Mostrando postagens com marcador kaman. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador kaman. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Como comissário, um grande manager

Quem parece mais feliz, Eric Gordon ou Chris Paul?


Acabou a novela Chris Paul. Ah, sempre sonhei em acompanhar uma negociação do mundo esportivo na imprensa tradicional e chamar algo de "novela". Só não é mais legal do que chamar o período de um treinador de "era", mas tá quase lá. Vocês devem lembrar do enredo dessa que contamos nesse post aqui. Se não lembra, vai lá ler que a gente espera aqui antes de começar o último capítulo.

O grande final da novela Chris Paul teve uma reviravolta interessante. Ele foi para Los Angeles como deveria ter ido semana passada, mas ao invés do Lakers ele vai jogar no Clippers: Como em uma boa novela, é o pobre bonzinho que se dá bem em cima do rico esnobe. Depois que as trocas feitas pelo General Manager Dell Demps foram vetadas pela NBA, dona do New Orleans Hornets, o próprio David Stern conduziu as negociações. E, se querem saber a verdade, ele foi muito bem. O Hornets manda Chris Paul e em troca recebe Eric Gordon, Al-Farouq Aminu, Chris Kaman e uma escolha de 1ª rodada do Draft do ano que vem, bem valiosa por ser originalmente do Minnesota Timberwolves.

O negócio é muito bom, antes de mais nada, porque eles recebem um baita jogador em troca. O Eric Gordon fez uma temporada muito boa ano passado, com 23 pontos e 4.4 assistências de média e um jogo muito mais completo do que qualquer um imaginava dele. Aquele simples (e eficiente) arremessador de longa distância passou a driblar, infiltrar e até a dar umas enterradas monstruosas. Ele tem apenas 23 anos e já flerta com uma qualidade de jogo que pode levá-lo à condição de estrela na NBA. Na pior das hipóteses será "apenas" um excelente pontuador. Ao trocar um grande jogador, nada melhor do que receber um que é mais novo e que indica que pode chegar em nível parecido com o que está deixando o time.

Junto dele vêm outro promissor jogador, Al-Farouq Aminu, que no seu primeiro ano de NBA na última temporada foi discreto, mas longe de ser um fracasso. Pecou mais pela falta de consistência do que de talento. É mais um clássico jogador que foi muito cedo jogar entre os profissionais mas ainda pode dar certo. Ironicamente o seu melhor jogo foi contra o Hornets, quando fez 20 pontos, 8 rebotes e 2 roubos em 29 minutos. Aminu tem apenas 21 anos.

O mais velho da troca é Chris Kaman, de 29, curiosamente menos do que Luis Scola, Lamar Odom e a mesma idade de Kevin Martin, os três que o Hornets receberia naquela troca vetada com o Lakers. Kaman tem sofrido com contusões ao longo de sua carreira, mas quando joga é um dos melhores pivôs ofensivos de toda a NBA. Caso eles queiram investir apenas na garotada, podem conseguir uma troca para Kaman num futuro próximo. O seu salário é alto, mas vimos nessa offseason como a maioria dos times não liga de pagar muito alto por pivôs apenas razoáveis, que dirá de um que sabe jogar basquete. E caso queiram ficar com ele, não seria absurdo. Jogadores técnicos como Kaman costumam render bem durante muitos anos, é só as contusões não voltarem.

Mas a grande vitória do Hornets na troca foi ter conseguido a escolha do Wolves. O Clippers quase pulou fora do negócio quando a NBA disse que queria a escolha e mais Eric Gordon, o time de Los Angeles insistia que era um ou outro, mas acabou cedendo para ficar com Chris Paul. A escolha é essencial para apressar o processo de reconstrução do time. O Draft do ano que vem é considerado o com melhores jogadores desde 2003 e agora eles tem grandes chances de terem duas das 5 primeiras escolhas. Por mais evolução que o Wolves possa ter nessa temporada e de bons jogos que Eric Gordon possa ter, é inegável que os dois times são fortes candidatos às últimas colocações do Oeste.

A troca é o oposto da vetada com o Lakers. Aquela focava em jogadores mais velhos, prontos para render e nenhuma garantia para o futuro. Com Scola, Odom e Martin o time não teria a escolha do Wolves e era capaz deles ainda jogarem bem o bastante para a escolha do próprio Hornets não ser tão boa assim. O fato da NBA ser dona de um time e sair por aí vetando trocas é ridículo, isso não muda. Mas David Stern já pode pensar em largar a vaga de comissário da liga e entrar no mundo dos General Managers, ele mandou bem demais e deu boas perspectivas para o futuro do Hornets.

Por outro lado o Clippers abriu mão de muita coisa com a esperança de ter dado o passo definitivo para o mundo dos grandes times. Entre perdas e ganhos diria que eles fizeram a escolha certa. Muitos críticos nos EUA dizem que em uma troca o vencedor é sempre o time que sai com o melhor jogador. O argumento é que jogadores medianos ou até bons podem ser encontrados aos montes, mas que estrelas são raras. Ou seja, o Knicks pode fuçar a NBA e aos poucos recuperar gente do nível de Danilo Gallinari e Wilson Chandler, mas não teria outra chance de ter um cara como Carmelo Anthony. Não sei se a regra se aplica sempre, não é tão simples assim, mas ela definitivamente faz sentido muitas vezes e o caso do Clippers é um deles.

O Chris Kaman é um bom pivô que daria segurança à jovem dupla de Blake Griffin e DeAndre Jordan, mas não daria para segurar uma troca por causa dele. Griffin já é um All-Star e DeAndre Jordan acaba de ser reassinado pelo Clippers pela quantia assombrosa de 43 milhões de dólares por 4 anos! Se você paga isso para o seu pivô é porque confia nele e vai ser titular. O cara ainda é bem cru no ataque, ponto forte do Kaman, mas foi o terceiro jogador que mais enterrou na NBA no último ano (o segundo foi Griffin, atrás apenas de Dwight Howard) e pode segurar a barra numa boa. É uma perda sentida, mas contornável.

O mesmo vale para o Eric Gordon, que é fora de série, mas se destaca por ser um pontuador e pontos não vão faltar para o Clippers se o Chris Paul jogar no nível que costuma atuar. O elenco do Clippers tem uma ótima base no Griffin, uma boa aposta e defesa no DeAndre Jordan e ganhou reforço do Caron Butler, que assinou um contrato de 24 milhões por 3 anos. O ala ex-Mavs defende bem, ataca com consistência, sabe criar o seu próprio arremesso e é experiente. Uma contratação dessas pede outras que sinalizem algo mais do que ser só mais uma grata surpresa.

Os pontos que eram de Gordon também podem vir dos dois armadores que ficaram da temporada passada e que podem atuar tranquilamente na posição 2: Eric Bledsoe, que atuou assim no basquete universitário, e Mo Williams, que no Cavs cansou se ser efetivo sem a bola na sua mão. Ou seja, o Clippers perdeu um grande jogador, mas tem no elenco gente que pode de alguma forma compensar o que ele oferecia.

Agora, existe alguém que possa fazer o que Chris Paul faz? O cara é um dos melhores ladrões de bola da liga (talvez o melhor em tirar a bola da mão do adversário, não em interceptar passes), um dos passadores mais precisos, é rápido, sabe criar o próprio arremesso e até rebotes consegue pegar. Sua criatividade já levou um time bem mais ou menos do Hornets até o jogo 7 da semi-final do Oeste em 2008. Em resumo: Um pontuador como Eric Gordon não é o que faz um bom elenco dar o passo do meio da tabela para o topo, mas um grande armador, pela sua função, pode conseguir o feito. O Clippers percebeu isso e decidiu arriscar.

O risco é alto, mas eles deram um jeito de diminuí-lo. O Chris Paul já havia dito que ao fim dessa temporada iria optar por sair do seu contrato e se tornar um Free Agent, indo provavelmente para o New York Knicks. Mas o Clippers fechou o negócio com a garantia de Paul de que ele não irá optar por sair do contrato, garantindo assim pelo menos duas temporadas de pontes aéreas entre Paul e Griffin para povoar o Top 10 semanal da liga. Se dois anos não for tempo o bastante para o time engrenar e Paul decidir ir para Nova York de qualquer jeito, paciência, mas ninguém pode dizer que o Clippers foi acomodado. Amaldiçoados eles são e tudo, de repente, pode dar errado, mas estão correndo atrás do que podem fazer.

O time está se movimentando tanto nessa curta offseason que está até com excesso de jogadores. Sem saber que conseguiriam Chris Paul e prevendo a citada necessidade de um armador mais experiente e que organizasse o jogo mais do que Mo Williams e Bledsoe, eles tinham acabado de contratar ninguém menos do que Chauncey Billups. O armador foi anistiado pelo Knicks e, ao contrário da última vez que a anistia valeu, dessa vez os jogadores dispensados ficaram à disposição dos times abaixo do teto salarial para uma espécie de leilão. Só virariam Free Agents irrestritos, disponíveis para todos os times, se os abaixo do teto não dessem nenhum lance. O Clippers aproveitou a vaga preferencial e foi o que deu a oferta mais alta, 2 milhões de dólares, para levar o armador.

O porém era a vontade do Billups. Assim que foi anistiado ele se mostrou bem frustrado e disse que não estava mais em idade de ficar mudando de time por aí, que queria só ir para um lugar onde pudesse brigar por títulos e sossegar até o fim da carreira. O Clippers certamente não passava essa impressão. Tanto que a NBA fez questão de mandar um e-mail para o Billups avisando-o de que ele seria punido se não se apresentasse ao time que venceu o seu leilão. Para não ser punido, Billups teria que se apresentar ou anunciar a aposentadoria.

A questão é se essa troca pelo Chris Paul muda a opinião de Billups. Talvez colocar o Clippers já na categoria de candidato ao título seja um grandíssimo exagero, mas certamente é elenco para ir para os playoffs. E difícil imaginar um time que vá ser mais divertido do que esse! Será que o Billups não quer ser um mentor, um líder de vestiário, para a dupla Griffin e Paul? E, assim como Bledsoe e Williams, ele pode jogar na posição 2 e poderia até ter vaga no time titular. Já jogou assim no começo de carreira, tem bom arremesso e é forte fisicamente para dar conta na defesa. A altura e a velocidade atrapalham na hora de marcar caras mais altos, mas Jason Kidd está aí para mostrar que esses obstáculos podem ser superados com a experiência. É motivação o bastante?

Não duvido que o Clippers esteja planejando uma troca para conseguir um shooting guard clássico para a posição, mas não vejo porque ter um desespero para isso. Os outros armadores dão conta do recado. Paciência, como tiveram para conseguir Chris Paul, é essencial. E é necessário lembrar que o Billups, pela forma que foi adquirido, não pode ser trocado até o fim da temporada e como Bledsoe é novo e barato, não deve sair tão cedo também por vontade da diretoria. O mais forte candidato a possível troca é o Mo Williams.

E sabe quem precisa muito dele? O Lakers, que ainda não conseguiu o armador que tanto sonha. O Clippers deveria mandar o Mo Will de presente e dizer que é um favor para um primo pobre.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fedem mas nem tanto

"Dá um abraço no titio!"


Só de brincadeira, imagine que os 15 times de cada Conferência fossem aos playoffs no mesmo formato em que ele é hoje em dia: o melhor time enfrentando o pior, o segundo melhor enfrentando o segundo pior e assim por diante. Se os playoffs começassem hoje, teríamos o melhor time do Oeste, que é o Spurs, enfrentando o pior da  Conferência, que é o Clippers. Enquanto isso, o Lakers em má fase, que caiu para a quarta colocação, enfrentaria o Houston em fase tenebrosa, amargando a quarta pior campanha do Oeste. E, ainda assim, Clippers e Rockets saíram vitoriosos ontem. As duas zebras mostram não apenas que o Lakers anda tropeçando nas próprias pernas e que o Spurs não é esse time imbatível que se comenta por aí, mas também que Rockets e Clippers são equipes muito melhores do que suas campanhas indicam.

A última posição na tabela para o Clippers, em especial, é muito cruel. Isso porque um dos responsáveis pela péssima campanha é a famosa "maldição do Clippers", que sempre dá um jeito de contundir todo mundo caso o time seja bom: dentre os titulares, Chris Kaman está com uma torção e só jogou metade das partidas até agora, e Baron Davis tem problemas nos joelhos - fora que seus reservas também estão baleados, com o Eric Bledsoe voltando de uma torção no tornozelo e o Randy Foye ainda fora com uma lesão na coxa.

Com Kaman e Baron Davis em plenas condições no quinteto titular, o Clippers certamente teria mais algumas vitórias para sair do fundo do poço. No caso do Kaman, ele é um melhores pivôs da NBA e sua presença embaixo do aro certamente diminuiria a marcação em cima de Blake Griffin - além, claro, de ajudar o time na defesa do garrafão, em que eles fedem. Mas no caso do Baron Davis, o negócio é mais complicado. Quando ele entra bem em quadra, como foi o que aconteceu na partida de ontem contra o Spurs, o Clippers é um timaço. Não faz muito tempo que o Baron Davis era considerado um dos melhores armadores da liga, levando nas costas aquele Warriors que desclassificou o Mavs, dono da então melhor campanha na temporada regular. O problema é que, mesmo quando as contusões não aparecem, é muito difícil ver o Baron Davis entrar bem em quadra, simplesmente porque ele não se importa.

Quando jogava no Warriors, jogava com intensidade, enterrava na cabeça de todo mundo e chamava para si a responsabilidade. Às vezes, até demais. Por ser fominha demais em jogos cruciais que decidiriam a vaga para os playoffs, Don Nelson começou a deixar o Baron Davis de molho no banco de reservas nos momentos importantes das partidas. Não demorou para que ele desse o fora de lá, por conta própria, e escolhesse jogar em Los Angeles para estar mais próximo de sua empresa, uma produtora de filmes. Mas o arrependimento veio logo: Baron Davis descobriu que todas as outras equipes de basquete não comandadas pelo técnico-biruta Don Nelson eram times de verdade, com horários, treinos, defesa, regras de alimentação, jogadas planejadas. Em mais de uma ocasião, Davis foi a público dizer como as coisas eram mais "suaves" no Warriors, e que ele não se dava bem com o clima rígido e pesado do Clippers. Aos poucos foi se desinteressando, focado na produção de filmes nas suas férias, e deixando o basquete de lado.

A troca de técnico talvez pudesse renovar o interesse do Baron Davis, mas o primeiro passo foi catastrófico: ele se apresentou ao time completamente gordo, sem ter jogado um único minuto de basquete nas férias, e o novo técnico Vinny Del Negro ficou puto da vida. Esse é o Baron Davis, senhoras e senhores: um jogador que poderia estar chutando traseiros mas que já torrou o saco, apenas aguarda sua aposentadoria pra poder parar com essa bobagem de basquete. Tipo quem trabalha em banco.

O curioso é que o Baron Davis gordo e desinteressado já seria o bastante para que o Clippers se tornasse um time respeitável. É por isso que, tirando as lesões, a culpa é quase toda do Vinny Del Negro, que de bom só tem o nome de boxeador. Quanto mais vejo o Clippers jogar, mais lembro dos problemas do Bulls na temporada passada e mais acho o Vinny Del Negro um técnico medonho. No Clippers, quando a bola gira no ataque para um dos lados da quadra, ela simplesmente morre por lá. É como se o time tivesse uma jogada para levar a bola para a zona morta, mas quando não surge com isso uma oportunidade de arremesso, a jogada congela. Fica um jogador com cara de bunda segurando a bola bem marcado, 15 segundos sobrando no relógio de arremesso, e aí vai forçando caminho contra a defesa até fazer alguma merda. Essas jogadas que simplesmente "morrem" se extendem a qualquer jogada planejada pelo Clippers. Quando eles fazem um corta-luz na cabeça do garrafão, por exemplo, e não surge uma oportunidade de cesta, o armador sobra com a bola nas mãos e o time inteiro fica parado - provavelmente pensando algo como "nós só planejamos até aqui". As jogadas não tem nem ritmo, nem continuidade, e nem um "plano B". Provavelmente por isso o Derrick Rose era obrigado a se virar tanto sozinho, naquelas jogadas de abaixar a cabeça e correr pra frente que eu tanto critiquei na temporada passada. Pronto, tá aí: depois de ver o Clippers jogar e de ver o Derrick Rose acabar com o meu Houston Rockets uma semana atrás, posso dizer que ele chuta mesmo traseiros e que a culpa era do Vinny Del Negro.

Por isso mesmo o Baron Davis é tão importante para esse Clippers: só ele pode fazer o que o Derrick Rose fazia, que é conseguir espaço à força na defesa e conseguir uma situação de cesta. Ontem contra o Spurs, parecia até brincadeira de criança: o gordinho ia com seus movimentos em câmera lenta adentrando no garrafão da equipe de San Antonio e aí passava pro Griffin só porque era legal. Foi assim que o Griffin deu mais enterradas livres do que em qualquer outro jogo da carreira, e contra uma defesa que deveria ter engolido o novato vivo (pensando melhor, o Griffin já jogou contra o Knicks, então com certeza já deu mais enterradas livres, sim). O Blake Griffin anda despirocando a cabeça da molecada, já diriam essas gírias que eu não faço ideia do que significam. Ele já virou queridinho de uma grande parte do pessoal que acompanha a NBA e tinha saudades de ver tanta enterrada de um cara que não chame Dwight Howard. E tem mais, o Blake Griffin cria os próprios arremessos, arranja na marra o espaço para enterrar, e pode finalizar com as duas mãos sem ter que enterrar em toda jogada. Ou seja, sua inteligência no ataque é o bastante para vencer alguns jogos sozinho, enquanto a inteligência ofensiva do Dwight consegue no máximo fazer cruzadinhas no nível "É sopa!".

Mas é claro que o Dwight dá um pau quando o assunto é defesa, e é nesse ponto que os novos fãs do Clippers precisam respirar fundo e entender que o time ainda fede. Recebemos perguntas e comentários no formspring o tempo inteiro dizendo que o Griffin vai ser MVP, que o time só precisa de um armador para ser campeão, que o Clippers vai para os playoffs. Vamos parar com as "dorgas", por favor. Se não bastasse o ataque do Vinny Del Negro ser um desastre e depender justamente de um jogador que não está nem um pouco interessado em jogar basquete, a defesa é ainda pior. O posicionamento para os rebotes é péssimo (inclusive por parte do Griffin), a cobertura é mal feita porque a marcação não roda, e faltam defensores no perímetro. No garrafão, DeAndre Jordan é muito cru e, mesmo tendo muito potencial, não deixa de ser simplesmente uma anta. Suas falhas defensivas são assustadoras, coisa que um gorila treinado não faria, mas aí ele dá alguns tocos espetaculares porque ele conseguiria pular até a Lua se quisesse e todo mundo esquece das cagadas. Kaman precisa voltar logo, pena que os joelhos dele são feitos de farinha.

Eric Gordon está chutando traseiros, voltou espetacular de seu tempinho com a seleção gringa, mas o aproveitamento nas bolas de três pontos tem sido um problema. Eric Gordon tem problemas para se livrar da marcação no perímetro, e as jogadas do Clippers nunca lhe deixam livre. Falta um bom passador no garrafão (coisa que o Griffin, só às vezes, consegue ser) e jogadas que girem a bola atrás de um jogador livre, não que morram nas mãos do Eric Gordon bem marcado e ele não possa fazer nada a não ser forçar uma bola de três pontos horrorosa. Contra defesas de perímetro mais vagabundas, o Clippers é um time bem mais eficiente.

Coisa similar acontece com o Houston Rockets, que também não merece amargar a quarta pior campanha do Oeste. Já falei deles num post recentemente, abordando a dificuldade do time em conseguir um padrão de jogo, mas ainda assim formam uma equipe muito perigosa quando as bolas de três pontos estão caindo. As movimentações ofensivas do técnico Rick Adelman se focam muito em cortes em direção à cesta, seja pelo meio do garrafão, seja pelo fundo da quadra. As equipes que defendem bem o garrafão acabam diminuindo a movimentação do Houston, e as bolas de três pontos precisam cair porque sobra muito espaço para arremessar nesse esquema. Bons arremessadores o time até tem, mas além da maioria não arremessar tanto quanto deveria (deve ser resultado de muita lavagem cerebral do tipo "passem primeiro para o garrafão, procurem primeiro o Yao Ming", que vai resultar em cedo ou tarde alguém passando a bola para o Yao de terno no banco de reservas), o aproveitamento também tem sido péssimo. Minha sugestão é que se trata, agora, de uma questão de confiança. Após perder os primeiros jogos por placares apertados, não ter mais Yao Ming, e ver a posição na tabela caindo cada vez mais, os arremessos de três ganham outro peso, ficam mais difíceis de converter. Especialmente porque o melhor arremessador da equipe, que é o armador titular Aaron Brooks, passou a maior parte da temporada fora lesionado. Quando ele acerta um par de bolinhas o time acalma, respira, e fica mais fácil para os jogadores secundários acertarem as deles. Depender de bolas de três de quem está tremendo e não quer arremessar fica muito complicado.

É por isso que o Houston venceu o Lakers ontem na experiência do Shane Battier, que sempre foi um bom arremessador de três da zona morta mas que pouco arremessa nesse time, executando outras funções - especialmente defensivas porque o resto do Rockets fede e muito na defesa. Quando as bolas de três caem o Houston é muito perigoso, e isso agora significa - sem Aaron Brooks - que o Battier precisa usar seu sangue frio para arremessar mais. O time coloca cada vez mais a bola nas mãos do Kevin Martin nos momentos difíceis, e ele é um bom arremessador, mas sua tendência é sempre de bater para dentro. Dá pra ver que ele força arremessos de três que não queria dar apenas porque sabe que o time precisa deles, mas sua especialidade é outra - e os próprios arremessos de três que dá seriam mais eficientes se ele pudesse chutar apenas quando está realmente livre, sem a pressão de ter que arremessar a toda hora.

Quando Brooks e Yao voltarem, a situação melhora e o fundo da tabela vai ser coisa do passado, mas a falta de padrão de jogo vai acompanhar para sempre esse time enquanto o Yao for peça central. Assim como o Clippers, que sabe muito bem como é depender de um jogador como o Baron Davis que você nunca sabe se estará lá de verdade, se você poderá ou não contar com ele. O potencial para que os times escalem rumo aos playoffs existe, mas as chances beiram ao ridículo graças à essa dependência de jogadores inconstantes e o quanto isso destrói o padrão de jogo de uma equipe.

Sobre o Lakers e o Spurs, que perderam, a gente comenta nos próximos dias. Mas não antes de comentar a partida de hoje à noite entre Cavs e Heat, que é também um jogo entre um dos quatro melhores do Leste contra um adversário mais fraco - mas que estaria indo para os playoffs, em oitavo, com seus próprios méritos. E tudo isso sendo bem pior do que Clippers e Rockets, vale ressaltar. O mistério do rendimento do Cavs e a reação da equipe - e da cidade - à presença de LeBron James serão nosso post de amanhã. E, antes disso, não deixe de acompanhar a partida (que começa às 23h) através do nosso twitter, que vai estar bombaaaando, cheio de curtição e azaração para a nossa galerinha irada!

domingo, 24 de outubro de 2010

Preview 2010-11 / Los Angeles Clippers

O muso Chris Kaman sofre por ser um Clipper



Objetivo máximo: Ser levado a sério
Não seria estranho: Ter um time bom e forte até alguma coisa bizarra fazer tudo dar errado
Desastre: Ser o time mais amaldiçoado da NBA pelo 50º ano seguido

Forças: Bom grupo de jovens jogadores e ótima dupla de garrafão
Fraquezas: Contusões, falta de entrosamento, maldição do cemitério indígena

Elenco:








.....
Técnico: Vinny Del Negro





Quando fizemos a Semana dos Técnicos em 2008 era logo antes da estreia do Del Negro como treinador do Bulls. Olha o que dissemos antes de vê-lo em ação:

"Gostaria de ser capaz de explicar o motivo dessa escolha, mas não consigo pensar em nada que não seja sua força nominal. Del Negro não tem qualquer experiência como técnico ou auxiliar técnico, apenas foi comentarista, trabalhou na parte administrativa do Suns e tem um nome bacana capaz de vender vários CDs de música pop para garotas.


Os responsáveis pelo Chicago Bulls afirmaram que Vinny foi o que se saiu melhor nas entrevistas para o emprego, cheio de novas idéais e uma vontade enorme de aprender. Mas não é o que todo mundo diz em entrevistas de emprego? "Sim, senhor, tenho muita vontade de aprender, sim. Defeito? Ah, eu sou perfeccionista, sabe? Gosto de tudo feito direitinho, faço até hora extra se for necessário." O pessoal no Bulls não tem experiência em mentiras de escritório."

Pois é, o Bulls contratou um técnico que de experiência só tinha todos os seus anos de jogador da NBA. Mas não deu tão errado assim, no fim das contas a imagem de técnico novato atrapalhou mais do que a real competência do treinador. Em dois anos de Bulls ele disputou 164 jogos, venceu 82 e perdeu 82. Idênticas campanhas de 41-41 em cada temporada, classificando o Bulls em sétimo e oitavo nos playoffs. E no primeiro ano ainda liderou o Bulls naquela fantástica série de playoff em 7 jogos contra o Celtics, uma das melhores de todos os tempos.

Como toda criança, Del Negro nasceu. E como todo técnico, Del Negro errou e acertou bastante. Ele errou por exemplo ao não conseguir impôr jogadas de ataque para o Bulls que fossem além de pick-and-rolls com o Derrick Rose e jogadas imbecis de isolação do Ben Gordon (que muitas vezes davam certo!). Mas acertou ao montar uma defesa boa (11ª melhor no ano passado) e ao saber usar o Joakim Noah desengonçado e com vontade. E foi especialmente impressionante no ano passado como ele conseguiu manter o time junto e jogando bem mesmo depois de momentos difíceis, como aquela derrota homérica em casa para o Kings (que em parte foi culpa dele também!) ou quando a direção começou a desmontar o elenco no meio da temporada.

Seus erros e acertos se equivalem, como seus recordes de 41-41 em todo ano. Talvez fosse o bastante para um técnico experiente continuar mais um ano no cargo, mas não para Del Negro. Sabe no futebol quando aquele técnico não fez nada de mais e todo mundo sabe que a direção só está esperando um escorregão dele para mandá-lo embora e contratar quem eles realmente querem? Foi isso o que aconteceu com o técnico de maior força nominal da NBA (nome de boxeador, segundo o Danilo).

Por sorte ele não ficou muito tempo desempregado e o Clippers resolveu dar uma chance para ele. Sem a pressão da exigente torcida e imprensa do Bulls e com todos esperando somente o fracasso (mais um) desse Clippers, acho que ele tem boas chances de mais acertar do que errar. E como o elenco do Clippers não é muito velho, longe disso, talvez a sua falta de experiência nem pese tanto no vestiário. Eu, ingênuo, acho que tem tudo pra dar certo.

.....
Antes de mais nada, o vídeo mais sensacional que eu já vi sobre o Clippers:




Pronto, agora podemos começar.

O Clippers não teve medo de fazer várias trocas no fim da temporada passada para abrir o máximo de espaço salarial. Acabou ficando com um elenco só de DeAndre Jordan, Chris Kaman, Blake Griffin, Eric Gordon e Baron Davis. 

Foi uma atitude arriscada porque o Clippers não costuma atrair Free Agents de peso. O último foi Baron Davis e teve mais a ver com o fato do jogador querer morar em Los Angeles (ele tem uma produtora de cinema) do que com o time mesmo. Os motivos para não atrair jogadores de nome são vários: o time não ganha nada faz tempo, não tem um técnico que impressione os jogadores, não tem atenção da mídia, tem fama de perdedor e o seu dono, Donald Sterling, é um idiota que volta e meia faz comentários racistas, sexistas ou só idiotas mesmo. Nessa offseason ele comentou as contratações de Randy Foye e Ryan Gomes dizendo "Eu nunca ouvi falar desses caras, mas o que eu posso fazer se o técnico pediu?". Boa primeira impressão para os novos funcionários.

Por tudo isso não foi surpresa quando Chris Bosh, Dwyane Wade, LeBron James, Rudy Gay e toda a cambada de jogadores que puderam mudar de time nos últimos meses nem deram atenção para o Clippers. Mas embora eles tenham falhado em conseguir uma estrela, acho que fizeram um bom trabalho nas contratações. Já que quem tem opção não quer ir pra lá, correram atrás de jogadores que são bons, mas que não estavam em situação de ficar negando contrato por aí. Caso dos citados Randy Foye e Ryan Gomes. Também renovaram com a parede de aço Craig "The Rhino" Smith e com Rasual Butler.

Também cheguei a pensar que eles se precipitaram ao draftar Al-Fariq Aminu, mas depois de ver um pouco dele na pré-temporada estou mais otimista, está melhor do que na Summer League. Talvez não seja tão bom quanto jogadores que foram escolhidos depois, como Gordon Hayward ou Paul George, mas ruim parece que não vai ser.

Achei que essa abordagem pegando jogadores não tão badalados foi boa. Por um momento poderia apostar pesado que o time iria se desesperar e despejar milhões de dólares em jogadores que acham que valem muito e não valem tanta coisa, como Travis Outlaw, Tracy McGrady ou Raymond Felton. Com as contratações que fizeram, o Clippers montou um banco de reservas sólido, sem jogadores com histórico de contusão (até chegar no Clippers, pelo menos! Nunca se sabe!) e que vão apenas funcionar para deixar brilhar as verdadeiras estrelas do time, os que continuaram da temporada passada: Griffin, Davis, Gordon e Kaman. É um baita núcleo que só precisa de um técnico que faça esse circo não parecer um time escolhido no Draft Aleatório do NBA 2K11 para funcionar.

Ah, só para o Clippers não perder a identidade de time burro em que dá tudo errado eles também gastaram uma graninha para contratar o Brian Cook, jogador que disputa pau a pau com o Smush Parker para ser o pior jogador que passou pelo Lakers nos últimos 10 anos. O que leva alguém a pagar por um jogador tão ruim eu não sei, mas não é que o puto teve média de 9 pontos em 12 minutos por jogo na pré-temporada? Se ele der certo no time eu viajo até Los Angeles, compro uma camiseta do Cook e só vou embora quando ele autografar.

Fazer uma boa offseason e ficar acima da expectativa sempre abaixo de zero que temos em relação ao Clippers não quer dizer que eles vão ser um sucesso, porém. Eles precisam que esses jogadores novos não se machuquem, não fiquem deprimidos porque se separaram da mulher, não cortem o dedo cortando limão ou não desistam da carreira de basquete para virar monge no Tibete. Tudo pode acontecer quando você veste esse uniforme! Também precisam que o joelho do Blake Griffin não volte a ter problemas, que o Chris Kaman seja menos frágil na defesa e principalmente que o Baron Davis finalmente se sinta interessado em jogar basquete de novo. Porque no ano passado ele era capaz de ir para o ataque, pedir uma jogada, depois ficar entediado, arremessar qualquer tijolo de três e voltar andando para a defesa. Sem ele afim o time não vai passar de uma equipe ruim, ainda mais enfrentando tanto time bom no Oeste.

Eu gosto de ser teimoso e ficar pelo menos um pouco otimista com o Clippers. Se o Boston Red Sox foi campeão do baseball depois de 86 anos, por que o Clippers não pode se redimir um dia? Pode e não deve ser nesse ano, mas Blake Griffin tem tudo para ser o melhor jogador da franquia desde os tempos áureos de Elton Brand e ser um bom primeiro passo. Se o Del Negro entrosar essa galera acho que vai dar pra ver eles engrossando contra muito time bom e não mais passando vergonha. Mais uma vez o time tem elenco pra não ser ridículo, vamos ver se dessa vez acontece alguma coisa.

Para ler mais sobre as mudanças do Clippers no offseason tem o post "Mesmo Circo" em que o Danilo é um pouco menos otimista que eu. E para ler sobre outros causos da maldição do Clippers tem o texto "Exorcismo no Clippers" e o "Ô a maldição voltou...".

domingo, 15 de agosto de 2010

O mesmo circo

 O Clippers é sempre assim, cada um olhando prum lado, tipo os seios da Yasmin Brunet


Ah, o Clippers, a piada favorita de qualquer fã da NBA. O time amaldiçoado, fundado em cima de um cemitério indigena, e que tornou-se nas últimas temporadas apenas um circo que se finge de equipe de basquete. Tem palhaço, elefante, malabares, todos são bons e talentosos, mas a única coisa que os une é estarem debaixo do mesmo toldo. O quê Chris Kaman e Baron Davis têm em comum? Fora as contusões constantes graças à lendária maldição do Clippers, nada. Sempre fico surpreso quando vejo que no fim das contas o primo pobre do Lakers conseguiu montar um baita time bacana, cheio de talento, mas sempre dou risada quando vejo que a equipe simplesmente não encaixa. Mas dou risada assim, com carinho, porque não tem como odiar o Clippers. Também não tem como gostar, claro, é o time mais "nada" da NBA, o equivalente grupal da cara do Duncan, e na nossa pesquisa Bola Presa até agora só um únici coitado se disse torcedor da franquia, mas no fundo todo mundo torce para que a equipe dê ao menos um pouquinho certo. Mania de torcer pelo mais coitado, pelo mais fraco, pelo mais pobre. Sucesso é sempre um troço chato, já diria o Spurs da última década.

A temporada passada do Clippers foi para o ralo antes mesmo de começar, quando a primeira escolha do draft, Blake Griffin, quebrou o joelho ainda numa partida mequetrefe de pré-temporada. É tipo se o LeBron James acabasse de chegar na NBA e o joelho desmanchasse, já pensou como seria aquele Cavs? O Clippers até que tentou segurar as pontas, mas o resto do garrafão também começou a morrer, com uma lesão do Marcus Camby. Não demorou muito e o Camby foi trocado para o Blazers, que tem uma maldição própria que só ataca seus pivôs (coitado do Camby, que fica pulando de uma maldição para a outra). Em troca, o Clippers recebeu Travis Outlaw e Steve Blake, dois jogadores que não quiseram continuar - e nem eram muito bem-vindos mesmo. O único ala de verdade da equipe, Al Thornton, um dos jogadores mais promissores do elenco, começou a perder minutos, tomou fria do técnico, ninguém nunca falou sobre isso, e de repente ele foi trocado pelo Drew Gooden, que também não quis continuar no Clippers nessa temporada. Esse é o Los Angeles Clippers: as pessoas querem sair enquanto há tempo, e os caras bons são trocados por porcaria nenhuma e ninguém vem a pública explicar o que está acontecendo.

O resultado não foi apenas uma equipe desencaixada, mas também uma esburacada. Na armação, Baron Davis só busca o ataque, corre pra frente como um louco o mais rápido possível, e ou arremessa de três ou tenta uma enterrada. Na posição 2, Eric Gordon é um dos melhores arremessadores da NBA, mas não tem altura nem velocidade lateral para defender razoavelmente os armadores adversários. No garrafão, Chris Kaman é um dos pivôs mais habilidosos da NBA, ambidestro, refinado embora tenha cara de que nunca tenha comido com talheres na vida e prefira usar um tacape, mas quando corre parece que está dentro de um aquário. Blake Griffin pode ser uma estrela sensacional na liga mas quebrou antes mesmo de chegar, dá até pra pedir o dinheiro de volta. E o outro jogador de garrafão, DeAndre Jordan, tem potencial pra burro mas é cru, despreparado, pirralho. Então, quem usar na posição 3? Quem nesse time defende? Eles devem correr pra aproveitar o Baron Davis, arremessar pra usar Eric Gordon, ou jogar de forma cadenciada para usar Chris Kaman no garrafão? Eles são um time velho, chefiado por Baron Davis, que deve adicionar mais veteranos rumo a um título (mesmo sem nunca nem chegar nos playoffs) ou devem se focar nos pirralhos e construir em volta de Blake Griffin e DeAndre Jordan, tendo paciência e não tentando vencer ainda? Ninguém sabe. A única certeza é que o dono do circo, o engravatado Donald Sterling, é racista, odeia mexicanos, foi processado trocentas vezes, preso por assédio sexual, e coloca pessoalmente anúncios nos jornais procurando garotas para trabalhar no ginásio do Clippers para, então, tentar traçar todas no famoso "teste do sofá", imortalizado pelo João Kléber. Bacana, e você achava que só tinha zé-ruela tomando conta do futebol brasileiro.

Para tapar os buracos do time com a saída de Steve Blake, que foi ser feliz no Lakers, e do Travis Outlaw, fominha talentosíssimo que foi encher as orelhas de dinheiro no Nets, o Clippers apostou no draft, ou seja, parece que optaram pela renovação do elenco. Mas o Al-Farouq Aminu teve partidas muito fracas nas Summer Leagues, parece estar muito cru, tem um arremesso amador, e por enquanto só rende correndo, no contra-ataque. Já o Eric Bladsoe, tido como o melhor armador disponível no draft, mostrou que só sabe abaixar a cabeça e correr pra frente, é excelente pontuador, mas não espere que ele segure o jogo ou passe a bola. Ou seja, dois jogadores imaturos que, pra variar, não se encaixam com Kaman e Eric Gordon. E aí, de repente, o Clippers me surpreendeu: contrariando a aposta nos pirralhos, gastou suas verdinhas restantes contratando apenas veteranos, dois jogadores muito bons que são bastante ignorados pela liga. Primeiro foi o Randy Foye, um dos raros armadores da NBA que conseguem jogar com igual naturalidade nas duas posições de armação, e que sabem tanto correr quanto segurar o jogo. Foye não é o grande pontuador que se esperava quando foi draftado, mas é inteligente e tem um jogo bastante consistente, ideal para vir do banco e cumprir qualquer função. Depois veio a contratação do Ryan Gomes, um dos meus jogadores favoritos na NBA simplesmente porque ele faz de tudo, até cozinha e passa roupa. O Ryan Gomes pode jogar nas duas posições de ala, defende bem, tem um arremesso confiável de três pontos, sabe o que fazer de costas para a cesta e sempre procura passar a bola ao invés de tentar o próprio arremesso. Quando tinha muitos minutos no Wolves, ele era sempre um "quase triple-double" esperando pra acontecer, fazendo um pouquinho de tudo e mantendo o time sob controle, sempre naqueles 6 rebotes, 6 assistências, e uns 7 pontos (é como o LeBron James seria se fosse desnutrido ou um anão). No Wolves, um cara desses é tido como inútil, ele não pontua, não ganha jogos, é só mais um. No Lakers ou no Celtics, ele seria um deus, seriam feitos sacrifícios em sua homenagem, bebês nasceriam com seu nome, porque ele é exatamente o que faz times serem campeões. Ele tornaria qualquer banco de um time vencedor em algo poderoso, quase como um Ron Artest que defende pior mas tem um cérebro não-lesionado dentro da caixa craniana. Ou seja, o Clippers adicionou dois jogadores experientes que podem jogar múltiplas posições e que são ideiais para completar elencos vencedores e permitir que possam dar o próximo passo rumo ao título. Espera, quando foi que o Clippers achou que precisava torrar todo o seu dinheiro contratando peças para o banco de reservas apenas para completar o elenco? Que eu me lembre, eles eram um time horrível que não vai aos playoffs há anos e que tem um monte de novato cru que só ficará assadinho daqui uma década.

Eu sei lá o que o Clippers está fazendo, e a verdade é que eu nem deveria me importar, afinal a maioria dos jogadores vai se lesionar, bater o carro, ter filhos indesejados e pegar gonorreia. O toque final na completa falta de sentido, atração final do espetáculo circense, foi a contratação do Brian Cook. Lembram? O cara que um dia foi comparado com o David West, santa heresia, e que na verdade é só um corpo grande e lento que arremessa - e mal - de três pontos? O Phil Jackson gritou tanto com ele no Lakers que eu pensei que seu cérebro tinha derretido pelos ouvidos, mas pelo jeito ele ainda consegue se levantar, andar e receber cheques. Vai entender.

Ainda assim, enquanto a gente ri do absurdo, o elenco do Clippers é divertidíssimo como todo circo, reality show ou eleição democrática sabe ser. O quinteto titular deve ter Baron Davis, Eric Gordon, Ryan Gomes, Blake Griffin e Chris Kaman. O time é rápido, lento, ofensivo, defensivo, agressivo, passivo, arremessador, sem arremesso, tudo ao mesmo tempo. Vai dizer que não dá muita vontade de espiar? Todo mundo tem, ao menos, a obrigação de ver o Blake Griffin jogar para saber se ele mereceu ser a primeira escolha do draft. Por não ter jogado nenhuma partida na temporada passada, ele entra nessa como novato, pode jogar o All-Star de novatos e tudo, e primeiras escolhas sempre são divertidas de acompanhar. Fora isso, o DeAndre Jordan impressionou muita gente na Summer League com bons movimentos de pés e ganchos refinados no garrafão, deve ter aprendido com o Chris Kaman, e deve ser uma bela surpresa assim que o Kaman invariavelmente se machucar de novo. Mas o grande destaque desse time deve ser mesmo o Eric Gordon. Apesar de estar ainda correndo o risco de ser cortado, Gordon está na seleção americana que vai participar do Campeonato Mundial agora no fim de agosto e todo mundo está dizendo que, ao menos nos treinos, ele é o melhor arremessador da seleção. Levando em conta companheiros como Danny Granger e Kevin Durant, isso quer dizer muita coisa. Eric Gordon tem arremesso quase automático, deve funcionar maravilhosamente bem no basquete da FIBA em que a linha de três é mais próxima do aro, e está pronto para ter uma temporada definitiva para se sagrar pelo Clippers. Não vai fazer muito além de pontuar, mas deve fazer isso com uma rara combinação de distância nos arremessos e força física para dar umas trombadas.

Em breve vamos acompanhar de perto a seleção americana no Mundial, dando uma olhada em como as estrelas da NBA vão se sair e o que suas atuações podem significar para suas equipes. Mas, por enquanto, vale espiar o Eric Gordon. Se ele for cortado da seleção é só porque não tem ninguém lá alto o bastante para pegar geleia em cima do armário e o Eric Gordon é um anão, mas se ele ficar vai fazer muito estrago nas defesas por zona adversárias. Assim como fará estrago pelo Clippers, mesmo se esse time, pra variar, não fizer nenhum sentido jogando junto.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Finalmente pivôs

"Sei que sou feio, mas pelo menos sou pivô, pessoal!"


Quando saiu a lista com os reservas para o All-Star Game, o nome de Al Horford como pivô do Leste foi o que causou mais indignação ao redor do mundo, incluindo greves de fome em todos os continentes, revoluções armadas, indícios de guerra nuclear e até uma ameaça da Tessália, do Big Brother, de não sair pelada na Playboy caso os técnicos da NBA não revejam a escolha. É claro que existem outras escolhas polêmicas na lista, jogadores que mereciam muito ter aparecido, e concordo plenamente com as escolhas e os comentários do Denis em sua análise dos reservas. Mas não consigo digerir o Al Horford indo para o jogo das estrelas quando, pela primeira vez em tanto tempo, temos pivôs de verdade disponíveis para a brincadeira.

Na última década, ainda antes do declínio do Shaquille O'Neal, vivemos uma época muito escassa em termos de pivô. Ter um jogador decente nessa posição era algo raro e que garantia enorme vantagem sobre os outros times. No entanto, como pouquíssimas equipes tinham qualquer pivô que prestasse, não ter ninguém na posição também não prejudicava muito ninguém. Foi assim que uma série de alas de força começaram a ser improvisados dentro do garrafão, numa reação em cadeia: se quase todos os times estão fazendo, e meu pivô é um bobão que não sabe nem amarrar os próprios cadarços, por que não faço também? Justamente por isso, todos os grandes pivôs que podemos citar nos últimos anos não são pivôs porcaria nenhuma, como o Duncan improvisado na posição até o Spurs desistir de procurar um pivô, o Amar'e Stoudemire dominando o garrafão do jogo de anões velozes do técnico Mike D'Antoni, ou o Chris Bosh rezando todos os dias para poder voltar a ser ala em algum dia de sua vida. É tanto improviso que até esquecemos como são os pivôs de verdade, o que eles fazem debaixo da cesta, como se alimentam e como procriam. O cara-de-nada conhecido como Tim Duncan é um dos melhores alas de força de todos os tempos (e ele nem sorri frente a essa constatação), mas colocá-lo na lista dos melhores pivôs da história é apenas um problema dos nosso tempos. Pergunte ao Duncan e ele vai te dizer que não é nem nunca foi um pivô de verdade, e depois disso vai dar um bocejo e ir tirar um cochilo.

Por causa da falta de jogadores na posição, o draft dos últimos 10 anos tem sido uma corrida desesperada para conseguir o carinha mais alto que não seja um monte de carne desforme e imprestável. Em 2001, as quatro primeiras escolhas foram Kwame Brown, Tyson Chandler, Pau Gasol e Eddy Curry (com o Desagana Diop não muito depois, em oitavo). Yao Ming foi a fácil primeira escolha em 2000, Darko Milicic foi escolhido na segunda posição antes de Carmelo Anthony (todo mundo sabe quão imbecil foi essa escolha) e seguido por Bosh e Chris Kaman em 2003, Dwight Howard e Okafor foram as primeiras escolhas de 2004 (e a porcaria do nosso brazuca Baby foi a oitava escolha, pra gente ver como qualquer merda comprida estava valendo), Andrew Bogut foi a primeira escolha de 2005, o lixo do Patrick O'Bryant (que nunca chegou a ter minutos de quadra na NBA) foi escolhido entre os dez primeiros em 2006, Greg Oden foi o primeiro draftado de 2007 (imagina só se o Blazers tivesse o Durant, que já é All-Star, ao invés do gigante de vidro), Brook Lopez estava entre os dez primeiros em 2008 e em 2009 tivemos a porcaria do Hasheem Thabeet sendo draftado com a segunda escolha. Isso sem falar na quantidade absurda de gigantes de todas as partes do mundo que foram draftados mas nunca chegaram a jogar na NBA ou simplesmente desapareceram antes de conseguir colecionar dez minutos de jogo na carreira.

A falta de pivôs fez com que o All-Star game tivesse umas aberrações, tipo o Brad Miller reserva em uma temporada medíocre ou o Ilgauskas ir duas vezes para o All-Star Game porque não tem ninguém melhorzinho. Era sempre um monte de estrelas e um pivô mais ou menos para dar número, tipo aquele moleque gordo que só é escolhido no futebol porque precisa ter um segundo goleiro. A solução para essa situação constrangedora foi ir aos poucos liberando alas de força para sempre escolhidos como pivôs, permitindo que Duncan e Amaré, por exemplo, pudessem fazer carreira nessa posição em All-Stars. Mas cedo ou tarde aquela caralhada de pivôs draftados na última década ia acabar rendendo alguém decente. Yao Ming é titular todo ano mesmo se não jogar, Dwight Howard ganhou seus votos na força e no carisma, mesmo que eu bata bastante na tecla de que ele nunca evolui seu jogo, mas o resto dos gigantes não poderia ser de todo ruim. Pivô é uma baita posição ingrata, não apenas porque é mais física e portanto está sempre sofrendo nas mãos da arbitragem inconsistente e das constantes alterações de leitura das regras que abrem o garrafão, mas também porque leva um tempão para se acostumar com os rigores da NBA e as mudanças táticas necessárias. Armadores costumam demorar para pegar o jeito, mas pivôs tendem a demorar ainda mais (em geral, a maioria leva a vida inteira pra pegar o jeito e mesmo assim não consegue bulhufas).

Nesse ano finalmente vemos os pivôs maduros de verdade. Muitos davam sinais de talento, dava pra ter esperança, mas foi só nessa temporada que pudemos ter certeza de que vários deles são pra valer. Chris Kaman está conseguindo aos poucos manter sua saúde afastada da maldição do Clippers e está ganhando jogos sozinho com médias 2o pontos, 9 rebotes, 2 assistências e 1 toco por jogo. Andrew Bogut mostrou que é o novo pilar da equipe, que segura as pontas até o Brendon Jennings dominar a armação e ganhar uns pelos na cara, e está com médias de 16 pontos, 10 rebotes, 2 assistências e mais de 2 tocos por partida. Brook Lopez é o grande ponto positivo da campanha terrível do Nets, provando que ele pode dominar jogos no garrafão, com médias de 19 pontos, 9 rebotes, 2 assistências, 2 tocos e acertando quase 83% dos seus lances livres, digno de Yao Ming. Andrew Bynum mostra cada vez mais consistência no Lakers, com médias de quase 16 pontos, 8 rebotes e 1 toco e meio por partida, segurando as pontas na contusão do Gasol. E até o irmão gêmeo do Brook Lopez, o cabeludo Robin Lopez (que, insisto, é secundário até no nome de ajudante!), está se saindo melhor do que a encomenda, defende melhor do que o irmão, tem um talento ofensivo escondido na manga (ou no cabelo), e na miúda roubou a vaga de pivô titular do Suns, tendo desde então médias de 13 pontos, 6 rebotes, 1 toco, e tudo em minutos limitados por partida.

E como é que a NBA premia essa safra de pivôs que finalmente apareceu depois de uma década esperando esses draftados mostrarem talento? Fácil: mantendo alas de força elegíveis como pivôs. É por isso que todos os pivôs citados acima ficarão de fora do All-Star Game enquanto alas de força improvisados, como Al Horford e Pau Gasol, estarão na partida. Seria legal ver o David Lee na partida? Seria, ele tá tendo uma temporada absurda, mas ele é mais um ala improvisado (oitocentas vezes melhor do que o Al Horford, pelo menos). O caso do Gasol é ainda pior porque faz um bom tempo que ele não joga de pivô improvisado no Lakers, mais motivo ainda para até o Bynum ter mais direito de comparecer do que ele. O que me tranquiliza nessa bagunça toda é que será difícil manter essa safra de pivôs fora do All-Star Game por muito tempo. Esqueçam Dwight Howard, pra mim Brook Lopez é fácil o melhor pivô da NBA no momento, e olha que eu assisti mais jogos do Nets na temporada do que qualquer ser humano com bom senso deveria experimentar. Ele tem velocidade, recursos, repertório, arremesso, lance livre, sangue frio e é um excelente defensor homem-a-homem. No Oeste, o cargo de melhor pivô é do Kaman, que é inclusive melhor e mais versátil do que o Amar'e (que anda se negando a pegar rebotes, vai entender) mesmo pra quem considera o jogador do Suns um pivô de verdade. Sem esquecer do Bogut, que rapidinho vai ser estrela conforme mais e mais gente assistir a jogos do Bucks querendo espiar o Jennings. O talento deles é grande demais e os times não devem feder por muito tempo, o Nets tem um núcleo jovem que vai fazer barulho se eles não caírem em depressão nessa temporada e não vai dar mais pra usar a desculpa de que "o time fede então o cara não pode ser All-Star". Ou seja, em um ou dois anos vamos ver um monte de pivôs de verdade sentados no banco de reservas do All-Star Game. E continuando sentados lá durante o jogo porque ninguém quer ver esses grandalhões sem graça numa partida que deveria ser divertida. Ué, do que é que eu estava reclamando mesmo?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ô a maldição voltou...

Blake Griffin é mal educado e sabe aproveitar seu tempo livre


Queria comentar sobre os novatos da temporada há algum tempo mas estava esperando o Blake Griffin voltar a jogar para fazer isso. Afinal de contas ele foi a escolha número 1 do draft, arregaçou com tudo e com todos na summer league e era forte candidato a ser novato do ano, nada mais justo que dar pelo menos algumas semanas de jogo pra ele antes de sair julgando a classe de novatos do draft de 2009.

Mas acontece que ontem saiu uma notícia dizendo que o Blake Griffin passou por outra cirurgia em seu joelho e ficará de fora de toda a temporada. Sim, é o segundo jogador que foi a primeira escolha a perder toda a temporada de novato em três anos, primeiro foi o Greg Oden em 2007.

O esquisito é que a contusão dele não parecia nada séria, vocês lembram da jogada em que ele se machucou? Foi uma jogada bem bonita, inclusive. Não tem jeito, por mais que seja piada velha, temos que falar da maldição do Clippers, é absurdo como tudo dá errado pra eles! Algumas piadas com coisas típicas da liga, como falar que o Pistons é uma máquina que sempre funciona, que o Zach Randolph só afunda os seus times ou que o Kobe é um fominha se perderam com o passar do tempo, times e jogadores mudam e assim mudam suas imagens, mas desde que o mundo é mundo o Clippers é a síntese do azar: Chris Wilcox, Darius Miles, Michael Olowokandi, Shaun Livingston, dentre outros, já foram a salvação da equipe nos últimos 10 anos.

Como é bem fácil ignorar o primo pobre de LA, muita gente não percebeu, mas o Clippers andou roubando vitórias de times grandes por aí. Logo depois do Natal venceu o Celtics e depois da virada do ano embalou 4 vitórias seguidas contra Sixers, Blazers, Lakers e Heat, alcançando até a marca de 50% de aproveitamento na temporada, coisa que acho que não acontecia a essa altura do campeonato desde a época de Sam Cassell na equipe.

Era difícil acreditar que algum time da zona de playoff do Oeste fosse cair para que o Clippers entrasse, mas com esse aproveitamento todo sem o Griffin podia-se pelo menos ter esperança. O elenco, que sempre foi bom mas nunca se entendia direito, parecia ter entrado em sintonia. A dupla Camby e Kaman, que sempre pareceu estranha pelos dois serem pivôs, se entendeu. O Camby sabe quando sair do garrafão para deixar o Kaman trabalhar com espaço e sabe quando ficar embaixo da cesta deixando o Kaman usar seu arsenal de arremessos de meia distância. Com os dois entrosados o Camby voltou a ter seus típicos jogos de 0 pontos, 15 rebotes e 4 tocos e o Kaman deve jogar o All-Star Game e é o melhor pivô ofensivo da NBA.

O Eric Gordon tem sido um ótimo marcador de pontos para a equipe, faz pouco além disso mas é confiável e o Baron Davis é o Baron Davis de sempre: quando ele acorda afim é um dos cinco melhores armadores da liga, quando não quer, pelo menos quebra um galho. E quando a fase é boa até outros caras aparecem, naquela vitória sobre o Blazers que eu citei, quem liderou a arrancada do time no fim do terceiro período e no começo do quarto foi o Sebastian Telfair! Contra o Lakers foi a vez do rinoceronte Craig Smith e até o jogador que eu mais desprezo na NBA, o Ricky Davis, teve seus momentos.

Mas quando a coisa parecia estar ficando boa e promissora é que acontece a desgraça. Vocês tem que entender que a maldição do Clippers não é simplesmente fazer com que o time seja ruim, isso não tem graça. É uma maldição sádica, que gosta de dar esperança antes pra fazer sofrer mais. Ao invés de não te dar a Alinne Moraes, o que é algo que todos sabemos como é, essa maldição te faz conhecer ela, faz você se apaixonar por ela e aí ficar com ânsia de vômito e soltar tudo no colo da guria no primeiro encontro.

Ao invés de ser ruim por ser ruim, o Clippers tem um bom elenco que não rende. Ou ter a sorte de ganhar o sorteio do draft só pra aumentar a expectativa e o tombo ser maior depois. Não sei em cima de que cemitério indígena eles fundaram o Clippers mas eram indíos cruéis, muito cruéis.

Quer outro caso da maldição fodendo com o Clippers? Na terça-feira eles estavam jogando contra o Grizzlies, em Memphis. O Baron Davis estava naquele seus dias encapetados em que ele decide que vai ser o melhor jogador do mundo. Fez 17 pontos, 9 rebotes e 9 assistências só no primeiro tempo! Os dois times estavam empatados na tabela e ainda brigam pela vaga de time-que-ninguém-dava-nada-e-que-iria-para-os-playoffs-se-estivesse-no-Leste. O Baron Davis estava jogando tão bem que eles estavam vencendo por 12 pontos mesmo sem ter o Kaman em quadra. Ele, machucado, deu espaço para o promissor DeAndre Jordan, que deu conta do recado com 23 pontos, 7 rebotes e 3 tocos.

Então, quando restavam poucos segundos para o fim do terceiro período, aparece uma mensagem no telão do FedEx Forum em Memphis: Uma emergência nos foi reportada, deixe o ginásio pela saída mais próxima. Não utilize os elevadores.

Chegou a passar pela minha cabeça que um ativista defensor do basquete-arte e dos times de verdade resolveu se manifestar em um jogo entre Grizzlies e Clippers, mas acabou que havia acontecido um vazamento no sistema de água do ginásio. Por mais de 30 minutos alguns corajosos torcedores ficaram do lado de fora, com um frio de matar, esperando para ver o seu time que perdia por mais de 10 pontos para a piada da NBA, mas muitos outros foram embora pra casa.

Quem voltou viu a maldição do LA Clippers em ação. Contando apenas o momento desde a paralisação do jogo até o seu final, cerca de 13 minutos de partida, o Grizzlies venceu por 14 pontos e o Clippers acertou meros 4 arremessos de quadra. No tênis isso até é um pouco mais comum: alguém está perdendo, começa a chover, o jogo para, o perdedor coloca a cabeça no lugar e vira o jogo. Mas jogos de basquete não param! Que time que está perdendo tem a chance de ter meia hora para se reunir com o técnico e colocar a cabeça no lugar? Tem coisa que só acontece com o Clippers...


Histórias de maldição do Clippers nunca vão faltar e sempre vão ser divertidas de contar, faz parte da fantasia que a gente coloca na NBA para ela parecer ainda mais divertida. Sempre transformamos pessoas em personagens e nesse caso transformamos um time em personagem, mais precisamente o Charlie Brown.

E posso parecer ingênuo, mas acredito no futuro do Clippers. O Griffin foi espetacular em todos os momentos em que esteve saudável e o Clippers realmente tem um elenco bom que, pela primeira vez em anos, tem se entendido. Quem sabe em 2011 eles não viram um bom time? Aí em 2012, quando forem um timaço e todos acreditarem que eles lutam pelo título, o mundo acaba só para eles não terem esse gostinho. Seria uma boa explicação para o fim dos tempos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nem ruim, nem ótimo

Nem os melhores poderes gráficos deixam Chris Kaman bonito


Saiu hoje a lista dos candidatos a um lugar no All-Star Game 2010. Eu sei, você sabe e todo mundo sabe que é muito cedo para julgar a temporada de qualquer jogador, mas tudo bem. Sabemos também que são os técnicos que premiam os melhores jogadores da temporada com uma vaga no banco de reservas do All-Star, os titulares são apenas resultado de quem os torcedores gostam mais, independente de estarem jogando bem ou não.

Mas mesmo sendo tão desimportante, a lista de candidatos me ofendeu. Se no ano passado foi um absurdo o Nenê ter ficado de fora, nesse é imperdoável não estarem lá Chris Kaman e Joakim Noah.

A ausência deles até que tem uma explicação da liga, embora pouco convincente. A lista é feita no meio de outubro para que a NBA comece desde então a impressão das listas de voto, já que nos EUA, além da internet, se vota em alguns lugares aleatórios com cédulas de papel. E em outubro o Chris Kaman não estava sendo o melhor pivô do Oeste e o Noah não estava arregaçando com tudo no Bulls (embora ele já seja titular desde o ano passado e seu reserva, o Brad Miller, esteja na lista).

A parte legal é que a lista mostra como a escolha de um grande pivô no Oeste está complicada nesse ano. Até para fazer a lista dos 12 votáveis está difícil! São muitos caras razoáveis e nenhum espetacular. Para salvar o All-Star Game de uma aberração, a NBA escolheu colocar o Amar’e Stoudemire listado como pivô (e se não tivessem feito isso teriam colocado o Duncan). Aliás, deveriam ter colocado o Duncan, o pobre Amar’e sempre reclamou dizendo que não é pivô nem a pau. Ninguém ouve o coitado do quatro-olhos.

Tirando o Amar'e, estão entre os candidatos a melhor pivô do Oeste todos os que eu coloquei na enquete aí do lado ontem: Kaman, Dampier, M.Gasol, Bynum, Al Jefferson, Oden ... só não está o Charles Bronson.

Desses, o melhor é o Al Jefferson, disso não há dúvida. Mas de todos esses, também, é o com o pior começo de temporada. Tá bom que ele acabou de voltar de uma contusão no joelho, mas todos diziam que ele estava inteiro e até mais magro. Até agora tem jogado mal, aparecido pouco e está achando que pegar rebote passa gripe suína. A ausência do Kevin Love, ao invés de ajudar ele a conseguir melhores números (e mais derrotas), tem piorado seus números (mais ainda com as derrotas).

Outro que todo mundo botava fé era o Greg Oden, que está numa situação esquisita: está melhorando, está defendendo melhor e melhor nos tocos, mas isso só nos 20 minutos que ele consegue jogar antes de fazer 5 ou 6 faltas.

Num parecido meio termo desconfortável está também o Andrew Bynum. Ele é ótimo, faz seu papel perfeitamente em alguns jogos mas em outros desaparece por completo. Ele deveria ter ganhado aquele jogo contra o Rockets sozinho quando foi marcado pelo Chuck Hayes, que tem metade da sua altura. Por sorte, jogando no time que joga a sua irregularidade passa mais despercebida.

Por outro lado, outros jogadores que ninguém reparava estão melhorando. Como o Marc Gasol, que está se saindo bem até no ataque do Grizzlies. Está um pouco mais parecido com seu irmão mais velho e um pouco menos com um gorila. O Dampier, outro estagnado, está, finalmente, jogando bem e fazendo pontos fáceis embaixo da cesta, a obrigação de todo mamífero, bípede com polegar opositor e tele-encéfalo altamente desenvolvido que jogue ao lado do Jason Kidd.

Ainda nessa categoria temos que destacar o Chris Kaman. Antes de começar a temporada, todo mundo achava que com uma semana de temporada ele estaria perdendo a vaga para o Blake Griffin no time titular. Uma semana depois da temporada ter começado ele está ganhando o prêmio de jogador da semana numa conferência que teve atuações monstruosas de Kobe Bryant, Chris Paul, Carmelo Anthony e Kevin Durant.

Eu fiz um texto sobre o Kaman uns dois anos atrás puxando o saco dele (e dizendo que ele teve déficit de atenção quando criança) porque o cara tava jogando demais naquela época. Nem eu esperava mas ele voltou a ser o que foi naquele período. Apesar de ser um dos jogadores mais feios da NBA, é extremamente técnico, sabe finalizar com as duas mãos, não se embanana todo em jogadas de velocidade e é um defensor competente. Um pivô fantástico para qualquer time e que nesse ritmo mereceria uma vaga no All-Star Game numa boa.

Isso não impediu, no entanto, que o vencedor da nossa enquete fosse o brazuca Nenê. Acredito que muitos votaram por pura simpatia pelo compatriota, mas também não duvido que muitos realmente o vejam como o melhor pivô da conferência. O estranho disso tudo é que um pode achar o Nenê o melhor e outro pode achar ele o quinto melhor e nenhum está totalmente errado.

É curioso que o Oeste vive uma situação bem rara numa posição de raro talento. Há uns 10 anos atrás a gente via jogadores do nível de Ostertag e Shawn Bradley como pivôs titulares por aí ao lado de monstros como Arvydas Sabonis e Shaquille O’Neal.

Ter um pivô bom era ter um bem valioso, um diferencial tremendo porque poucos times tinham. Não existia meio termo, ou era um gênio ou era um pedaço de lixo. Hoje vivemos justamente o contrário. Quase nenhum time do Oeste tem um pivô ruim (até Hawes e Krstic quebram um bom galho) e mesmo assim a NBA precisa improvisar um ala de força para ter alguém de nome no seu evento mais lucrativo.

Dessa esquisitice toda eu só torço para que não fique tudo estagnado assim. Nada é mais entediante que o mediano. Que um desses medianos vire uma superestrela para nos empolgar e que um vire um Ostertag para nos fazer rir.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Está chegando a temporada das trocas

Mais ou menos nessa mesma época do ano passado, o Gasol estava indo para o Lakers, o Kidd para o Dallas, Shaq para o Suns e aquela palhaçada toda de trocas que transformaram a temporada passada em provavelmente a com mais trocas de All-Stars na história da NBA.

Esse ano deve ser diferente em quantidade, não devemos ver tanta gente boa assim mudando de time, mas devemos ver sim algumas trocas. Os times não resistem e ao chegar a data-limite de trocas em fevereiro, alguns times insatisfeitos mexem algumas peças em busca de um elenco melhor para ir aos playoffs ou de espaço salarial nas próximas temporadas.

Boatos e suposições são a base da imprensa esportiva americana, então material pra gente ficar imaginando não falta. Vamos dar uma olhada no que dizem por lá pra ver o que deve acontecer, o que não deve, e o que deve acontecer mas não deveria.


Shawn Marion por Jermaine O'Neal

Engraçado dizer isso mas o que falta para o Heat ser hoje um time de primeira linha no Leste é o O'Neal. Não o bichado do Jermaine, mas o velho do Shaq! O Heat tem uma dupla boa na armação com Chalmers e o Wade fazendo temporada de MVP. Na ala tem o sempre sólido e jamais espetacular Haslem e o Marion, que está tão inconsistente quanto o Beasley. Se o Shaq estivesse em forma e motivado como está hoje no Suns, o Heat poderia usar um time com o Beasley de titular na posição 3, o Shaq de pivô e o Heat seria candidato a título do Leste.


Como o Suns não deve aceitar o Marion de volta pelo Shaq, uma solução é o outro O'Neal. O time ficaria melhor do que é hoje, sem dúvida, o Danilo já até falou sobre isso aqui no blog, citando o dia em que o Yao arrasou o Heat só porque ele é grande. Com o Jermaine lá o Heat teria alguém pra jogar de pivô. Mas será que o Jermaine ia durar quanto tempo até se machucar? E mesmo se não se machucar, iria jogar bem o bastante pra levar o Heat até onde? Será que faria o Heat ser mais do que é hoje, sexto no Leste? Acho que não.

Com ou sem Jermaine, o Heat é time pra perder na primeira rodada dos playoffs. Melhor seria manter o Marion, deixar ele sair como Free Agent no fim da temporada e usar o espaço salarial pra pegar alguém melhor. Ou ainda arranjar algum outro pivô que esteja dando sopa por aí.


Shawn Marion por Brad Miller ou Chris Kaman

Dizem que o Kings quer se livrar do Brad Miller enquanto ele tem algum valor para conseguir bons jogadores ou salários expirantes em troca. Eles tem o promissor Spencer Hawes no banco que é um clone em desenvolvimento do Brad Miller, então podem se dar ao luxo de trocar um pivô. O único problema é que no ano que vem o Marion dá o fora de lá e ninguém vai pegar o lugar dele no Kings, nem por um salário enorme.
Nenhum jogador de renome jamais expressou algum desejo de jogar no Kings. Cidade pequena é assim mesmo, acontece. É ou não é, Botucatu?

Já o Clippers está numa cidade grande, o que atraiu o Baron Davis e pode atrair outros trouxas que não sabem que jogar no Clippers pode causar câncer. Então, para eles, ter o salário expirante do Marion é uma boa, eles podem se livrar dele na temporada que vem e usar o espaço salarial para contratar jogadores para o banco de reservas, já que o time titular com Baron Davis, Eric Gordon, Thornton, Randolph e Camby é bem promissor.

O Clippers ainda tem o bônus de ter achado até um reserva para o Camby, o novato DeAndre Jordan. O pivete era bem cotado no draft mas depois de alguns testes desastrados caiu para a segunda rodada, aí nunca teve tempo de quadra e só conseguiu virar titular porque ele é o único pivô que não está de muletas. A experiência tem dado certo: ontem foram 20 rebotes contra você-sabe-quem, 23 pontos, 12 rebotes e 4 tocos contra o Lakers e 8 pontos, 10 rebotes e 6 tocos contra o Wolves.

Mas uma dica para o Clippers: se acabar sobrando dinheiro pra temporada que vem, contratem alguma equipe médica que não tenha se formado só jogando Operação da Estrela.


Larry Hughes para o Wizards

Eu não gosto do Larry Hughes. Ele não sabe arremessar, se acha uma estrela e ganha um salário descomunal. Mas se tem um lugar onde ele realmente jogou bem foi no Wizards.

Com Hinrich e Gordon no time, o Bulls não precisa do Hughes, isso é óbvio. E em um time com Jamison, Butler e (um dia, um dia...) o Arenas, o Hughes pode se focar em defesa e infiltrações, não em arremessos, como ele teve que fazer no Cavs e agora no Bulls. Pra mim a troca não faz sentido só porque o Wizards não tem nada pra oferecer para o Chicago, mas se eles aceitaram uma Pringles, figurinhas repetidas do álbum do Paulistão e o coração fraco do Etan Thomas, seria uma boa para o Wizards deixar de ser o pior time da NBA e se tornar o segundo pior.


Pistons troca Allen Iverson ou Tayshaun Prince

Eu ficaria muito feliz se o Pistons trocasse o Iverson. Seria uma maneira deles admitirem que fizeram uma das piores trocas que um time poderia fazer! Falando sério, dá angústia ver esse Pistons jogar. Eles não sabem defender, atacam só na individualidade e não usam nenhuma das principais qualidades dos seus jogadores.

O Prince sempre foi um ótimo defensor porque ele era capaz de marcar qualquer um que joga na posição 2 ou 3. Ele é mais alto que praticamente todo mundo dessas posições mas não deixa a desejar em velocidade e agilidade. Agora com medinho de deixar uma estrela por muito tempo no banco, em inúmeras ocasiões o Prince joga na posição 4, marcando Nowitzkis, Duncans e Al Jeffersons da vida. Aí, ao invés dele ser um trunfo na defesa, vira um ponto fraco.

Pior é ver o Hamilton jogando 1-contra-1 como se ele fosse o rei do drible ou o Iverson driblando todos os adversários enquanto o resto do time fica parado assistindo. Esse time é um desastre que só vai ser arrumado com alguma troca. Eu não trocaria o Prince, o problema do time está no excesso de gente na armação. Ou melhor dizendo, excesso de jogadores bons mas que não combinam na armação. Stuckey, Iverson e Hamilton juntos é como um ataque com Romário, Edmundo e Sávio, bom no papel e terrível no campo.

Uma solução seria trocar o Iverson por um pivô, já que o Rasheed é ala de força e perde valor sendo improvisado na posição 5. As opções de novo seriam novamente Brad Miller, Jermaine O'Neal e Chris Kaman. Mas não há nenhum boato de que o Iverson deva sair em troca de um pivô, isso é só especulação minha mesmo. Mas ainda que não seja por um desses pivôs, o Iverson tem que sair de lá, ele não tem nada a acrescentar para o Pistons.


Stephon Marbury para o Celtics

A notícia de hoje é que o Marbury já tem um acordo verbal com o Celtics e que é só dar certo a sua saída do Knicks que ele vai para o time verde. O problema é esse "só dar certo" que já dura um tempão.

Para o Knicks, acho que o melhor seria acabar logo com isso. Mais cedo ou mais tarde, seja por salário ou por buyout, eles tem que pagar uma grana preta que tiraria muita empresa da crise para o bolso do Marbury. Então que paguem logo e que ele dê o fora de lá pra seguir sua vida.

Para o Marbury é perfeito. Ele sai de um lugar onde chegou como capitão do time de futebol que come a cheerleader e sai como um fracassado do clube de matemática (e que é ruim em matemática!) e vai para outro onde é amigo do capitão do time de futebol, o que quer dizer que ele não vai jogar mas que vai ser amigão de quem joga, vai pegar a amiga feia da gostosinha que o Garnett traçar.

Só é ruim para um dos lados: o do Celtics. Para que mexer no que está dando certo e colocar um cara conhecido por destruir elencos no time? Mesmo que ele seja um cara legal como foi com o Leandrinho em seus tempos de Suns, ele é o tipo de jogador que acaba com o time dentro da quadra. Ele não é um bom armador, ele não envolve seus companheiros e eu paro de ver NBA se ele ganhar um anel de campeão. O Celtics tem o Rondo que é muito mais útil para o time do que o Marbury jamais foi para Nets, Suns ou Knicks, e tem a máquina de três pontos do Eddie House no banco, além do Cassell que pode entrar nos playoffs se for preciso. Pra que Marbury?


Mike Miller trocado pelo Wolves

O Mike Miller foi peça fundamental na troca de OJ Mayo por Kevin Love. Foi dito abertamente por ambas as partes que se o Grizzlies não tivesse colocado o Miller na troca, hoje o Love estaria fazendo a dupla mais homossexual da liga com o Rudy Gay.

Mas o tempo passou e o Mike Miller não justificou a importância. Hoje ele concorre cabeça a cabeça com o Rip Hamilton e o Luol Deng como jogador que mais involuiu na temporada. São as piores médias da carreira em quase todos os quesitos, um desastre.

Alguns explicam essa queda devido a ele jogar no lixo do Wolves e que em uma situação melhor, em um time melhor, ele estaria mais motivado pra jogar, daí os rumores de troca. Para o Wolves não sei se é uma boa, já que o valor do Mike Miller está bem baixo, mas talvez dê pra conseguir uns bons pivetes pra reconstruir o time com trocas.



Esses são os caras mais falados, mas a verdade é que as trocas que acontecem são sempre as mais imprevistas, as que ninguém ficou mastigando antes na imprensa. Então esperem por trocas inusitadas no próximo mês. Provavelmente até envolvendo esses mesmos caras citados no post, mas com outros times, por outros jogadores.


Ok! Ok! Eu aumento mas não invento!

Dos gordinhos, quem foi para o Clippers foi o Zach Randolph, mas parece que foi o Eddy Curry. Ninguém na liga hoje é mais zicado que o pivô do Knicks.

1- Ele está machucado desde o começo da temporada. Voltou, jogou alguns minutos de um jogo, sofreu com as dores e está de volta à lista de contundidos.

2- Foi acusado por um motorista de limosine de assédio sexual.

3- Sua ex-namorada, mãe de seu filho de 9 meses, foi assassinada ontem.

Só falta ele não ser chamado para o All-Star Game agora...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Um sustinho

Assustado, Gasol correu atrás de um colo amigo


Resultados já esperados nos esportes podem ser bem chatos quando se procura emoção ou partidas históricas, mas é um excelente negócio para um jogo bem no meio de uma madrugada de segunda para terça-feira. Ah, então você estava tirando seu sagrado cochilo quando o Irã enfrentou a Lituânia, a Grécia enfrentou a Alemanha, a Argentinha pegou a Austrália e os Estados Unidos encontraram a Angola? Tudo bem, não tem problema. Os jogos foram como esperado e você não perdeu nada, pode ficar tranquilo com sua consciência e parar de chicotear as próprias costas por ter caído na tentação do seu colchão macio e quentinho e do seu travesseiro acolhedor. Se com isso eu te fiz sentir melhor, pare de ler agora e envie 10 reais para o Bola Presa. Auto-ajuda está na moda.

A partir de agora, o texto traz más notícias para os que dormiram. Croácia e Rússia foi bacana, mas não explodiu os miolos de ninguém. Mas todo mundo deveria ter visto China e Espanha. Simplesmente porque foi histórico. Pateticamente histórico.

Aquela seleção chinesa que começou bem o jogo contra os Estados Unidos, dando um sustinho e mantendo o jogo equilibrando graças a uma infinidade de bolas de três pontos, aguentou o ritmo por muito mais tempo contra a Espanha. Isso pode significar um milhão de coisas, mas eu vou eleger algumas explicações arbitrárias, porque eu quero assim. Primeiramente, a seleção da China não é tão ruim quanto parecia, tem vários jogadores competentes e um plano de jogo estabelecido. Segundo, a pressão defensiva da Espanha nem de longe lembra a pressão feita pelos Estados Unidos. Contra os americanos, os armadores chineses pareciam amadores, cometeram erros absurdos e passaram longos minutos sem sequer conseguir passar do meio da quadra com a bola. Quando a Espanha tentou a mesma coisa, a marcação parecia mais frouxa, os jogadores mais lentos, e aí o armador chinês Liu Wei parecia um gênio capaz de ignorar a pressão e usá-la para seu benefício, deixando na velocidade um marcador para trás e partindo para o ataque completamente livre. Drogas chinesas que aumentaram as habilidades de seus jogadores de um dia para o outro ou a marcação espanhola é coisa de criança frente à dos Estados Unidos?

Além da excelente capacidade de Liu Wei de levar a bola para o ataque, o ala Zhu Fangyu simplesmente fez chover em quadra. Na seleção chinesa, até o mascote sabe arremessar de três pontos, então num dia bom a coisa pode ficar complicada para qualquer equipe. No caso, era o dia de Fangyu e tudo que ele tacava para cima entrava. Eu sou míope e, diabos, estava com um sono absurdo, mas eu podia jurar que após cada cesta de três convertida, Fangyu fazia o tradicional "dedinho do Mutombo", ou seja, mandava um "não" para alguma coisa ou alguém, que eu não faço idéia do que era. Ao todo, foram 5 gestos e em todas elas eu fiquei com a sensação de que ele nunca deve ter visto um jogo da NBA que não fosse do Yao Ming no Houston e, portanto, tenha visto o Mutombo jogar mil vezes e se apaixonado pelo dedinho mutombiano. E eu que pensava que os chineses não demonstravam emoção em quadra.

As bolas caindo de longe serviram bem para disfarçar uma das piores partidas que eu assisti da carreira de Yao Ming. E olha que isso quer dizer muita coisa - como torcedor do Houston, vi o Yao novato feder bastante e até cair de bunda com um drible do Marbury. Existe alguma relação macabra entre o basquete internacional e o mundo dos pivôs. Todas as estrelas da posição (Bogut, Kaman, Yao, até o Dwight Howard) costumam sair de quadra com um ou dois rebotes, fedem a ponto de alertar a vigilância sanitária e nunca consigo encontrar um motivo qualquer para isso. Com Yao a coisa foi feia mas defensivamente ele fez um bom trabalho, pelo menos sendo grande perto do aro. No ataque, perdeu milhões de bolas, tomou tantas decisões erradas quanto conseguiu e levou três quartos para perceber que quando ele segura a bola mais do que 5 segundos, a defesa o sufoca. Só não foi uma partida mais desastrosa por dois motivos: um é que a China entrou no quarto período ganhando por 14 pontos, e o outro é que o Yao sempre parece um gênio comparado ao Yi Jianlian.

Qual é o maldito problema do Yi? Ele é atlético, explosivo, tem um arremesso perfeito em sua forma e de mira calibrada, mas seu poder mutante é o de passar 40 minutos completamente invisível em quadra. Não recebe a bola, não tenta arremessos, não parte para dentro. Parece aquela mentalidade humilde que aterrorizou Yao Ming no começo de sua carreira na NBA, mas que parece não atazanar todo o resto da seleção chinesa. Cada vez mais, consigo fechar os olhos e imaginar o Yi como um excelente jogador, sem que ele tenha uma partida sequer de grande importância pelo New Jersey Nets.

Enquanto isso, o ex-jogador do Mavericks, Wang Zhizhi (que sempre fedeu em Dallas) simplesmente era incapaz de errar e não tinha receio nenhum em continuar arremessando. Ele parece ter 92 anos e de um modo bizarro parece ser uma versão esticada do Mao Tse-Tung. No quarto período, quando a Espanha enfim começou a reagir na partida, foi o Wang Zhizhi que colocou a responsabilidade nas costas, com grande sucesso. Mas os espanhóis começaram a ficar mais agressivos, lutar por rebotes ofensivos, enterrar o tempo todo (Pau Gasol foi de assustado para bravinho), e o Yao Ming acabou saindo com 5 faltas. Em pouco tempo a vantagem chinesa havia desaparecido e, se não fosse uma bela mãozinha da arbitragem, a Espanha teria vencido no finalzinho do período graças a uma defesa mais pressionada e uma falta de bolas (entenda "bagos", "culhões", não bolas de basquete) total dos armadores chineses. Sem Yao em quadra o pânico parecia geral, o pirralho-sensação Ricky Rubio atormentou todas as linhas de passe e poderia até ter vencido a partida num arremesso de último segundo. Quando começou a prorrogação, a seleção da China parecia um bando de pandas assustados. A pressão não era da defesa espanhola, mas da torcida, do governo, da audiência, da cultura, nenhuma bola se atrevou a cair e eles não tiveram a menor chance de ganhar o jogo. No fim, foi o esperado: vitória por 10 pontos da Espanha. Mas o sustinho, a partida histórica da China, deixou tudo especial.

Quando os Estados Unidos pegaram a Angola pouco depois, o jogo da China ainda estava na minha cabeça. Acho que as falhas da equipe americana estão ficando óbvias para todos nós, como os problemas arremessando de 3 pontos, a defesa de perímetro, os rebotes defensivos. A Angola é uma seleção infinitamente mais baixa e que deu um trabalho infernal para os Estados Unidos através de bolas de 3 pontos e uma forte briga pelos rebotes. Diabos, os americanos marcaram por zona durante apenas UMA jogada, sendo que esse seria justamente o modo de neutralizar a principal arma angolana na partida. Então é fácil apontar os defeitos.

Mas acho que estamos ignorando méritos muito óbvios. Os apuros pelos quais passou a Espanha nem ameaçaram acontecer com os Estados Unidos no duelo contra a China. O motivo principal foi a defesa - não a de perímetro, mas a pressão defensiva, as linhas de passe, o esforço para causar o erro, desestabilizar o adversário. Os chineses pareceram amadores contra essa defesa, gênios contra a defesa espanhola.

Justamente por isso, sou obrigado a dizer que os Estados Unidos são ainda mais imensamente favoritos porque podem pressionar qualquer time nessa intensidade ridícula. E também sou obrigado a aplaudir a seleção angolana. Quem lê os comentários do Bola Presa deve ter percebido que temos leitores em Angola que defendem tão apaixonadamente suas seleções, e com razão. Contra os Estados Unidos, o que faltava em altura foi compensada com intensidade e boa pontaria. Manter o ritmo contra os Robocops americanos era impossível, mas esse nem era o objetivo. Na luta pela dignidade em quadra, a Angola saiu vitoriosa e, convenhamos, perdeu de pouco. Eu já sou fã do Mingas, e você?

Agora é que o negócio começa a esquentar. Angola e China, às 3h30 dessa madrugada, é um duelo essencial para decidir o último classificado do grupo. Estados Unidos e Grécia, às 9h, nos dará idéias claras sobre o futuro dos Estados Unidos na competição. Será que os armadores gregos também acabarão parecendo amadores, ou todas as falhas americanas ficarão mais expostas do que nunca?

domingo, 10 de agosto de 2008

Dormir é para os fracos

Se o Yi Jianlian achava seu Bucks ruim, o que dizer da seleção chinesa?


Vou até o espelho, vejo minha cara amassada, as olheiras bem marcadas, e então não tenho dúvidas: a Olimpíada começou. Vários fãs de basquete podem ir para o espelho e conferir em seus próprios rostos também, afinal muitas pessoas apareceram para assistir aos jogos ao vivo em nosso chat. Tudo um bando de maluco que levou nossas dicas para curtir as Olimpíadas a sério e está duelando com seus despertadores e tirando cochilos esporádicos. Mas a verdade é que, para um primeiro dia, valeu bastante a pena.

A primeira partida da noite foi um desimportante duelo entre Rússia e Irã que eu supostamente deveria ter deixado de lado em nome de importantes minutos de sono, mas era o primeiro jogo e - sabe como é vida de viciado - eu simplesmente não resisti. É claro que os russos não tiveram nenhuma dificuldade, a seleção iraniana praticamente não existe. Aliás, o pivô titular do Irã (cujo nome foi apagado de minha mente pelo sono) é um dos piores jogadores de basquete que já vi na vida, perto dele o lendário Greg Ostertag sentiria pela primeira vez que sua mãe tinha razão quando dizia que ele era "especial" durante sua infância. Ainda assim, vale dizer que nos poucos minutos em que o armador russo Kholden (o naturalizado americano JR Holden) ficou fora da quadra, seu time pareceu bem perdido. Ainda que ele arremesse demais (foram 19 tentativas, com 9 acertos) é bem óbvio que a organização da equipe está em suas mãos.

Após essa brincadeira, a Alemanha enfrentou a Angola. Bem, digamos que se fosse boxe, o treinador angolano teria tacado a toalha ainda no meio do jogo. Mas ainda assim tenho que dizer que gostei da seleção de Angola. O tal do Eduardo Mingas sabe o que está fazendo, os jogadores são simpáticos, não têm pelos nas orelhas e parecem ter bastante potencial. Acontece que ninguém ali poderia ser capaz de parar Nowitzki e Chris Kaman. O pivô do Los Angeles Clippers comandou o jogo, acertando 10 de seus 12 arremessos, num total de 24 pontos. Os míseros dois rebotes a gente ignora, nesses jogos porra-louca não é fácil sobrar tanto rebote para um pivô lento e branco, ainda por cima. Já o Nowitzki fez 23 pontos chutando apenas 9 bolas e acertando 7, incluindo 3 bolas de três pontos e todos os seus 6 lances livres. Não cheguei a ver o alemão bocejando em quadra porque acabei pegando no sono antes. Sabe como é, minutos preciosos e o jogo mais aguardado era o próximo.

Grécia e Espanha era o clássico da madrugada de sábado para domingo e tirou o sono de todo mundo que apareceu no chat. Foi um jogo muito técnico e bastante disputado - quer dizer, até certo ponto. A Espanha simplesmente foi mais consistente e de repente, sem ninguém perceber, criou uma vantagem no placar que era muito difícil de ser revertida. Cheguei a desconfiar que havia rolado uma propina para o sujeito do placar aumentar os pontos espanhóis, porque juro que nem percebi quando a vantagem foi aberta. Pela Espanha, o grande destaque foi Rudy Fernandez, acertando um punhado de arremessos de fora e dando boas enterradas. E aí, você já está com medo do Portlando Trail Blazers? Pois deveria.

Outro espanhol que estará iniciando na NBA temporada que vem é o Marc Gasol, o irmão gordinho do Pau Gasol. Dá pra imaginar a infância desses dois? Um chamava "pau", o outro pesava mais do que todos os coleguinhas juntos. O Marc corre pra burro, tem bastante agilidade, mas aqueles que estão esperando uma estrela para compensar a ridícula troca do Pau Gasol para o Lakers, podem tirar o cavalinho da chuva. Pra mim, ao menos por enquanto, Marc é gordinho (e grosso) demais para os padrões da NBA. Pense num Eddy Curry branco, barbudo e que sabe levantar os braços. Melhor que ele, e que estará em 2010 na NBA, é o armador-sensação Ricky Rubio, que ainda não tem idade para beber mas já joga demais na seleção. Apesar de uns deslizes de pirralho, deu passes absurdos tipo Ronaldinho Gaúcho e é motivo mais do que suficiente para assistir aos próximos jogos da Espanha.

Pela Grécia, o Spanoulis até tentou equilibrar o jogo, mas não foi o suficiente. Para quem não se lembra, o grego era do Houston Rockets mas por não defender nem ponto de vista passou uma temporada inteira esquentando banco. Então, quando avisou que queria voltar para a Europa, o Houston conseguiu trocá-lo com o Spurs pelo argentino Luis Scola. A troca até hoje não faz um puto de um sentido, mas eu e os demais torcedores do Houston agradecemos. O Spanoulis voltou pra Europa e contra a Espanha mostrou que é realmente o Ginobili grego (se bem que, pelo nariz, o Ginobili já é grego em essência). Os dribles do Spanoulis são totalmente ginobilentos, ideais para dominar jogos e matar o técnico Greg Popovich do coração.

Por falar em argentinos, o melhor jogo da rodada foi sem dúvida Argentina e Lituânia. Os lituanos foram liderados por Sarunas Jasikevicious, um dos dez mil novatos estrangeiros que o técnico Don Nelson nunca colocou pra jogar no Warriors, e chegaram a abrir 12 pontos de vantagem com cerca de 5 minutos para o fim do jogo. A reação da Argentina veio na hora certa com arremessos certeiros, grande atuação de Carlos Delfino (que abandonou a NBA e lascou meu time de fantasy), e nos segundos finais o jogo já estava empatado. Ginobili teve a chance de virar o jogo nos segundos finais mas forçou um arremesso horrível. No rebote, Linas Kleiza, ala do Nuggets, acertou uma bola de 3 pontos com 1 segundo sobrando no relógio para vencer o jogo. Foi quase tão emocionante quanto a final de Arco e Flecha feminino por equipes, que estava rolando ao mesmo tempo.

Mas o jogo da Argentina serviu para levantar uma questão interessante. Muita gente reclama que na NBA qualquer coisa é falta, que as estrelas passam tempo demais cobrando lances livres, e até é verdade, já que David Stern mudou as regras de arbitragem justamente para aumentar os placares das partidas. Mas na partida com a Lituânia, ficou muito claro que tanto Oberto quanto Scola, que jogam na NBA, estavam desacostumados com a rígida arbitragem internacional. Os dois pulavam em bolas soltas no garrafão, criando contato que seria ignorado na NBA, e foram premiados com faltas nas Olimpíadas. Os dois ficaram pendurados com faltas boa parte do jogo e o Luis Scola estava visivelmente frustrado com as faltas de ataque que marcavam nele volta e meia. Pra mim ficou bem claro que a NBA é muito mais amena na arbitragem de contatos no garrafão - e de faltas flagrantes também, mas isso a gente comenta outra hora.

Ao fim desse jogo emocionante, foi o momento de tirar um cochilo de emergência. Afinal de contas, quem iria querer assistir Austrália e Croácia? Tudo que sei é que o Bogut fedeu (apenas 3 arremessos e um mísero rebote), que a Croácia praticamente não errou arremessos, e que foi um cochilo bem satisfatório sem nenhum resquício de culpa.

Mas já estava de pé para assistir China e Estados Unidos, claro. Vibrei um bocado com o começo chinês, acertando tudo quanto é bola de 3 pontos, incluindo uma do Yao Ming. A tática da seleção da China era visivelmente deixar o garrafão vazio e Yao passou a maior parte do tempo fora do garrafão, andando pela linha de 3 pontos e fazendo corta-luz para todo mundo. Essa mesma tática foi utilizada pela Rússia nos amistosos contra os Estados Unidos e se mostrou bem eficiente. Embora os rebotes ofensivos fiquem comprometidos, essa prática obriga Dwight Howard a sair do garrafão e principalmente impede os contra-ataques dos Estados Unidos, facilitando a transição defensiva. Obrigar a seleção americana a jogar basquete de meia-quadra é sempre melhor do que deixar que corram como uns malucos para enterrar na sua cabeça, e com isso a China manteve o jogo parelho por um bom tempo. Aos poucos foi se soltando no jogo, querendo correr mais, esquecendo um pouco a velocidade na hora de voltar pra defesa e perdendo bolas graças a marcação mais pressionada americana. Em uma pequena série de contra-ataques, os Estados Unidos abriram 20 pontos de diferença em um punhado de minutos. O fato de que os arremessos de 3 pontos simplesmente pararam de cair também não ajudou. A partir daí, o jogo foi só festa, com todo mundo querendo dar um passe mais maluco do que o outro, Yao ainda na quadra para deixar a torcida feliz (decisão bem imbecil, aliás) e o time reserva dos Estados Unidos com Michael Redd e Deron Williams se mostrando por muitas vezes melhor do que o titular.

As atuações de Dwyane Wade e LeBron James foram impecáveis, mas vamos deixar para falar neles após algum jogo de verdade em que não possam simplesmente sair correndo e enterrar porque são mais altos, fortes, atléticos e elegantes. Como o próximo jogo deles é contra Angola, vai demorar um pouquinho. Mas vamos estar aqui para assistir essa partida do mesmo jeito, por que não? Se a gente se empolga no chat assistindo Arco e Flecha debaixo de chuva, como é que iríamos resistir a um jogo de basquete, qualquer que seja?