bem, o time não tinha muitas chances antes com Sloan e Carlos Boozer, está caindo pela tabela sem os dois e tem problemas financeiros, limitando muito as possibilidades de contratações. Na cabeça dos engravatados do Jazz, o Deron ganharia 16 milhões na temporada que vem (aquela que pode ser encurtada por uma greve e que vai piorar a situação financeira das franquias) apenas para sair da equipe na temporada seguinte, em troca de nada - ou forçando mais uma dessas trocas absurdas, como a do Carmelo. Caso o Deron ficasse no time, os engravatados precisariam decidir se vale a pena extender um contrato e pagar quase 20 milhões de dólares num mercado minúsculo para o armador de um time que, com novo técnico e sem padrão de jogo, precisa pensar em algum tipo de reconstrução. Pensando no bolso, na provável greve da temporada que vem, na situação do Carmelo e em perder uma estrela para o Knicks, o Jazz resolveu fazer a troca agora. Aproveitou as negociações provindas do desentimento do Sloan com o armador, aproveitou que o Nets estava disposto a abrir mão de muita coisa para não sair de mãos vazias depois de perder Carmelo, e aproveitou que a saida do Jerry Sloan é uma boa hora para reconstruir a equipe e pensar na pirralhada. Pirralhada barata, de preferência. Com o contrato de 17 milhões do Kirilenko, que vira farofa ao fim dessa temporada, e escolhas de draft do Nets e do Warriors, o Jazz pode respirar em paz com dinheiro nos bolsos e crianças para criar. O time não vai ser relevante por um bom tempo, mas vai ser uma reconstrução divertida de acompanhar.

Derrick Favors andou sendo muito criticado pelo seu começo de carreira no Nets e esteve em todas as propostas de troca que o time fez por Carmelo Anthony. Favors foi colocado em tantas propostas que não dava mais pra tentar enganar o rapaz e dizer que ele estava nos planos do Nets, ele tinha que ser trocado obrigatoriamente, não havia clima para ele ficar. Para o Jazz, foi uma boa. O rapaz é um excelente defensor, mas está tendo dificuldades de se acostumar com a NBA, comete muitas faltas e ainda não tem o físico necessário para defender em alto nível. No ataque, ainda falta muito para conseguir contribuir com regularidade. Mas dá pra ver que isso é apenas questão de tempo. Favors é um excelente reboteiro, se posiciona bem, é esforçado na defesa e não tenta demais no ataque. Em um ou dois anos, pode ser um grande jogador se tiver os minutos necessários para evoluir. Curiosamente, o Nets - mesmo fedendo e em total reconstrução - não estava disposto a lhe dar esses minutos, talvez preocupado em impressionar Carmelo ou em fugir do pior recorde do Leste de novo. No Jazz, Favors vai bater cabeça com Al Jefferson e Paul Millsap, mas talvez funcione se ele for reserva dos dois jogadores (e o Okur for mandando pra rua, como se cogita), assim como acontecia com o trio Boozer, Okur e Millsap. Na pior das hipóteses, o Jazz tem agora três jogadores de garrafão jovens, talentosos e com potencial pra burro para fazer alguma troca. A única certeza é que o Favors fica: por estar no contrato de novato, ele é o mais barato.

A única coisa estranha para o Jazz nessa troca é colocar a armação do time nas mãos do Devin Harris. Ele tem mais 3 anos de contrato, ganha mais de 8 milhões nas três temporadas, e está longe de ser um líder como Deron. É um dos armadores mais rápidos da NBA, chuta traseiros, mas sua ênfase é em pontuar - e se machucar. Como os grandalhões do Jazz vão reagir a um armador menos disposto a fazer os pick-and-rolls, marca registrada do time por décadas? Será preciso uma mudança completa no esquema tático, mas talvez funcione. Al Jefferson e Millsap mostraram nessa temporada, ao contrário do que se pensava, que rendem muito melhor embaixo da cesta do que nos arremessos de média distância como fazia Carlos Boozer. Talvez as infiltrações de Harris abram espaço para Millsap e Al jogarem bem próximos ao aro, finalizando de frente para a cesta, mas será uma mudança drástica de um esquema de jogo que está em vigor há uns 20 anos. Ou seja, finalmente o Jazz vai ser um time realmente diferente, com um armador muito distinto de todos os outros que jogaram sob comando do Jerry Sloan. Pode demorar, mas as mudanças vão fazer bem para a equipe e as trocas forçam o time a se repensar por completo, evitando o risco de que a mudança de técnico fosse apenas aparente, com o mesmo modelo tático sendo mantido pelo técnico substituto. Por um lado foi um modo de se obrigar a arriscar, a tentar algo novo. Por outro, foi uma mudança bastante controlada e medrosa de quem não quer ficar se preocupando com finanças nos próximos anos.

O Nets, por sua vez, só se preocupa é justamente com os próximos anos. Desde que comprou o time, o milionário russo Mikhail Prokhorov não fez outra coisa além de tentar garantir que o Nets tivesse estrelas relevantes ao se mudar para o Brooklyn daqui a 2 anos. A primeira intenção era ter Carmelo Anthony e o time tentou dar as calças por ele, o único jogador intocável era o Brook Lopez, porque pivôs são raros mesmo que o talento dele de pegar rebotes tenha sido roubado pelos Monstars do Space Jam. Como o Knicks fez de tudo para tirar o Carmelo do Nets e conseguiu porque, no fundo, o Carmelo queria mesmo era jogar com Amar'e, o milionário russo foi tentar outra estrela. O Deron Williams foi uma excelente oportunidade de mandar todas as escolhas de draft e o Derrick Favors que o Nets estava juntando há meses para o Carmelo. Parando pra pensar, o Nets provavelmente seria mais inteligente se mantivesse as escolhas e reconstruísse esse time aos poucos, mas é tudo uma questão de mercado. O time precisa chegar com alguma estrela no Brooklyn para vender ingressos e camisetas, mesmo que não tenha chances de titulo. A reconstrução foi agora colocada um pouco de lado em nome de Deron Williams, tantas vezes ovacionado como um dos melhores armadores da liga. O Favors era novinho e cheio de potencial, seria uma ótima para o futuro, mas Deron e Brook Lopez devem fazer uma dupla mais eficiente desde o primeiro dia - e devem vender mais ingressos e criar barulho, agitação, interesse. É claro que o Deron não ficou feliz em ir para o Nets, ele tinha esperanças de ir longe com o Jazz, adorava Utah por ser um lugar calmo e poder se dedicar à família, e estava flertando com a ideia de ir para o Knicks jogar com os amiguinhos. Agora vai para o primo pobre de New York jogar por um time de merda sem nenhuma chance de playoff nem no Leste, parece castigo! Mas esse descontentamento vai durar pouco: Mikhail não poupou esforços por uma estrela até agora, voou para a casa do LeBron para tentar convencê-lo, se encontrou com o Carmelo e fez trocentas promessas, e agora fará tudo de novo pelo Deron. O milionário vai prometer um elenco de apoio, vai pagar as taxas por extrapolar o teto salarial, vai convencer gente a ir jogar lá usando o nome do Deron, vai fazer campanhas de marketing violentas e tornar o Deron um dos jogadores mais famosos da NBA. O armador vai sair de um time que se livrava de gente boa porque não podia pagar e vai cair num lugar em que todo mundo vai querer jogar porque dinheiro não é um problema. Vai ser ovacionado como um dos maiores da NBA porque todas as oportunidades lhe serão dadas e todas as câmeras estarão apontadas. É outra realidade, e não há vontade de vida calma que vá resistir a isso. Deron agora vai poder fazer o que quiser com os jogadores que quiser,sem bater boca com o Jerry Sloan ou se preocupar com elenco de apoio e finanças. O Nets paparicou o primeiro jogador importante, que era o mais difícil. Agora vai atrás dos outros, nos próximos dois anos, mas deve ser tudo muito mais fácil - nos mesmos moldes de Celtics, Heat e Knicks.

A primeira parte da construção do elenco de apoio em volta do Deron Williams veio hoje mesmo. O Nets mandou o contrato expirante do Troy Murphy e uma escolha de draft de segunda rodada em troca de outros dois contratos expirantes: Dan Gadzuric e Brandan Wright. O primeiro é um pivô reserva para quebrar um galho na defesa, até melhor do que muita gente pensa porque comete poucas faltas e tem bom tempo de bola nos tocos. O segundo, Brandan Wright, pode jogar nas duas posições de ala e foi draftado com muita expectativa, mas ficou preso como refém do maluco do Don Nelson. Mesmo com a saída do técnico, o ala não teve minutos, se contundiu o tempo inteiro, mas ainda se espera que ele possa brilhar com a situação certa e os minutos necessários. Com a saída do Favors, o titular ao lado de Brook Lopez deve ser o Kris Humphries, que passou a jogar muito bem desde que começou a dar uns amassos na Kim Kardashian (vai ver o talento roubado do Brook Lopez foi pra ele). Mas o time precisa de um reserva, e Brandan Wright vai ter esses minutos à disposição para tentar mostrar alguma evolução, qualquer que seja. Já é um começo e garante que o time não fique muito esburacado com a chegada do Deron Williams. Para o Warriors, apenas foi uma questão de abrir espaço salarial se livrando de gente pouco usada, devem até mesmo mandar o Troy Murphy embora antes dele sequer pisar no ginásio.

Essas trocas foram uma boa demonstração de como funcionam os pequenos e os grandes mercados da NBA. O Nets, que se aproxima cada vez mais de um grande mercado em New York, só precisa de uma estrela para então começar a assinar cheques, pagar taxas e montar um bom elenco ao seu redor com veteranos e mais estrelas querendo ganhar títulos. É o que tenta também o Knicks com Carmelo, e o Nets se esforça para não ficar muito atrás da franquia vizinha. Já o Jazz precisa constantemente monitorar os gastos, cortar jogadores e salários, e agora finalmente aceita uma mudança grande para tentar criar um time competitivo e mais barato. Mas, por um tempo, vai ser hora de focar na pirralhada e nas escolhas de draft, e esperar a crise e a ameaça de greve ir embora. Numa liga movida pelo dinheiro, na hora da crise econômica apenas alguns times podem respirar tranquilos. Os outros precisam humildemente ficar um pouco de escanteio.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um fim necessário

As maiores mãos do mundo agora acenam adeus


Foram 23 anos como técnico do Jazz. É quase o dobro da idade do Justin Bieber, é mais do que a idade da maioria dos nossos leitores, é mais do que a idade da maioria dos novatos que entram atualmente na NBA. Quando começou a treinar o Jazz, a Emma Watson sequer tinha nascido, e convenhamos que um mundo sem a Emma Watson não faz nenhum sentido. Faz tanto tempo que o Jerry Sloan estava no comando do Jazz que chegamos a pensar que era uma monarquia, que o cargo só seria abandonado quando ele morresse e seria assumido pelo seu filho, herdeiro do trono. Por isso tem gente dizendo que é a morte de uma era, o fim dos tempos, o apocalipse. Por ser o técnico que passou mais tempo em uma equipe em toda a história dos esportes americanos, imaginar Jerry Sloan fora do Jazz é sinal de horror para muita gente. Mas foram 23 anos, gente. Uma hora, tudo na vida dá no saco.

Jerry Sloan foi um gênio, daqueles que a gente usa para provar que prêmios e títulos são bobagem. Nunca foi campeão da NBA e nunca ganhou um prêmio de técnico do ano (se tivesse ganhado teria sido vítima da maldição e demitido no ano seguinte), mas sua carreira como técnico é fantástica. Comandou o Jazz em duas finais de NBA contra o Jordan, em 97 e 98, e só perdeu porque usar o Jordan é apelação. Treinou um dos melhores times de todos os tempos, com Malone e Stockton. É o terceiro técnico com mais vitórias na história da NBA. E o mais impressionante é a consistência: foram 13 temporadas com mais de 50 vitórias, e apenas 3 temporadas em que seu time não ganhou pelo menos metade dos jogos. Com tudo isso, foi parar no Hall da Fama mesmo estando ainda em atividade. Nenhum título, nenhum prêmio, mas ele sempre esteve lá treinando times incríveis e vencedores mesmo quando o elenco não ajudava, as contusões se acumulavam e os donos da equipe mandavam bons jogadores ou escolhas de draft embora para economizar dinheiro. Lembro de um Jazz horrível, sem nenhum jogador decente, que tinha o porcaria do Raul Lopez na armação e mesmo assim ganhou 42 jogos com atuações incríveis do armador. Lembro do Raja Bell ser longamente improvisado de armador e mesmo assim o time funcionar direitinho. Na época eu dizia que um macaco de circo seria um armador genial no esquema do Jerry Sloan, desde que ele conseguisse aturar o técnico.

Porque o Sloan é um gênio velhinho e todos nós sabemos que os gênios e os velhos são muito chatos. O Sloan obriga os jogadores a colocar a camiseta por dentro do calção, proíbe o uso de faixas na cabeça nos jogos e de celulares nas viagens da equipe. Quem entra em quadra pelo Sloan é quem se esforça mais, quem treina mais e quem obedece mais. Muitos jogadores talentosos como Andrei Kirilenko já mofaram no banco de reservas enquanto Matt Harpring, sem nenhum talento, dava cabeçadas em outros jogadores. Talento sempre foi secundário perto do esforço, o Jerry Sloan vem de uma infãncia difícil e valoriza dedicação e força de vontade acima de tudo. Por isso seus times são tão chatos de enfrentar, lutam até o final e mantêm o plano de jogo. No começo dessa temporada, o Jazz cansou de vencer jogos no final depois de perder por mais de 20 pontos. Coloquem o elenco do Cavs nas mãos do Jerry Sloan e eles não perderão 26 partidas seguidas porque antes disso acontecer terão matado a facadas os adversários. Tudo isso, claro, apoiado por um estilo de jogo rígido e eficiente, baseado em bandejas, pick-and-rolls e pouquíssimos arremessos de três, com pouca frirula e nenhum arremesso forçado. Quem sai do plano vai pro banco.

Com esse tipo de rigidez, é bem óbvio que o Jerry Sloan arrumou encrenca com muitos jogadores ao longo de seus 23 anos de Utah Jazz. As histórias podem não estar aí, podem não ter ido parar na Contigo!, mas os confrontos aconteceram. Teve muito jogador descontente no banco, muita bronca por cagada feita em quadra, muito jogador querendo fazer o que bem entendesse e tomando surra de chibata. Por isso, os boatos de que o Sloan resolveu abandonar o Jazz por causa das brigas com o Deron Williams me soam completamete absurdos.

Na partida contra o Bulls, na quarta-feira, Deron Williams desobedeceu o técnico em quadra e os dois bateram boca no vestiário, com gente dizendo que tiveram que segurar os dois pra não sair porrada (já pensou um soco das mãos gigantescas do Jerry Sloan?). O Deron disse que discutiram mas que não foi nada de mais, que os dois já tinham brigado mais feio antes e que outros jogadores também já tinham confrontado o técnico com mais violência antes. Ou seja, mais uma discussão na lista de bilhares de um técnico severo. Normal, quando um técnico quer estabelecer uma filosofia desse tipo em uma equipe, proibindo até coisas idiotas como faixa na cabeça, está pronto para enfrentar resistência, confronto e insatisfação. Sloan já lidou com isso por 23 anos, não há razão para imaginar que a discussão com Deron Williams tenha sido tão pior assim. Pelo jeito, ele só está de saco cheio. Sem Boozer, o Jazz tem dificuldades em estabelecer um jogo de meia distância e o pick-and-roll. Está brigando pelas últimas vagas do Oeste, perdendo jogos que deveria ganhar, cheio de altos e baixos nos últimos anos. E o Deron Williams é competitivo, se acha fodão, e quer ter mais liberdade nas mãos. O Sloan juntou tudo isso num pacote, viu que estava passando Big Brother na tevê, e resolveu tirar férias. É justo.

Realmente, Deron Williams é um armador bom o bastante para fazer mais em quadra do que faz atualmente pelo Jazz. Nas partidas em que o Jazz virou o jogo no segundo tempo durante essa temporada, todas foram mérito de um surto criativo do Deron, de ele colocar a bola debaixo do braço e resolver sozinho - ou seja, foram vitórias da desobediência. Jerry Sloan é um dos melhores técnicos que já existiram, é um gênio e está no Hall da Fama antes mesmo de se aposentar. Mas não é por isso que seu estilo não pode ser questionado, que cada situação não deve ser analisada individualmente. Sloan é o técnico ideal para comandar esse Jazz atual, para ensinar Deron Williams, trazer estabilidade a esse time? Talvez não - e isso não é nenhuma heresia. Ficar no time por 23 anos tornou proibido discutir se seria melhor o Sloan tomar outros rumos, e todos os times deveriam discutir continuamente se mudanças são ou não necessárias. Sem o Boozer em quadra e com o jogo de meia distância de Millsap e Al Jefferson tão abaixo do que se esperava, talvez fosse hora de mudar os planos de jogo e deixar Deron arremessar mais, jogar de costas para a cesta, usar o corpo contra os armadores adversários que são sempre menores do que ele. Talvez o time funcione melhor com mais liberdade, usando a criatividade do Deron, talvez o time precise da mudança de ares, de celular nos ônibus, da chance de provar que podem vencer mesmo sem o técnico Hall da Fama. Ou talvez o time simplesmente piore e desande de vez sem a tutela do melhor técnico de sua história. De todo modo, o importante é que agora o Jazz pode debater isso abertamente, pode escolher se mantém o mesmo rumo ou se toma caminhos diferentes. Com Sloan, nada era questionado. Agora, o Jazz pode pensar, matutar e tomar decisões. Por melhor que fosse Jerry Sloan, acho essa rigidez um preço alto demais a se pagar, e o time já estava há tempos demais nesse limbo eterno de se classificar para os playoffs com certa facilidade mas não ter nenhuma chance de título. Agora o time vai ser mais maleável e, quem sabe, simplesmente feder. Isso por si só já seria o bastante para injetar talento novo na equipe e romper o atual ciclo.

Os leitores do Jazz, que adoram tacar cocô na minha cabeça e sabem onde eu moro, vão dizer que eu sou herege. Na verdade sou um grande fã do Jerry Sloan e daquilo que ele faz com seus armadores - o Stockton é, para mim, um dos melhores de todos os tempos e um dos meus três jogadores favoritos deste universo. Ainda assim, Sloan vem de outros tempos. Enfrenta uma nova geração de treinadores nerds e carregados de estatísticas que não perdem tempo proibindo faixinha ou dando eletrochoque nos armadores que não seguirem tudo à risca. São treinadores novos que podem perder seus postos a qualquer momento, gerando mudanças, contrastes, evoluções. Sem isso, os times ficariam estagnados. Jerry Sloan deixa saudade, fico feliz que ele já esteja no Hall da Fama, que ele seja reconhecido mesmo sem ter nenhum anel. Mas era hora de ir embora e deixar o Jazz respirar um pouco, se virar sem ele. Tenho a mesma opinião com o Los Angeles Lakers: por melhor que seja Phil Jackson, já atingimos um momento em que o Lakers precisa urgentemente respirar novos ares para que exista contraste, mudança e evolução. Os finais são tristes mas necessários. O Jazz vai se sair bem, mesmo sem as mãos gigantescas do Jerry Sloan dando tabefes na bunda de todo mundo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Mavericks e a zona

 Nowitzki conta para o árbitro que está chovendo


No sábado, o Dallas Mavericks teve o melhor primeiro quarto que eu já vi na vida - chegando a vencer por 29 a 4 em cima do coitadinho do Utah Jazz. O primeiro quarto espetacular não mostra apenas quão bom esse Mavs realmente é, ele nos mostra também - assim como nos mostra a reação do Jazz no mesmo jogo - a importância das defesas por zona na NBA.

Para quem não viu, os melhores momentos da partida estão aí abaixo:



Confesso que, já faz muito tempo, não sou um fã das movimentações ofensivas do Mavs. Nunca entendi times que preferem terminar contra-ataques com arremessos de três, e o ataque sempre se baseou muito na isolação de jogadores mesmo com um armador épico como o Jason Kidd em quadra. Eu reclamava bastante por aqui no blog de como o Kidd era mal utilizado, que ele ficava entediado num canto sendo obrigado a passar para o lado, e que o técnico Rick Carlisle, mesmo sendo um baita nerd de basquete, não tinha conseguido se utilizar da inteligência do armador. Mas as coisas no Mavs mudaram bastante no ataque graças a uma única mudança drástica - que foi do outro lado da quadra, na defesa.

Escrevi uns meses atrás sobre como tem gente por aí achando que a NBA não usa defesa por zona - o que é um engano enorme - mas que as regras da NBA incentivam os jogadores a infiltrarem, ao contrário do que acontece na FIBA, em que as bolas de três (e as defesas por zona) são regra absoluta. A NBA é a liga de basquete em que menos se arremessa de três no mundo, as regras privilegiam o jogador que ataca a cesta e procura o contato, as jogadas acabam tentando isolar jogadores para que infiltrem, e a defesa por zona tende a ser menos usada. Ainda assim, todos os times usam em vários momentos de todas as partidas com sucessos variados. Mas nenhum time usa a defesa por zona de modo integral, durante todos os minutos de todas as partidas, como o Dallas Mavericks tem feito nessa temporada.

Foi-se o tempo em que o Dallas, por não ter defesa ("D", como é carinhosamente chamada em inglês), era chamado de "Allas Mavericks". Assim que o Don Nelson deu o fora e o Avery Johnson assumiu a equipe, o Mavs deixou de ser uma peneira para se tornar uma defesa bastante respeitável. É claro que as deficiências individuais sempre comprometeram a defesa da equipe como um todo (faltava um pivô, Nowitzki tem problemas para defender o garrafão, Jason Kidd hoje em dia só defende as linhas de passe), mas nada que impedisse a defesa de ser sólida e muito distante daquele projeto-de-Warriors que era o Mavs da era Don Nelson.

Aquela mentalidade defensiva instaurada por Avery Johnson (que é muito melhor técnico do que lhe dão crédito) é o que tornou possível a defesa por zona em tempo integral de Rick Carlisle, um projeto ousado para a NBA atual. O Mavs inteiro se mostra comprometido com a defesa a um ponto tal que as deficiências individuais simplesmente desaparecem. Na prática, funciona assim: Jason Kidd marca individualmente o jogador que arma o jogo e que, portando, detém a bola. Mas dois jogadores marcam as laterais do jogador que arma o jogo, dois passos para trás do perímetro. As infiltrações ficam muito complicadas porque o jogador passa a enfrentar três marcadores, e os arremessos do perímetro são inibidos pela marcação homem-a-homem do armador do Mavs. O que sobra, claro, é um corredor paralelo à linha de fundo embaixo da cesta, em que os jogadores adversários podem transitar livremente e receber a bola sem dificuldade. Quando o Celtics usou essa mesma defesa nos playoffs passados para parar LeBron James, a solução para esse "corredor" era descer a porrada em quem recebesse a bola lá embaixo, forçando o Shaq a cobrar trocentos lances livres (já que ele fede no quesito). No caso do Mavs, a solução é, quem diria, Tyson Chandler. Todo mundo adora dizer que ele não sabe bem amarrar os próprios cadarços, mas a verdade é que ele nasceu para defesas por zona. Sua velocidade lateral garante a proteção dos dois lados do garrafão e torna o Mavericks um pesadelo de se enfrentar perto do aro. A solução contra a zona do Mavericks é amontoar o garrafão e ter que arremessar de fora, no espaço entre dois defensores - o que também significa, na prática, que existem dois defensores bem próximos tentando cheirar o seu pescoço. Contra o Jazz, a defesa por zona do Mavs anulou a movimentação ofensiva da equipe e pavimentou o caminho para o 29 a 4 inicial.

Mas o mais curioso, para mim, é como essa paixão pela defesa por zona no Mavs teve resultados positivos no ataque. O Mavs sempre gostou do jogo de perímetro, mas agora eles jogam em todas as partidas como se estivessem sempre enfrentando defesas por zona, procurando arremessar ao máximo. Isso porque usar a zona de modo tão eficiente também lhe ensina como vencê-la. O Mavs agora dá passes muito rápidos, gira a bola no perímetro, encontra os jogadores livres, e isola o mínimo possível. Dirk Nowitzki, contra o Jazz, acertou 10 de seus 12 arremessos, poderia ter arremessado mais umas 20 vezes, mas prefere não interromper a rotação da bola e premiar os companheiros de equipe livres. Quer aprender a vencer a defesa por zona do Mavs? Veja o Mavs jogar. Não dá pra um jogador sequer forçar arremessos, não dá pra centralizar o jogo, tem que colocar a bola nas mãos de todo mundo, passar o mais rápido possível, e sempre premiar com um arremesso o jogador que ficar sozinho contra a zona. Mesmo que ele seja ruim. Lembra de como a defesa por zona do Thunder deixava sempre o Artest livre na zona morta porque o arremesso dele fedia? Funcionou um jogo, funcionou dois, mas uma hora o Artest treinou e os arremessos caíram e o Lakers venceu a série. Simples assim.

Vale ressaltar, no entanto, que o Jazz conseguiu empatar o jogo com o Mavs no quarto período justamente porque passou a usar uma defesa por zona também. Foi antes de acabar o primeiro período ainda, uma defesa 3-2 focada no perímetro, e o Mavs teve problemas em estabelecer o ritmo que colocou no começo do jogo. Falta ainda para o Mavs um jogo forte de garrafão, uma jogada de segurança perto da cesta, e eu costumo insistir que é difícil levar a equipe a sério - especialmente nos playoffs - se a jogada de segurança, no final dos jogos, for um arremesso de longe, contestado, ou uma isolação para arremesso da cabeça do garrafão. É o mesmo motivo pelo qual não levo o Orlando Magic a sério (já que no final dos jogos não dá pra passar a bola para o Dwight Howard, que sofre a falta e não converte os lances livres). A dificuldade de jogar próximo à cesta ainda está lá no Mavs, mas a evolução do Nowitzki até mesmo nesse sentido é bem clara. O alemão não é apenas um dos melhores jogadores da NBA na atualidade, ele é um dos melhores de todos os tempos e ainda não atingiu seu ápice. Sua defesa melhora a cada dia, sua inteligência em defesas por zona só agora vem à tona, e seu ataque fica cada vez mais diversificado e agressivo próximo à cesta. Ele corre como se tivesse duas pernas esquerdas, mas e daí, seu jogo é eficiente e meu filho vai ter a mesma mecânica de arremesso que ele (vou fazer maratona de vídeos do Nowitzki e dar surra de chibata se ele arremessar como o Leandrinho, que parece um garçom segurando uma bandeja). Cada vez mais o Dirk sabe aproximar a bola do aro nas jogadas importantes e sua habilidade nos lances livres coloca medo nas defesas de descer o sarrafo. Mas ainda falta um bocado para que isso seja uma tendência na equipe e o Mavs consiga efetuar essas jogadas com naturalidade.

Me dou ao direito de ficar sempre com um pé atrás com o Mavericks enquanto o foco for exageradamente no perímetro, mas também me deu ao direito de babar no basquete que eles estão jogando agora. E babar muito, nível Alinne Moraes de babação. É a melhor defesa de se assistir em toda a NBA, e o ataque é muito mais inteligente do que foi nas últimas temporadas - o Jason Kidd até parece ser bem utilizado, o que é um milagre que já vale nossa admiração. Não fico mais tendo um aneurisma cerebram de ver o Kidd tendo que isolar o Shaw Marion de costas para a cesta ou o Caron Butler atrás da linha de três. Vencer 12 partidas seguidas não é acaso, nunca, e a contagem positiva só tende a continuar. Dia 20 de dezembro enfrentam o Heat, que vem de 8 vitórias seguidas, e vai ser legal ver como o ataque fraco de perímetro da equipe de Miami vai enfrentar a defesa por zona do Mavericks. Jogão, e o Mavs agora entra sempre como favorito. Não dá nunca pra respirar aliviado contra equipes com defesas fortes, e a fama do Mavs como melhor defesa por zona da NBA já está bem difundida. As equipes precisam se preparar para enfrentar a zona e acabam dando menos atenção para outros aspectos do jogo. O Mavs agora, finalmente, bota medo nos adversários - coisa que em geral nunca acontece em times sem jogadores físicos e que atacam pouco a cesta.

Mas voltando ao empate do Jazz contra o Mavs no finalzinho do jogo, vale também ressaltar que não foi apenas a defesa por zona que o Jazz colocou em prática a responsável por igualar o jogo. Grande parte da responsabilidade foi de Deron Williams colocando a bola debaixo do braço e resolvendo decidir sozinho. Parece que em todo começo de jogo do Jazz, o time acha que ainda tem o Carlos Boozer e começa com o jogo de corta-luz e arremessos de média distância com os jogadores de garrafão. As bolas não caem, a tática não funciona, e aí o Deron Williams começa a resolver sozinho. Infiltrando mais (já que é atualmente o armador mais forte da liga) cria espaços para os jogadores de garrafão; arremessando mais, a defesa vai para o perímetro e os jogadores de garrafão têm mais espaço para atuar. Paul Millsap e Al Jefferson possuem arremessos razoáveis, mas não são o Carlos Boozer, não molham as calças de alegria com um arremesso livre da cabeça do garrafão. Quanto mais ativo o Deron Williams é em quadra, mais Millsap e Al Jefferson podem ser ativos embaixo da cesta, onde realmente se destacam. Todas as reações históricas que o Jazz andou fazendo nessa temporada concordam nisso: o Jazz engrena quando o Deron Williams resolve ser o dono da budega.

Nesse ponto, aquela velha comparação do Deron Williams com o Chris Paul é praticamente impossível. Dia desses nos perguntaram no formspring o motivo do Chris Paul ser "passivo", não decidir os jogos sozinho como faz o Deron Williams. Pra começar, eles são jogadores muito diferentes. O Deron gosta mais de arremessar, é mais físico, procura o contato. O Chris Paul prefere a velocidade, os contra-ataques, é mais distribuidor. Mas, como sempre insistimos, a diferença sempre está ligada também aos companheiros de equipe, ao resto do elenco - nenhum jogador entra em quadra sozinho. Contra o Sixers, ontem, Chris Paul atacou a cesta (acertou 8 dos 12 arremessos, todas as duas bolas de 3 e os 7 lances livres que tentou) e passou mais tempo com a bola nas mãos - e a derrota foi vergonhosa. Na temporada passada, antes da contusão, o Chris Paul já estava pontuando como um maluco (chegou a ter mais de 30 pontos por jogo) na tentativa de evitar as derrotas constantes, e isso simplesmente não funciona. Parece absurdo, mas o elenco do Hornets é tão limitado que o único jeito de fazer com que saia de quadra com a vitória é minimizar as limitações e se aproveitar de suas qualidades. O Jazz é um timaço, o garrafão é forte, eles podem comer pelas beiradas, receber poucas bolas, viver de rebotes de ataque. O Hornets fede, se você não garantir que o Belinelli vai ter a bola naquele canto exato da quadra, ele não vai te render nada, bulhufas, não vai nem te pagar um refrigerante. O que o Chris Paul precisa fazer é garantir que todo mundo vai render ao máximo, porque ninguém ali naquele elenco é capaz de render sozinho, todo mundo é só carregador de piano. Eu avisei, quando o Trevor Ariza chegou em New Orleans, que ele não iria fazer nada sozinho, seria apenas mais um coadjuvante na equipe - isso porque eu o vi no meu Houston Rockets recebendo a responsa de criar o próprio arremesso e simplesmente sentando na calçada para chorar. Chris Paul tem que fazer todo o trabalho pesado para que os outros brilhem. Não vai dar certo sempre, mas é melhor do que o Chris Paul botar a bola debaixo do braço e assistir aos seus companheiros definhando até a morte, à espera da derrota certa.

Justamente por isso a defesa por zona também tem sido tão importante para o Hornets. O elenco limitado, quando se compromete com algo e joga em conjunto, consegue ser mais forte defensivamente. A defesa por zona exige trabalho coletivo, e maximiza a capacidade de Chris Paul de interceptar as linhas de passe e puxar contra-ataques. O problema é que a defesa por zona do Hornets é vulnerável no perímetro e, talvez por isso, só vem sendo usada nos minutos finais dos quartos (em geral nos 5 minutos finais do quarto perído), que é quando os times têm mais medo de arremessar (e motivo pelo qual o Mavericks precisa de jogadas embaixo da cesta para fechar os jogos, e o Magic depende tanto das infiltrações do Jameer Nelson). O que falta para o Hornets, claro, é encontrar uma consistência no ataque que permita ao time chegar aos minutos finais do quarto período com chances de vitória, algo que dificilmente acontecerá com o Chris Paul se focando apenas em pontuar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A importância do descanso

Robin Lopez só precisa de uma soneca


Muito tem se falado sobre os últimos jogos do Utah Jazz, as viradas contra Clippers, Heat, Magic, Hawks e Bobcats depois de estar perdendo no intervalo e por mais de 10 pontos em algum momento de todos esses jogos. Alguns nos Estados Unidos chegaram a dizer que foi uma das mais impressionantes sequências da história da NBA. Tá bom que depois perderam em casa do Thunder, mas tudo bem, acontece, diz a lenda na NBA que o primeiro jogo em casa depois de uma longa viagem é sempre um dos mais complicados. Ninguém explica porque, só é assim.

Eu concordo com quem chama de "os jogos mais impressionantes". Não são os melhores cinco jogos de um time, não são os cinco piores e nem os cinco mais bizarros, é simplesmente impressionante. Impressiona eles conseguirem perder por 10 pontos para o Clippers e para o Bobcats mesmo sendo um time bem superior, impressiona terem força para virar contra os três dos melhores times do Leste nessas primeiras semanas, Heat, Magic e Hawks. E, o que mais me assustou e pouco foi mencionado, impressiona como eles tiveram fôlego para correr atrás do placar mesmo estando no meio da maior aberração do calendário da NBA, os temidos "4 in 5".

Quando a gente analisa o resultado de um jogo a gente costuma simplesmente olhar para a qualidade dos dois times e algumas atuações individuais. Se alguém jogou mal é porque foi marcado e pronto, mas acho que somos injustos com os atletas quando ignoramos o calendário. Não é fácil jogar dois jogos disputados, competitivos e corridos em noites consecutivas, imagina os caras que fazem jogos seguidos no Texas. É um dia marcando o Tony Parker e no outro o Aaron Brooks, ou em um o Tim Duncan e no seguinte o Luis Scola, não é pra qualquer um.

Pois se dias consecutivos são difíceis, os "4 in 5s" são quatro jogos em cinco noites. Sempre no formato de dois jogos consecutivos, um de descanso (ou de desmaio) e mais dois jogos em sequência. E eu achando que duas sem tirar era cansativo. Quer mais? Geralmente isso é feito para apressar as viagens, ou seja, é tudo isso fora de casa. O Jazz jogou na terça e na quarta contra Heat e Magic e depois sexta e sábado contra Hawks e Bobcats, sempre bem longe de Salt Lake City. Como eles tiveram fôlego para virar esse último jogo só no último quarto eu não tenho noção. Curiosamente, na temporada passada o Jazz foi o único time a não ter nenhum 4in5 durante todos os 82 jogos. Para comparar, na mesma semana passada o Golden State Warriors também teve um 4in5 pelo Leste. Pegaram Pistons e Raptors no domingo e segunda, depois Knicks e Bulls na quarta e quinta. No último jogo em Chicago o time simplesmente estava sem forças e tomaram uma surra de 120 a 90. Quem viu o jogo deve ter percebido que não era o Warriors-correria com que estamos acostumados.

Sabendo que o caso do Jazz é uma aberração histórica e o caso do Warriors o mais comum, é normal se perguntar: quantos 4in5s cada time joga por temporada? Pega adversários descansados? E o caso menos extremo e mais comum, os back-to-backs (jogos em dias seguidos), com que frequência acontecem? E quando o seu time é o descansado e quando é o cansado?

Pensando em todas essas questões é que o sempre espetacular Basketbawful, o melhor blog gringo de basquete, preparou uma planilha que mostra tudo isso no calendário dessa temporada. E se você for ler o post em inglês eu já explico, o termo "SEGABABA", que parece tirado de algum dialeto africano, significa "SEcond GAme in a BAck-to-BAck", ou seja, o segundo jogo em sequências de dois jogos em dois dias.

Para ver a planilha é só clicar aqui!

Mas para ler a planilha direito você precisa saber o que cada uma das siglas significa, então vamos lá:

HH B2B - Home/Home, quando o time joga os dois jogos seguidos em casa, acontece só 15 vezes em 601 oportunidades.
VH B2B - Visitor/Home, o time joga o primeiro jogo fora de casa e está mais desgastado para a partida nos seus domínios.
HV B2B - O contrário, joga primeiro em casa e depois viaja.
VV B2B - Os dois jogos são fora de casa.
Any B2B - É a soma de todas as variações.
4in5 - Os temidos 4 jogos em 5 noites.

As cores na planilha simbolizam se o time está acima ou abaixo da média em cada quesito.

Only B2B - O time joga o segundo jogo da sequência contra um adversário descansado
Opp B2B - O adversário está no segundo jogo de uma sequência
OppOnly B2B - Todas as vezes que o adversário está no segundo jogo e o time em questão está descansado. Ou seja, se deu bem!
Both B2B - Os dois times estão no segundo dia, o jogo da preguiça.
Opp 4in5 - O adversário está no meio de um 4in5
OppOnly 4in5 - O adversário está no meio de um 4in5 e o time que o enfrenta está descansado. Apelação!
Both 4in5 - Os dois times estão no meio de um 4in5, virou pelada!

Eles só erram quando comentam do "computador que faz os calendários". Como vocês que são bonzinhos e lêem todos os nossos posts sabem, não é um computador que faz o calendário, mas sim o glorioso Matt Winick, um maluco que define os 1.230 jogos sozinho. Leia o perfil dele e do seu trabalho aqui.

O resultado é que não é um calendário justo e igual para todos como estamos acostumados a ver em outros esportes. O Phoenix Suns se destaca jogando apenas 16 jornadas duplas enquanto enfrenta 20 adversários que estarão no segundo dia de suas maratonas, cansados e nada afim de correr atrás de um dos times mais velozes da NBA. Já Bulls, Hawks e Bucks são os times que mais jogam back-to-backs, 23, com o Bulls tendo o alívio de pelo menos 4 dessas vezes serem com os dois jogos em casa, sem precisar viajar. Nos 4in5 quem se deu bem foi o time mais velho da temporada, o Celtics, que só tem uma maratona dessas na temporada e enfrenta 4 times nessa situação.

Mas é importante deixar claro que duas coisas obrigam essas aberrações na liga. A primeira é que são 82 malditos jogos, não dá pra organizar tanta partida de uma maneira muito organizada sem precisar de uma temporada que dure o ano inteiro, tem que forçar a barra às vezes. E outra coisa é a geografia dos Estados Unidos, que é um país gigantesco. Quando um time do Oeste vai para o Leste é melhor já jogar o máximo possível de uma vez só pra não precisar ficar viajando o tempo todo, então geralmente vai para uma costa e volta aos poucos para a sua conferência de jogo em jogo. É por isso que Lakers, 76ers e Knicks são os times que menos enfrentam times no segundo dia de uma rodada dupla. Geralmente os times chegam em Nova York, Philadelphia (extremo leste) ou Los Angeles (extremo oeste) para começar as suas excursões pela conferência oposta.

Outro dado muito legal que os gênios do Basketbawful coletaram é que o número de back-to-backs é basicamente o mesmo desde sempre. Eles pegaram os dados desde o ano 2000 e viram que toda temporada tem entre 570 a 600 jogos assim, cerca de 19 ou 20 por time. Mas o número de 4in5s está diminuindo, era 100 em 2000 e são 67 nessa temporada. E como os gringos de lá são metidos a engraçadinhos como o Bola Presa, eles selecionaram os jogos imperdíveis dessa temporada, as quatro ocasiões raríssimas quando dois times que estão terminando os seus 4in5s se enfrentam. Mais pelada que isso é impossível:

Bobcats x Bulls - 18 de janeiro
Pacers x Bucks - 12 de fevereiro
Knicks x Mavs - 10 de março
Cavs x Bucks - 9 de abril

Alguém ousa perder um Cavs / Bucks com os dois times exaustos e nos últimos dias da temporada regular? Vai ser um clássico! Ou um 120 a 119 sem nenhum rastro de defesa ou um 60 a 59 com os dois times beirando os 30% de aproveitamento.

Já o NBA Stuffer, um ótimo site de estatísticas, mostra dados detalhados de como os times atuam em relação aos dias que tem de descanso:



Os dados são da temporada passada, então não tem nada a ver com a amostragem pequena que temos desse comecinho de 2010-11. Dá pra ver que no quarto jogo em cinco noites a eficiência ofensiva dos times despenca, mas, de alguma forma, é quando eles defendem melhor! Será que é pra compensar o ataque que piora tanto?  Não sei, mas sei que no fim das contas, se levarmos em consideração só a temporada passada, podemos até dizer que os 4in5 são melhores que os back-to-back! Na média geral da liga, contando eficiência ofensiva menos eficiência defensiva, os 4in5s tem um saldo positivo de 0,2 em comparação ao recorde geral ao fim da temporada. O melhor número é +0,9 dos 3 dias ou mais de descanso e o pior é do back-to-back, que tem -1,6.

Já o "pace", o ritmo de jogo, cai muito no quarto jogo em cinco noites e é bem mais rápido quando o time tem pelo menos 3 dias de descanso. Óbvio, mas para a gente ter certeza de que o calendário influencia mesmo os jogos.

Um estudo mais aprofundado foi feito pelo Departamento de Estatística da Universidade da Pennsylvania, que analisou dados da temporada 2004-05 e 2005-06 para saber a importância do descanso para um time da casa na hora de enfrentar um visitante que está no meio de uma viagem. O estudo chega à conclusão de que jogar o segundo jogo de um back-to-back nessas duas temporadas significou uma média de 1,7 pontos a menos do que os visitantes que jogam descansados. Pouco, mas decide jogos e mostra uma tendência.

Toda essa análise pra quê? Pra saber que o calendário influência o físico dos jogadores e que algumas zebras estão muito bem explicadas por isso. Mas que os números, embora existam, são sempre discretos e o Wolves ainda tem 99% de chance de perder pro Celtics mesmo se estiver muito bem descansado. Acho que todo mundo já sabia disso e esse post não serviu pra nada, mas espero que o caminho até essa conclusão tenha sido divertido.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Preview 2010-11 / Utah Jazz

Se tem o Deron tem que ter o CP3

Objetivo máximo: Vencer o Oeste (e encher o saco de todo mundo durante isso)
Não seria estranho: Perder uma série disputada na primeira rodada ou cair na segunda (e encher o saco depois que perderem)
Desastre: O Al Jefferson não se entender com o Deron Williams (e encher o saco criticando a saída do Boozer)

Forças: Um dos melhores armadores da NBA, time entrosado e ataque poderoso
Fraquezas: Defesa de garrafão ridícula e os torcedores mais malas da liga

Elenco:








.....
Técnico: Jerry Sloan




São benditos 22 anos como técnico do mesmo time! Quando Jerry Sloan entrou no Jazz ainda existia União Soviética, o Brasil ainda não tinha um presidente eleito democraticamente depois da ditadura militar, a Microsoft tinha acabado de anunciar o Windows 2.1, Super Mario 3 era lançamento e ainda estavam para nascer pessoas importantes do mundo contemporâneo como Selena Gomez, Vanessa Hudgens, Rihanna e quase 40% dos nossos leitores!

Não vou me dar ao trabalho de reescrever toda a história dele, então vai um "Ctrl+C - Ctrl+V" no texto da semana dos técnicos:

"Dois times marcam a carreira de Jerry Sloan. O primeiro, claro, é o Utah Jazz. Ele é técnico do Jazz desde a temporada 88-89, ou seja, completará 20 anos como técnico do mesmo time e foram 20 anos brilhantes. Desde 89 até 2003, Sloan não deixou nem por um ano de ir para os playoffs, chegando em 5 finais de conferência e duas finais da NBA.

O time, como todos sabem, era liderado pela dupla John Stockton e Karl Malone, dois dos melhores jogadores de basquete em todos os tempos. O esquema tático do Sloan era conhecido e usava e abusava do talento dos dois craques. O principal artifício era o "pick and roll", jogada que se utilizava do entrosamento dos dois, da visão de jogo do Stockton e da combinação de bom arremesso de meia distância e de infiltração do Malone. Então soma-se a isso bons arremessadores e jogadores sempre usando a força para cortar em direção à cesta para receber os passes de Stockton e você tem um time eternamente competitivo. Todos os anos o Jazz estava lá incomodando todo mundo, não tinha erro, podiam entrar e sair jogadores mas se tinha Malone, Stockton e Jerry Sloan, o Jazz estava na briga. O título só não veio por causa do outro time na vida de Jerry Sloan.

Por dois anos seguidos, o Jazz perdeu a final da NBA para o Chicago Bulls de Michael Jordan. O mesmo Chicago que tem a camiseta número 4 aposentada por causa de Sloan.

Sloan nasceu no estado de Illinois, onde fica Chicago, e jogou apenas uma temporada no Baltimore Bullets antes de se transferir para o Chicago Bulls no ano em que o time nasceu, até por isso o seu apelido era "O Bull original". Lá ele fez fama defendendo como um doido, indo para dois All-Star Games, levando o time para os playoffs e como líder do único título de divisão do Bulls fora da era Jordan.

Em uma história parecida com a do Nate McMillan, Sloan logo que se aposentou (por causa de contusões no joelho) virou olheiro do time e logo depois técnico, treinou por 2 temporadas e meia, depois foi mandado embora. No Jazz, depois de perder os títulos para o Bulls, não conseguiu mais repetir o sucesso de antes e mesmo sem Jordan na liga, o Jazz já não conseguia mais passar pelas novas potências do Oeste, como Spurs e Lakers. Aí foi a hora de Stockton se aposentar e do Malone levar seu pé frio para Los Angeles.

Todo mundo pensava que era a desculpa certa para o Sloan pedir as contas e ir embora, mas não, ele permaneceu fiel ao time e comandando um elenco ridículo não foi para os playoffs pela primeira vez em 2004. Não foi de novo em 2005 e 2006, mas nesse tempo ele não abandonou aquele mesmo velho esquema tático que deu certo durante mais de uma década e aos poucos foi montando o time com as peças necessárias para o esquema dar certo de novo. Veio o armador com visão de jogo (Deron Williams), o ala de força com potência e arremesso (Boozer), os arremessadores (Okur e Korver) e os jogadores de força que estão sempre cortando em direção à cesta (Brewer, Kirilenko, Harpring).

Se fosse pra definir Sloan com uma palavra, seria "estabilidade". Sempre o mesmo esquema, a mesma calma, a mesma cobrança por defesa e jogo físico. O título pode não vir nunca, mas enquanto ele tiver jogadores nas mãos vamos ver ele e seu Jazz nos playoffs. E acho que ele só pára quando morrer."


Para esse ano é mais do mesmo! Raja Bell é o arremessador-defensor-pentelho no lugar de Ronnie Brewer, Paul Millsap é o cara físico e agressivo do banco ao invés de Harpring, Al Jefferson é o jogador de garrafão que brinca com o armador ao invés do Carlos Boozer. E uma coisa nunca mudou no Jerry Sloan, ele tem mãos muito grandes. 

.....
Nas duas últimas temporadas o Jazz foi um time estranho. Em alguns momentos eles deram a entender que estavam em plena decadência e em outros foram, sem dúvida alguma, o melhor time da  NBA. É sério, durante pelo menos um mês na temporada passada e duas na retrasada eles foram o time mais empolgante da NBA, tanto no estilo de jogo quanto na qualidade e importância das vitórias. O motivo dessa regularidade digna de humor de mulher na TPM é um mistério.

No ano passado começaram a temporada jogando um basquete sem vergonha. Parecia um time previsível e sem aquela vontade e gana que todo time do Jerry Sloan usa para cobrir eventuais defeitos. Até cheguei a decretar aqui o fim do time. Alguns meses depois eles estavam voando em quadra e assumiram a segunda colocação do Oeste, chegando a ameaçar a liderança do Lakers. Depois perderam alguns jogos importantes e acabaram caindo, na última semana, para o 5º lugar. Hora de enganar todo mundo de novo: Embalaram aquele fim de temporada ridículo com uma série dominante e espetacular sobre o Nuggets, derrotando Carmelo e Billups por 4 a 2. E aí, quando todo mundo voltou a achá-los um dos times mais empolgantes da liga, foram varridos pelo Lakers.

Ou seja, o Jazz é um time tão mala que nem previsão deles dá pra fazer! Mas vou me arriscar: Eu acho o Al Jefferson um baita jogador, um dos que mais tem recursos e jogadas quando joga de costas pra cesta. Ele não tem o arremesso de meia distância como o do Carlos Boozer e isso vai mudar um pouco como funciona o pick-and-roll do time, mas em compensação dá outras opções de jogada. E embora ele não seja um pivô nato (e reclamava de jogar na posição 5 quando estava no Wolves) não deve dar piti se jogar um pouco mais lá dentro se fizer dupla com o Paul Millsap. Entre Boozer, Okur, Millsap e Al Jefferson o meu jogador favorito é o Boozer, mas entendo que o atual trio do Jazz é mais completo sem ele, hoje tem opções mais diferentes de combinação.

Uma coisa ruim desse trio é que eles continuam fracos na defesa. O Danilo acha o Boozer um inútil na defesa, eu não acho tanto assim, ele pelo menos sempre foi esforçado e ajuda sendo um bom reboteiro, mas não o bastante para fazer do Jazz um time forte na defesa do garrafão. Com o Al Jefferson não muda muita coisa. É meio broxante trocar de jogador e ver os mesmos problemas, mas os torcedores do Jazz, que pena, vão ter que lidar com isso.

Outras perda que pode machucar o time está também no Bulls, Kyle Korver. Ele era o arremessador de três que vinha do banco para acabar com o jogo. Poucos jogadores se adaptaram tão bem e tão rápido ao estilo do Jerry Sloan e por ser um branquelo do bem ainda era queridinho da torcida. Outro que vai fazer falta é o Wesley Matthews, o novato apareceu do nada no ano passado para virar titular absoluto que defendia o Kobe Bryant em momentos decisivos! Mas não culpo o Jazz por perdê-lo, eles estavam certos de dar um contrato de só um ano quando ele era só um Zé Ninguém e igualar a oferta descomunal (34 milhões por 5 temporadas, com 9 milhões no primeiro ano!) que o Blazers fez por ele seria burro para um time que já até fez trocas idiotas para economizar alguns trocados.

O responsável por cobrir o espaço que os dois deixaram no time vai ser o Raja Bell. Ao mesmo tempo ele vai ter que ser o defensor que era o Wes Matthews e fazer as bolas de três do Korver. Ele é capaz disso se jogar o que jogava no seu auge no Suns, mas depois de um ano parado por contusão é bom ter um pé atrás. Outro que pode ajudar é o Gordon Hayward, novato que veio da mesma escola Bieber de garotos branquelos do Kyle Korver e teve alguns momentos muito empolgantes na pré-temporada.

O Jazz sempre achou caras para substituir as suas perdas, sempre montou times bons. Sempre deu trabalho pra todo mundo. E sempre chegou perto do título e perdeu. Não deve ser diferente nesse ano. E só porque eu falei pouco de um dos meus jogadores favoritos, um bom mix de jogadas do Deron Williams:

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aceitando feder

Al Jefferson e sua cara de alegria ao conhecer os torcedores do Jazz


Quando o Wolves resolveu finalmente trocar o Kevin Garnett, parabenizei a franquia. Não tem nada mais horrível para um time da NBA do que ser exageradamente mediano, ter um elenco grotesco, uma baita estrela que consegue segurar as pontas, brigar desesperado por uma classificação para os playoffs e perder sem chances na pós-temporada. O formato da NBA é brutal com os medianos, com os times que não estão brigando por título e nem são ruins o bastante para conseguir bons jogadores no draft. Basta uma ou duas cagadas com contratações desesperadas para sair desse limbo e uma equipe pode ficar trancada por anos a fio nesse grupo intermediário que não fede nem cheira. É preciso muito culhão para desmontar um time desses, no entanto. Uma equipe que vai aos playoffs todo ano, mesmo sem chances de fazer estragos por lá, tem dificuldades em explicar para os torcedores que o time vai feder de vez por uns tempos. Pior ainda é quando a equipe quase vai para os playoffs mas não consegue por uma ou duas posições, e fica aquela impressão de que só falta um jogador para que eles cheguem lá. Mas se chegarem finalmente aos playoffs, vão conseguir ganhar por lá? Essas equipes ficam condenadas à uma esperança que não se transforma em nada até que alguém jogue tudo fora e resolva começar de novo.

Se o David Stern tem razão e nenhuma equipe da NBA conseguiu ter lucro nos últimos tempos, não faz sentido manter uma equipe que não vencerá títulos, te dá prejuízo e não tem esperanças de melhora. A melhor saída é feder bastante para conseguir boas escolhas de draft, encerrar todos os contratos longos e imbecis que foram assinados, esperar a pirralhada amadurecer, e então assinar grandes estrelas para formar um elenco decente. Trocentas equipes da NBA seguiram esse plano especialmente esse ano, com vários times liberando muito espaço salarial para assinar grandes estrelas em elencos formados por novatos e outros jogadores baratinhos, como o Heat ou o Knicks. Algumas outras franquias apostam nos novatos para formar um elenco jovem e forte, até que possam contratar alguma estrela consagrada para levar o time ao campeonato, como é o caso do Bulls e do Nets, por exemplo. Outras apostam inteiramente no draft e em trocas por jogadores inexperientes e montam um time do nada, como o Blazers e o Thunder, fazendo contratações maiores e trocas por jogadores caros apenas para dar uma arrumadinha no elenco bem depois. Imaginei que o Wolves, ao trocar o Garnett, conseguiria um núcleo bastante jovem com uma futura estrela em Al Jefferson, e que a reconstrução duraria pouco tempo. Era só esperar a pirralhada pegar o jeito e depois conseguir um ou outro jogador para fechar algumas posições. Mas não funcionou.

Por um lado, promessas como Corey Brewer demoraram demais para se firmarem na NBA. Por outro, Al Jefferson tornou-se uma estrela rápido demais, num elenco incapaz de acompanhá-lo. Como todo time apostando em novatos, algumas escolhas não deram muito certo, alguns jogadores não souberam jogar juntos. Foi então que o engravatado David Kahn apareceu para pisar no freio e fazer todo mundo entender que reconstruções não podem ser feitas às pressas. Basta ver o Pistons: ao demolir acertadamente um time em declínio que não ganharia mais nada, assinou correndo dois jogadores disponíveis na hora para não ficar com um elenco furado e deu no que deu, o time fede, não tem flexibilidade para assinar outros jogadores porque torrou tudo em dois meia-bocas, e está fadado a ficar entre os medianos por muito, muito tempo. Falha épica, já diriam os gringos. É melhor assumir a bosta, no famoso "pisou na merda abre os dedos", e deixar o time fedendo com calma do que correr e assinar qualquer um.

O projeto de reconstrução do Wolves começou do zero. Primeiro um técnico novo, o Kurt Rambis, para usar o sistema de triângulos do Lakers. Depois, escolhas de draft com o sistema em vista. O problema é que vai levar anos para os pirralhos entenderem o sistema, criarem consistência, amadurecerem ao lado do técnico - que também é meio iniciante. A suposta estrela do time, Ricky Rubio, só deve vir na próxima temporada porque preferiu ficar na Europa do que jogar num time lixo. O processo é lento, o Wolves tem que ir com calma testando todos os jogadores, dando minutos para os novatos apanharem e aprenderem, aguardar o Rubio, consolidar o sistema de jogo. Mas enquanto isso lá está o Al Jefferson, estrela consolidada, querendo vencer agora, querendo um time de verdade. Foi trocado mais rápido do que o SBT cancela seus telejornais.

Pelas escolhas duvidosas no draft, em que pega vários jogadores de uma mesma posição, David Kahn está ganhando fama de ser uma anta, quase um Isiah Thomas que pelo menos sabe contar usando os dedos. A troca do Al Jefferson não ajudou muito sua causa. Mas a lógica está bem clara: ele não tem pressa nenhuma. Se o time vai perder, feder, ser uma droga, tudo enquanto espera a pirralhada ganhar uns pelos no saco, por que ficar pagando o contrato monstruoso do Al Jefferson? Quando o Wolves se tornar um time decente, o Al Jefferson já teria dado o fora por conta própria mesmo. O melhor a se fazer é economizar umas verdinhas até lá.

O plano lembra um pouco o Grizzlies, que ia para os playoffs todos os anos mas nunca ganhou uma partida sequer de pós-temporada. Ao trocar o Pau Gasol por escolhas futuras e feder pra burro, criou um time muito jovem, cheio de novatos, levou uns anos para que começassem a render juntos, e aí contratou um ou outro veterano para ajudar. Sem estourar o teto salarial, economizando uma grana, o Grizzlies tem grandes chances de ir para os playoffs na próxima temporada apesar de todo mundo ter chamado a troca de burrada. Ter mantido o Gasol seria cagada, o salário era grande demais e ele queria vencer imediatamente enquanto o time precisava feder um pouco durante uns anos para se reconstruir. E não dá pra feder muito se você tem o Gasol, claro.

Como sabemos, a troca do Gasol para o Lakers desequilibrou a liga. A troca do Al Jefferson, que vai permitir que o Wolves feda de verdade enquanto espera seus pirralhos virarem estrelas, não deve desequilibrar tanto. Mas com certeza tornou o Jazz um time muito melhor que vai fazer mais estrago do que nunca nos playoffs. Ou seja, podem esperar uma legião de torcedores do Jazz fazendo muito barulho por aqui, torrando nosso saco e eventualmente descobrindo onde eu moro e queimando minha família na fogueira, amém.

Eu adoro o Carlos Boozer, acho seu arremesso espetacular e ele funciona perfeitamente bem com Deron Williams. Mas como maluco que sou por perder vários dias da minha vida acompanhando os jogos do Wolves, posso afirmar que o Al Jefferson vai ser ainda mais útil para o Jazz. O cara é um monstro embaixo da cesta, justamente onde o Boozer era menos efetivo. Seu arremesso é consistente, vai funcionar perfeitamente bem nas jogadas com o Deron Williams, mas seu trabalho de pernas e pés muito rápidos vai simplesmente dominar o garrafão ofensivo. Ele é um monstro refinadíssimo, do tipo que bebe sangue mas arrota em francês, e vai pontuar horrores com muitos movimentos diferentes no esquema tático rígido e cadenciado do Jazz. Quando o Wolves corria demais, o Al Jefferson ainda rendia bem, mas é de costas para a cesta num jogo lento que ele mostra que pode vencer jogos sozinho. Na defesa também é muito inteligente, tem bom tempo de bola, distribui seus tocos e não compromete muito - algo que já é um avanço frente ao Boozer, que é um dos piores defensores da NBA, disparado.

É cedo demais para chamar o Kahn de burro. Ao menos ele tem os bagos de deixar o time fedendo sem ficar pagando salários absurdos desnecessariamente. Vai se focar na pirralhada, ir com calma, esperar o Rubio e não vai deixar ninguém descontente por lá. Veteranos que querem vencer só devem chegar muito depois, quando o elenco já estiver maduro o bastante. E o Jazz aproveitou essa barbada para conseguir um assalto a mão armada nos moldes do Gasol-para-o-Lakers, capaz de fazer muito estrago se o resto do time jogar bem. Levante a mão quem é o doido que viu o Al Jefferson jogar nas temporadas passadas. Se você não levantou, pode ter certeza de que ele é um dos melhores jogadores de garrafão da NBA, muito mais versátil do que o Boozer, muito mais físico embaixo da cesta, e vai chutar muitos traseiros. Se você levantou a mão, então já sabe o tamanho da encrenca que o Jazz vai causar na liga. Os mórmons foram abençoados, vai ver rezar dá resultado.

No Wolves, o garrafão agora tem Kevin Love e Darko Milicic - por mais bizarro que seja, é um dos garrafões que mais valerá a pena acompanhar na temporada que vem. O Love é um dos jogadores mais inteligentes da NBA, faz cruzadinhas no nível "Putaquemepariu", passa a bola como poucos armadores e é famoso por dar assistências de um lado da quadra para o outro, é espetacular. Arremessa também de todos os cantos, inclusive da linha de três (e até da quadra de defesa).



Além disso, sempre toma a decisão certa, é até chato. Vai ser uma estrela na liga, sem dúvidas, e tendo muito mais minutos em quadra sem Al Jefferson, nos dará mais chances de vê-lo atuando. Seu parceiro de garrafão será o Darko, também conhecido como "um dos maiores fracassos da história do draft". Desde que foi escolhido com a segunda escolha do melhor draft de todos os tempos, passou de um time para o outro sem nunca render grandes coisas. Mas isso depende do que se espera dele, claro. Todo time que contrata o Darko espera um jogador que domine o garrafão e mostre o potencial que justificou sua segunda escolha no draft, mas o que todo time encontra é um jogador de apenas 25 anos, excelente defensor, com problemas para manter a calma dentro de quadra. A maior dificuldade do Darko sempre foi sua cabeça, ele precisava ouvir o pagodinho "deixa acontecer naturalmente", porque desde que entrou na NBA - novo demais para conseguir sequer cortar as próprias unhas - queria mostrar que merecia ter sido escolhido tão cedo no draft no lugar do Carmelo Anthony. Dê a bola para Darko e ele vai tentar fazer milagre, errar uma bola, ficar puto da vida, forçar uma outra bola para compensar, errar de novo porque está nervoso e forçando o jogo, se desesperar porque esperam mais dele, forçar de novo, e assim por diante. Ele fica tão puto consigo mesmo que chegou até a rasgar a própria camiseta:



Também deu aquela clássica entrevista jogando pela sua seleção nacional, em que afirma que vai foder as mães dos três juízes que "lhe roubaram o jogo" (e foder a filha deles se tiverem também). Mesmo tão descontrolado, nas poucas vezes em que ganhou minutos e conseguiu manter a calma em quadra mostrou seu talento defensivo e seu jogo refinado perto da cesta. Se tivesse sido escolhido na segunda rodada, teria jogado a vida toda, nunca teria sido trocado e seria tido com uma baita sorte do time que o pegou. Para ele, assim como para Kwame Brown, a merda é o medo da expectativa dos outros. O David Kahn disse recentemente que convenceu Darko a ficar na NBA ao invés de voltar para a Europa, como pretendia, dando-lhe estabilidade, segurança, um papel limitado em quadra (puramente defensivo) e muita confiança. Deu uma longa entrevista apenas falando sobre o que ele vê no Darko que os outros não percebem. É difícil imaginar que aquele jogador afoito e nervoso pra burro renderá no Wolves com carinho e paciência, mas é nisso que o Kahn aposta e é mais um motivo para acompanharmos esse garrafão. Love e sua genialidade nos passes, Darko e sua cabeça-de-bagre tentando não arrancar sua própria cabeça. Não vai ser tão legal quanto o Al Jefferson destruindo com o Deron Williams, mas é um dos poucos motivos para acompanhar a pirralhada do Wolves na temporada que vem. E se der certo, pelo menos vão parar de xingar tanto o Kahn. Ele, ainda, não merece.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

3 histórias diferentes

- Então... você já perdeu.


Nas semi-finais de conferência é esperado encontrar muita igualdade nas séries, afinal de contas são os 4 melhores times de cada conferência. Mas, mesmo assim, três das quatro séries que estão rolando já estão com 2 a 0. Em semelhanças, porém, elas param por aí. Cada uma delas tem uma história completamente diferente. Vamos ver o porquê.

Começamos falando do Leste, onde o Magic lidera o Hawks por 2 a 0. O primeiro jogo foi uma lavada destruidora, uma surra que justificou esse post do Danilo pedindo indenização por ver uma série tão desigual a essa altura dos playoffs. Já o jogo de ontem não foi tão anormal como o primeiro, mas foi a prova definitiva de como o Magic é um time muito superior.

O Hawks começou o jogo de maneira agressiva, com Joe Johnson e Al Horford segurando a onda no ataque. Nunca que eles teriam 21 pontos em dois quartos como tiveram no jogo 1 com os dois jogando desse jeito! E jogaram tão bem que o Hawks foi para o intervalo vencendo por quase 10 pontos de vantagem. Começou o segundo tempo e o Magic logo encostou com um 9 a 0. Depois segurou a onda e no quarto período, em questão de 3 minutos, abriu 19 pontos de vantagem. Sim, o último período começou empatado e na metade desse mesmo período o jogo parecia uma surra de profissionais contra amadores gordos.

Nos criticaram em outro post dizendo que agora a gente acha que o Hawks é um lixo mas que no começo da temporada até chamamos eles de "novo Spurs". Quem comenta isso, acho, quer mais arranjar confusão do que qualquer outra coisa, porque está tudo bem explicado nos nossos posts, mas tudo bem, acho que uma explicação a essa altura do campeonato ajuda a explicar porque o Hawks nunca vai chegar perto de vencer essa série contra o Magic.

Chamamos o Hawks de "novo Spurs" porque eles, nos últimos anos, ganharam várias características do time do Tim Duncan. A regularidade, o crescimento pouco a pouco a cada temporada, as atuações sólidas e vitórias constantes contra times fracos (não é como o Lakers, por exemplo, que volta e meia entrega jogo pra uns timecos) e um jogo de equipe, organizado e bastante baseado na defesa. Ainda nesse ano tiveram o bônus de ter o Jamal Crawford, um sexto homem no estilo Manu Ginóbili. Mas mesmo no post onde eu chamo eles assim, já aviso que ter características do Spurs não significa ser eles. Não quer dizer que eles tem o melhor ala de força da história e que vão ganhar 4 títulos. O Hawks é como o Spurs seria nos últimos 10 anos se não tivesse o Duncan, o Greg Popovich e outros tantos talentos fora de série que passaram por lá.

Isso faz do Hawks um dos melhores times da NBA entre aqueles que não tem chance de serem campeões. Pega qualquer time mediano e ruim que o Hawks vai dar um pau, mas falta ainda talento pra pegar Cavs, Magic, Lakers e, por que não, o próprio Spurs. Elogiamos o Hawks por sua evolução, por ser um bom time, mas é pedir demais que eles vençam o melhor time desses playoffs. O Magic venceu os 6 jogos que jogou nessa pós-temporada por uma média de 18 pontos de diferença cada um! E ontem conseguiu a proeza de ter 4 titulares marcando pelo menos 20 pontos (Jameer Nelson, Dwight Howard, Rashard Lewis e Vince Carter), foi a primeira vez que isso aconteceu nos playoffs desde 1995 quando o Rockets (Hakeem Olajuwon, Kenny Smith, Robert Horry e Clyde Drexler) fez a mesma coisa contra o Utah Jazz.

Falando em Utah Jazz, aqui temos outra situação bem diferente da série entre Hawks e Magic. Embora o time do Jerry "Mãos Gigantes" Sloan esteja perdendo pelo mesmo placar, a série está longe de terminar, o que não elimina o fato do Jazz estar com a corda no pescoço. Parece uma contradição dizer essas duas coisas na mesma frase mas o Jazz é meio uma contradição constante. Eles começam a temporada fedendo demais, depois se recuperam de tal maneira que chegam ao segundo lugar do Oeste jogando o basquete mais bonito da conferência, depois nas últimas semanas perdem todos os seus jogos-chave e caem para o quinto lugar. Aí nos playoffs dão uma surra no Denver Nuggets como se não enfrentassem o atual vice-campeão do Oeste e, em seguida, jogam duas partidas patéticas contra o Lakers. Dá pra entender? Dá pra prever?

Embora o time seja uma montanha russa, em uma coisa eles são bastante regulares há pelo menos uns 5 anos: jogar mal em Los Angeles. Entra ano, sai ano, tanto Jazz quanto Lakers mudam seus elencos, mas uma coisa não muda, o Jazz não sabe o que fazer quando joga no STAPLES Center. É o calor californiano? O nervosismo de atuar na frente do Jack Nicholson? Sei lá, não faz sentido, mas lá eles não jogam nada.

Em compensação, em Salt Lake City já tiveram vitórias históricas sobre o Lakers, como uma em que nem Deron Williams e nem Carlos Boozer jogaram e mesmo assim o time dominou o jogo do começo ao fim com uma atuação de gala do Andrei Kirilenko. Por esse motivo e pela volta desse mesmo Kirilenko, finalmente recuperado, é que mesmo assistindo duas partidas horríveis do Jazz em Los Angeles não dá pra colocar eles fora da briga. Basta o Deron Williams atacar a cesta como fez com o Nuggets e Boozer e Millsap impedirem Gasol, Bynum e Odom de dominarem os rebotes que a cara da série muda completamente. E não é difícil de imaginar isso acontecendo, já vimos que o garrafão do Jazz é bastante poderoso.

Sabe outra coisa não tão difícil de imaginar? O Kobe pegando um jogo disputado no quarto período e ganhando por conta própria. Basta isso acontecer uma vez nesses dois jogos em Salt Lake que o Lakers volta pra casa com uma vantagem de 3 a 1 e aí a série já era. E imagina se ele faz isso no jogo 3 e o Lakers abre 3 a 0, a confiança do Jazz fica tão forte quanto as cobranças de pênalti do Palmeiras e do Atlético-GO. Reviravolta, virada, empate ou varrida, dá pra esperar de tudo desse time do Jazz.

A outra série que está em 2 a 0 é a entre o Suns e o Spurs, que até é motivo da nossa promoção de playoff. Ao contrário da série do Hawks, ela está longe de ter um time com óbvia superioridade e ao contrário da série do Jazz, envolve times muito mais previsíveis e confiáveis. Ou alguém tem alguma dúvida de que o Spurs, em especial o Ginóbili, vai vir com sangue nos olhos para não encarar um 3 a 0 na série?

Quem lembra dos duelos épicos entre os dois times que descrevemos nesse post sabe que o Spurs, mesmo quando perdia, conseguia comandar o ritmo do jogo e manter o placar na casa dos 80, 90 pontos. Já nessa temporada tomou pelo menos 110 em todos os jogos, desde a temporada regular até esse começo de série. Ou seja, o Spurs precisa defender melhor e, como disse na análise da série, faz isso quando ataca melhor e segura os contra-ataques. Se eu acho que sei uma solução, o Popovich deve ter certeza que sabe umas 10. O San Antonio é bom em playoff porque eles sabem fazer ajustes durante as séries e não tenho dúvida de que essa série com o Phoenix ainda vai muito longe.

O meu palpite foi 4 x 2 para o Suns e eu ainda confio nele, mas não dá pra negar que se for 4 x 2 ou 4 x 3 para o Spurs não será nenhuma surpresa anormal. De todos os "doizazeros", tem tudo pra ser a série mais longa e mais divertida!

domingo, 2 de maio de 2010

Preview dos Playoffs - Lakers x Jazz

"Parem tudo, parece que tem um torcedor legal do Jazz para aquele lado!"


O final da série entre Lakers e Thunder teve um clima muito pouco comum nos playoffs. A torcida derrotada aplaudiu de pé o seu time e os jogadores se cumprimentaram com muitos sorrisos e abraços do tipo "Até a temporada que vem, manda um beijo para a mulher e as crianças". Mas apesar de diferente, dava pra entender.

O Lakers estava mais aliviado do que feliz em ver a série acabar em 4 a 2. Um jogo 7 seria pressão demais e teriam que enfrentar um time jovem, confiante e com absolutamente nada a perder. Com a vitória no jogo 6 ficou aquela sensação de missão cumprida e sem nenhuma raiva do Thunder, nenhum dos jogos, mesmo os que a torcida esteve mais envolvida, teve situações de provocação ou raiva. E para o Thunder a única razão de raiva seria o movivo dessa única derrota em casa: um arremesso sem marcação que o Westbrook errou, seguido de um rebote ofensivo do Gasol, que fez a cesta da vitória no último segundo do jogo. Se o Nick Collison tivesse bloqueado o espanhol ao invés de bloquear um ser invisível que só ele viu na quadra, o Thunder teria vencido o jogo.


Passada essa raiva é uma sensação de missão cumprida. No ano passado o Thunder foi um dos piores times da NBA e o Lakers o time campeão, um ano depois, sem nenhuma grande mudança nos dois elencos, e o Thunder estava lá jogando de igual pra igual.

E igual pra igual mesmo, a vitória do Lakers deve-se basicamente a duas coisas: garrafão mais forte e elenco com mais capacidade de adaptação. Acho que aqueles campeonatos com final em jogo único tem todo o seu charme, é legal saber que tudo será decidido em um jogo, mas ao mesmo tempo é ainda mais legal uma série de 7 partidas. É jogo demais e dá tempo dos times se conhecerem de verdade e serem obrigados a mudar de características para continuar vencendo. Vencer os dois primeiros jogos com facilidade não é necessariamente sinal de que tudo continuará assim, existem as adaptações.

O Lakers soube se adaptar à surra que estava tomando do Russell Westbrook, a solução foi colocar o Kobe para marcá-lo ao invés do Derek Fisher. Kobe não deixou o Westbrook infiltrar e limitou o jogo do pivete a alguns arremessos de meia distância. O mesmo Kobe soube se adaptar à marcação do Kevin Durant que estava tão complicada nos primeiros jogos, abusou dos cortas para mudar a marcação e forçou mais as infiltrações do que os arremessos de giro, em que a altura do Durant estavam atrapalhando. O mesmo Durant não soube o que fazer com a marcação do Artest, que o dominou em todos os 6 jogos. Na última partida o Durant ao invés de achar uma solução, acertou 3 dos 20 arremessos que tentou. O Thunder é um timaço e tem muito futuro, mas essa série serviu ao mesmo tempo para provar isso e para mostrar que o time ainda tem muitas limitações.

No mesmo dia acabou a série entre Denver Nuggets e Utah Jazz. Também por 4 a 2 mas em um clima bem diferente. Ao contrário dos empolgados jogadores do Thunder, o Nuggets jogou a partida inteira com cara de bunda, tentando provar para eles mesmos que poderiam virar a série, coisa que, no fundo, nem eles acreditavam. O Billups parecia frustrado e forçando o jogo (o Billups! Forçando o jogo!), o Carmelo perdido nas falta de ataque e o JR Smith discutindo até com as cheerleaders se elas passassem na frente dele.

O jogo nem foi tão fácil assim, mas em nenhum momento realmente pareceu que o Nuggets tinha um time melhor. Mesmo sem o Okur desde o começo do jogo 1, o garrafão do Jazz dominou toda a série, aliás me arrisco a dizer que essa contusão foi boa, porque obrigou o Jerry Sloan a usar mais o Paul Millsap, que conseguiu a proeza de ter mais energia que um garrafão que sempre pareceu pilhado, de Chris Andersen, Nenê e Kenyon Martin.

Com as atuações monstruosas do Millsap e o Boozer atacando mais a cesta do que se conformando com o seu arremesso que bate no teto do ginásio, o Jazz venceu a batalha do garrafão. Sobrava para o Nuggets vencer a batalha da armação com o Billups, mas ao invés disso o Deron Williams foi o melhor jogador da primeira rodada dos playoffs e arrasou com qualquer um que tentou marcá-lo. Infiltrou quando quis e acertou as bolas de longe quando deu na telha, dominante!

Faltava mais o quê para o Nuggets tentar? Carmelo Anthony. Mas nem isso deu certo. Mais uma contusão deu certo para o Jazz e sem Andrei Kirilenko o Jerry Sloan teve que colocar o novato Wesley Matthews para marcar o Melo e deu certo demais. Matthews incomodou, sofreu faltas de ataque e ainda foi útil no ataque. Sem Melo em seu melhor nível, sem Billups vencendo o duelo com Deron e sem o garrafão dominante pode-se dizer que o Nuggets foi até longe demais com esse jogo 6. Vitória mais que merecida do Utah Jazz, e olha que eu não falo isso porque sou puxa-saco deles.

Com tudo isso dito, preview da série que começa daqui a pouco!


O que o Lakers precisa fazer para vencer:
Já são dois anos seguidos derrotando o Jazz nos playoffs, o Lakers sabe o que fazer para derrotar seu adversário, a pergunta é se o corpo vai obedecer a mente.

Nos últimos dois anos o Lakers venceu primeiro porque dominou todos os jogos em Los Angeles. Nos jogos em casa o ataque fluiu, o time rodou bastante a bola e o Pau Gasol ganhou todas as batalhas contra Boozer e Okur. Ao mesmo tempo o mesmo garrafão obrigou o Jazz a viver de bolinhas forçadas de longa distância. Para vencer o Utah você precisa obrigá-los a ficar longe do garrafão, onde eles conseguem cestas fáceis e as dezenas de lances livres que cobram por jogo.

O problema do Lakers contra o Jazz sempre foi repetir essas atuações em Salt Lake City. Lá a torcida pressiona, o Jazz joga melhor, ataca mais a cesta e o Lakers acabou dependendo mais do Kobe Bryant, aliás algumas das atuações mais impressionantes do Kobe nos últimos dois anos foram contra o Jazz em Salt Lake. Mas quem está acompanhando o Lakers de perto nessa temporada está vendo que o Kobe está mais irregular que o normal, misturando jogos incríveis com atuações típicas de jogadores comuns. Sem o Kobe ser espetacular é difícil de imaginar o Lakers roubando um jogo em Utah, obrigando o time a vencer todos os jogos em Los Angeles.

Por fim a parte mais difícil para essa série: parar Deron Williams. O Lakers tem um problema crônico com armadores velozes e tomou uma surra do Russell Westbrook, o que esperar do Deron, que está na melhor fase da sua carreira? É bem plausível imaginar que o Jazz rouba um jogo em LA só com ele carregando o time nas costas. Talvez a solução seja colocar o Kobe marcando ele, como fizeram com o Westbrook, mas a estratégia de deixar arremessar é suicídio contra o armador do Jazz. Será que o Ron Artest, mesmo sendo bem lento, salva o Lakers dessa?

O que o Jazz precisa fazer para vencer:
De maneira simplista daria para dizer "Dê a bola para o Deron Williams e assista". Mas acho que é melhor deixar isso para o quarto período, até lá é melhor jogar basquete de verdade.

O Jazz já venceu o Lakers várias e várias vezes em Salt Lake sem maiores dores de cabeça. Basta um ataque agressivo, que deixa o garrafão do LA com problemas de falta e cobra um monte de lances livres, foi o que eles fizeram com o Denver. Talento eles tem de sobra também, não vão perder porque não tem elenco. Nesses dois anos de derrotas para o LA nos playoffs o grande problema foi que nos jogos fora de casa não foram metade do time que são em casa. Acredito de verdade que o problema do Jazz seja mais psicológico do que tático ou técnico, isso eles tem de sobra para lutar pelo título.

E se nos anos anteriores eu achava que era bem improvável o Jazz vencer porque não tinham o mando de quadra, hoje acho que eles podem superar isso por causa dessa fase especial do Deron Williams. Mesmo que continuem jogando mal longe de Utah, basta um joguinho mais inspirado do seu armador para roubar esse mando de quadra e decidir em casa, lá eles sabem o que fazer. Também vai ser bem importante ver como o Wes Matthews marca o Kobe Bryant, já que nos anos anteriores era o Ronnie Brewer e o Kirilenko que tomaram as surras. Se ele fez um bom trabalho no Melo é possível que também faça contra o Kobe.

Palpite: Lakers 4 x 3 Jazz. Acho que o Jazz tem mais chance do que nunca de vencer o Lakers, aliás acho o Jazz favorito se levarmos em consideração apenas o fim da temporada regular e a primeira rodada dos playoffs. Mas meu coração Lakeriano e a confiança quase cega no Kobe me fazem pensar que a série vai chegar no jogo 7 e que o Lakers não irá perder um jogo 7 em casa.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Repeteco

Kobe, assim como Mavs e Nuggets, choram mais uma vez


Todos nós sabemos que o Oeste é tão difícil quanto conseguir dar uns amassos na Alinne Moraes, e por isso mesmo temos motivos para esperar séries disputadas, partidas imprevisíveis, jogos inteiros sendo decididos em alguma mudança tática, com um time vencendo um jogo apenas para perder o próximo graças a alguma sacada conquistada na prancheta ou a um arremesso de último segundo. Se o Phil Jackson tomou um nó tático num jogo, o que esperamos é que ele resolva os problemas e volte com o time mudado, vença a partida, e então permita ao Thunder tentar criar um novo nó tático na partida seguinte. Em séries disputadas, esperamos um jogo de xadrez mas com menos gente nerd (deixemos os nerds apenas cuidando dos blogs), com vitórias e derrotas intercalando-se até o final da série, em que todos os conhecimentos adquiridos sobre as estratégias dos adversários são postos à prova.

Mas não foi exatamente isso que aconteceu nas partidas mais recentes da Conferência Oeste. Vantagens táticas conseguidas pelos times mais fracos acabaram se repetindo. Três times sem mando de quadra (Thunder, Spurs e Jazz) conseguiram duas vitórias seguidas, e a sensação é que conseguirão emplacar mais uma. Sabe aquela história de que um golpe de um Cavaleiro do Zodíaco não funciona duas vezes contra o mesmo adversário? Pois bem, se funcionou duas vezes - sem qualquer tipo de resposta ou solução do adversário - então por que não funcionaria três?

Quando comentei sobre a primeira vitória do Thunder em cima do Lakers, fiquei pagando pau para o técnico Scott Brooks. Não por ele ser gatinho, mas porque sua leitura do Lakers foi de dar inveja. Com um garrafão mais fraco, a solução foi colocar seus pivôs apenas para impurrar Gasol e Bynum para longe da cesta, deixar os rebotes a cabo de outros jogadores, e dobrar a marcação sempre que a bola chega no garrafão. No ataque, a decisão do Thunder foi de correr o máximo que der, atacar a cesta para cavar faltas sempre que possível, e aumentar ao máximo o ritmo de jogo. Como resultado, o Lakers passa a também jogar com velocidade, fica desencorajado a jogar dentro do garrafão e aí começa a dar arremessos rápidos de três pontos. Foi uma grande sacada perceber que arremessar de fora é o grande ponto fraco da equipe e explorá-lo. Além disso, cabe ao Westbrook atacar a cesta porque o Lakers não tem um armador que saiba defender, e ao Durant marcar o Kobe no final do jogo, quando as bolas ficam apenas na sua mão. Perfeito.

Para o jogo seguinte, o Phil Jackson sabia que a solução seria jogar dentro do garrafão o máximo possível, para evitar os arremessos de três pontos e punir os pivôs meia-boca do Thunder. No começo do jogo o plano se manteve, mas a frustração com a marcação dupla foi levando Gasol cada vez mais pra longe da cesta, o Bynum perdeu uma bola, e aí o time inteiro vai inconscientemente desistindo do plano de jogo e arremessando cada vez mais de longe. Perderam feio a partida, o técnico Scott Brooks é um gênio, e agora - como eu disse no nosso Twitter - todos os técnicos da NBA estão sentados em casa, com cara de bunda, tentando entender o porquê de não terem pensado nessa estratégia para vencer o Lakers antes. O Kobe pode estar machucado, Bynum pode não estar em plenas condições físicas, mas essa estratégia para frustrar o Lakers deveria ter sido usada por cada uma das equipes da NBA durante a temporada. Phil Jackson é um dos melhores técnicos da história, mas se a sua resposta a essa tática deu tão errado no último jogo, não vejo como dará certo na partida de amanhã. Mais do que nunca, acredito no Thunder eliminando o Lakers - mesmo que pareça tão difícil.

Na série entre Spurs e Mavs, o time de San Antonio não ganhou as duas partidas seguidas do mesmo jeito, mas parece ter conseguido uma consistência dentro da própria equipe. Quando analisei os problemas da temporada do Spurs, botei a culpa no Popovich - não por ele ser um treinador ruim, mas por seu esquema tático ser muito rígido e exigir jogadores que o elenco atual não possui. O time precisava basicamente de um bom defensor, bastante físico, que pudesse arremessar de três pontos (de preferência da zona morta). Como Richard Jefferson não é esse jogador e só brilha nos contra-ataques, acabou se afundando na rigidez do esquema tático do Popovich. Mas eis que, então, a contusão de Tony Parker acabou revelando o talento de George Hill.

A princípio ele era apenas um cosplayer de Tony Parker, ou seja, se fantasiava do armador francês em concursos de animes e mangás e tentava descolar uns prêmios, sem no entanto poder comer a Eva Longoria. No Spurs, apenas puxava contra-ataques solitários e volta e meia dava um tear drop típico do Parker (aquele arremesso com uma mão só, por cima da marcação adversária no garrafão). Mas o Popovich se apaixonou pela disciplina do rapaz, por sua vontade em quadra, e pela capacidade defensiva. Aos poucos ele foi deixando a fantasia de Parker de lado e foi se tornando único, ganhando mais responsabilidades na defesa e treinando cada vez mais arremessos. Na vitória do Jogo 3, o Spurs usou Parker, Ginóbili e George Hill ao mesmo tempo, forçando o técnico Rick Carslile a usar Kidd, Barea e Terry ao mesmo tempo, como vimos na análise da partida feita pelo Denis. Na vitória do Jogo 4, em que Parker teve um jogo muito fraco, quem venceu a partida foi mesmo o George Hill. Sabe como? Com arremessos de três pontos da zona morta. É isso mesmo: ele deixou de ser cosplayer do Tony Parker para virar cosplayer do Bruce Bowen.

Na última vitória do Spurs, George Hill foi o cestinha do jogo com 29 pontos - e 5 bolas de três pontos certeiras da zona morta. Mais bizarro do que isso, George Hill acabou marcando o Nowitzki em uma série de posses de bola, trabalhando como o Bowen em desequilibrar a linha da cintura do alemão e forçá-lo a cortar para um dos lados, onde a marcação dupla do Spurs pode obrigá-lo a parar. O Spurs sempre teve a melhor rotação defensiva de toda a NBA, já faz quase uma década. Nenhum time se recupera tão bem após fazer uma marcação dupla e ver a bola rodando em busca de um arremessador livre. O Spurs faz bem a rotação, sempre pega o cara que está livre e obriga a movimentação de bola a começar de novo. Ao fazer o Nowitzki bater para dentro, e portanto chegar mais perto do garrafão, o Spurs decidiu dobrar sempre, e aí a rotação defensiva fez um ótimo trabalho impedindo os arremessos. O alemão não ficou à vontade, os arremessadores do Dallas reiniciavam a movimentação ofensiva, e o Spurs desafiou o Mavs a jogar debaixo da cesta - sendo que eles não querem acionar Dampier e Haywood de modo nenhum, ainda mais com a insistência em jogar com três armadores em quadra ao mesmo tempo.

Ontem nada deu certo para o Spurs, o Duncan teve a pior partida da carreira, o Parker não acertava nada, o Ginóbili não calibrou a mira, mas foi a marcação dupla, a rotação defensiva e o trabalho de George Hill que garantiram o jogo. O jovem armador destruiu na defesa, nas bolas da zona morta e deu até uma cotovelada para deixar o Bruce Bowen orgulhoso. Além dele, mais sangue novo apareceu dentro do rígido esquema de Popovich: o ala nanico mas brigador DeJuan Blair lutou por rebotes, salvou bolas importantes e fez o trabalho do Duncan quando nosso cara-de-nada favorito não estava nos seus melhores momentos. A gente já sabe: se o Spurs tem uma partida de merda, em que tudo dá errado, e eles saem de quadra com a vitória (graças à defesa e às bolas de três da zona morta), é porque vão ganhar a série. Não tem nem conversa, o Mavs não tem muita chance contra essa equipe que agora acha ter as peças certas.

O bizarro é que, ainda que o Tony Parker seja muito melhor que o George Hill (o Parker está sempre nas listas de melhores armadores da NBA, e pra mim é, junto com o Monta Ellis, o melhor a finalizar dentro do garrafão), o George Hill é atualmente muito mais útil para o Spurs do que o armador francês. Jogue o Parker no lixo, lhe dê umas férias, tranque-o num quarto escuro com a Eva Longoria dentro, e o Spurs ainda ganhará do Mavs se tiver o George Hill. Nesse esquema tático do Popovich, é muito mais importante aquilo que o Hill traz à mesa, enquanto o Parker pode salvar jogos mas é, comparativamente, descartável. Outros podem pontuar, o Spurs precisa é de defeza e zona morta. Deram a sorte de que o George Hill, ainda que baixinho, é forte pra burro e treina como um débil mental. Disse estar arremessando milhares de bolas da zona morta em treinos particulares, e isso é algo que o Parker nunca conseguiu fazer. Não tem como não odiar o Spurs, até quando dá tudo errado, dá certo. Conseguiram a peça de que precisavam na hora certa, quando nós, pobres mortais, achávamos que a contusão do Tony Parker afundaria o time. Coisa nenhuma, é agora que eles parecem ter os primeiros minutos de consistência tática na temporada.

A gente também achou que o Jazz ia virar farofa com as contusões, mas no fundo isso apenas forçou o time a se focar mais em Boozer, Deron Williams e Paul Millsap. Todo mundo sabe que, num mundo ideal em que a Alinne Moraes andasse pelada, o Millsap seria titular em algum time da NBA. Com tantas lesões, Millsap ao menos ganhou mais espaço na equipe, e puniu duramente o Nuggets no garrafão. Aliás, o Jazz conseguiu expor as grandes fraquezas do Nuggets, coisas que a gente não desconfiava: o garrafão e o psicológico.

É uma espécie de lugar comum dizer que o garrafão do Nuggets é um dos mais fortes da NBA. No entanto, Nenê, Kenyon Martin e Chris Andersen são limitados no ataque. A defesa perto da cesta é o ponto forte dos três, mas Kenyon Martin está seriamente limitado - e o Jazz joga cada vez mais fora do garrafão. O Deron Williams está jogando melhor do que nunca, e o foco do Nuggets é claramente pará-lo. A equipe de Denver tem optado por dobrar a marcação, o que abre espaço para os arremessos do Boozer, e obriga os pivôs do Nuggets a saírem um pouco do garrafão - tanto para impedir os pick-and-rolls com o Deron quanto para o jogo refinado de meia-distância do Carlos Boozer. Se o Martin estivesse em melhores condições, poderia até marcar mais tempo o próprio Deron Williams, mas em suas atuais condições físicas cabe a ele ficar só olhando enquanto o melhor armador dos playoffs trucida o Nuggets. Deixando de lado todo o patriotismo que nós achamos tão idiota, posso falar também que o Nenê mostra que fede pra valer quando precisa marcar alguém no corpo-a-corpo fora do garrafão. Quando ele é colocado no Boozer, não consegue evitar cortes para dentro e nem os arremessos constantes. O Chris Andersen também é daqueles defensores fajutos, que dá tocos na cobertura mas não segura ninguém no mano-a-mano. O resultado é que na batalha do garrafão, ninguém do Nuggets pontua lá dentro, e na defesa Deron Williams e Carlos Boozer tiram os jogadores de garrafão do Nuggets de sua zona de conforto.

Mas pior do que isso é o lado psicológico. Já comentei antes que o JR Smith é um daqueles clássicos jogadores que joga muito melhor quando seu time está na frente. Seus arremessos sem critério machucam mais o Nuggets quando o time está atrás do placar e precisa de cestas fáceis e com alta porcentagem de aproveitamento. Por outro lado, esses arremessos quando o time está na frente são o que falta para terminar de aniquilar o adversário, e se eles não caem não chegam a deixar o Nuggets atrás no placar. O Jazz está jogando essa série com muito mais vontade e agressividade do que o Nuggets, com um monte de jogadores nada a ver tentando mostrar serviço e provar que a temporada não vai pro saco só por culpa de algumas contusões. A garra do Jazz é óbvia na briga por rebotes, na defesa, e nas séries de pontos seguidos que surgem de repente durante a partida, fruto apenas de algumas bolas recuperadas, rebotes ofensivos e defesa mordendo. Com isso o Nuggets fica repentinamente atrás no placar - e aí o time, assim como o JR Smith, deixa de jogar.

O JR Smith, depois de tantos conflitos com o técnico George Karl, sequer tem coragem de forçar seus arremessos idiotas quando o time está perdend nos playoffs. O resto do time acaba seguindo o mesmo padrão, e sobra para o Carmelo e para o Billups jogarem de verdade. A sensação, quando o Jazz passa à frente, é de que o Nuggets simplesmente desiste - principalmente na defesa. Falta ao Nuggets aquela calma de "time superior", aquela certeza de que sairá de quadra com a vitória não importa de quantos pontos estejam perdendo no meio do jogo. Essa calma era a marca registrada do Pistons campeão da NBA que tinha Billups na armação, e é notável a frustração do armador com a postura do Nuggets em quadra. É fato que o Billups conseguiu colocar um orgulho no time, uma calma de time vencedor, mas nada disso se aplica quando o time está perdendo. Na última partida o Jazz começou o terceiro período com uma força absurda, fez uns 10 pontos seguidos, o Nuggets simplesmente desistiu e de repente perdia por 16 pontos uma partida que tinha liderado com tranquilidade. Dali em diante o jogo foi apenas desistência, com um Billups frustrado sequer querendo envolver os companheiros, e um Carmelo Anthony puto da vida tentando resolver sozinho no ataque enquanto berra com seus colegas de equipe. Não dá pra negar a vontade de Billups e Carmelo de vencer essa série, mas o resto do time tem preguiça. Jogam maravilhosamente bem quando estão na frente, desistem quando estão atrás. Basta ao Jazz jogar com vontade e forçar uma sequência de pontos para que o Nuggets inteiro venha abaixo.

Também vejo o Nuggets com poucas chances de se recuperar das duas últimas surras que tomou do Jazz. Tanto o Thunder quanto o Spurs e o Jazz parecem ter alcançado aquele grau de compreensão do adversário que nos leva a nem acreditar que a série possa ter outro fim que não a vitória deles. A outra série do Oeste, entre Blazers e Suns, é a única cheia de altos e baixos e que vai ter um final surpreendente. As séries do Leste também estão bem surpreendentes, até mesmo com uma vitória heróica do Dwyane Wade sozinho (tinha uns outros caras em quadra, mas eles não jogavam basquete) em cima do Celtics para manter o time vivo na série. Do mesmo modo, o Bucks conseguiu uma vitória em casa fácil fácil em cima do Hawks e joga hoje novamente tentando empatar a série. Amanhã daremos uma olhada, então, no lado Leste, depois de acompanhar Bucks e Hawks hoje de noite e gritar loucamente "fear the deer" - ou, em hilário português, "tema a rena"!