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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Troca que não muda

- Shoryuken!

Finalmente uma movimentação! Estou torcendo para ter uma troca por semana para a gente ter o que falar no blog. Poderia até ser uma troca de James Augustine por Luther Head e um vale CD. Pelo menos essa troca renderia um desconhecido do mês para o Augustine, uma análise do nome de banda de metal do Head e as melhores opções de como gastar um vale CD na era do MP3.

Mas para nossa sorte a troca dessa semana envolve jogadores de peso que realmente fazem a diferença na NBA. O New Orleand Hornets mandou o Tyson Chandler para o Charlotte Bobcats em troca do Emeka Okafor.

No Twitter, com aquele limite patético de caracteres, só consegui dizer que os dois jogadores são muito parecidos: bons reboteiros, bons defensores e com ataque limitado. E que pareceria melhor quem jogasse ao lado do Chris Paul. Mantenho essa visão. No ataque os dois dependem muito das jogadas que são armadas para eles e nisso não há ninguém melhor que o Chris Paul, ele e o Chandler até tinham aquele pick-and-roll que acabava em ponte aérea que era marca registrada do time.


Mas além disso eles tem mais coisas em comum. Os dois foram segunda escolha de draft, o Chandler em 2001 e o Okafor em 2004. Os dois foram a segunda opção atrás de outro jogador de garrafão, o Chandler depois do fenômeno colegial Kwame Brown e o Okafor depois do fenômeno colegial Dwight Howard. Estes dois com histórias nem tão semelhantes na NBA.

Além do draft, a história dos dois na liga é ainda parecida. Os dois chegaram como promessa de jogadores fora de série. Para muitos na época do draft, o Okafor deveria ter sido o primeiro escolhido porque era uma opção mais segura enquanto Dwight era uma aposta no escuro. Em 2001 o Bulls trocou seu ótimo e regular Elton Brand para ter Tyson Chandler no elenco.

Anos depois os dois conseguiram o meio termo. Nenhum virou o Kwame Brown mas também não chegaram a ser as estrelas que deveriam ser, viraram titulares, importantes em seus times, mas com um jogo limitado e dependente.

Mas se são tão parecidos, para que trocar, certo? Segundo os managers e técnicos dos dois times, são pelos detalhes. O manager do Hornets, Jeff Bower (irmão mais novo do Jack Bauer), disse que o Okafor, apesar de ter tido contusões no começo da carreira, já não sofre com elas há algum tempo (não perdeu nenhum jogo nas últimas duas temporadas) e é uma opção mais confiável para jogar de pivô. Ele dá a entender algo que é realmente verdade, a inconsistência do Chandler, que além de perder muitos jogos com o dedão do pé machucado era capaz de fazer 15 pontos e 15 rebotes num jogo e 5 pontos e 5 rebotes no jogo seguinte.

Já o Larry Brown, técnico do Bobcats, disse que a troca foi puramente basquetebolística. Nada a ver com contusões, salários e etc. Ele simplesmente acha que o time será melhor com o Chandler no lugar do Okafor. Ele cita a velocidade do Chandler e a sua altura (é 8 centímetros maior que o Okafor) como fatores que farão o time melhor.

Acho que os dois tem sua dose de razão. O Chandler é mais rápido, mais alto e até mais atlético, talvez ajude a dar uma movimentação melhor ao ataque do Bobcats, que é muito lento. Já o Okafor no Hornets faz com que eles tenham um cara que pode ajudar o Chris Paul regularmente, o que não é o caso do Rasual Butler e do Stojakovic, por exemplo. Mas isso também quer dizer que eles estão resolvendo um problema e criando outro.

Nos seus dias apagados ou precisando descansar o dedão, o Bobcats terá que apelar para DeSagana Diop e o Hornets poderá dizer adeus àquelas pontes aéreas, o Okafor não é dessas coisas.

Acho que os dois times fizeram certo ao trocar. Apesar de ver apenas mudanças mínimas em suas características principais, era claro que nenhuma das duas equipes iria mais longe do que foram no ano passado sem algumas mudanças, melhor mudar pouco do que não mudar. E também acho que a mudança é válida porque os jogadores podem evoluir ao mudar de time e encontrar outros técnico e outro estilo de jogo.

Pode ser importante para o Emeka Okafor jogar ao lado do Chris Paul e ser treinado pelo Byron Scott. Se algum vestígio do bom jogador ofensivo que era prometido em 2004 ainda existe, são esses dois que podem fazê-lo despertar. Já para o Chandler, que há duas temporadas foi considerado por muitos o melhor reboteiro e um dos melhores defensores da NBA, poderá ser uma boa trabalhar com o Larry Brown, um dos caras que mais sabe montar defesas na NBA e transformou o Ben Wallace naquela máquina de defender no Pistons.

Quem sabe os dois jogadores limitados não ganham mais vida na NBA com essa troca de ares e de sistemas de jogo? Pode ser que eu só acordei bem humorado e otimista, tudo bem, mas é uma possibilidade. E que fique claro que o Hornets ainda não tem banco de reservas e que o Bobcats ainda não confirmou o Raymond Felton para a próxima temporada, sem essas duas coisas não há troca que resolva!


Três curiosidades:
1. Com a saída do Okafor agora o Gerald Wallace é o único remanescente do time original de Charlotte que entrou na NBA em 2004. Pra quem não lembra, aquele time tinha, além de Wallace e Okafor, caras como Brevin Knight, Eddie House, Jason Kapono, Keith Bogans, Primoz Brezec e Melvin Ely. O Bobcats acabou aquela temporada com 18 vitórias.

2. Essa foi a primeira troca entre o New Orleans Hornets e o time que o substituiu na cidade de Charlotte, o Bobcats. Todos devem lembrar que até a temporada 2001-02 existia o Charlotte Hornets e todo mundo aqui no Brasil tinha um boné, mochila ou pochete com aquela bendita abelinha. Só perdia para os produtos do Bulls.

3. Na temporada passada, Hornets e Bobcats acabaram exatamente empatados na média de rebotes por jogo. Tanto o time com Chandler como o com Okafor tiveram 39,7 rebotes por jogo. Apenas três times (Heat, Kings e Grizzlies) conseguiram ser piores.

sábado, 22 de novembro de 2008

O dia da volta

Carter sempre fez isso em Toronto


Eu queria mesmo conhecer quem faz esse calendário da NBA. Não deve ser nada, nada fácil. O cara tem que colocar jogos bons para a televisão na quinta-feira para favorecer a TNT de lá, às sextas tem que ter os jogadores que a ESPN quer mostrar em jogos bons e ao mesmo tempo eles tem que fazer com que os times não tenham que fazer viagens insanas todos os dias. Isso sem contar os contratempos, como o Circo (Circo! E não é o Circo Espacial) que todo ano vai ao ginásio do Chicago no fim de novembro, ou quando tem rodeio no ginásio de San Antonio.

E no meio de toda essa palhaçada eles ainda conseguem fazer dias temáticos. Ontem foi o "Dia da volta para casa". Então tivemos o Vince Carter voltando a Toronto, o Elton Brand enfrentando seu velho Clippers, Kevin Garnett jogando em Minessota e o Hornets jogando em Oklahoma City.

Comecemos com o melhor jogo da noite: Raptors e Nets. Foi um daqueles jogos pra você virar fã de todo mundo. Todos jogaram bem, todos mostraram o que sabem, os dois times beiraram os 130 pontos, foi uma festa, principalmente se você não torce para o Raptors. Se você torce para eles é um jogo a ser esquecido.

Jose Calderon finalmente está de volta à equipe e fez a festa com o Chris Bosh nos três primeiros quartos de jogo. Os dois estavam simplesmente brincando com a defesa do Nets de todas as maneiras possíveis e imagináveis e até o Andrea Bargnani, o melhor jogador da NBA com nome de menina, estava na melhor noite da sua carreira.

Aí tudo começou a desmoronar, começando pelo joelho do Jermaine O'Neal. Tava bom demais ele passar 12 jogos sem nenhuma dorzinha sequer. Depois do Yao, T-Mac e Baron Davis já terem perdido jogos por contusão, estava na hora do Jermaine estourar o joelho. E pode ter sido grave o negócio, não tem nenhuma notícia oficial mas a imagem foi bem feia.

Com um Jermaine a menos, o Raptors conseguiu desperdiçar uma vantagem de 18 pontos, sendo 7 deles nos últimos 25 segundos de jogo. Tudo por causa do Vince Carter, que fez 12 pontos seguidos no final do jogo para levar para a prorrogação. Os últimos três foram em um arremesso sensacional de muito longe com a marcação do Anthony Parker grudada nele, um arremesso histórico que o Carter comemorou como um doido, como eu não via ele comemorando há anos.

Ele estava comemorando por vários motivos, não era só porque foi um arremesso tão foda que você sairia pulando até se fosse naquela cestinha que você deixa atrás da porta do quarto, era porque foi contra o Raptors. De maior ídolo da história da franquia, ele se tornou o maior vilão depois de ter implorado para sair de lá, toda santa vez que bota o pé em Toronto ele é vaiado. Aposto que as camareiras do hotel vaiam ele, o motorista do ônibus vaia ele, a mulher dele deve vaiar ele na cama quando estão em Toronto. O Carter fez um dos arremessos mais fodidos da carreira dele com vaias e mais vaias na orelha, não é à toa que vibrou tanto.

Com o jogo na prorrogação, foi mais um show de grandes jogadas. Primeiro dois arremessos do Devin Harris sobre o Calderon para abrir uma boa diferença, depois o Chris Bosh acertou um arremesso de 3 para diminuir a diferença pra 1, e com a vantagem de volta a três pontos o Anthony Parker acertou um arremesso-Raja-Bell para empatar o jogo. Foi então a vez do Carter brilhar mais uma vez, agora vencendo o jogo contra o seu maior rival pessoal com uma enterrada de costas em uma ponte-aérea. Que tal? Cinematográfico o bastante? Foi o bastante para ser um dos melhores jogos da temporada até agora, ou pelo menos o com o melhor final.

Para quem gosta de números (eu!), dêem uma olhada no nível das atuações de ontem. Defesa? Coisa de viado!
Jose Calderon: 26 pontos, 15 assistências
Andrea Bargnani: 29 pontos, 10 rebotes
Chris Bosh: 42 pontos, 9 rebotes
Devin Harris: 30 pontos
Vince Carter: 39 pontos, 9 rebotes, 2 arremessos de último segundo e 1 torcida irada.

O Raptors não é um time ruim, mas sempre me dá a impressão de que eles podem mais do que fazem. Eles são bons o bastante para não desperdiçar com derrotas o segundo jogo de mais de 40 pontos do Bosh (ele fez 40 pontos e 18 rebotes contra o Orlando outro dia). Assim como são bons o bastante para não perder uma vantagem de 18 pontos contra o Nets.

Para as principais jogadas do jogo de ontem, tem esse vídeo aqui com os melhores momentos:



Mais sobre o Vince Carter:

Sempre questionaram (eu também) a motivação do Carter. Nunca pareceu que ele realmente se importava em vencer jogos, ele parecia querer se divertir, fazer suas enterradas e então ir pra casa. Quando pareceu que ele queria vencer, criou inimigos - foi quando cansou de perder no Raptors e exigiu ser trocado.

No Nets ele começou a ser criticado porque não ajudou o Nets a ser o time vencedor que seu elenco mostrava que poderiam ser, aí quando o Kidd foi trocado estava todo mundo esperando ele exigir sua próxima troca. Mas surpreendeu todo mundo dizendo que não queria ser trocado, que gostava da molecada do Nets e queria ser um líder em New Jersey.

Mas além dessa idéia de ser líder, estou gostando mais do Carter nessa temporada porque ele está jogando melhor mesmo. Talvez essa motivação criada por ele em ser o líder seja o motivo, não sei, mas o fato é que está tomando decisões melhores dentro da quadra. Ontem ele soube perfeitamente quando arremessar de longe, quando usar sua habilidade de outro mundo de ilfiltração e, mais importante, quando ficar de lado e deixar o Devin Harris jogar.

Nada contra o Knicks, mas se eu fosse o LeBron eu iria preferir ir para o New Jersey (Brooklyn?) Nets jogar com Carter e Devin Harris do que ir para Nova York jogar com o Chris Duhon e o Al Harrington.

Ah, além disso tudo que eu disse, o Carter é também um grande e gigantesco mentiroso:

"Minha atuação contra o Cleveland foi inaceitável. Eu me considero o líder desse time e preciso jogar bem. Não tem nada a ver com o lugar em que estamos jogando ou contra quem, tem a ver com jogar melhor para ajudar meu time."

Tá bom. E se o Pitta não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim.

Já as outras visitas não renderam grandes jogos:

Com o Garnett em Minessota, a torcida o aplaudiu de pé antes do jogo, coisa que eu não teria feito se fosse torcedor do Wolves, pelo menos não depois daquele final de jogo no ano passado em Boston, vocês lembram? Mas eles esqueceram e ontem deram essas boas-vindas, com as quais o KG pareceu não se importar muito:




O confronto do Elton Brand com o Clippers pode ser definido em três partes:

1. Baron Davis: "Eu não tenho nada pra falar pra ele."

2. O técnico Mike Dunleavy: "Tivemos 5 anos ótimos com o Elton aqui, eu amava ele. Mas agora existe um certo desapontamento porque eu não sei o que aconteceu, não sei porque ele foi embora. Nunca deixávamos passar 10 ou 15 minutos depois de uma mensagem ou ligação sem nos respondermos, de repente ele ficou em silêncio".

3. Elton Brand faz a cesta da vitória no último minuto de jogo. Sixers 89, Clippers 88.




A volta do Hornets foi bizarra. Esse vai-e-vem de times é uma confusão difícil de entender. Aposto que muita gente em Oklahoma City torce para o New Orleans por ter visto os dois primeiros anos da carreira do Chris Paul, quando o Hornets foi para Oklahoma City jogar temporariamente devido ao furacão Katrina. Imagina ter dois times diferentes na sua cidade em tão pouco tempo, deve ser uma sensação muito estranha mesmo. Mas se alguém estava na dúvida para quem torcer, o jogo serviu para o cara se lembrar que o Hornets é bom e que o Thunder é o pior time da NBA. Eita joguinho sem graça.

Pelo menos não foi um jogo completamente inútil:

"Visitei minha filha e vim no meu restaurante favorito em Oklahoma City".

Boa, Byron Scott. Alguma coisa de emocionante tinha que acontecer.

O Thunder, aliás, acaba de demitir o técnico PJ Carlesimo. Será que eles acham que a culpa do início de 1 vitória e 12 derrotas é por causa do técnico e não porque eles usam o Robert Swift e o Johan Petro de pivôs? Estranho.

domingo, 21 de setembro de 2008

Análise dos técnicos - Divisão Sudoeste

O ex-técnico Jeff Van Gundy afirmou que suas
olheiras são culpa do Bola Presa



Você pediu, você implorou, você esperneou e fez birra. Você ameaçou a gente de morte. Alguns caras nos Estados Unidos até mesmo se negaram a pagar suas dívidas do setor imobiliário, gerando uma crise econômica global. Jeff Van Gundy disse não ter motivos para viver ao ser demitido e não poder mais figurar em nosso post. Então é hora da gente deixar a preguiça de lado e cumprir o que prometemos: uma análise de todos os técnicos da NBA, um por um, pra você se mostrar para os amiguinhos e fingir que entende tudo de basquete. Só não vá pensando que vai conquistar alguma garota assim, até porque conhecer técnicos de basquete não vai te fazer ganhar dinheiro. Mas é o que separa os homens dos meninos, porque conhecer o LeBron James é fácil, aloprar o Kwame Brown é comum, mas saber se o técnico Eddie Jordan é bom ou ruim é coisa para um grupo seleto da população. Uma casta de fracassados que não tem mais nada pra fazer da vida além de absorver basquete e ficar escrevendo num blog por aí.

Resolvemos separar os técnicos por divisão, de modo a apresentar diariamente cinco deles de cada vez. Assim, teremos uma espécie de "semana dos técnicos" e, para celebrar a ocasião (não é sempre que fazemos um post tão exigido pelos leitores sem que tenhamos recebido propina), o técnico do Lakers, o vovô Phil Jackson, está olhando para você na nova foto do nosso template. Esperamos que todos os pentelhos que tanto pediram por essa série de posts estejam felizes e saltitantes e vamos então às análises, antes que bata a preguiça e a gente mude de idéia. Para começar, de forma aleatoriamente arbitrária, elegi a conferência do meu time, o Houston Rockets. Então, hora de fuçar nos técnicos da divisão Sudoeste.


Rick Carlisle, Dallas Mavericks

O técnico Rick Carlisle é famoso por ser um dos maiores estrategistas do basquete. Domina a parte tática do jogo como ninguém, ciente de todas as nuances e possibilidades em quadra. Muitos técnicos admitiram invejar a capacidade de Carlisle de adaptar suas táticas ao que está acontecendo no jogo, alterando o que for necessário para manter a partida sob controle. O único problema é que Carlisle é tão inteligente e versado no jogo da prancheta que acaba tendo problemas em se comunicar com seus jogadores no mundo real. Dá pra imaginar o cara falando por uns 15 minutos, citando nomes de jogadas, números, dados, traçando linhas e mais linhas na prancheta com trezentas variações de ataque e infinitas movimentações ofensivas para, ao terminar, ouvir alguém como o Ben Wallace perguntar: "Peraí, professor, o que você quer é que a gente coloque a bola na cesta, é isso?" É como se o PVC, o comentarista enciclopédia-humana da ESPN Brasil, fosse virar técnico de futebol. Ele ia descrever como o ataque adversário está usando uma variação da linha da Iuguslávia em 64 e os jogadores iriam tirar um cochilo. Um equivalente possível no futebol seria o Luxemburgo, que dizem ter problemas para se comunicar com os seus jogadores apesar (ou por causa) do domínio tático.

Quando estava no Pistons por duas temporadas, o Carlisle chegou a ser o técnico do ano e levou o Pistons a mais de 50 vitórias nas duas vezes, apanhando depois nos playoffs e sendo demitido. Quando foi para o Pacers, logo depois, venceu mais de 60 jogos, acabou em primeiro lugar na Conferência mas perdeu na Final do Leste para o Pistons de Larry Brown. Desde então, contusões acabaram com o elenco do Pacers e, diz a lenda, ninguém mais aguentava o blá-blá-blá do Carlisle, principalmente porque ele não tem muito tato para lidar com sujeitos como Jamaal Tinsley e Ron Artest. Agora ele é o novo e feliz técnico do Dallas Mavericks. Na temporada passada, quando Kidd foi trocado para o time, foi simplesmente tacado no elenco, apenas tapando o buraco deixado na armação. Não houve nenhuma adaptação do esquema tático. Agora, do jeito que Carlisle é biruta e do jeito que Kidd é um dos armadores mais inteligentes da NBA, é muito provável que o armador comande um ataque complexo com quatro mil variações. Se existe alguém no mundo capaz de entender o que o Rick Carlisle está pedindo, esse alguém é Jason Kidd. Para a próxima temporada, veremos se esse casamento dará certo e se Kidd parecerá ter menos de 60 anos. O único problema é que Carlisle costuma focar bastante na defesa e Kidd, bem, Kidd não defende mais nem ponto de vista.


Rick Adelman, Houston Rockets

O técnico do meu Houston sempre foi um dos meus favoritos na NBA. Na época em que Nash e D'Antoni não faziam o Suns correr como débeis mentais, o Sacramento Kings era sem dúvida nenhuma o time mais divertido de se assistir. Tudo porque a filosofia de Adelman é criar um ataque que flua naturalmente em quadra, com liberdade e criatividade. As variações ofensivas são muitas, a improvisação é estimulada e todo mundo acaba arremessando muito em seus times. No entanto, a ênfase não é na velocidade, como no Suns de D'Antoni. Aliás, Adelman não é um grande fã de contra-ataques, preferindo que o time tenha calma para desenvolver suas jogadas ofensivas. Alguns dizem que a tática de Adelman é uma suruba, em que todo mundo faz o que bem entende, mas outros afirmam que ele é bastante rígido com as movimentações ofensivas. Ele não se importa se um jogador incompetente errar 100 arremessos no jogo, desde que em todos eles tenha havido movimentação, fluidez e calma no ataque. Imagina como o Marbury ia ficar se coçando num esquema desses!

Num time de Adelman, todo mundo toca na bola. Os pivôs costumam sair de perto da cesta, ficando bastante na cabeça do garrafão, e aproveitando sua altura para dar passes precisos. Com Brad Miller e Yao Ming, funciona. Se tem uma coisa que o Adelman sabe fazer é usar as qualidades de seus jogadores ao máximo, seja altura, velocidade ou arremessos de fora. Mas o único modo de saber se Adelman sabe mesmo se adaptar ou se é ditatorial demais no ataque seria colocar o Kwame Brown em suas mãos e ver se ele insiste em colocar a bola nas mãos de moça do Kwame.

Por ser um técnico tranquilo, Adelman ficou famoso por saber lidar com jogadores problemáticos, tendo sucesso com Ron Artest e até com o Trail Blazers na época em que eles pareciam um episódio do "Cidade Alerta" da Record. Mas também tem fama de não cobrar muito os jogadores, principalmente na defesa. Recentemente, deu o braço a torcer e resolveu manter no Houston a defesa que havia sido instituída com sucesso pelo Jeff Van Gundy, modificando apenas a estrutura ofensiva. Deu bastante certo, o Houston destruiu na temporada regular mesmo sem Yao Ming, mas eu ainda não entendo o motivo de, nos playoffs, Adelman ter mudado a rotação do time. Ainda arrebento ele na saída.


Marc Iavaroni, Memphis Grizzlies

De duas uma: ou o Iavaroni é burro ou precisa muito alimentar suas crianças. De outro modo, não vejo porque teria aceitado o cargo de técnico do Grizzlies. Já foi assistente técnico de Pat Riley, passou os últimos anos se divertindo como assistente técnico na correria do Phoenix Suns, mas preferiu agora ser o capitão responsável por um barco naufragado pela metade. Se o cargo não fosse ruim o bastante, ainda aprontaram feio com o coitado, trocando a estrela do time, Pau Gasol, por três feijões mágicos e mais o Kwame Brown, o pesadelo de qualquer técnico. Talvez o Grizzlies esteja apenas montando um reality show apresentado pelo Silvio Santos, entitulado "Como enlouquecer um técnico novato". Se ele não se matar até o fim da próxima temporada, receberá seu prêmio em barras de ouro, que valem bem mais do que dinheiro.

Se o Marc Iavaroni é bom ou ruim? É impossível dizer. Primeiro porque ninguém assistiu jogo nenhum do Grizzlies na temporada passada, nem a gente aqui no Bola Presa, nem os torcedores do time, nem a família dos jogadores. Segundo porque não dá pra julgar a capacidade de alguém tendo que comandar um dos piores elencos de toda a NBA. Contra o Iavaroni, consta a lenda de que, uns anos atrás, ele achava o Jake Tsakalidis o único pivô que seria capaz de rivalizar com Shaquille O'Neal. Como a especialidade do Iavaroni são os homens de garrafão, imagina só o tipo de merda que ele deve falar de armadores, por exemplo.


Byron Scott, New Orleans Hornets

O ganhador do prêmio de técnico do ano na temporada passada é um dos utilizadores na NBA da denominada "Princeton offense", um conjunto complexo e rígido de táticas ofensivas utilizadas durante décadas pela Universidade de Princeton. Trata-se de priorizar a movimentação de bola, com uma infinidade de passes, a maioria dos jogadores atrás da linha de três pontos, até que exista espaço para arremessos livres ou infiltrações por trás dos defensores (sem duplo sentido, por favor). É um ataque lento, que visa a marcar poucos pontos, exige um grande esforço coletivo e é ideal contra adversários mais atléticos. Normalmente, armadores não são muito necessários na "Princeton offense", porque qualquer um pode iniciar a movimentação ofensiva, então basta um armador mediano que esteja disposto a passar a maldita bola. Fica fácil de entender o porquê de Byron Scott ter trocado Marbury pelo Kidd assim que assumiu o Nets, não fica? Com Kidd, aliado à "Princeton offense" e aos famosos recursos motivacionais de Scott, o Nets chutou traseiros e foi campeão do Leste. Agora, no Hornets, quem rege a "Princeton offense" é o Chris Paul, um armador inteligente e disposto a passar a bola a todo custo.

É claro que a implantação da tática é mérito de Byron Scott, e ele é famoso por colocar em seus jogadores uma mentalidade de jamais desistir em momento algum das partidas, fazendo todo mundo acreditar que pode ganhar. Mas como seria seu desempenho sem armadores espetaculares como Kidd e Chris Paul para reger uma das movimentações mais complexas do universo basquetebolístico? E se você quer saber mais sobre a "Princeton offense", pense duas vezes antes de pedir para o Bola Presa fazer um artigo a respeito: é difícil pra burro entender a fundo essa porcaria e também lembramos que toda vez que nos cobram algum post, o mercado financeiro dos Estados Unidos entra em colapso. Cuidado.


Gregg Popovich, San Antonio Spurs

O técnico que todos amam odiar, o técnico que não cansa de ganhar, que faz os nerds das pranchetas terem orgasmos múltiplos e coloca para dormir todo o resto da civilização ocidental contemporânea. Tudo porque Popovich foca seus esforços na defesa enquanto tem fama de ser um dos técnicos mais severos e controladores no ataque (ele é tipo mulher ciumenta). Tente dar um arremesso que Popovich não planejou com antecedência de 48 horas e você será colocado no banco. Para conseguir arremessar uma simples bola, Tony Parker precisa preencher um formulário e autenticar em três vias - seja lá o que isso significar. Mas a verdade é que os jogadores no Spurs apenas obedecem o que está instituído, colocando em prática um ataque maquinal e absurdamente funcional. Duncan estará sempre em posição para seu clássico arremesso usando a tabela, Tony Parker sempre poderá infiltrar e passar a bola para a zona morta e Bruce Bowen sempre estará livre por aquelas bandas, pronto para arremessar de três e ser um bundão. Apenas Ginóbili é inesperado porque ele faz as mesmas coisas de modos extraordinários, com aquelas passadas malucas e destrambelhadas que, segundo o próprio Popovich, matam ele do coração.

Quando falo do Popovich, sempre uso como exemplo sua relação com Tony Parker. O francês tinha uma cota máxima de arremessos que podia dar de trás da linha de 3 pontos (sem brincadeiras!) e, quando começou sua sua carreira no Spurs, era obrigado a passar a bola para fora do garrafão ao invés de fazer as bandejas que hoje lhe são marca registrada. Com o tempo, foi ganhando mais liberdade com o técnico - o que equivaleria a uma mãe dizer que a filha não pode ir para a balada, mas que agora pode passar maquiagem dentro de casa. Para nós, fracassados que perdemos para o Spurs a torto e a direito, sua relação ditatorial com o time, respostas mal humoradas e cara de quem está com uma eterna apendicite nos fazem odiar Gregg Popovich como poucos no mundo. Mas tem mais: "Pop" (como alguém tão mal encarado pode ter um apelido tão fofucho?) era dirigente do Spurs, demitiu injustamente o técnico do time e se auto-proclamou o novo treinador, cargo que exerce desde então. Se ele não fosse um branquelo em um time texano, provavelmente o presidente Bush iria colocar o exército para intervir na questão. E o mais engraçado é que Popovich disse que deve se aposentar assim que acabar o contrato de Tim Duncan, ou seja, provavelmente não quer testar como seriam seus resultados sem um dos melhores jogadores de todos os tempos ao seu lado. Bem, se pudesse escolher, eu também não testaria.

E não adianta me dizer que estou com dor de cotovelo porque sim, estou com dor de cotovelo. O Gregg Popovich ganhou demais na vida, deixa pelo menos um blog na internet dar a entender que o cara é fracassado, tá legal?

terça-feira, 6 de maio de 2008

O mistério de David West

O enquadramento da foto não mostra, mas West está levantando a perna pra mijar num poste


Afinal de contas, qual o lance com David West? Ele é ou não uma estrela? Sabe ou não sabe defender? É ou não é um bom passador de bola? Tem ou não tem alergia a rebotes? Não consigo descobrir as respostas para as questões anteriores, porque cada vez que David West entra em quadra parece ser um jogador diferente. Não quero dizer com isso que ele seja inconstante, que domine um jogo apenas para desaparecer no próximo. Minha teoria a respeito é um pouco diferente: acho que David West nunca parece o mesmo em jogos diferentes porque é inteligente.

No primeiro jogo contra o Spurs, West parecia ser incapaz de errar seus arremessos de meia-distância, em que levanta a perna da frente comicamente como se fosse um cachorro prestes a esvaziar a bexiga. Enquanto o Spurs se preocupava em marcar o garrafão, David West se afastou da muvuca e disparou seus arremessos de modo certeiro. Quando finalmente perceberam o que estava acontecendo e a marcação resolveu seguí-lo, passou a arremessar de mais perto do aro e até a bater para dentro, eventualmente. Uma coisa sensacional a respeito do West é que ele é completamente invisível, e não do jeito Jessica Alba de ser. O ala do Hornets é tão ignorado, considerado tão secundário, que quando alguém lembra que ele está em quadra, o sujeito já fez 30 pontos.

No jogo seguinte, West perdeu a invisibilidade e a defesa do Spurs finalmente sabia seu nome e talvez até seu rosto, quem sabe. Bem marcado, não teve liberdade nos arremessos e por isso parecia um jogador completamente diferente em quadra. Não porque errava tudo, mas porque se focou em outras coisas. Fez um trabalho defensivo exemplar, pegou rebotes, exerceu o papel de facilitador no ataque. Saiu de quadra com 10 rebotes, 5 assistências e um diploma de Melhor Atuação Que Não Se Vê Nas Estatísticas. Nas entrevistas depois do jogo, escancarou a estratégia e alegou ter realmente se focado na defesa, porque no ataque as coisas são naturalmente mais fáceis para o Hornets.

O cara é mais ignorado do que ex-participante de reality show. Pensa bem, você reconheceria algum cara do primeiro Big Brother? Lembra de alguém do "No Limite" fora aquela gordinha que ganhou a parada? De todos os jogadores da NBA que foram para o All-Star Game, será que alguém passaria despercebido por você na padaria do seu bairro, fora o David West? Quantas dezenas de arremessos decisivos de último segundo David West acertou da cabeça do garrafão porque os outros times da NBA não fazem a menor idéia de quem é aquele sujeito levantando a perna enquanto arremessa e ganha o jogo? Os números não dizem nada, os olheiros não devem dar importância ao ala do Hornets, mas ali está o sujeito como parte fundamental de uma equipe que está chutando o traseiro fedido do Spurs.

O Byron Scott é gênio, faz até cruzadinhas no nível "É Foda" entre as refeições. E o que um técnico inteligente pode fazer com jogadores inteligentes em quadra é algo sem limites. Que me importa se David West é mais-ou-menos, não pega uns rebotes que lhe acertam em cheio o nariz ou se não consegue distinguir mulheres barangas de travestis? O que interessa é que ele é inteligente em quadra, sabe perfeitamente de seu papel, está disposto a obedecer integralmente as orientações táticas de seu técnico, e não teme fazer 30 pontos em um dia e apenas 2 pontos em outro. Dentro de suas limitações, faz aquilo de que seu time precisa: sendo um jogador secundário, sendo estrela, acertando o arremesso decisivo ou indo dobrar a marcação em Tim Duncan. É isso que faz a diferença no elenco - será que Carmelo Anthony toparia fazer apenas 2 pontos em nome da vitória?

Juntando os retalhos, vamos formando a equação do time que eliminará o Spurs nas semi-finais da Conferência Oeste: um técnico inteligente, jogadores taticamente espertos e conscientes, um candidato a MVP em Chris Paul, e também Melvin Ely.

"Espera, Melvin Ely?" É, Melvin Ely. Eu sei que parece nome de atriz pornô, mas trata-se de um jogador da NBA que, esse sim, não seria reconhecido na padaria nem mesmo nos Estados Unidos. Arrisco até que nem a mãe dele conseguiria reconhê-lo, tamanha é a sua insignificância. Eu achava que ele estava no Hornets porque daria mais trabalho burocrático tirar ele da folha de pagamento do que deixar ele por lá mesmo, afinal ninguém percebe sua presença e ele deve comer pouquinho nas refeições. Mas é claro que eu estava enganado. Melvin Ely era a arma secreta que toda a NBA procurava na última década: apenas ele tem o conhecimento para parar a mais destrutiva arma do planeta Terra. O que seria um roteiro brega de filmes de espionagem é na verdade um conceito bem simples: Melvin Ely treinou anos e anos com Duncan, apanhando dele treino após treino, e agora alega conhecer todas as suas tendências e saber como parar seus movimentos.

A princípio, duvidei inteiramente. É como se um cara aparecesse do nada e falasse "eu sei como tirar o Faustão do ar". Mas se soubesse mesmo, será que não teria falado antes? Tinha que deixar a gente sofrendo por anos antes de liberar uma informação tão útil para a humanidade? Um cara me oferece a cura para a AIDS ou um modo de parar Duncan e eu fico com uma maneira de parar Tim Duncan. É um bem essencial e universal! Ou seja, se Melvin Ely tem mesmo esse conhecimento, deveria ser preso imediatamente por ter suprimido informação essencial ao bem comum!

Seja o conhecimento de Melvin Ely verdadeiro, seja apenas um modo de ser contratado pelo Suns na temporada que vem, o importante é que deu certo. Contra todo o bom senso, o Hornets está dobrando a marcação em Duncan e Tyson Chandler, que recebeu um treinamento diretamente de Ely, está fazendo um trabalho melhor do que nunca. Que tal o Melvin Ely abrir uma clínica de marcação no Duncan quando a temporada acabar? Aposto que será mais visitada do que a clínica de basquete do Matt Bonner.

É por essas e outras que o Hornets tem aquele cheiro de time campeão da NBA: as peças certas na hora certa. Até o Melvin Ely foi parar na brincadeira e soltar o ponto fraco de Duncan. (aliás, ter ponto fraco é muito coisa de vilão de videogame, e eu sempre desconfiei que o Tim Duncan era virtual mesmo, talvez saído do Resident Evil.) Com todas as circunstâncias apontando para uma eventual vitória do time de New Orleans, será que já cabe pensar em enfrentar Lakers ou Jazz? Algo me diz que o técnico Byron Scott deve estar tentando entrar em contato com o ex-jogador Ruben Patterson agora mesmo. Afinal, não era ele que, no maior estilo Melvin Ely, se auto-entitulava o melhor marcador de Kobe Bryant?

Será que se eu fizer uma fama como o único que sabe marcar LeBron James, vou parar na NBA? Aliás, hoje tem o primeiro jogo das semi-finais entre Cavs e Celtics. Vamos descobrir, em breve, se o Celtics precisará de meus serviços.