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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Soluções para o Houston Rockets

Yao Ming não tem tantos motivos para reclamar desde o dia do draft,
em que não conseguiram sequer lhe arranjar um boné que servisse



Temos que admitir que até o jogo mais feio do mundo fica bonito na segunda prorrogação. Se alguém te avisa que o jogo das oitavas-de-final do campeonato municipal sub-20 de bocha está na segunda prorrogação, vai me dizer que não vai dar uma vontade de assistir?

Nuggets e Rockets ontem foi uma atrocidade, um ultraje, um chute no saco, um cuspe no olho, mas na prorrogação eu nem me lembrava mais disso e parecia um dos melhores jogos que eu havia assistido. Memória de fã dura pouco.

Sem Tracy McGrady em quadra, ainda com o joelho inchado por uma pancada que o tirou de duas outras partidas, o Houston não tem muitas chances de ganhar de outros times que não o Knicks e o Bulls. Contra o Nuggets, a coisa só não foi pior porque o time de Denver também está fedendo, Carmelo Anthony anda descalibrado e seu primeiro tempo ontem foi tão ruim que me lembrou até do Marcelinho Machado.

Até dava pra ter ganhado ontem, se não fosse a cesta absurda do Anthony "Quem?" Carter. Mas foi mais uma derrota pra coleção e muita gente anda perguntando os motivos do Houston estar decepcionando tanto na temporada até agora. Só que quando o time fede, é difícil arranjar um motivo só. Então vamos listar tudo o que há de errado com a equipe até agora.

Pra começar, o Houston sente muito a falta de um armador principal cujo foco principal seja passar a bola. Irônico eu começar reclamando da armação sendo que o time não fez outra coisa além de contratar um bando de armador até não ter mais onde enfiar. Rafer Alston é, infelizmente, o melhor armador presente no elenco. Ele não é horrível, tem talento, mas é uma máquina de tomar decisões equivocadas. Se a vida fosse o Cinema em Casa do SBT, ele certamente alimentaria seu gremlin depois da meia-noite. Fora ele, o elenco tem Mike James e o Steve Francis, dois jogadores notoriamente individualistas que nunca tiveram uma relação muito amigável com a assistência.

Além disso, o Houston sente uma falta brutal de um arremessador especialista em 3 pontos. T-Mac tem um arremesso confiável (às vezes, só não aposte dinheiro) mas seu forte não é o arremesso de fora. Shane Battier tem bom aproveitamento mas seria como dizer que o Bowen é o especialista de 3 pontos do Spurs. O problema é que o Rick Adelman está implantando um ataque livre e veloz que funcionou num Kings que tinha Peja Stojakovic para matar as bolas de fora, não o estrábico do Mike James. O esquema do Adelman está tendo problemas para funcionar, o Houston é o pior time da NBA em pontos de contra-ataque e não parece estar melhorando nada jogo a jogo. A velocidade, no entanto, é bem-vinda e casou muito bem com Yao, que não atrasa o ataque e nem fica exausto como imaginavam que aconteceria. Pelo contrário, já fez um punhado de cestas de contra-ataque acompanhando os armadores na corrida e ontem passou 51 minutos em quadra dando sinais de que aguentava mais.

Mas a falta de um arremessador leva a um problema maior. Yao Ming, que está tendo uma temporada fenomenal (e mais agressiva no garrafão do que a maioria dos críticos de banheiro imagina), recebe marcação-dupla praticamente em todas as bolas e tem o hábito saudável de passar a bola imediatamente, aproveitando-se de seu tamanho e excelente visão de quadra lá de cima. Mas quando a bola sai das mãos do Yao Ming, o Houston não roda a bola em direção a um arremessador, não dá aquele "passe a mais" para o arremesso. Em geral, o time simplesmente começa a armar a jogada de novo. O jogo fica muito estático, focado demais nas mãos de Yao e T-Mac e falta talento nos outros jogadores para definir arremessos completamente livres. Um tequinho de talento a mais no time e a média de assistências do Yao Ming ia assustar até aqueles chineses que passam o dia inteiro tomando purê de maçã na veia e urinando numa sonda só para ficar votando nele para o All-Star.

Na transmissão de ontem na TNT, Charles Barkley disse algo interessante. Ele acha que Yao e T-Mac não se completam, não são feitos um para o outro. O chinês se favoreceria muito mais de um chutador de fora, (o Denis acha que o Redd seria ideal) ou de um armador com bons passes. Já o T-Mac seria beneficiado com um pivô que não passasse tanto tempo com a bola nas mãos. Embora eu concorde, também acho que agora é tarde demais para pensar nisso e que, com as peças certas, os dois poderiam ir muito longe juntos. Então, com isso em mente e minha autoridade de Técnico de Fim de Semana adquirida num curso com o Lula pelo correio, vamos à minha lista do que o Adelman deve fazer para colocar o Houston nos eixos.

1 - Utilizar o Aaron Brooks

O Rafer Alston pode ser o armador titular desde que saia de quadra logo e abra caminho para o Aaron Brooks, o armador novato do Houston. Suas atuações monstruosas na pré-temporada e a escolha como melhor calouro das Ligas de Verão não foram o bastante para render chances na equipe. Ontem só entrou em quadra porque Steve Francis estava gripado. Brooks não jogou mal, não jogou bem, mas o que importa é que ele jogou como todo bom novato cagão: só arremessou quando estritamente necessário e estava muito interessado em passar a bola e obedecer ao técnico. É disso que o Houston precisa.

2 - Se livrar de Mike James, Steve Francis e Kirk Snyder

Nada pessoal, Francis, você me deu grandes momentos e teve algumas boas atuações nessa temporada que até me deixaram empolgado. Mas você nunca gostou muito de passar a bola para o Yao, está velho, e definitivamente não traz o que o time precisa. Mike James, você fede horrores, vá plantar batata. Snyder, você terá um belo futuro na Europa, boa sorte. Mande abraços para o Splitter.

3 - Usar o Scola de titular

O pior legado do Van Gundy como técnico do Houston foi a idéia de que o Yao tem que jogar ao lado de um ala-pivô de mentalidade defensiva. Só quando o Yao ia pro banco é que um ala-pivô ofensivo podia finalmente entrar em quadra. É uma tentativa de equilibrar o banco já que quando o ala ofensivo entra, está ao lado de Mutombo, que só deve ter feito uma cesta na vida, e sem querer. Mas só um imbecil não é capaz de ver como o Houston melhora quando Yao e Scola estão jogando juntos, como a vida do chinês fica mais fácil com o ala adversário tendo que pensar duas vezes antes de fazer uma marcação-dupla nele. Afinal, ninguém em sã consciência marcaria o Chuck Hayes. Deixe-o sozinho com uma bola na quadra e ele levará mais tempo para fazer uma cesta do que a Sandy para perder a virgindade.

4 - Dar minutos de titular ao Bonzi Wells

Ele está vindo muito bem do banco mas não joga minutos suficientes, enquanto Battier continua em quadra preocupado em defender numa equipe que não foca mais na defesa. Sente-o um pouquinho e deixe Bonzi agir. Ele consegue pontos de uma forma que ninguém mais no time consegue: partindo para cima, tomando faltas e cobrando lances livres. Ele pontua na marra, é um grande reboteiro e quem não acredita precisa lembrar dele tendo médias de double-double contra o Spurs nos playoffs, quando ainda jogava no Kings com o Adelman.

5 - Dar uma chance para o Steve Novak

Jogou 5 minutos por partida como rookie na temporada passada e ainda nem sequer entrou em quadra esse ano. Ele é um especialista em bolas de 3 pontos, pode jogar nas duas posições de ala e tinha tudo para ser o Stojakovic que o esquema do Adelman precisa. Por enquanto foi rebaixado para a Liga de Desenvolvimento e tem médias de quase 20 pontos por lá. Nem imagino os motivos dele sequer ter uma chancezinha na NBA. Ele e o JJ Redick, o "melhor arremessador da história" que também não tem chance no Magic sabe-se lá porque, deveriam sair dessa furada e abrir um negócio. Uma pastelaria, talvez.

Se o time não se acertar, se o esquema do Adelman não pegar, se alguém lá não ficar calibrado de trás da linha dos 3 pontos, se a bola não se mover rápido, então muita gente no Houston vai querer ser sócio da pastelaria. E eu vou ter que assistir as oitavas-de-final de bocha mesmo, torcendo pra que alguns jogos de bocha cheguem mesmo à segunda prorrogação.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

"Bem-vindos à NBA, pessoal"

T-Mac fingindo que precisa ir ao banheiro pra não ter que arremessar mais lances livres


Pistons e Rockets tinha tudo para ser um grande jogo. O Pistons havia ganhado 7 dos últimos 8 jogos com uma média de 20 pontos de vantagem. O Houston vinha de duas derrotas consecutivas em que o Yao mandou pra longe a fama de "bom moço comedido" e deu esporro em toda a equipe, chegando a dizer que parecia que havia sido trocado para outro time inferior. Incrível como um pouco de Coca-Cola, shopping e Beyoncé pode transformar uma pessoa.

O jogo estava disputado, feio porém interessante, mas um fenômeno acontecia: o Houston não conseguia acertar seus lances livres. Yao Ming, com 88% de aproveitamento nesse quesito na temporada, errou dois seguidos. T-Mac errou mais dois. Em dado momento, era apenas um lance livre certo em dez tentados. E então em doze tentados. Em treze.

No banco, Steve Francis tapava os olhos com as mãos. A torcida berrava um "aaaaaah" a cada novo lance livre errado, o que tornava tudo ainda mais ridículo. O que diabos estava acontecendo? Se fosse Hollywood, várias explicações seriam cabíveis:

1 - O amigo morto de um dos jogadores do Pistons resolveu ajudar seu companheiro vivo, fazendo com que ele enterrasse do meio da quadra e tacando para fora os lances livres do time adversário. Sucesso do SBT.

2 - Alguém com um controle remoto mágico (ou a buzina do Chapolin) consegue parar o tempo e empurrar cada lance livre metodicamente para fora do aro.

3 - Um cemitério indígena encontra-se embaixo do ginásio e os espíritos ancestrais empurram as bolas para fora para punir os homens brancos que violaram suas terras (embora não haja muitos homens brancos em quadra esses dias...)

No mundo real, a explicação era zica mesmo, e não dava sinais de acabar. Um lance livre certo em 14 tentados. Francis mantinha seus olhos tapados, Mutombo gargalhava loucamente no banco de reservas e a torcida gritando mais "aaaah". Um lance livre certo em 15 tentados. Aí já era demais. Comecei a procurar na televisão alguma coisa para me distrair desse absurdo, mas não durei muito assistindo Fantasia no SBT com aquela mulherada semi-analfabeta (e semi-nua).

Quando o Bonzi Wells finalmente encerrou a urucubaca, deixando a conta em 2 de 16, Mutombo se levantou do banco e ergueu seus braços pedindo para a torcida berrar. Foi uma comemoração ensurdecedora enquanto T-Mac e Wells não conseguiam conter a risada.

Michael Redd do Bucks ficava a uma assistência de um triple-double, Dalembert do 76ers ficava a apenas um toco de um triple-double, o Raptors ganhava do Mavs mesmo com TJ Ford recém-liberado do hospital, Kris Humphries fazia mais um double-double fazendo a orelha do Baby arder, saia pancadaria no jogo entre Pacers e Bulls, o Magic perdia mais uma e dessa vez para o Bucks, com grande atuação do Yi Jianlian. Tudo bacana, interessante, digno de nota. Mas nada comparável aos jogadores caminhando pela quadra em Houston gargalhando uns com os outros frente a um absurdo inexperado.

Quando o jogo terminou, milagrosamente com uma vitória do Rockets, a contagem final era de 6 lances livres certos em 22 tentados, num total de 27% de aproveitamento. Pensando bem, poderia ter sido pior, mas as piadas ao fim do jogo foram inevitáveis. O repórter da ESPN correu para falar ao vivo com T-Mac e perguntar o que havia sido aquilo e como eles haviam conseguido sobreviver apesar de tudo. A resposta, genial:

"Inexplicável. Bem-vindos à NBA, pessoal."

Na coletiva de imprensa, mais comentários a respeito. Flip Saunders, técnico do Pistons, disse: "Fizemos ao menos uma coisa boa. Nós defendemos muito bem na linha de lances livres."

Yao Ming disse que iria voltar ao ginásio no dia seguinte e chutar 100 lances livres, pelo menos. (Ele deve estar lendo demais o blog do Arenas!) Sarcástico, Yao acrescentou: "É uma boa maneira de nos vencer, fazer falta na gente, erraremos os lances livres, basta pegar o rebote e nos atacar."

Foi uma daquelas coisas que faz a NBA ser tão sensacional e imprevisível. O Dalembert dar 9 tocos? Ah, ele faz isso de vez em quando para fingir que vale o contrato milionário que recebe. Um time gargalhar porque não consegue acertar um lance livre nem se a vida dependesse disso e ainda assim ganhar o jogo? Algo bem único. Ainda bem que me mantive fiel ao jogo e não sucumbi à tentação de assistir ao Fantasia. Pelo menos por um dia.