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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Altos, baixos e gordos

Perkins e Randolph se odeiam, mas em quadra tentam imitar a cara do Duncan


O que tivemos entre Grizzlies e Thunder foi o mais próximo possível no mundo real de um confronto entre dois Cavaleiros de Ouro (do desenho "Cavaleiros do Zodíaco", é preciso avisar às novas gerações), em que duelos entre lutadores poderosos durariam mil dias e mil noites (curiosamente no desenho a maioria das lutas só levava uns minutinhos e uns 90 litros de sangue). Foi uma batalha épica com 3 prorrogações em que ambos os times foram levados à exaustão total. Para se ter uma ideia, pelo Grizzlies o Zach Randolph jogou 56 minutos e Marc Gasol jogou 57, enquanto pelo Thunder o Durant jogou quase 57 minutos e Westbrook jogou 51. É quase uma hora inteira e ininterrupta de basquete para esses jogadores, o que é especialmente surreal se você pensar que um deles é um baita gordinho. Jogos com três prorrogações são sempre aberrações e dedam alguns fatos: para chegar nesse ponto não é necessário apenas que os times sejam parelhos, mas também que eles tenham muitos altos e baixos. Se um dos times fosse capaz de manter a superioridade conquistada em alguns momentos do jogo, teria vencido no tempo normal, sem prorrogações. Os dois times tiveram grandes momentos na partida (o Grizzlies chegou a vencer por 18, o Thunder vencia por 10 no meio do quarto período), mas também tiveram momentos medonhos e expuseram todas as suas fragilidades. Em uma série normal, uma superioridade física ou tática momentânea poderia garantir a liderança sendo sustentada até o fim da partida, mas Grizzlies e Thunder não são muito afeitos da regularidade ou dos planos de jogo, especialmente na parte ofensiva. O resultado é uma montanha-russa divertidíssima que gerou 3 prorrogações e que arrancou preciosas horas de sono de todos nós (por aqui, ainda estou devendo ao meu cérebro as horas de sono roubadas pelo jogo e boto nisso a culpa por tudo que disser aqui sem o meu advogado). Ao fim do jogo e do atraso no sono causado nos dias seguintes, me sinto tão exausto quanto o Randolph gordinho e seus 56 minutos em quadra.

Durante o jogo, entretanto, estive muito acordado e fuzilei o dedo no print screen para analisar a jogada que o Grizzlies usou à exaustão em seus melhores momentos - e que foi completamente abandonada nos momentos mais cruciais da partida. Vamos então às imagens (que podem ser clicadas caso você queira ver gigante, em detalhes):


1. Acima podemos ver uma jogada simples de pick and roll. Mike Conley, marcado por Westbrook, leva a bola e recebe um corta-luz de Marc Gasol na linha de três pontos.


2. O marcador de Marc Gasol na jogada, Serge Ibaka, tenta impedir então a progressão do Mike Conley e entra na frente do armador. Se bem executada, essa troca de marcação impediria o passe de volta para Marc Gasol, mas veja como Conley tem bastante espaço para olhar o jogo enquanto Gasol se movimenta livremente rumo à cesta. (Veja também a mensagem do meu computador, avisando que eu posso apertar Esc para sair do modo tela cheia. Esc, a famosa tecla inútil que só serve quando vejo NBA.)


3. Conley faz o passe para Marc Gasol facilmente, que tem um corredor até o aro. A reação da defesa do Thunder é risível: James Harden abandona seu homem na zona morta para tentar cavar a mais idiota falta de ataque do planeta, dando espaço para o Gasol passar bem do seu lado; enquanto isso Kendrick Perkins não se atreve nem lascando a desgrudar do Zach Randolph, já que Gasol é bom passador e constantemente aciona seu parceiro de garrafão quando pressionado.

O que vemos nas três imagens acima é uma cesta simples para o Grizzlies. A jogada pode ser repetida com o corta luz sendo efetuado pelo Randolph, com a única diferença de que ele gosta de arremessar ao receber a bola tanto quanto gosta de bater para dentro. Se a marcação do Harden fosse melhorzinha, o Grizzlies ganharia então um arremesso da zona morta. Se o Perkins reagisse, um jogador de garrafão estaria livre embaixo do aro e provavelmente sofreria a falta ou conseguiria o rebote ofensivo. Não é à toa que Randolph cobrou 17 lances livres e teve 8 rebotes ofensivos, portanto.

Agora, vamos analisar o que acontece quando o Thunder finalmente coloca em prática o que aprendeu no primeiro jogo e defende direito esse maldito pick and roll:


1. Na imagem acima Marc Gasol acabou de fazer o corta-luz e abriu novamente para a cabeça do garrafão, mas dessa vez Ibaka conseguiu entrar na frente do Mike Conley lhe tirando o espaço, enquanto Russell Westbrook aperta o armador e bloqueia a linha de passe. Eles tentaram fazer isso na jogada anterior que vimos, mas dessa vez o armador do Grizzlies é verdadeiramente pressionado como deveria.


2. Com Mike Conley espremido na lateral, evitando um passe muito arriscado que precisaria ser alto demais para passar por cima da marcação, Ibaka tem tempo de usar sua velocidade e alcançar Gasol, entrando na frente da linha da bola. Mesmo se o passe tivesse sido feito por cima dos marcadores, Ibaka ainda assim teria tempo o bastante para alcançar Gasol na corrida porque o passe seria alto e ele é rápido pra burro. Então o pick and roll do Grizzlies está oficialmente bloqueado. Mas, opa, o que é aquela lua pequena com um pé lá dentro do garrafão? É o Zach Randolph conquistando posição perto da cesta! Agora Ibaka já está longe demais para ajudar na marcação do Randolph e James Harden ainda está focado no pick and roll, pensando no Marc Gasol. Conley teve então facilidade na sequência dessa jogada em colocar a bola nas mãos do Randolph, que apenas girou em cima do Perkins rumo à cesta. Ah, sim: era uma bola fácil, mas ele errou o arremesso. Funhé.

Então mesmo quando o pick and roll é muitíssimo bem marcado pelo Thunder, o Grizzlies ainda consegue colocar a bola no garrafão, que no fundo é a bola de segurança deles. Randolph e Gasol são maiores e mais fortes que o Thunder inteiro, cavam faltas, acertam lances livres com facilidade e pontuam na marra. Perkins é um bom defensor embaixo do aro, mas é péssimo tendo que correr atrás de jogadores de garrafão com arremesso de média distância. Por serem versáteis, Randolph e Gasol estão constantemente trocando de posição, gerando uma bagunça defensiva para o Thunder e um pesadelo para o Perkins.

Por isso, depois da derrota no primeiro jogo o Perkins chamou toda a equipe para a sua casa para comerem (coisa que nenhum pivô abre mão) e para que vissem juntos a gravação do jogo sem a equipe técnica, pausando em cada jogada para criticar o posicionamento um do outro. Genial, coisa de Celtics, de time vencedor, de elenco em que os jogadores não têm medo de reclamar e cobrar uns dos outros em busca da perfeição. Com isso, a defesa de pick and roll do Thunder melhorou muito e é preferível que o Randolph tenha que enfrentar o Perkins no mano-a-mano embaixo da cesta do que arremessar livre de média distância quantas bolas quiser. Mas a preocupação com parar a dupla de garrafão do Grizzlies é tanta que, associada à vontade do Westbrook de forçar o ritmo de jogo no ataque, estragou totalmente o posicionamento para os rebotes defensivos. Dá uma olhada nessa foto:


Vamos contar juntos, crinçada: são um, dois, três, quatro jogadores do Thunder na foto. Um deles contesta o arremesso, os outros três estão no garrafão para o rebote. Então adivinhem só o que aconteceu: o Zach Randolph, único de branco num raio de 1km, saiu com o rebote ofensivo. Foram ao todo 24 rebotes ofensivos para o Grizzlies, 10 do Marc Gasol e 8 do Randolph. A preocupação em pressionar os arremessos da dupla acaba deixando um dos dois livre para um rebote ou um tapinha. A preocupação em sair correndo para acompanhar o Westbrook também faz com que exista menos proteção nos rebotes. É uma combinação mortal e que permitiu que Randolph e Gasol dominassem o jogo mesmo sendo duramente marcados.

O que é de enlouquecer, entretanto, é que o Grizzlies não acionou sua dupla dominante em momentos essenciais da partida. Mike Conley forçou muitas bolas e até o seu reserva Greivis Vasquez (que é da escola Steve Nash de armadores que não pulam, e que esteve naquela polêmica em que o Grizzlies não queria lhe garantir o salário inteiro de novato e que portanto não treinou com a equipe antes da temporada) acertou arremessos fantásticos que foram completamente idiotas, impensados e passíveis de punição se o técnico tivesse bom senso. OJ Mayo, então, nem se fala. Forçou arremessos que fariam JR Smith corar de vergonha, mas acertou alguns que deixariam Ben Gordon orgulhoso. Foi capaz de tomar um toco em uma bola de 3 crucial e, depois de uma falha de arbitragem devolver a bola para o Grizzlies, arremessou de 3 de novo como se tivesse amnésia - mas aí acertou. O Grizzlies conseguiu empatar o jogo no quarto período e levou a partida a 3 prorrogações graças a alguns desses arremessos mágicos, mas que tal manter o padrão ofensivo, tentar o pick and roll e colocar a bola no garrafão ao invés de deixar um armador novato, o Tony Allen se achando o Kobe, e uns arremessadores loucos, tomarem as rédeas do jogo? O Grizzlies às vezes simplesmente sai do seu eixo, esquece quais são as bolas fáceis e coloca tudo a perder porque o ataque é mesmo fraco, desorganizado. Quando tentou voltar a jogar com seus pivôs, eles já haviam jogado 50 minutos e não conseguiam nem se mover. Randolph teve uma bola desviada das suas mãos no fim da terceira prorrogação e nem fingiu que iria tentar recuperar, apenas fez cara de quem queria ir para casa ver os Ursinhos Carinhosos. Gasol tomou um toco absurdo na mesma prorrogação porque deu um giro na velocidade do Ilgauskas, ou seja, como se estivesse debaixo da água. A questão física pesou demais porque, sem trocadilhos, Gasol e Randolph são mesmo pesados e não conseguem passar tanto tempo em quadra sofrendo porrada - fora que conseguir pegar tantos rebotes ofensivos assim cansa qualquer um, vai ver foi uma tática do Thunder para cansar os dois. "Vamos deixar eles fazerem o que quiserem e levar o jogo pra terceira prorrogação, lá não poderão nos deter!". Coisa de gênio maligno.

Da parte do Thunder, eles podem ser geniais quando acertam a marcação e rodam a bola no ataque. São geniais também simplesmente quando envolvem o Durant no jogo, especialmente isolando ele na cabeça do garrafão com um ou dois corta-luzes simples. Esse time cheio de role players, jogadores especialistas e dedicados, e defesa sufocante parece imbatível às vezes. Mas às vezes um dos maiores trunfos da equipe, que é o Russell Westbrook, não é o bastante para compensar um dos maiores problemas da equipe, que é o Russell Westbrook.

Avisei no preview dessa série que uma das questões fundamentais para a vitória do Grizzlies era deixar o Westbrook forçar o ritmo de jogo e cometer turnovers. Quanto mais ele desperdiçar a bola, mais o Grizzlies fica perto de uma final da NBA. Mas os problemas com o Westbrook vão além. Ele é tão bom, tão rápido, tão físico, seu arremesso de média distância (conquistado nos treinos com a seleção americana) tão mais eficiente do que antes, suas bolas de 3 pontos tão mais mortais do que já foram, que ele às vezes simplesmente esquece que tem companheiros em quadra. O Durant tem um dos melhores aproveitamentos da NBA em momentos decisivos dos jogos, mas o Westbrook quer ser herói e se agarra à bola. Na partida de três prorrogações, Durant foi ignorado em várias bolas decisivas ou então foi acionado tarde demais ou longe demais da cesta. O problema é que ninguém quer ver seu armador idiota decidindo o jogo quando ele é o Rafer Alston ou um jogador secundário semelhante, mas como convencer a jovem estrela Westbrook de que ele deve passar essa bola mais rápido e com mais frequência? O paradoxo parece sem saída: quando ataca a cesta e acerta seus arremessos, Westbrook é impossível de ser marcado pelo Grizzlies; mas quando força arremessos no final dos jogos permite que o Grizzlies acabe com a desvantagem de pontos, quando força a velocidade da equipe esquece de passar a bola, e quanto mais rápido corre mais perde a bola permitindo pontos fáceis para o Grizzlies.

No final da terceira prorrogação, Durant envolvido no ataque, Westbrook já satisfeito com seus 40 pontos e Randolph e Gasol cansados, a vitória era obviamente do Thunder. Mas o jogo poderia facilmente ter acabado antes disso graças às cagadas do armador e sua dificuldade de impor um padrão de jogo quando se é tão aleatório e impulsivo. O ataque do Thunder é estagnado, cheio de isolações, e isso é culpa especialmente da irregularidade do armador. Quando Westbrook mostra seu melhor e seu pior tantas vezes numa partida, oscilando de um para o outro, e o Grizzlies esquece suas jogadas principais na gaveta por uns tempos enquanto o Tony Allen força as infiltrações mais desastradas do mundo (ele ficou de castigo no banco por ter sido bastante responsável pelo sumiço da liderança de 18 pontos), podemos esperar mesmo muitas prorrogações. Com tanta instabilidade das duas partes, só podemos esperar equilíbrio - e torcer para que algum dos dois times, qualquer um, consiga vencer o cansaço e adquirir uma consistência para enfrentar o Dallas Mavericks. Que, nesse minuto, torce por oito mil prorrogações até que Zach Randolph caia no chão desidratado e abra com isso uma cratera do tamanho de Plutão. Fora o cansaço, o Mavs está assistindo aos baixos das duas equipes e está se preparando. Thunder e Grizzlies estão lascados, mas já não dá pra duvidar deles. Do Westbrook e do Tony Allen dá, mas do conjunto não, por favor. Já são dois times calejados.

sábado, 23 de abril de 2011

Reconstrução capenga

Falando sobre comida

Estamos acompanhando (eu, por entre o muco abundante da minha gripe) playoffs bastante disputados, com jogos interessantes e parelhos. Mas aquele clima de zebra foi embora bem rápido, os resultados não são mais surpreendentes e tudo está mais ou menos dentro do esperado. O Lakers perdeu um jogo mas apenas em atuação épica de Chris Paul, vencendo o segundo mesmo com uma das piores partidas conjuntas de Kobe e Pau Gasol de todos os tempos, e vencendo ontem fora de casa na maior mamata. O Pacers, que deu sufoco no Bulls em todas as partidas até agora, perdeu 3 jogos seguidos mesmo com atuações bem mequetrefes do Derrick Rose (e marcação genial do Paul George, assunto pra um futuro post), estando praticamente eliminado da pós-temporada. Mesma coisa com Sixers e Knicks, que até deram trabalho mas já estão planejando as férias. Thunder contra Nuggets e Mavs contra Blazers são terra de ninguém, como previsto. Então restam apenas duas séries dessa primeira rodada dos playoffs que ainda tem cara de estar completamente fora do controle: a primeira é Magic e Hawks, que exige uma retratação da minha parte então por enquanto vou fingir que nada está acontecendo; e a segunda é Spurs e Grizzlies.

Quão surreal é dizer que uma série com o Grizzlies, que até outro dia era uma das maiores piadas da NBA e se classificou em oitavo para os playoffs, é uma das que está completamente fora de controle? O Spurs dorme todos os dias com medo do Zach Randolph, e nem é de que ele coma tudo que o time tem na geladeira. A defesa do Grizzlies é sufocante, o garrafão é forte e movimenta a bola, os jogadores são jovens e motivados. Em apenas três anos a equipe deixou se ser presa fácil nos playoffs, passou por um processo completo de reconstrução, e venceu sua primeira partida de pós-temporada em cima do todo-poderoso Spurs. Melhor projeto de reconstrução de todos os tempos? Pelo contrário. A reconstrução do Grizzlies foi uma bosta, um projeto completamente atrapalhado e cheio de tropeços, e que deu certo mesmo assim simplesmente porque acertaram em alguns aspectos fundamentais. Ou seja, é a prova definitiva de que reconstruir uma equipe não é tão difícil assim: se até o Grizzlies consegue, qualquer time do planeta pode fazer também. Até eu. Ou sua avó, que quando você diz "basquete" ela entende "chacrete".

Em 2003, o Grizzlies conseguiu chegar aos playoffs pela primeira vez, mas perdeu todos os jogos. Tudo bem, era um time ruim que estava apenas pegando o jeito das coisas. Na temporada seguinte, foram aos playoffs de novo e perderam todos os jogos de novo. Vários jogadores deixaram a equipe, outros foram contratados às pressas, mas o time foi aos playoffs de novo, uma terceira vez. E, de novo, foi eliminado da pós-temporada sem vencer uma mísera partida sequer. As duas temporadas seguintes foram cheias de contusões e jogadores fazendo de tudo pra não jogar lá. Como diabos lidar com uma franquia em que nenhum jogador quer jogar? Em um post de dois anos atrás, o Denis conta como Steve Francis foi draftado pelo Grizzlies e se negou a jogar lá, e como quase todos os novatos de 2009 (quando o time tinha a segunda escolha do draft) se negaram a treinar pela equipe, evitando assim ser draftados pela franquia. Como melhorar uma equipe em decadência se ninguém quer jogar por ela? O Grizzlies tinha a possibilidade de se reconstruir em volta de Pau Gasol e seu salário gigantesco, mas teria que apostar em novatos com uma equipe que sempre estaria às bordas dos playoffs, correndo o risco de ser ruim demais para ganhar um joguinho sequer na pós-temporada mas boa demais para conseguir escolhas altas no draft. Foi preciso muita coragem e muita falta de cérebro (coragem e burrice não estão intimamente ligadas?) para cortar esse círculo vicioso e trocar Pau Gasol por um pacote de bolachas.

A troca, na verdade, visava o futuro e só pode ser melhor analisada agora. Na época, foi Pau Gasol e uma escolha de segunda rodada por duas escolhas de primeira rodada, Kwame Brown, Javaris Crittenton e os direitos pelo Marc Gasol, escolhido na segunda rodada pelo Lakers. Na prática, o Kwame Brown era apenas um contrato expirante para o Grizzlies economizar dinheiro e reconstruir as finanças, o Crittenton foi mandado para o Wizards por uma escolha de primeira rodada (e lá acabou sacando uma arma contra o Gilbert Arenas no incidente que quase acabou com a carreira do Arenas), e o que o Grizz conseguiu no final das contas foi uma caralhada de escolhas de draft e o Marc Gasol.

O que o Grizzlies fez com essas escolhas de draft é coisa de Grizzlies mesmo, uma bagunça: eles são obrigados a escolher os jogadores que ninguém mais quer, ou então draftar jogadores que claramente não querem jogar para a franquia ou que não treinaram para eles antes do draft. Chegaram a ter o Kevin Love, por exemplo, e acabaram trocando pelo OJ Mayo porque não tinham visto o Love em ação. Gastaram a segunda escolha do draft de 2009 com o Hasheem Thabeet, o pivô gigante que não sabe amarrar os próprios cadarços. Então é claro que eles não são o Spurs, cujos olheiros conseguem prever o futuro e draftam gênios até em divisão de time de futebol de aula de Educação Física da quarta série. Pra piorar, o Grizzlies ainda encrenca com os novatos na hora de assinar contratos, criando uma imagem ainda pior na mídia. É bem claro que eles são atrapalhados, não tomam as decisões certas e têm dificuldades com novatos, tanto na hora de draftar quanto na hora de assinar, agradar e tentar mantê-los na equipe. Mas há uma coisa que eles fizeram muito bem: guardar a grana liberada com a troca dentro de um cofre de porquinho.

Em geral quando uma equipe tem espaço salarial sobrando, a lógica é que você está sendo burro se não usar esse espaço salarial para contratar alguém e melhorar seu time. As regras te deixam pagar salários até um limite, pra quê ficar abaixo dele ao invés de contratar o máximo de ajuda com ele? O problema é que usar o espaço salarial em uma temporada significa que você sem querer comprometeu o espaço salarial das temporadas seguintes. Os contratos tendem a ser de longa duração, os jogadores ficam sob contrato por vários anos, e os salários vão subindo de temporada em temporada. Então usar o espaço salarial ao máximo numa temporada "só porque eu posso" pode mandar pelo ralo as finanças do time pela próxima década (né, Knicks?). O Grizzlies conseguiu espaço salarial de sobra ao trocar Pau Gasol, e com ele tentou contratar o Josh Smith, por exemplo. O Hawks igualou a oferta, o Josh ficou em Atlanta, e aí ao invés de gastar a grana no segundo melhor jogador disponível, ou contratando um pivô qualquer que não sabe o que é basquete mas é alto e pode trocar lâmpadas sem escadas, o Grizzlies economizou. Não teve medo de feder, de conseguir escolhas altas no draft, e de evitar ao máximo ter prejuízos. Por muitos anos a equipe teve a pior audiência de toda a NBA, o melhor a se fazer mesmo é tentar cortar os gastos ao máximo e saber esperar. Fazendo trapalhadas no draft ou não, se metendo em bagunças com os novatos ou não, o Grizzlies soube esperar e cuidar do dinheiro.

Quando isso acontece, é possível se aproveitar de oportunidades que volta e meia dão sopa na NBA mas ninguém está em condições de agarrar. Tipo um time querendo se livrar do Kevin Garnett, por exemplo, ou do Ray Allen, ou do Kendrick Perkins, ou do... Pau Gasol? Então, o que o Grizzlies fez foi achar alguém que quis se livrar do Zach Randolph (porque havia na cagada conseguido a primeira escolha no draft e iria pegar o Blake Griffin) e, com o espaço salarial para conseguir fazer a troca funcionar, conseguiu um jogador que de outro modo não aceitaria jogar por eles. Paciência foi tudo: conseguiram jogadores veteranos como o Zach Randolph, tiveram grana para dar um contrato gigantesco para os novatos que deram certo como o Rudy Gay, deixaram os novatos que eram mais-ou-menos em quadra sem medo de perder até ver se podiam render algo, deram a grana para os que se sairam bem depois de muita insistência como o Mike Conley, e trocaram os que não deram em nada por jogadores veteranos, como o Hasheem Thabeet mandado pelo Shane Battier.

Essa é uma receita razoável para reconstruir um time, mesmo se for feita de modo capenga. Basta apertar o botão do apocalipse, se livrar das estrelas, guardar a grana para abraçar alguma oportunidade maluca, draftar uma caralhada de novatos, e não ter vergonha de perder muito até dar certo. O Wolves está no mesmo caminho. Não é um plano genial como o do Thunder ou do Blazers, mas é um plano acessível até para as equipes mais confusas, como o Pistons. Só que ainda falta o ingrediente secreto capaz de tornar essa reconstrução capenga do Grizzlies uma equipe capaz de vencer o Spurs, falta o "elemento X" capaz de tornar açúcar, tempero e tudo-que-há-de-bom em Meninas Superpoderosas: um cara como o Tony Allen.

"Isso é fácil", você deve estar pensando. "Conheço um monte de idiotas sem cérebro capazes de se machucar sozinhos dando uma enterrada que não vale pra porcaria nenhuma".



Sim, isso é verdade. Jogadores que esquecem o cérebro num pote na geladeira antes de saírem de casa são comuns, e o Tony Allen deu mais dor de cabeça para o Celtics do que ajudou nos anos que esteve lá. Mas algumas coisas são fundamentais: ele é um bom defensor, aprendeu a defender em conjunto com Kevin Garnett, e veio de um ambiente extremamente motivado, coletivo e focado em vitórias. Imagina só o Tony Allen e sua mentalidade vencedora herdada dos tempos de Celtics no vestiário do Grizzlies, em que todo mundo devia achar a coisa mais natural do mundo perder jogos de lavada (especialmente o Zach Randolph, que provavelmente sempre pensou que "vitória" fosse apenas uma palavra que queria dizer "o time adversário"). O confronto com certeza foi imediato. Tony Allen não teve medo de pegar no pé dos companheiros, de exigir uma postura diferente em quadra, de cobrar por defesa. Mesmo sendo um jogador zé-ninguém com minutos limitados. Em quadra, guiou pelo exemplo sendo um jogador burro que mesmo assim dava o sangue dentro de quadra na defesa.

Diz a lenda que numa partida de pôquer no avião do Grizzlies, indo para um jogo, OJ Mayo perdeu 1.500 dólares para o Tony Allen mas se recusou a pagar. Tony Allen teria agredido verbalmente o adversário, questionado sua moral, e os dois saíram na porrada a um ponto tal que o OJ ficou cheio de hematomas na cara e teve que ficar de fora da partida seguinte da equipe. Desde então, pelo que dizem, os jogadores do Grizzlies chegaram a um acordo: todo mundo pode falar o que quiser para todo mundo, cobrar, questionar caráter, o que for, porque eles são uma família e não vão sair na porrada. O pôquer passou a ser proibido nas viagens da equipe, mas o incidente uniu os jogadores. Tony Allen vem de um lugar em que é normal exigir, cobrar e questionar seus companheiros de equipe, o Garnett até fez o Glen Davis chorar dentro de quadra. Quando o Grizzlies entendeu que é esse tipo de ligação que faz equipes vencedoras (e equipes defensivas), as coisas finalmente entraram nos rumos.

O dinheiro do Grizzlies foi bem usado com os novatos que quiseram ficar (ao invés de esperar por estrelas que só querem jogar com outras estrelas) e com jogadores caros que seus times estavam jogando no lixo, como o Zach Randolph, que agora se sente acolhido e valorizado (tudo porque o Grizzlies, além de dar uma oportunidade ao ala, não esperou um segundo para lhe dar um contrato gordo assim que ele teve uma partida genial contra o Duncan). Mas um dos dinheiros mais bem gastos dessa equipe é com o porcaria do Tony Allen. O que ele trouxe à franquia é inigualável. O Grizzlies até trouxe de volta o Shane Battier, ainda um dos melhores defensores da liga, mas ele é bom moço, reservado, controlado. Tony Allen vem da linhagem Garnett de gritos, cuspe na cara e beber sangue de criancinhas que motiva qualquer equipe - mesmo aquelas que preferem sair para ir no bingo.

É claro que esse Grizzlies ainda tem muitos problemas. Pra começar, sentem falta do Rudy Gay, que sabe criar o próprio arremesso, é o melhor arremessador de três da equipe e defende várias posições. Falta um facilitador no ataque para que as cestas não precisem ser todas brigadas, ganhas na marra. E o banco ainda é mais mirrado do que os seios da Keira Knightley. Mas agora eles têm uma dupla de garrafão que acredita um no outro, Marc Gasol e Zach Randolph se procuram no ataque, abrem espaço um para o outro, e se complementam na defesa - e essa dupla só foi possível graças à troca do irmão do Marc, Pau Gasol. E isso é maior do que parece: nenhuma dupla de garrafão na NBA tem, nesse momento, esse grau de companheirismo e essa intimidade em quadra, nem mesmo Pau Gasol e Andrew Bynum. E o resto do time acredita que pode vencer jogos de verdade, mesmo se forem nos playoffs, mesmo se forem fora de casa, mesmo se forem contra o Spurs, e mesmo se forem contra o melhor colocado do Oeste - tudo porque um tal de Tony Allen mudou a postura dessa equipe, encheu de porrada um ladrão no pôquer, e custou apenas um punhado de milhões antes tão bem economizados.

Tony Allen e Shane Battier vão ter muito trabalho marcando Tony Parker e especialmente Manu Ginóbili, que voltou de contusão agora com um braço biônico e continua acertando aquelas cestas idiotas e inexplicáveis que vencem jogos de playoffs dos modos mais aleatórios possíveis. Mas bizarramente a batalha no garrafão contra o todo-poderoso Tim Duncan parece tender para o Grizzlies. Eu sei que todo mundo aqui por essas bandas da caipirinha pede pelo Tiago Splitter para ajudar na marcação de Randolph e Marc Gasol, mas sejamos realistas, por melhor defensor que o Tiago seja, ainda falta treino físico para lidar com o muro de tijolos que é o Marc e o muro de banha que é o Randolph. É desleal. Popovich prefere apostar na experiência de Duncan e McDyess, ou compensar no ataque com Matt Bonner, coisa que o Splitter ainda não pode fazer. De todo modo, o Grizzlies está um passo a frente no garrafão (com a ajuda do excelente Darrel Arthur e de Sam Young, também vindos com escolhas de draft da troca do Gasol) e mordendo com força em tudo em que estão atrás, tentando vencer mais na vontade do que na técnica - e gerando com isso a série mais equilibrada desses playoffs. Se fosse a equipe de Pau Gasol e Jason Williams de três anos atrás, com técnica de sobra, entraria se achando incapaz de vencer uma partida de playoff. Isso não é auto-ajuda, não tem nada mais idiota do que esse lance de "tudo que você acha que pode fazer, você pode fazer", mas postura é algo essencial no esporte. Quando uma equipe realmente acha que pode vencer, ela fará o que for necessário. Se tiver dois gordos gigantes no garrafão, então, é capaz que até consiga.

Esse Grizzlies então nos serve de alerta não só para o papel da postura, da defesa e da paciência na construção de uma equipe, mas também para como uma troca pode parecer muito, muito idiota quando acontece - e ser mesmo idiota - apenas porque não temos como perceber que seria ainda mais idiota continuar insistindo nos mesmos erros. Memphis Grizzlies: tropeçando sempre de novas maneiras desde 1995.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dois esquecidos

Fotos que fazem sentido não são mais tendência


Ontem eu estava muito interessado em assistir à partida entre o Philadelphia 76ers e o Memphis Grizzlies, para mim o grande jogo da noite. Tá bom que depois tive que me contentar em assistir ao excelente  Pacers x Heat na reprise, já sabendo do resultado e tudo o que aconteceu (tipo o D-Wade pegando fogo até começar a ser marcado pelo pirralho Paul George), mas não me arrependo tanto da minha decisão. Foi um belo jogo de duas das melhores equipes dos últimos meses na NBA. E, acredite, não é mais uma ironia nossa.

Se contarmos os jogos da NBA desde o Natal (25 de dezembro que eu me lembre) até hoje, o Grizzlies tem a terceira melhor campanha do Oeste, atrás apenas de Lakers e Spurs. E pense, já estamos no dia 16 de fevereiro, são quase dois meses, um terço da temporada, sendo um dos melhores times de uma conferência difícil e competitiva. Já o Sixers atravessa mais uma mudança de sistema tático, mas parece que está se achando. Também desde o Natal eles tem 15 vitórias e 11 derrotas, nada fora de série mas que se destaca na feia disputa pelas últimas colocações do Leste e que impressiona pela excelente defesa que o time adquiriu sob o comando de Doug Collins.

Começo pelo Sixers, um time bem estranho pelo número de jogadores que podem jogar em mais de uma posição e pela quantidade de mudanças táticas que tem feito ao longo da temporada. Depois de vê-los jogando algumas vezes nesse ano eu ainda não sei definir se o Louis Williams é um armador ou um segundo armador, ou se o Andre Iguodala é mesmo um point-forward ou se é exagero da imprensa americana. O Thaddeus Young é ala de força ou é só no papel? O Elton Brand joga de pivô mesmo sem ser pivô? Minha aposta é que o Sixers confunde os adversários por serem um time muito esquisito.

A formação inicial deles tem Jrue Holiday, Jodie Meeks, Andre Iguodala, Elton Brand e Spencer Hawes. No começo da temporada Jason Kapono, Andres Nocioni e Evan Turner estiveram na posição de Meeks, mas no fim das contas perceberam que era o calouro mais improvável que dava as bolas de três que o time precisava sem comprometer na defesa. As bolas de três eram essenciais para o time ter um jogo de meia uadra com mais opções, já que eles viviam de forçar turnovers e correr nos contra-ataques. Por um tempo a estratégia deu certo, mas não muito, o Iguodala era uma máquina de turnovers e o jogo se concentrava muito na mão dele. Decidiram então dar mais trabalho para o promissor novato Jrue Holiday e o time melhorou junto com a queda dos números do Iguodala, que passou a se focar mais na defesa e participar menos do ataque. Só era acionado mesmo nos contra-ataques, que apesar de não serem mais o foco ainda são ponto forte do time, terceiro da NBA na categoria. Foi nessa época que o Elton Brand, com alguns anos de atraso, começou a dar o resultado que o Sixers imaginava quando o tinha contratado: bons arremessos de meia distância, rebotes ofensivos e força embaixo da cesta. Na prática mesmo ele é o pivô do time enquanto o Spencer Hawes se movimenta mais em volta do garrafão mesmo sendo mais alto.

Mas de uns 10 jogos pra cá o time mudou de novo, com o Iguodala mais participativo e dando quase 8 assistências por jogo nesse período. Voltaram a dizer que ele é o tal point-forward, o ala que joga armando o time, o que resultou na queda dos números do Holiday. Mas eu não acho que é bem assim. Se eu fosse explicar rapidamente como joga o Sixers hoje, diria que eles jogam sem nenhum armador. Eles se baseiam em muita movimentação sem a bola e passes. É comum ver alguém segurando a bola na cabeça do garrafão e esperando alguém passar por alguns corta-luzes para receber a bola, quando ele recebe procura Elton Brand no garrafão ou espera alguém sair de outro corta para um passe. Não fosse os acessos de individualismo do Louis Williams quando vem do banco, eu diria que é o time que menos dribla na NBA.

Muitas vezes é o Andre Iguodala o cara que fica na cabeça do garrafão distribuindo os passes, o que resulta em muitas assistências (meu time de fantasy agradece), mas chamar isso de armar o jogo acho um pouco demais. Acho que é resquício da fama do técnico Doug Collins de usar alas para armar o jogo (fazia isso com Grant Hill no Pistons, por exemplo). Mas outras vezes é o Jrue Holiday, volta e meia até o Hawes recebe na cabeça do garrafão e por aí vai, é um jogo de passes em geral, sem alguém tomando conta do ataque. O curioso é que se você olhar os números individuais parece que tanto Holiday como Iguodala estão piores, mas os resultados do time estão cada vez melhores, é puro trabalho em equipe. O time que só fazia pontos na velocidade agora tem jogadas de meia quadra desenhadas, arremessadores de três (além de Meeks, até Holiday quando não está segurando a bola) e jogo dentro do garrafão com Brand novamente em boa fase.

Durante o jogo isso muda um pouco, principalmente com os reservas em quadra. Thaddeus Young e Louis Williams ainda jogam no esquema de velocidade e atacar a cesta a qualquer custo que reinava até o ano passado. É a síndrome de Jamal Crawford, tipo de coisa péssima para ser um plano de jogo mas que é perfeito para alguns minutos vindo do banco.

Mas o segredo do time mesmo tem sido a defesa. Nos últimos 15 jogos eles só deixaram o adversário chutar acima dos 50% de aproveitamento duas vezes e nos últimos 4 jogos seguraram os oponentes a 39% de aproveitamento, com o equivalente a 88 pontos a cada 100 posses de bola, número assustador que se fosse mantido por toda a temporada seria digno de melhor defesa da liga. Em números gerais eles tem a 9ª melhor defesa da NBA, mas considerando aí os dois primeiros meses que não foram grande coisa. Eles estão no Top 10 na maioria dos números defensivos, com destaque para o 6º lugar em bolas de três feitas pelo adversário por jogo. Sem contar a defesa individual, o trabalho de Iguodala sobre Manu Ginóbili foi essencial para a vitória sobre o Spurs, a mais importante do Sixers na temporada até agora. De repente o time parece ter futuro de novo e a ânsia de trocar Iggy ou Brand parece contida.

Porém, no jogo de ontem o Sixers foi vítima da sua própria armadilha. Sofreu 18 pontos de contra-ataques do Grizzlies, o 5º melhor time nessa categoria, duas posições atrás do Sixers, que só conseguiu emplacar 10. A principal razão foram os turnovers, a sufocante defesa de Memphis, que é a que mais força erros por jogo, manteve a sua média causando 16 desperdícios. A maioria veio no primeiro período, quando Mike Conley (mais de 2.7 roubos por jogo nos últimos 10 jogos) e Tony Allen (quase líder da história da NBA em porcentagem de roubos de bola) fizeram da vida do Sixers um inferno. A melhora de Conley e a chegada de Allen podem ser considerados os principais motivo da melhora defensiva da equipe que era só a 19ª melhor da NBA no ano passado e hoje é a 8ª em pontos cedidos a cada 100 posses de bola.

Ofensivamente o Grizzlies é quase o mesmo, os números são parecidos e o sistema também. Talvez agora o Mike Conley (cuja a milionária extensão parece bem menos burra do que todo mundo imaginava) seja mais participativo e o OJ Mayo tenha perdido muito espaço, mas a estrutura é a mesma. Eles basicamente vão empurrando a defesa adversária cada vez mais pra perto do garrafão, todos os passes são para chegar perto da cesta. Com isso Marc Gasol e Zach Randolph fazem uma sincronizada dança em que às vezes se posicionam bem embaixo da tabela para finalizar, outras na cabeça do garrafão para fazer jogo de dupla um com o outro ou simplesmente só abrem espaço para as infiltrações de outros jogadores. Se a infiltração dá errado lá estão os dois para pegar rebotes ofensivos, uma das principais armas do time, que não só rende novos arremessos como impede contra-ataques velozes. Nosso gordinho-mór Zach Randolph, aliás, é o segundo da NBA em rebotes de ataque com 4.7 por jogo (é muita coisa!), atrás por 0.1 de Kevin Love. 

Aliás, eu nunca vou enjoar de dizer como a ida para Memphis mudou a vida dele. É incrível como aquele jogador fominha e preguiçoso dos tempos de Portland e Nova York mudou. Ele luta pelos rebotes de ataque, dobra a marcação na defesa, rouba bolas e até (estou segurando a lágrima) passa a bola quando recebe marcação dupla! Nunca achei que ia viver para ver o dia em que Z-Bo lideraria um jogo (não só o seu time) em assistências como ontem, foram 7 e sem nenhum turnover. Você coloca ele do lado do Marc Gasol que é um grande passador e os dois fazem estragos na defesa adversária no maior estilo Gasol (o mais velho) e Bynum ou Odom no Lakers.

O grande desafio para o Grizzlies agora é manter o mesmo nível desses últimos dois meses. Eles acharam um padrão de jogo e uma rotação em que até em jogos sem Zach Randolph e sem Rudy Gay sobreviveram e venceram adversário difíceis. Como não acredito em maré de sorte tão demorada, apostaria que eles são pra valer. E a dificuldade do ano passado em segurar jogos quando estavam vencendo por muito acabou com a melhora de defesa.

Mas mesmo que o time continue vencendo, vá para os playoffs e faça bonito, não dá pra não pensar no futuro. Esse não é um time ainda completamente pronto e precisa melhorar. Como fazer no ano que vem quando Zach Randolph e Marc Gasol são Free Agents e os problemas financeiros da equipe podem impedir que se renove com os dois? E que pecado seria perder um deles e continuar pagando 5 milhões de dólares pelo OJ Mayo e mais 5 pelo Hasheem Thabeet? Nada contra os dois, o Mayo é um jogador que faz um pouco de tudo e teria espaço em muitos times da NBA, mas nesses 10 jogos em que estava suspenso não fez falta alguma ao time. Eles tem o regular Sam Young, o excelente defensor Tony Allen e ainda o novato Xavier Henry, que não faz feio sendo um segundo ou terceiro reserva. Ou seja, pra quê Mayo? Ele é o tipo de empregado que sai de férias e aí a empresa percebe que não precisa dele.

Já o Thabeet todo mundo sabe, o moleque foi para a NBA muito jovem, muito cru e nem é usado. O time já se dá bem sem ele e não vai fazer falta. Equipes que podem se interessar por esses dois não faltam, o Nets, vendo o fracasso de Travis Outlaw e finalmente percebendo (espero!) que Anthony Morrow não é bom o bastante para ser titular em um time de alto nível, adoraria o Mayo. Enquanto isso o Rockets está varrendo a NBA atrás de um novo pivô, talvez não fosse uma má idéia apostar no pirralho, botar ele pra treinar na offseason e ver no que dá. É melhor arriscar do que continuar com essa defesa horrível que tem hoje. E ainda tem outros times, é só vasculhar e trocar. Talvez trocar os dois por jogadores mais baratos ou contratos expirantes seja a única alternativa para o Grizzlies, que demorou tantos anos para voltar a ser um time relevante, não virar abóbora de novo no ano que vem.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Preview 2010/11 - Memphis Grizzlies

Leveza, arte e beleza


Objetivo máximo: Ir para os playoffs
Não seria estranho: Repetir a campanha do ano passado e acabar em 10º no Oeste
Desastre: Voltar a ser um dos piores times da conferência

Forças: Time que mais pega rebotes de ataque na NBA, time titular muito bem entrosado
Fraquezas: Não tem banco de reservas e Mike Conley passa pouca confiança na armação

Elenco: Amém.

Memphis Grizzlies
TitularesReservasResto
PGMike ConleyGreivis Vasquez*Acie Law
SGOJ MayoTony AllenXavier Henry*
SFRudy GaySam YoungDeMarre Carroll
PFZach RandolphDarrell Arthur
CMarc GasolHasheem ThabeetHamed Haddadi



Técnico: Lionel Hollins

Lionel Hollins é mais um daqueles caras que fez carreira como assistente técnico e agora tenta a sorte como treinador principal. O que diferencia ele da maioria dos outros assistentes é que não são muitos os que já trabalharam com tanta gente boa como Hollins. O atual técnico do Grizzlies era assistente de Cotton Fitzsimmons quando ele treinava o Suns nos anos 90 e eles alcançaram a final da NBA contra o Bulls, também foi assistente de Larry Brown no Pistons em 2005 (quando Brown foi eleito o técnico do ano), de Lenny Wilkens, Chuck Daly e Paul Silas. Ele teve muito tempo pra aprender, muitos professores e vários estilos diferentes.

Antes de entrar no mundo dos técnicos ele ainda foi um bom jogador. Escolhido na sexta posição do draft de 1975 pelo Blazers, foi campeão pelo time em 77, ano em que também foi para o All-Star Game. No ano seguinte foi eleito para o primeiro time de defesa da liga e aos poucos foi caindo de produção, mas fez o bastante para ter seu número 14 aposentado pelo time de Portland.

Como treinador principal tem pouquíssima experiência. Treinou duas vezes o Grizzlies, uma vez em Vancouver e outra já em Memphis, apenas como interino em 2000 e 2004. Ganhou finalmente uma chance de ser efetivado em janeiro de 2009. Ele pegou um time esquecido, fraco, que os Free Agents ignoravam quando tinham a chance de mudar de franquia e montou uma equipe de verdade. Já naquela temporada ele conseguiu um feito que seria comum em muitos times, mas que o Grizzlies não conseguia fazer há 3 anos: acabar um mês com mais vitórias do que derrotas! Em abril de 2009 ele fechou a temporada com 5 vitórias e 4 derrotas. É como um nerd fracassado conseguir um beijo na bochecha da garota que ama há anos.

No ano passado conseguiu o feito de ser o primeiro técnico da história da NBA a fazer o Zach Randolph se esforçar em uma quadra de basquete. Todo mundo sabia do talento dele, mas sabia também que ele não dava a mínima pra nada, imaginava-se que ele faria até menos que o normal por estar jogando em um time ruim e nos confins da liga. Mas a filosofia de Hollins do jogo em equipe, da defesa bem treinada e dos muitos passes no ataque contagiou o nosso gordinho favorito e ele entrou no jogo, rendendo até um convite para participar do All-Star Game. Lionel Hollins merecia entrar para o Hall da Fama do basquete só por isso!

O momento de fama de Hollins no ano passado foi quando recebeu uma falta técnica bizarra quando interceptou um passe de um torcedor para Kenyon Martin. Sério.



Apesar do pouco tempo como treinador ele já é bem visto no mundo da NBA e deve ter uma boa carreira pela frente. Se desistir logo da idéia de OJ Mayo como armador principal deve ter mais um bom ano pela frente. Vale ressaltar que o ex-assistente tem nomes conhecidos na sua comissão atual: Henry Bibby, pai de Mike Bibby e a única pessoa a vencer títulos da NBA, CBA e NCAA, e Damon Stoudamire, ex-jogador que se aposentou em 2008. Stoudamire foi um baita armador nos seus anos de Toronto Raptors, mas tem dois recordes interessantes nos seus tempos de Jail Blazers: 54 pontos em um jogo, recorde da história do Blazers, e 21 bolas de três arremessadas num jogo, recorde da história da NBA! Ele só acertou 5 desses arremessos, mas quem liga pra isso?
.....

O Grizzlies foi um dos times que eu mais assisti na temporada passada. Não só tiveram muitos jogos apertados e bons como também era um prazer ver um time funcionando tão bem e com jogadores tão malhados ao longo de suas curtas carreiras: OJ Mayo chegou na NBA com fama de moleque sem cabeça pro jogo, um talento absurdo mas sem concentração, disciplina e que nunca conseguiria jogar ao lado de Rudy Gay pelo seu ego enorme. Mike Conley foi visto como um fracasso completo depois da sua primeira temporada, Zach Randolph a gente nem precisa falar nada e Marc Gasol era a versão mais feia e piorada do seu irmão, que as pessoas só conheciam por estar envolvida naquela troca famosa com o Lakers que transformou a NBA.

Pois OJ Mayo mostrou na temporada passada que é o oposto do que falavam: Não só tem muita concentração e é um jogador exemplar e fácil de lidar como funciona muito bem ao lado do Rudy. E quis contrariar tanto os seus críticos que ainda não se tornou a estrela espetacular que tanta gente previa. Mike Conley talvez nunca faça jus à 4ª escolha no draft que recebeu em 2007, mas é bom o bastante para ser titular na NBA e quebrou muitas vezes o galho do time como único arremessador de três do elenco. Zach Randolph virou um All-Star e Marc Gasol tem jogado tão bem que hoje aquela troca nem parece tão absurda.

Repito, trocar Pau Gasol pelo o que chamamos, na época, de pacote de bolacha, não foi ruim. Com a troca eles conseguiram o atual pivô da equipe, Marc Gasol, e com as escolhas de draft conseguiram o melhor reserva do elenco, Darrell Arthur e o atual reserva da armação, o novato Greivis Vásquez. E foi com o salário expirante do Kwame Brown que eles puderam negociar com o Clippers e conseguir Zach Randolph. Pau Gasol por Arthur, Marc e Randolph? Eu toparia. Claro que nem tudo isso poderia ser previsto na época e foi um risco absurdo que eles correram de perder sua melhor estrela por nada, mas temos que admitir que, mesmo sem querer, fez bem para a franquia.

Assistir ao crescimento desse time condenado foi bem divertido, mas é difícil acreditar que eles estejam preparados para ir além disso. Durante a offseason eles foram notícia três vezes:

1- Contrataram Tony Allen, bom defensor de perímetro (necessidade gritante do time), mas que joga na mesma posição de OJ Mayo e do recém-draftado Xavier Henry.

2- Demoraram meses e meses para assinar o tal novato por uma briguinha contratual imbecil, o que deixou o garoto fora das ligas de verão. (E, por curiosidade, no fim das contas o Grizzlies deu os 120% para Henry depois que o agente Arn Tellem disse que se fosse preciso pagaria ele mesmo, do seu bolso, os 20% que o Grizz não queria dar)

3- Deram um contrato de 80 milhões de doletas para o Rudy Gay, o máximo que ele poderia receber, ao invés de esperar uma oferta de outro time. Como Gay era um Free Agent Restrito, era só igualar a tal oferta e manter o jogador.

Em resumo eles gastaram seu dinheiro mal, mesmo tendo sido em bons jogadores de que eles precisavam. Perder Gay era impensável e as novas aquisições vão ser úteis para o Grizzlies ter finalmente um banco de reserva, já que eles tinham talvez o pior de todos no ano passado. Mas só isso? No sempre difícil Oeste é difícil crer que isso será o bastante. Dos oito classificados para os playoffs do ano passado só o Suns teve mudanças significativas no elenco a ponto de talvez ter uma queda, e eles ainda tem que lidar com o crescimento de Sacramento Kings, Houston Rockets e talvez até do LA Clippers. O time deve continuar bom, mas só um milagre faz o Grizzlies ir além do que já foram na temporada passada.

A maior esperança de um milagre está nas mãos de Mike Conley, o jogador que menos inspira confiança em Lionel Hollins e na direção da equipe. Como acontece com a maioria dos armadores, quando ele joga bem o time inteiro sobe de nível. Mas Conley é bem irregular e defende mal, obrigando o Grizzlies a deixá-lo no banco nos momentos decisivos do jogo. Sem ele a armação fica toda quebrada na mão de Mayo ou Gay, o time perde seu único arremessador de três e vários jogos já escapuliram no final por causa disso.

Há a esperança de que o outro novato além de Henry, Greivis Vásquez, possa ser uma solução. Ele era bom arremessador no basquete universitário. Sua defesa, no entanto, é questionada e não pudemos vê-lo em ação ainda porque está machucado. Ele pode até ser bom, mas não fez nada que justifique colocar expectativas grandes nas suas costas.

Ver todos aqueles jogadores questionados se juntarem para montar um time foi especial e raro, mas é bom não se iludir muito com a animação do ano passado, o time não mudou tanto assim e playoffs só seria uma possibilidade realista se eles estivessem no Leste.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Summer Leagues - Os veteranos


Holiday jogou sem Christmas dessa vez


No último post sobre as ligas de verão tratamos dos novatos de 2010. Para saber um pouco mais da história e para que servem esses pequenos torneios realizados no verão americano é só ver a introdução do mesmo post.

Nesse eu vou falar de outros tipos de jogador que atuaram em Orlando em Las Vegas, os veteranos. São os jogadores com experiência de NBA, a maioria novatos do ano passado, que estão lá para ganhar experiência ou apenas para colocar o que estão fazendo em treinos na prática. Como essa lista ficou também muito grande, a outra categoria, a criativa "outros", com os não-draftados e jogadores vindos da gringolândia, fica para o próximo post.

Veteranos
DeMar DeRozan e Sonny Weems (SG e SF - Toronto Raptors) - As vitórias nas Summer Leagues não querem dizer nada, mas as do Raptors animaram uma meia dúzia de torcedores do que estavam chorando a saída de Chris Bosh. Isso porque foram comandadas por dois dos mais jovens jogadores do elenco canadense, DeMar DeRozan e Sonny Weems, que tem tudo para ser a dupla titular em Toronto na próxima temporada. DeRozan briga por vaga com Leandrinho e Weems com Kleiza, mas os dois americanos tem a vantagem do bom entrosamento. Durante os jogos da liga de verão um sempre procurou o outro nos contra-ataques e nas pontes aéreas, formando a dupla mais mortal de Las Vegas.

Em entrevista o DeRozan foi bem humilde e admitiu que não estava totalmente pronto para a NBA no ano passado, mas que desde o fim da temporada passada está treinando sua defesa, suas bolas de três (tentou apenas 18 bolas de 3 em toda temporada apesar de ser um segundo armador) e seu arremesso após o drible, para poder criar mais arremessos para si mesmo.

Curioso que na temporada passada, sabendo dessas falhas em seu jogo, DeRozan era bem passivo durante os jogos, arriscava pouco, o que gerou algumas críticas. Mas foi essa consciência dos seus limites que fizeram com que acabasse a temporada 2009-10 com aproveitamento de 48% dos arremessos e menos de 1 turnover por jogo. Nas ligas de verão conseguiu colocar seus novos talentos em quadra e os números continuaram bons: 21 pontos por jogo, 58% de aproveitamento dos arremessos (espetacular!), 40% de acerto nas bolas de três e só 1 turnover por partida. Esperem grandes coisas dessa dupla para a próxima temporada, especialmente de DeMar DeRozan, que finalmente vai fazer jus à sua força nominal.

Marreese Speights (PF - Philadelphia 76ers) - Está sendo citado aqui porque foi muito bem na Summer League de Orlando, mas não fez nada de novo. Usou sua velocidade pouco comum para um jogador da posição 4 para fazer pontos na transição e foi agressivo nos rebotes, liderando a liga de Orlando com 9.2 rebotes por partida. Mas apesar do bom basquete apresentado não acho que seja um risco para a titularidade de Elton Brand. Se não roubou a sua vaga nem no esquema feito de contra-ataques que o Sixers tinha até o ano passado, não vai ser agora.

Jrue Holiday (PG - Philadelphia 76ers) - Apesar do Sr.Feriado não estar no mesmo time do Dionte Christmas nesse ano (Sr. Natal jogou a Summer League pelo Kings), rendeu bastante. Aliás, mais do que o esperado. Holiday, ao lado de Jonny Flynn, foram duas exceções em uma classe de draft cheia de armadores talentosos. Enquanto a maioria (Evans, Jennings, Curry, Lawson) arrebentava com tudo e todos, os dois pareciam irregulares e despreparados para o basquete profissional. Holiday, porém, animou um pouco a torcida do Sixers ao melhorar nos últimos 2 meses de temporada, e confirmou a evolução nas ligas de verão.

Liderou a Summer League de Orlando com 19.3 pontos e 6 assistências por partida. Mesclou bem momentos de atacar a cesta e distribuir o jogo e foi bem agressivo nos roubos de bola, especialmente cortando linhas de passe. Talvez alguns defeitos em seu jogo apareçam quando enfrentar jogadores de alto nível, afinal ele tem apenas 20 anos, mas é o armador do futuro para o 76ers.

Terrence Williams (PG/SG - New Jersey Nets) - Eu estou pouco me ferrando para o que o T-Will faça em quadra, desde que esteja no próximo campeonato de enterradas. Mas como está longe, podemos falar um pouco de basquete. Ele foi bem, teve boas médias de 18 pontos, 3 rebotes e 5 assistências, mas deixou bem claro pra todo mundo que apesar de ter tamanho de armador, não é um. Forçou muito o jogo individual e foi um dos motivos para que Derrick Favors arremessasse tão pouco nos primeiros jogos. Em compensação soube criar boas jogadas atacando a cesta. Jogando na posição dois, sem a obrigação de criar para os outros, e pegando os minutos que eram de Chris-Douglas Roberts, deve se destacar na próxima temporada.

James Harden (SG - Oklahoma City Thunder) - A barba mais legal da NBA sofre por ter sido escolhido antes do Tyreke Evans no draft. Não é porque um melhor veio depois que ele é ruim, pessoal. Muita gente esperava mais dele, mas o cara faz o que pedem: aparece do banco no Thunder defendendo bem, tem bom aproveitamento nos arremessos e faz um pouco de tudo. Jogou a Summer League de Orlando como um ótimo veterano e só não tem números mais expressivos na NBA porque joga na sombra de Kevin Durant.

BJ Mullens (C - Oklahoma City Thunder) - O Thunder tinha um dos melhores elencos dessa Summer League. Além de Harden tinha Eric Maynor, Kyle Weaver, Serge Ibaka, DJ White e BJ Mullens. Não à toa só perdeu um jogo e este por um ponto de diferença! Embora todos tenham jogado bem, meu destaque vai para o Mullens, que foi o que surpreendeu. O resto fez, com os números um pouco mais expressivos, pela qualidade dos adversários, o que já fazia na NBA no ano passado. Menos Mullens, que mal jogou na temporada passada e finalmente apareceu em Las Vegas, com 16 pontos e 6.3 rebotes por partida. Foi interessante ver ele atacar a cesta e conseguir ir para a linha do lance livre nos dias em que seus arremessos não estavam caindo. Pode ser uma ameaça à titularidade do novato Cole Aldrich que parecia tão certa no dia do draft.

Kosta Koufos (C - Minnesota Timberwolves) - O pivô que foi envolvido na troca de Al Jefferson para o Jazz foi parar no Wolves e terá concorrência de Darko Milicic, queridinho do GM David Kahn, e do recém-chegado Nikola Pekovic. Não será fácil ganhar uns minutos, mas ele começou bem com sólidas atuações nas ligas de verão. Depois de estrear mal com apenas 4 pontos, embalou três jogos com 13, 19 e 14 pontos. Destaque para o jogo contra o Magic em que teve, além dos 13 pontos, 11 rebotes e 4 tocos. Ainda é pouco, mas começa a lembrar um pouco o pivô que brilhou em Ohio State e foi MVP do campeonato europeu sub-18 de 2008 (quando jogou pela Grécia, apesar de ter nascido em território americano).

Gerald Henderson e Derrick Brown (SG - Charlotte Bobcats) - Com a perda de Raymond Felton para o New York Knicks, o Bobcats precisava mesmo é de um armador novo, já que o Larry Brown nunca confiou muito no DJ Augustin (lembram do "Ele não está jogando porque não defende e não arma jogadas, só isso"?), mas se esse problema ainda não foi resolvido, pelo menos Henderson e Brown podem suprir outra necessidade do Bobcats, o banco de reservas.

Nenhum vai chegar perto de ameaçar a vaga de titular do Stephen Jackson, mas será um bom desafogo ter caras que sabem marcar pontos no banco. Ambos até atuaram bem juntos em alguns jogos e a dupla deve também substituir Gerald Wallace durante os jogos. Brown terminou seus 5 jogos com média de 15 pontos e 7 rebotes, Henderson passou dos 20 pontos nas duas primeiras partidas e a partir daí atuou menos minutos, acabando com média de 14 pontos por jogo.

Reggie Williams (SG/SF - Golden State Warriors) - Em um post recente eu comentei que volta e meia o Don Nelson, técnico do Warriors, acha uns jogadores que ninguém nunca ouviu falar por aí e eles começam a jogar bem. Reggie Williams é um exemplo. Apareceu do nada na temporada passada para cobrir o lugar de algum contundido, jogou 24 partidas e saiu com média de 15 pontos por jogo, excelente para um novato. Foi para as ligas de verão e só não fez mais pontos que John Wall, com 22.6 por partida. Apesar de dividir espaço com outros achados de Don Nelson, além de Monta Ellis e Steph Curry, deve continuar fazendo seus pontos na orgia ofensiva do Warriors.

Omri Casspi (SF - Sacramento Kings) - Não sei porque ele estava lá. Provou mais de uma vez na temporada passada que já é um jogador formado e tem espaço garantido na NBA. Vai ver que jogar ligas de verão no basquete profissional americano é mais uma tradição milenar judaica que a gente nunca vai entender, nunca se sabe. Garantiu seus 14 pontos de média em apenas 24 minutos por partida.

JJ Hickson (PF - Cleveland Cavaliers) - A hora é de urgência em Cleveland, qualquer ser humano capaz de fazer pontos, pegar rebotes, dar assistências e/ou dar enterradas lindas o bastante para vender ingressos são bem vindos. Hickson teve bons momentos na temporada passada, mas eles eram sempre ao lado de LeBron, que cansava de dar assistências para o negão ir lá dar suas enterradas avassaladoras. Como seria sem 'Bron do lado?

Na Summer League de Las Vegas ele foi muito bem! Acabou com 19 pontos de média em 58% de aproveitamento e as duas médias foram prejudicadas por um jogo péssimo contra o Miami Heat (trauma da saída do LeBron, provavelmente). Até essa última partida ridícula, em que fez 4 pontos, estava com média de 24,3 pontos por jogo, o que bastaria para ele ser o cestinha do torneio. Ainda falta técnica, mas ele ataca a cesta como poucos, em um ritmo de ataque veloz ele pode se destacar.

Earl Clark (SF/PF - Phoenix Suns) - Earl Clark não se destacou tanto assim para merecer ser citado aqui, é verdade. Podem argumentar que o Jermaine Taylor do Rockets, por exemplo, jogou mais. Mas é que os 14 pontos e 5 rebotes do Clark são significativos pelo seu histórico.

O Clark foi a 14ª escolha do último draft e muitos apostavam que ele iria fazer chover no Suns. Afinal era um jogador alto, veloz e com visão de jogo que poderia ser um Boris Diaw melhorado. Alguns críticos gringos chegaram ao ponto de dizer que ele era completo o bastante para futuramente estar na briga de MVP da NBA! Exageros a parte, o mínimo que ele deveria ter conseguido era entrar na rotação do Phoenix Suns, mas o Jarron Collins entrava antes dele ver um minuto de jogo.

Como é até normal ter um pivete que só pega no tranco depois do segundo ano, fiquei atento ao Clark em Las Vegas e deu para ver uma evolução. Ainda está longe de brilhar, mas já chamou mais o jogo e pareceu mais à vontade em quadra. Sempre tenho dó desses caras que sofrem com as expectativas e espero que com mais tempo de quadra ele comece a se soltar. Quem já viu ele jogar bem torce por isso também.

OJ Mayo (SG (ou PG) Memphis Grizzlies) - Se o Casspi jogar já não fazia sentido, o que dizer de OJ Mayo? Mas calma, a explicação é boa. Um dos planos para a próxima temporada é usar Mayo como armador principal. Ele pegaria alguns dos minutos do pouco confiável Mike Conley na armação e abriria espaço para o recém-contratado Tony Allen e o novato Xavier Henry jogarem na posição 2. Ele estava em Las Vegas apenas para brincar de cosplay de Jason Kidd.

Só jogou duas partidas e deu três assistências em cada uma, não foi lá grande coisa, mas serviu pelo menos para tirar a poeira. Nas palavras do próprio OJ, "Hoje devo ser horrível nessa posição porque não jogo com a bola na mão o tempo todo há 3 anos, mas com treino e repetição eu posso ser bom". Vamos descobrir só na temporada regular, mas não colocaria meu dinheiro nessa aposta.

JR Smith (SG - Denver Nuggets) - E o JR Smith, o que estava fazendo lá? Quer virar armador? Tradição judaica? Não, "Estou aqui por amor ao basquete. Melhor vir aqui do que jogar em uma quadra qualquer". Boa, campeão.

...
Veteranos que não jogaram na Summer League
Joe Alexander (Chicago Bulls) - Sabia que todo novato tem um contrato garantido de apenas dois anos? A partir do terceiro é uma opção do time de manter o pivete ou não. Pouca gente sabe disso porque 99% dos novatos tem a opção do seu terceiro ano aprovada assim que possível. Apenas 7 (sete!) jogadores na história da NBA não tiveram essa opção aceita, são eles: Patrick O'Bryant, Yaroslav Korolev, Julius Hodge, o campeão Shannon Brown, JR Giddens, Morris Almond (que estava em Las Vegas) e, finalmente, Joe Alexander.

Ele começou a jogar basquete tarde, só no fim da adolescência e passou boa parte do seu colegial jogando basquete na China onde se mudou com o pai, que foi transferido para a filial chinesa da Nestlé. Voltou para os EUA para jogar basquete na universidade de West Virginia, onde ficou três anos. Apesar de parecer sem muitos fundamentos, era espetacular fisicamente (apesar de ser branco!) e baseado basicamente nisso, acabou virando a 8ª escolha do Draft de 2008 pelo Bucks, em que nunca fez absolutamente nada. No ano passado foi para o Bulls na troca do John Salmons e lá não fez nada também.

Estava inscrito na Summer League pelo Bulls mas não entrou em um jogo sequer, não achei uma notícia explicando a situação. Nada disso é sequer um pouco relevante para o blog, mas que carreira, hein?

Jonny Flynn (Minnesota Timberwolves) - Stephen Curry, Tyreke Evans e Brandon Jennings não jogaram as ligas de verão porque não precisam mais convencer ninguém, Flynn não jogou por uma contusão no quadril. De todos os armadores escolhidos no Top 10 do ano passado foi o que menos convenceu. Ainda acho o rapaz muito bom, a sensação de decepção vai mais do sucesso dos companheiros de draft do que pelas atuações dele em quadra. Ser irregular durante o ano de novato é comum, as exceções são os outros.

DeJuan Blair (San Antonio Spurs) - Geralmente um jogador toma como um elogio quando o seu time pede para ele não jogar uma Summer League. Ainda mais quando você foi um novato na temporada passsada. O gostinho é ainda mais especial quando se foi uma escolha de 2ª rodada como foi com Blair. Mas mesmo com o Spurs implorando para ele descansar e evitar o risco de uma contusão, ele insistiu e disse que queria jogar de qualquer jeito. Até foi inscrito, mas de última hora aceitou o pedido do time e não entrou em quadra. Greg Popovich agradece a vontade de jogar, mas fica mais feliz com a obediência.

...
Eu sei que tinha prometido os "outros" para esse post também, mas ficou grande demais, fica para o próximo. Nele irei falar de alguns jogadores que faltaram, inclusive o tão comentado e badalado Jeremy Lin, estrelinha da Summer League de Las Vegas que está bem próximo de acertar um contrato com o Golden State Warriors. Até lá!