quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Dos arremessos de três
A pirralhada resolveu, nessa temporada, provar que sabe arremessar de três pontos. É uma série de caras novas, a maioria ainda cheia de espinhas, ganhando a vida bem longe do garrafão. O Danilo Gallinari, por exemplo, que é o líder em bolas de três convertidas por partida, tenta mais de 7 bolas de longa distância por jogo. Dois terços dos arremessos que ele deu até agora foram bolas de três, o que constitui uma fobia de garrafão tão grande que o Rasheed Wallace fica até parecendo um sujeito normal. Sorte do Gallinari que ele joga no Knicks, onde fazer uma bandeja dá prisão perpétua (no Warriors dá cadeira elétrica), porque se ele jogasse no Spurs já estaria esquentando banco.
A lista de bolas de três pontos convertidas por jogo tem, além do Danilo liderando a parada, uma renca de outros garotinhos sem pêlos no saco, como Channing Frye, Brandon Jennings (o novato dos 55 pontos), Eric Gordon e o Ryan Anderson, que substituiu o Rashard Lewis (suspenso no exame anti-doping) tão bem, mas tão bem, que já já vão ter que obrigar ele a mijar num potinho.
Na lista de bolas de três pontos convertidas na temporada, o líder é o Channing Frye, seguido pelo Gallinari. Ou seja, a criançada está realmente convertendo os arremessos de fora. As duas listas se complementam para afirmar essas caras novas, mas também para indicar quais times estão mais focados nos arremessos de três.
Além do Frye, o Jason Richardson aparece entre os que mais convertem arremessos de três por partida. O resultado é que o Suns é o time que mais chuta de longe e tem o melhor aproveitamento. É uma volta aos bons e velhos tempos de correria, pontuação alta, bilhões de assistências e bolas de três pontos. Talvez o plano do Suns tenha sido fingir que estavam enterrando a tática do "run and gun" até o Spurs começar a feder, para só então retomar a estratégia e tentar ganhar um anel. Pode até dar certo, e nós que acreditamos no Papai Noel e na virgindade da Sandy botamos uma fé no Suns, mas se eles passarem de uma defesa como a do Celtics eu sou um mico de circo. Ainda assim, esse Suns parece um tanto mais voltado para os arremessos de fora do que aquele que conhecíamos. Se não bastasse até jogador da safra "figurante do Chaves no episódio do suco de tamarindo" acertar as bolas de três, como é o caso do Jared Dudley, o pivô da equipe agora também chuta de longe e está no topo das listas que citamos. Ninguém acreditava muito no Frye, alertamos aqui antes da temporada começar que essa seria sua última chance na NBA, mas ele alterou seu estilo de jogo para casar perfeitamente com o Suns e está sendo uma grata surpresa. Se ele for pro campeonato de três pontos do All-Star Game vai ser hilário e poderemos acrescentar o rapaz para a lista de jogadores bons que o Knicks tinha mas trocou por pipoca.
Continuando na lista de bolas de três pontos convertidas na temporada, o terceiro lugar pertence ao Trevor Ariza, enquanto o sexto lugar é do Aaron Brooks. A sensacional lógica matemática do "Instituto 8 ou 80 de Estatísticas Bola Presa" aponta, então, que o Houston arremessa de três pra caralho. Nenhum dos dois está tendo uma temporada espetacular, são muito inconsistentes, as bolas volta e meia não caem, mas o trabalho em conjunto da equipe segura as pontas quando alguém está fedendo e isso permite que todo mundo possa continuar chutando de fora sempre que surgir a oportunidade. Isso é acreditar no sistema, saber que você faz o seu papel mesmo quando não funciona, e que os companheiros de equipe fazem o papel deles e concertam se tudo o mais der errado.
Mas nada se compara com o Cavs. Assim como o Suns, o time de LeBron está acertando acima de 46% dos seus arremessos de três pontos na temporada, o que é débil mental. O bizarro é que na lista de arremessos de fora convertidos na temporada, o Mo Williams figura em quarto e o Anthony Parker em sexto, o que significa que eles arremessam pra burro. Como dá pra manter uma porcentagem tão grande de aproveitamento se os dois arremessam tanto? Ainda mais quando sabemos que o Mo Williams não tem qualquer critério para arremessar e que para ele o conceito de "estar livre" significa estar sendo marcado por menos de 7 pessoas. O motivo para o alto aproveitamento da equipe está justamente nas mãos desses dois: Mo Williams está convertendo 51% das bolas de fora, enquanto o Anthony Parker acerta surreais 57%! Tudo bem, o Cavs está meio capenga, o Shaq pode não ter casado muito bem com a equipe, mas o Anthony Parker foi uma sacada de mestre! Com o Delonte West fora com seus problemas de depressão, Parker está convertendo os arremessos, abusando do espaço que surge das marcações duplas no LeBron e até fingindo que defende. E quando o Mo Williams está acertando os arremessos, o Cavs é simplesmente imbatível porque o LeBron pode deitar e rolar com o espaço criado no perímetro. Mesmo que contratar o Shaq tenha sido uma decisão um pouco "água na Carol", o perímetro do Cavs tem tudo para fazer o mundo esquecer do garrafão, basta manter esse ritmo. O engraçado é que o ritmo é tão bizarro que o Mo Williams está acertando mais as suas bolas de três do que as suas bolas de dois pontos, então não tem motivo para parar de arremessar. É bem capaz dele ficar livre no garrafão e preferir dar um passinho para trás antes da tentativa.
Mas há um jogador na NBA fazendo o caminho contrário. Enquanto a pirralhada arremessa cada vez mais de três pontos, enquanto vários times passam a se focar nesse aspecto do jogo depois que o Orlando Magic provou na temporada passada que era possível chegar longe nos playoffs assim, um jogador está aos poucos abandonando os arremessos de três que sempre lhe foram tão úteis. Trata-se de Kobe Bryant.
Foi assim, sem alarde, sem aviso, tipo a Britney Spears ficando gorda. De uma temporada para a outra, Kobe simplesmente decidiu que seu jogo no perímetro era coisa do passado e que a moda agora era namorar pelado. Nos 19 jogos até agora, contando também os de pré-temporada, Kobe passou quatro partidas sem arremessar uma única bolinha de três. Em outras duas ocasiões, arremessou apenas uma bola.
Pode parecer pouco, foram apenas seis partidas, mas se a gente comparar com o Kobe de antes, vemos o quanto isso é absurdo. Durante toda a temporada passada e mais os playoffs, não houve um único jogo em que Kobe não chutasse de três pontos. Na verdade, durante todas essas partidas ele arremessou apenas uma bolinha de três durante um jogo em 8 partidas apenas, mantendo uma média de mais de 4 arremessos de três pontos na temporada. Esse ano o número caiu pela metade e em algumas ocasiões ele nem se dá ao trabalho de tentar qualquer coisa no perímetro. Gregor Sansa acordou um dia depois de sonhos intranquilos, no livro "Metamorfose", e havia se tornado um enorme inseto. O Kobe Bryant acordou um dia depois de sonhos intranquilos e tinha se tornado o melhor jogador de garrafão do planeta. É como se ele simplesmente tivesse decidido, de uma hora para a outra, que seria um ala de força. O único indicio que tínhamos disso está no vídeo abaixo, em que Kobe treina com Hakeem Olajuwon durante suas férias:
Foram apenas duas horas de treino com um dos melhores pivôs de todos os tempos aprendendo uns macetes, que o próprio Hakeem disse que se encaixariam perfeitamente bem no jogo do armador do Lakers. A gente sabe que o Kobe é um nerd de basquete que estuda o jogo profundamente e que aprende muito rápido os movimentos que ele disseca nos treinos, mas virar um jogador monstruoso de garrafão nessa velocidade é débil mental. O LeBron James pode evoluir mais rápido do que Pokémon, mas ninguém estuda o jogo e evoluiu tecnicamente tão rápido quanto Kobe Bryant. Fico imaginando ele na Matrix dizendo "operador, me carrega um programa de pilotar helicópteros", porque pela velocidade que ele aprende parece que é exatamente assim que funciona.
Cada vez mais dentro do garrafão, jogando de costas para a cesta, Kobe está desfilando um arsenal de giros, ganchos, bandejas fáceis. Está dando dor de cabeça para os marcadores gigantes, cobrando mais lances livres do que nunca, pontuando mais. E o mais importante: se antes ele criava o próprio arremesso, mantendo a bola nas mãos por muito tempo, agora mais da metade de seus pontos saem de assistências dos outros jogadores do Lakers, porque ele está no garrafão pedindo a bola para finalizar. O time está mais envolvido no ataque e assim não percebe a falta de Pau Gasol no garrafão. Aliás, o líder em pontos no garrafão nessa temporada é exatamente Kobe Bryant. O segundo colocado? É Andrew Bynum, que aos pouquinhos está se tornando o melhor pivô do Oeste - se a gente não contar o Kobe, claro. Algumas derrotas aparecem, mas ninguém está percebendo que o Gasol ainda está fora. Ron Artest está jogando mais no perímetro, iniciando as jogadas, mas ele também pode jogar no garrafão se quiser (onde ele até rende melhor) e o Lakers pode virar uma máquina embaixo da cesta.
Muito se fala sobre a evolução do jogo de Michael Jordan, que com o passar dos anos foi marcando cada vez menos pontos no garrafão, cobrando menos lances livres, e arremessando mais de longa distância. Foi uma evolução inteligente que protegeu o corpo de Jordan e que foi tornando-se mais praticável conforme seus arremessos foram ficando mais e mais mortais. Kobe parece estar fazendo o caminho inverso, afastando-se da rota estabelecida pelo seu ídolo. Já faz um tempo que o Kobe está na elite dos arremessadores da NBA, convertendo arremessos de qualquer lugar da quadra. A decisão de se aproximar da cesta parece simplesmente primar pelo aproveitamento, pela vantagem que ele pode tirar de seus defensores maiores e mais lentos. É a conclusão de alguém que estudou, tentou, assistiu, praticou, e parece ter percebido que sua contribuição é maior quando pertinho do aro. A marcação que ele exige abre o perímetro para os companheiros da equipe, ele troca de função no triângulo tático do Lakers garantindo que o esquema não fique batido, não precisa trazer a bola para o ataque e armar as jogadas, e tira proveito de uma técnica primorosa que nenhum outro jogador de garrafão da atualidade parece ter. É como se ele percebesse que todo mundo nesse trabalho fede e que, então, ele pode fazer melhor e ganhar uma vantagem. Em terra de cego, o Kobe tem os dois olhos e pode passar a mão em quem quiser.
Quando Gasol voltar à equipe, talvez Kobe passe a variar mais seu posicionamente em quadra, para não criar uma redundância no triângulo ofensivo. Ainda assim, sua decisão pela eficiência apresentada pelo jogo de garrafão deve perdurar um bocado. Não há sequer sinal de que esteja sendo prejudicial para seu físico, já que tanto do que ele faz é baseado em habilidade, movimentos precisos e inteligência. Quando ele começar a apanhar demais, quando virar um saco de pancadas tipo o Allen Iverson nos tempos de Sixers (vamos esperar para ver se o Iverson ainda vai ser um saco de pancadas em algum outro time, agora que o Grizzlies e ele romperam o contrato), então Kobe poderá voltar ao perímetro como sempre fez.
Esse passo para longe de Michael Jordan, essa decisão oposta ao jogo do maior de todos os tempos, me deixa simplesmente eufórico. Num esporte em que há tanta comparação, em que os caminhos parecem já ditados e os jogadores têm pouco espaço para suas vozes particulares, Kobe encontrou sua própria trilha e está tendo um sucesso absurdo com ela. Ele não é uma cópia, um jogador genérico. Ele é nerd, estudioso, criativo, inovador e corajoso. Seu passo para longe de Michael Jordan, portanto, está fazendo justamente o contrário: trazendo Kobe para perto de Jordan - não no estilo de jogo, mas no palco dos maiores de todos os tempos.
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Vale-Tudo
Ontem, falamos sobre a aposentadoria do Bruce Bowen e seu uso de qualquer método em quadra para alcançar seus objetivos. Hoje, vamos dar uma olhada em vídeos que mostram exatamente quais eram esses métodos usados por Bowen. Preparem-se para o espetáculo ou, dependendo de para qual time você torce, preparem-se para o show de horrores. Coloquem as crianças na sala, porque molecada curte uma sangria.
Para começar, vamos dar uma olhada numa tática muito comum no jogo de Bowen, deixando o pé embaixo de um jogador que pulou para o arremesso, fazendo com que torça o tornozelo.
No vídeo acima, Bowen usa sua técnica ninja contra o Steve Francis. Mas o pior de tudo é que nem é o Francis dos tempos de Houston, é o Francis na sua fase no Knicks, ou seja, é tipo chutar cachorro morto! Em outra oportunidade, Bowen repete exatamente a mesma tática contra o Jamal Crawford, também no Knicks (vai ver ele tem algum tipo de ódio especial pela equipe).
Como o Francis tinha passado um tempão fora das quadras com a contusão causada pelo Bowen e o Knicks estava fedendo pra burro, o então técnico Isiah Thomas ficou puto da vida com a tentativa de contundir o Crawford, mesmo ele não tendo se machucado. Mas o Isiah tem razão, o time já era uma droga, o técnico uma porcaria, a coisa tava feia, e o Bowen ainda tenta dar cabo do único cara que sabia potuar na equipe? Será que ele não tem piedade?
Os vídeos que veremos a seguir até têm cara de acidente, mas como o que acontece é justamente o pé do Bowen acabar embaixo de alguém que pulou para o arremesso, gerando uma contusão, somos levados a pensar que foi proposital depois de ver os vídeos anteriores. No primeiro, quem se lasca é o Anthony Parker:
O Parker tem que brincar de saci até sair da quadra, mas como ele joga no Raptors ninguém nem percebeu que ele se contundiu e o Bowen sempre se safa (quem sabe agora no Cavs alguém perceba quando o Anthony Parker for assassinado). Outro vídeo nos mesmos moldes é o do Iverson "pedindo pra sair":
Pra quem ainda acha que foi sem querer e não está vendo um padrão surgindo aqui, vamos passar então para as coisas mais explícitas do que a Monica Mattos dando para um cavalo. Que tal a legendária voadora de videogame na cara do Szczerbiak?
O Bowen foi suspenso por esse nocaute, ganhou uma faixa preta, cinturão dos médio-ligeiros e ficou tudo bem. Se fosse nosso querido Ron Artest, teria sido deportado pra Malásia. Outro vídeo famoso com chute tem como vítima o Amar'e Stoudemire:
Na rua, isso é chamado de "chutinho de cuzão" e em geral acaba em pancadaria. Mas não foi a única agressão em cima do Amar'e, tem também uma cotovelada no peito que quase deu briga. Reparem, no replay, como o Bowen percebe segundos antes que vai receber um corta-luz e prepara o cotovelo para o impacto:
O Amar'e apanhou bastante, mas a verdade é que o Suns inteiro sofreu nas mãos do Bowen. Se o estilo "run and gun" não ganhou um campeonato é apenas porque o Spurs comanda e o Bowen infernizou a vida de todo mundo no Suns, principalmente do Nash. Vamos conferir o canadense tomando bordoada:
A jogada é legal, a finalização do Amar'e é bacanuda, mas reparem em como após o passe o Bowen dá uma pernada no Nash, tirando seu equlíbrio. Só dá pra ver no Youtube mesmo, bater sem ninguém ver é uma arte, meus amigos. Tem também o Nash sofrendo o tradicional pé embaixo na hora do arremesso, marca registrada do Bowen (não seria legal se desse pra usar isso nas simulações de videogame como se fosse uma habilidade especial dele?)
Mas o que não pode, nem em videogame, é joelhada no saco!
Quando uma coisa é proibida até em vale-tudo, no UFC, no octógono, a gente sabe que o Bowen foi longe demais. Parte legal da brincadeira? O Bowen não foi sequer advertido. Mas, pelo menos, não marcaram falta de ataque do Nash, como aconteceu no vídeo a seguir:
Enquanto Chris Paul e Bowen lutam pela bola, a gente até fica pensando "ah, é uma jogada normal, é uma jogada normal, não foi nada demais", até que quando você já desistiu da jogada o Bowen dá um chute na cabeça do Chris Paul. Que, fazer o quê, coitado, tem que levantar e voltar pro jogo. Exatamente como o Sasha Vujacic, que toma a porrada, espana a poeira e volta pra partida:
Essa é uma das minhas pancadas favoritas dessa coleção, consigo imaginar perfeitamente o Bowen tacando o Vujacic contra as cordas de um ringue e depois recepcionando ele na volta com a cotovelada, no melhor estilo Telecatch ou Gigantes do Ringue! Mas o meu vídeo favorito mesmo é o abaixo, do duelo do Bowen contra o Vince Carter.
O vídeo mostra os 43 pontos do Carter no que poderia ter sido a melhor noite de sua carreira. Mas em um de seus arremessos, Bowen usa sua marca registrada, deixando o pé embaixo do Carter no arremesso, e o titio Vince fica furioso. A partir daí, os dois passaram a se empurrar durante toda a partida, até que o Bowen fez de novo. E fez pior, passando uma espécie de rasteira tipo Blanka do Street Fighter quando o Carter dá um jeito de se desvencilhar do pé dele depois de arremessar. Como os juízes não fizeram nada, o Carter foi pra cima do Bowen e foi expulso. Lembro de ver esse jogo ao vivo e ficar com vontade de vomitar. Infelizmente não achei um vídeo que mostrasse os lances do Bowen com mais atenção, mas dá pra ter uma ideia. Também não encontrei o famoso chute do Bruce "Lee" Bowen nas costas do Ray Allen, quando os dois estão caídos, e nem a voadora do Bowen na sua época de Heat que ilustrou o post passado. Quem encontrar os vídeos, por favor me avise que eu edito aqui, com os devidos créditos. Vale mandar vídeos que eu não sei que existem também.
Mas, mesmo sem alguns vídeos essenciais, essa coleção já é o bastante para lembrar quem foi Bruce Bowen: o homem, o mito, o campeão dos médios-ligeiros. Ou algo parecido.
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Danilo
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domingo, 5 de julho de 2009
Pegadinha do Mallandro
Estava praticamente certo, segundo fontes seguras, que o Hedo Turkoglu estava indo para o Blazers, e eu não conseguia entender muito bem a lógica da contratação. Gosto muito do turco, é verdade, jogadores com sua altura e a capacidade de armar o jogo são muito raros e permitem uma série de variações táticas aos seus times. Sei que a comparação é um tanto infame, mas até mesmo o Antoine Walker, que tinha quinhentos defeitos, mostrava-se valiosíssimo para suas equipes quando armava as jogadas mesmo estando em quadra como ala. O Turkoglu se encaixa na mesma categoria e, embora não seja muito criativo e nem um pouquinho atlético (vê-lo acima do aro, só se for com uma escada), seus arremessos de longa distância, tranquilidade nos momentos decisivos, técnica apurada e capacidade de armar o jogo são o bastante para torná-lo bastante versátil e compensar bem o fato de que não defende bulhufas e que sua velocidade às vezes faz parecer que ele está jogando basquete embaixo d'água. O turco tem as características perfeitas para compor elencos bem montados, ao invés de ser estrela e carregar times nas costas, o que tornaria o Blazers uma opção plausível porque o plantel lá é muito completo. Mas é justamente essa profundidade incrível no elenco (que o Blazers construiu com tanto custo, num processo de reconstrução inteligente e ousado) que não casa com oferecer 10 milhões por ano para um jogador que traria versatilidade a um time já exageradamente versátil.
Com tantos jogadores merecendo minutos consideráveis por lá, todos talentosos, jovens e podendo jogar em várias posições, o Blazers às vezes é uma incógnita muito grande. Um elenco profundo demais é um problema que qualquer técnico quer ter (menos o Isiah Thomas, que ficaria desesperado e trocaria metade do elenco por jogadores ruins com contratos gigantes e feijões mágicos), mas fica difícil saber qual é a função de cada jogador no time e os próprios jogadores por vezes não fazem ideia do que estão fazendo ali. Jerryd Bayless e Sergio Rodriguez (que o Denis ficou tão puto quando foi trocado para o Kings) às vezes eram tratados como simples reservas, às vezes como peças fundamentais, às vezes eram esquecidos no banco de reservas e nem entravam em quadra. E isso porque Martell Webster quebrou a perna e passou a temporada inteira de fora, senão seria mais um jogador a dividir minutos, funções e atenção, tipo uma ninhada de gêmeos querendo mamar na mamãe. Na ala, o Blazers já conta com a revelação-surpresa Nicolas Batum, que é tipo um Shane Battier francês, e o Rudy Fernandez, que abriu mão de uma carreira tendo seu saco lambido lá na Europa pra ganhar pouco e poder brincar na NBA. Sem falar no Brandon Roy, que é absurdamente versátil e além de poder jogar em qualquer das duas posições de armador, pode jogar também de ala e inclusive armar o jogo nessa posição - como o Turkoglu, aliás. Quando o Roy joga de ala, os trocentos armadores do Blazers ganham mais minutos de jogo sem que lhes caiba a responsabilidade de manter a bola nas mãos, o que é perfeito para uma equipe que não se envergonha de colocar-se nas costas do Brandon sem abrir mão de uma infinidade de variações táticas e os serviços de uma dúzia de outros bons jogadores.
O Blazers montou uma equipe através de trocas inteligentes e escolhas de draft, sempre focado no talento mais do que nas posições, mas aproxima-se a hora em que os engravatados vão ter que escolher quem é o núcleo desse time e quem se comprometerá a estar lá a longo prazo. Quase todo mundo no time ganha pouco e tem idade pra jogar Pokémon, então renovar alguns contratos será bastante salgado para a visão que o Blazers mantém agora de um basquete coletivo e versátil. Onde o Turkoglu se encaixa nisso eu não sei, 10 milhões por ano durante 5 anos poderia comprometer o contrato de Roy, Aldridge, Oden, Rudy Fernandez (que imediatamente reclamou da contratação do Turkoglu, já que esperava merecidademente mais minutos de quadra) e Bayless, todos jogadores essencials para esse Blazers. Pensando que o Turkoglu não traria ao time nada que eles já não tenham, me vi no direito de ficar um pouco confuso.
Mas não adiantava questionar, o turco já tinha dito que aceitaria a proposta, todos os veículos davam como certa a contratação, e tinha até gente cobrando do Bola Presa o já tradicional post analisando a aquisição do Blazers (a gente tem preguiça, leva com a barriga, mas só escrevemos os posts quando tudo está absolutamente confirmado - não porque somos um site sério e com um compromisso com a informação e a verdade, que se lasque a verdade, mas é que fazer um outro post se corrigindo daria o dobro do trabalho!). Fizemos bem em esperar, ao contrário do resto da internet: todo mundo levou um susto.
O Turkoglu estava visitando Portland, conhecendo o lugar em que iria morar, as instalações do time, os caras que iam pagar seu salário, e aí de repente, no meio da visita, gritou: "Olha a câmera ali! Vocês tão na pegadinha do Mallandro!" Pregou uma peça no Blazers e em todos os outros times da NBA ao avisar, de repente, sem ter dado qualquer sinal anterior, que vai assinar com o Toronto Raptors. Ele podia esperado a visita a Portland terminar, passar uns 3 dias se fazendo de difícil e aí aceitar o Raptors, porque decidir jogar no Canadá no meio de uma visita comendo e bebendo às custas do Blazers é um tanto indelicado, digamos assim. Meu palpite é que o Turkoglu deve ter visto muitos garotos de rua, pobreza, criminalidade e drogas pesadas nas ruas de Portland, e aí não conseguiu esperar um segundo sequer para avisar que ele vai jogar na terra dos guardas florestais e dos ursos, onde literalmente ninguém tranca suas portas e a maior transgressão do povo é cutucar o nariz quando ninguém está olhando.
O Turkoglu é uma boa aquisição para o Raptors, mas apenas intensifica o caráter bizarro desse time. Pra começar, já faz uns anos que a intenção por aquelas bandas é montar um clone do Phoenix Suns - ataque rápido, bolas de três pontos, defesa nula, armador estrangeiro, nenhum pivô e time baixo demais. Na época em que o projeto foi instituído, o Suns era um time espetacular criando um novo modo de jogar basquete no qual muita gente acreditava, mas a dura e cruel verdade é que eles nunca conseguiram vencer o Spurs e então abandonaram tudo na troca pelo Shaq que, com sua ida para o Cavs, se transformou numa reconstrução do Suns inteiro. O Raptors então é tipo um cover dos Menudos fora de época, não faz muito sentido. Depois de um sucesso moderado, o time amargou técnicos ruins e a clara dificuldade de montar um elenco capaz de se focar apenas no ataque - principalmente levando em consideração que esse Raptors, pelas características dos jogadores, sempre teve um pouco de dificuldade de jogar na velocidade e no contra-ataque. Por um lado, o Turkoglu se encaixa bem nesse time porque todo mundo lá arremessa de três pontos, é um pouco lento, tem bastante técnica, não faz ideia de como defender e é extrangeiro. Jogadores que saem desse esteriótipo, como Shawn Marion e Anthony Parker, são Free Agentes nessa temporada e não devem ficar em Toronto (Parker está sendo cotado pelo Cavs, e o Marion quer mais de 10 milhões por ano apesar de não ter uma temporada decente desde que saiu do Suns). Por outro lado, Turkoglu traz ao Raptors a mesma fórmula que claramente não vem dando certo já faz algum tempo. Com José Calderon, DeMar DeRozan, Turkoglu, Bosh e Bargnani, temos uma equipe talentosa, capaz de causar problemas no ataque para qualquer equipe da NBA, jogando um basquete coletivo, de meia quadra, arremessando de onde quiser, mas já está na hora de sermos céticos a respeito de um time sem pivô que se foca basicamente em arremessos de média e longa distância e que se nega a defender um mínimo que seja. Turkoglu está em casa, entre ursos, guardas florestais e jogadores fracotes, técnicos, europeus e bons arremessadores, mas o sucesso da equipe parece muito questionável. Os 56 milhões por 5 anos gastos nele poderiam garantir ao Raptors uma estrela de verdade, ou ainda tentar (provavelmente em vão) segurar Chris Bosh na equipe para a próxima temporada. Não posso criticar uma aquisição que se encaixa tão bem no que o Raptors é e propõe ser, mas critico gastar tanta grana em alguém que trará uma pequena variação de algo que já não estava dando certo.
Sinceramente, achei que o Blazers se safou de uma boa e teria se arrependido muito se tivesse pagado tanto dinheiro pelo Turkoglu. O problema é que parece que eles agora querem oferecer a mesma grana para outros jogadores mais-ou-menos, tipo o David Lee, que não tem nada a ver com aquilo que o Blazers precisa. Já o Raptors torrou verdinhas demais no turco, principalmente se a gente levar em conta que um cara como o Rasheed Wallace assinou com o Celtics por míseros 5 milhões por ano (só que dele a gente fala amanhã, pode esperar). Mas vamos tentar ser minimamente positivos e bater palmas: fedendo ou chutando traseiros, ao menos agora o Raptors tem uma filosofia muito bem definida e jogadores todos muito parecidos entre si. Talvez, se essa filosofia funcionar num Leste cada vez mais disputado e cercado de grandes estrelas, eles deixem de ser apenas mais um cover fora de hora, alguém que usa mullets sem perceber que, infelizmente, a moda já passou.
Defenestrado por
Danilo
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sábado, 22 de novembro de 2008
O dia da volta
Nada contra o Knicks, mas se eu fosse o LeBron eu iria preferir ir para o New Jersey (Brooklyn?) Nets jogar com Carter e Devin Harris do que ir para Nova York jogar com o Chris Duhon e o Al Harrington.
A volta do Hornets foi bizarra. Esse vai-e-vem de times é uma confusão difícil de entender. Aposto que muita gente em Oklahoma City torce para o New Orleans por ter visto os dois primeiros anos da carreira do Chris Paul, quando o Hornets foi para Oklahoma City jogar temporariamente devido ao furacão Katrina. Imagina ter dois times diferentes na sua cidade em tão pouco tempo, deve ser uma sensação muito estranha mesmo. Mas se alguém estava na dúvida para quem torcer, o jogo serviu para o cara se lembrar que o Hornets é bom e que o Thunder é o pior time da NBA. Eita joguinho sem graça.
Pelo menos não foi um jogo completamente inútil:
"Visitei minha filha e vim no meu restaurante favorito em Oklahoma City".
Boa, Byron Scott. Alguma coisa de emocionante tinha que acontecer.
O Thunder, aliás, acaba de demitir o técnico PJ Carlesimo. Será que eles acham que a culpa do início de 1 vitória e 12 derrotas é por causa do técnico e não porque eles usam o Robert Swift e o Johan Petro de pivôs? Estranho.
Defenestrado por
Denis
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