Mostrando postagens com marcador eric maynor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eric maynor. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O melhor dos quebra-galhos

Jason Richardson tenta roubar a carteira
do Darren Collison no meio do jogo


Em novembro, exatamente três meses atrás, escrevi um post porque Deron Williams e Chris Paul se contundiram quase ao mesmo tempo - se um pular da ponte, como diriam as mamães do mundo, o outro pula atrás. Dois novatos selecionados em escolhas seguidas de draft, um na vigésima e outro na vigésima primeira (assim como Deron e Chris Paul foram selecionados seguidamente, na terceira e na quarta), assumiram a vaga de titulares e começaram a chutar traseiros. Pelo Jazz, o novato era Eric Maynor, que desde então foi mandado para o Thunder (assim como o Ronnie Brewer acabou de ser mandado para o Grizzlies) apenas para economizar uma grana, e agora lhe cabe ser reserva num time jovem que ainda tem muito a crescer. Mas o outro novato, jogando pelo Hornets, é Darren Collison. Na ausência do Chris Paul provavelmente pelo resto da temporada, se recuperando de uma cirurgia no joelho, Collison está dominando partidas e de repente ficou famoso, com seu nome aparecendo em todas as listas de melhores novatos do ano.

O engraçado é que essa oportunidade só surgiu para o Collison graças à burrice do David West. Numa partida contra o Bulls, a oito segundos do final, o Hornets ganhava por dois pontos e o David West só tinha que cobrar um maldito lateral nas mãos do Chris Paul. Com medo do passe ser interceptado, ele mandou a bola para a putaqueopariu na quadra de defesa, o Paul teve que se atirar parar salvar a bola (que foi parar nas mãos do time do Bulls a tempo deles empatarem a partida, irem para a prorrogação e ganharem o jogo) e o coitado do Chris Paul acabou contundindo o joelho quando se jogou no chão. Ou seja, deu mais errado do que a terceira edição da "Casa dos Artistas" no SBT, e o Darren Collison teve que assumir a armação outra vez. Três meses atrás, quando escrevi o post, era só por tempo limitado, graças a uma torção de tornozelo, mas agora é pra valer.


O Hornets dessa temporada é uma bela de uma porcaria, basicamente porque não existem pontuadores no elenco. Conforme Chris Paul foi ficando mais e mais frustrado no começo da temporada, foi passando a atacar mais a cesta e pontuar por conta própria. Quando o Collison começou a substituí-lo, o grande medo foi perder todo o poder ofensivo, então outros jogadores começaram a se concentrar mais nesse aspecto. O também novato Marcus Thornton passou a ganhar minutos, Peja Stojakovic foi acordado de seu sono na câmara criogênica, e Collison fez um bom trabalho envolvendo todo mundo. O grande lance sobre ele é que, mesmo tendo um arremesso não muito confiável (e de mecânica esquisitinha), sendo magrelo, fracote e mais-ou-menos na defesa, ele sabe perfeitamente bem como liderar um time e tomar as decisões corretas. O ultimo draft foi a melhor leva de armadores de todos os tempos, sem brincadeira, mas acho que o Collison é o mais inteligente em quadra quando se trata de dar os passes certos do modo mais fácil. Além disso, ele pode ser também o armador mais rápido do draft sem deixar com que isso lhe faça jogar na correria. Ele prefere segurar a bola, dar a assistência mais simples, e utiliza sua velocidade apenas quando faz sentido. Ele pode não ser o mais talentoso dessa safra, e eu tendo a achar que ele está pronto demais e não deve melhorar muito o seu jogo (e nem a estrutura física, dizem que ele é naturalmente magrelo), mas é certamente perfeito para jogar no Hornets e isso fica óbvio no seu desempenho.

Alguns estilos realmente fazem a vida dos jogadores. O Jazz do técnico Jerry Sloan é famoso por fazer com que qualquer humano bípede pareça um bom jogador na posição de armador - Brevin Knight, Raul Lopez e até o Raja Bell já chutaram traseiros no sistema de pick-and-rolls da equipe. No Hornets de uns anos para cá, o sistema tático consiste em dar todo o poder do mundo para o armador da equipe, pode até comer a esposa do dono. A bola passa o tempo inteiro nas mãos do Chris Paul, o ritmo do jogo fica em suas mãos, o resto do time só toca na bola quando ele quer, e na defesa cabe ao armador cuidar das linhas de passe na cabeça do garrafão enquanto o resto da defesa afunila o ataque adversário em direção à linha de fundo. É claro que, com tanta responsabilidade e tanto tempo com a bola nas mãos, qualquer armador do Universo (estou falando do espaço sideral, não do time brasuca) vai conseguir bons números. Mas o Darren Collison não é um fruto desse sistema, ele é apenas perfeito para esse sistema. Dê a bola o tempo inteiro para o Aaron Brooks ou o Louis Williams e você terá um pontuador maluco que terá belos números mas perderá todos os jogos. Collison é calmo, não tenta passes impossíveis, cuida bem da bola, sabe o que consegue e o que não consegue fazer em quadra, e é perito em controlar o ritmo da partida. Além disso, é um bom ladrão de bolas - perfeito para um sistema que exige apenas isso de sua defesa.

Nos 20 jogos em que foi titular, Darren tem uma média de 18 pontos, 4 rebotes, 8.4 assistências e 1.5 roubos de bola por jogo. Mas aos poucos, assim como Chris Paul, tem percebido que sua equipe fede muito e tem que pontuar cada vez mais. Nos últimos 10 jogos a média é de quase 22 pontos, assustador para um novato de arremesso mequetrefe. Contra o Houston, jogo que assisti recentemente, Collison engoliu o Houston com azeite e sal simplesmente em penetrações no garrafão, rápido demais para que o Aaron Brooks fosse capaz de marcá-lo. Passa boa parte do tempo dando os passes certos, obrigando o time a se mover, e de repente bate para dentro com uma velocidade surreal. Acabou decidindo o jogo assim no quarto período, o que é o mais importante: ele está fazendo o Hornets vencer de vez em quando em uma temporada que deveria ter sido jogada no lixo com a contusão do Chris Paul. O Hornets está atualmente em nono no Oeste, não muito longe do oitavo colocado Blazers e apenas meia vitória à frente do Grizzlies, que também luta pelos playoffs. Num Oeste tão disputado quanto o desse ano, lutar pela última vaga é uma conquista incrível. Ainda mais porque, insisto, o Hornets fede. De verdade.

Mesmo se não levar o time para os playoffs, no entanto, o Darren Collison se coloca imediatamente pela briga de melhor novato do ano. O problema é que não dá pra vencer o Tyreke Evans, que já é um dos melhores jogadores do planeta e de novato não tem nem a cara, mas a briga é boa com o Stephen Curry, que está jogando demais no Warriors, e com o Brandon Jennings, que cada vez mais tem "novato" escrito na testa. O engraçado é que Collison e Jennings teriam se enfrentado no basquete universitário se o Jennings tivesse jogado na Universidade de Arizona, como quase aconteceu, ao invés de preferir o basquete europeu pra ganhar uma graninha. Quando eles finalmente se pegaram pela primeira vez na NBA, trocaram cestas decisivas no quarto período, Jennings cobrou dois lances livres que colocaram o Bucks três pontos na frente, mas o Collison acertou um arremesso de 3 para forçar a prorrogação. No tempo extra, o Collison bateu a carteira do Jennings e cobrou os lances livres da vitória do Hornets, num jogo fantástico entre dois armadores sem idade para beber cerveja. Na noite de ontem eles se enfrentaram de novo, Collison teve uma atuação incrível, com 22 pontos e 9 assistências, deu um pau no Jennings - que é incapaz de acompanhá-lo na corrida, defendê-lo, e anda tendo problemas terríveis para acertar seus arremessos - e mostrou que vai acabar na frente do armador do Bucks na corrida por novato do ano, mas ainda assim o Hornets perdeu. Enquanto o Bucks tem a ajuda de Andrew Bogut (aliás, o time é dele e pronto), o Darren Collison só vem tendo ajuda do outro novato Marcus Thornton. Desde o dia 10 de janeiro ele só deixou de ter dígitos duplos em pontos por duas vezes, e desde que ganhou minutos na primeira contusão do Chris Paul três meses atrás, tem mostrado que é melhor pontuador do que qualquer um daquele elenco mequetrefe. Além de ter um arremesso muito bom com os pés parados, sabe colocar a bola no chão e bater para dentro do garrafão com agressividade. Ele tem uns problemas de confiança e se intimida muito com defesas mais agressivas, mas quando seu arremesso está caindo é imparável e joga como veterano. Será uma peça fundamental no Hornets tão desesperado por pontuadores, mas o Darren Collison precisa de mais ajuda do que isso. O problema é que, quando essa ajuda chegar, Chris Paul já estará na equipe e Collison será reserva, vai poder aproveitar menos a festa. O importante, no entanto, é não ter pressa. É sensacional ver o Chris Paul dando dicas para o novato em cada parada de bola e treinar com ele deve ser um privilégio. Jogar num esquema que o favorece tanto também, então o Hornets ganhou um belo reserva. É triste saber que ele deu 18 assistências em seu primeiro jogo desde a contusão do Chris Paul, que ele fez um triple-double com 18 pontos, 13 rebotes e 12 assistências, e que mesmo assim não poderá ser titular porque ele e Paul juntos, em quadra, seria um terrível problema defensivo. Mas resta a certeza de que, ao menos, o Hornets terá alguém decente no banco de reservas. Quando foi a última vez que isso aconteceu?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Trocas furadas

Mandar jovens talentos como o Eric Maynor em troca de
nada dá bastante certo, basta perguntar para o Knicks


O Hornets é o pior time do mundo pra fazer trocas. Não é que eles façam trocas idiotas, é que as trocas que eles fazem sequer chegam a se concretizar. Na temporada passada, o time resolveu mandar o Tyson Chandler para o Thunder, mas na hora dos exames médicos o pivô foi diagnosticado com uma lesão grave no pé e não foi liberado para ser trocado. Ou seja, voltou para o Hornets com aquela cara de bunda de quem tomou pé na bunda da namorada mas a namorada voltou porque não arranjou ninguém melhor. Nessa temporada, eles conseguiram mais uma troca que não aconteceu: Devin Brown iria para o Wolves em troca de Jason Hart, o magrelo que quase não entrou em quadra na sua carreira, mas no último segundo, depois da troca já ter sido amplamente anunciada e os jogadores já estarem de malas feitas, o Wolves deu pra trás e preferiu aceitar uma outra troca, dessa vez do Suns.

A troca do Suns mandou Alando Tucker pelo Jason Hart, mas garantiu também que o Suns vai continuar pagando o salário do Tucker nessa temporada. Então, já que o Jason Hart ficou tão concorrido pela primeira vez desde o baile de formatura, lá foi o Devin Brown voltar para o Hornets com cara de bunda, sabendo agora que ele é meio indesejado. O motivo da troca frustrada do Brown é o mesmo que a troca frustrada do Tyson Chandler: economizar umas verdinhas. O Hornets está bastante acima do limite salarial, tendo que pagar multas por isso, e o time fede um bocado. Depois de uma campanha forte nos playoffs e a ideia de que "com apenas mais um grande jogador de banco a gente chega lá", o Hornets percebeu que era apenas um time mequetrefe que, no momento certo, com o ritmo certo e a mentalidade certa, chegou bem mais longe do que devia. Nem em um bilhão de anos aquele time, com aquelas mesmas peças, conseguiria chegar de novo onde chegou. Bastou o Chris Paul estar sentindo mais o físico para o time despencar e perceber que James Posey, nada além de um bom carregador de piano para vir do banco, não iria fazer milagre. Não tem absolutamente ninguém no elenco capaz de pontuar, já que o Stojakovic é do tempo da tevê Manchete e o David West está longe de ser uma máquina de fazer pontos.

O Devin Brown, por isso, quebra um belo de um galho. Sempre foi subestimado, já chutou traseiros com o Spurs quando foi campeão, já ajudou o Cavs chutando traseiro nos playoffs, e portanto tem mais experiência em pós-temporada do que todo mundo no elenco do Hornets. O rapaz é forte, sabe atacar a cesta, é muito bom nos arremessos de três pontos e aprendeu a ser um bom defensor. Não é muito consistente ofensivamente, mas sempre dá um jeito de contribuir e eu fico aqui pensando o porquê dele ter partidas tão boas e ficar migrando de time para time sem uma casa fixa, parece até o Quentin Richardson. Com média de 10 pontos por jogo já dá pra ser escolhido o macho-alfa do Hornets quando o Chris Paul está de férias, mas com a crise econômica acabou sobrando pra ele.

O ridículo é que o Hornets está nessa situação de não ter pontuadores e estar acima do limite salarial porque o Stojakovic ancião ganha 14 milhões esse ano (e 15 milhões no ano que vem), o lixo do Morris Peterson ganha 6 milhões (ele foi contratado como a grande esperança do time nos arremessos de fora, mesmo que na época qualquer um que assistisse aos seus jogos soubesse que ele era o pior titular da NBA), e o James Posey ganha outros 6 milhões (um tanto salgado para um reserva de luxo). Essa receita todo mundo conhece: umas trocas imbecis e uma caralhada de contratos inflados e você tem um delicioso Knicks para viagem, com refrigerante e batatas médias. Pelo menos como o Chris Paul é um jogador espetacular que faz até os piores companheiros de equipe renderem razoavelmente, o Hornets consegue se safar de ser o Knicks e ao menos luta por uma vaga nos playoffs. Há esperança para esse time voltar a fazer barulho nos playoffs, aliás, mas é só quando esses contratos idiotas terminarem e é necessário assinar com moderação os contratos novos. A equipe está longe de um título, não dá pra ir dando bilhões para jogadores que são tratados como "a peça faltante". Quando o Magic exagerou no contrato do Rashard Lewis, não dava pra criticar muito porque eles acreditavam que um grande arremessador de três era o que faltava para que o time fosse campeão. E, bem, eles acertaram em cheio e agora não dá pra criticar o contrato inflado. O Hornets não pode pagar Stojakovic, Posey e Peterson como se eles fossem apenas o arremessador que falta para um título, o time está completamente pelado. Chris Paul e David West são a alma da equipe, um par de jogadores inteligentes e que jogam com habilidade e finesse, mas todo o resto dá pra jogar fora e começar de novo. Em plena crise econômica, com os times desesperados quando ultrapassam o limite salarial, é preciso se livrar dos contratos ruins e ter moderação nos novos. Mas se livrar do contrato de 1 milhão do Devin Brown é exagero, o rapaz não merecia essa humilhação enquanto o Stojakovic enche as orelhas com 14 vezes mais grana. Pra provar o ridículo, Devin Brown voltou a jogar pelo Hornets, fingiu que o namoro não tinha terminado e enfiou 30 pontos no Jazz só pra provar que pode. Ou seja, voltou pra casa corno mas deu um trato na patroa.

O Jazz, aliás, também está nessa onda de economizar dinheiro. O armador draftado nessa temporada, Eric Maynor, que se saiu tão absurdamente bem na ausência do Deron Williams, foi trocado para o Thunder. O Jazz recebe um maluco draftado há muito tempo atrás que nunca vai aparecer pra jogar porque está na Europa comendo umas italianas, enquanto o Thunder consegue finalmente um excelente reserva para Russell Westbrook, ampliando ainda mais o núcleo jovem desse time que vai chutar traseiros num futuro bem próximo. Para completar a troca, o toque mágico, o pó de pirlimpimpim: o Jazz manda Matt Harpring para o Thunder. O vovô tem uma infecção no pé, não deve jogar basquete nunca mais (para nosso azar, porque ele é um dos piores comentaristas de basquete do planeta e vai ficar torrando nosso saco), mas seu salário continuava valendo para o Jazz. Agora, o time paga menos taxas por ultrapassar o limite, embora não esteja nem perto de gastar pouco. Tudo porque nessa temporada resolveram ficar com Paul Millsap e Carlos Boozer, sem no entanto procurar ativamente uma troca pelo Boozer quando ele decidiu não ir embora. Com isso, Millsap tem salário de titular mas minutos de reserva, o time tem uma folha salarial de campeão mas campanha digna de Clippers, e a crise econômica acaba obrigando o time a se livrar de bons jogadores a preço de banana. Essa é uma boa maneira de estragar um time bem rápido: se livrar dos jogadores bons e jovens porque você assinou contratos gigantes para uns jogadores velhinhos. O Suns ficou se livrando das escolhas de draft para não gastar o dinheiro que usava nos veteranos e quase acabou se lascando por isso. Acabou dando sorte com carregadores de piano como o Jared Dudley, mas aprenderam a lição e devem começar a colecionar uns novatos antes que esse time morra e eles tenham que reconstruir tudo do zero.

O Eric Maynor foi uma grande sacada do Thunder, que já estava de olho nele desde a época do draft. O time está uma vitória atrás do Jazz, mas tem também um jogo a menos, então vai ser divertido se o Jazz tiver ajudado justamente o time que grudar em sua cola. Os dois brigam pelas vagas finais para os playoffs do Oeste, com a diferença de que o time de Utah é um time com sérios problemas, como o Denis tão bem relatou, enquanto o Thunder é um time jovem, animado, veloz, que está nessa só para adquirir experiência. Por lá não existe pressa, o Kevin Durant já teve anos de carta branca para arremessar como quisesse não importavam quais fossem os resultados, e agora o time testa seu entrosamento sem muitos compromissos com a vitória. O fato de que as vitórias estão vindo é simples fruto do talento e amadurecimento dessa garotada, já que a equipe teve os bagos para se livrar dos jogadores mais velhos e experientes, mesmo que talentosos, para dar minutos integrais e irrestritos para os pirralhos. O amadurecimento veio rápido, mas o que mais intriga com relação à essa equipe é o ânimo dos jogadores. Desde a temporada passada, quando eles estavam flertando também com uma das piores campanhas de todos os tempos, a animação dos jogadores teve uma crescida assustadora e incendiou o time inteiro. O Thunder decidiu trocentas partidas nos segundos finais na temporada passada inteira, aprendeu a ganhar no quarto período com intensidade e vontade, conseguiram começar a segunda metade da temporada ganhando mais do que perdendo e salvaram o recorde patético se tornando um time a ser levado a sério. Não imagino o que tenha acontecido, mas muito provavelmente foi aquela água secreta do Jordan que o Pernalonga dá pro seu time no Space Jam (pra evitar a pior campanha de todos os tempos, o Nets não precisa apenas seguir o exemplo do Thunder, precisa também dessa água do Jordan urgentemente). Desde o começo dessa temporada esse ânimo ainda está lá, e quando jogadores tão talentosos, que evoluem com velocidade de pokémon, querem o seu sangue com tanta intensidade, fica bem claro que eles vão te dar dor de cabeça. E agora com um armador reserva jovem e talentoso, para manter o mote do resto da equipe. Contratos idiotas e má administração dos salários não apenas estraga equipes, mas também favorece muito quem sabe o que está fazendo. O Thunder agradece, e num par de anos vai colher os resultados enquanto Hornets e Jazz vão estar começando do zero. Pra ver se aprendem.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nova geração de armadores

Cadeiras vazias para ver Chris Paul e Deron Williams, duas peças de museu


Houve um tempo, muito distante, em que a rivalidade entre dois armadores dominava os debates sobre NBA. As donas de casa fofocavam sobre eles na calçada, os bêbados escolhiam o prefererido e ficavam defendendo o queridinho nas mesas de bar, e o pessoal que acompanha basquete e comenta nos fóruns jogava a vida na privada teorizando sobre qual dos dois era melhor sempre que dava um tempinho no Ragnarok. Os armadores eram Deron Williams e Chris Paul, e mesmo que ficar alegando que um era melhor do que o outro fosse a mair perda de tempo (assim como nós dizemos, desde o começo do blog, que é uma perda de tempo surreal comparar dois jogadores diferentes), a rivalidade era muito divertida de se acompanhar.

Os dois foram draftados em sequência, com o Williams indo para o Jazz com a terceira escolha e o Chris Paul indo para o Hornets com a quarta. Por algum tempo Paul pareceu o jogador mais completo enquanto Deron era o melhor pontuador e arremessador, mas os dois foram mostrando mais e mais aspectos de seus jogos até que não dava mais para dizer o que um fazia melhor do que o outro. O que podemos dizer, sim, é que o Chris Paul sempre tinha seu traseiro chutado quando os dois se enfrentavam e, no entanto, começou a receber mais atenção do público com sua atuação monstruosa nos playoffs. Foi parar no All-Star Game duas vezes, muitos consideram o rapaz o melhor armador da NBA, e o Deron Williams foi ficando um pouco de lado e ainda não foi parar no jogo das estrelas, o que é um crime tão grande quanto deixar a Alinne Moraes tetraplégica.

Mas essa rivalidade agora é velharia, tipo Kinder Ovo que custava 1 real. Os dois armadores estão fora das quadras por uns tempos e seus reservas, dois novatos, estão chutando traseiros. Todo aquele papo de que o draft desse ano tinha uma boa safra de armadores não era só papo pra te comer, temos Brandon Jennings marcando 55 pontos e transformando o Bucks, Tyreke Evans assumindo a armação do Kings e tornando o time bizarramente bom, tem o Stephen Curry quebrando um galho no Warriors sem Stephen Jackson e tentando sobreviver ao circo, o Ty Lawson fazendo miséria no Nuggets quando o Billups vai pro banco, o Toney Douglas sendo um dos poucos aspectos positivos do Knicks e jogando melhor do que o titular Chris Duhon, o Jonny Flynn impedindo o Wolves de ter a pior campanha da NBA apesar das contusões (o Nets também ajuda o Wolves a não ter a pior campanha) e além de todos eles temos os novatos que substituem Chris Paul e Deron Williams: são o Eric Maynor e o Darren Collison.

Os dois também foram draftados em sequência, também com o Jazz escolhendo primeiro. Mas ao invés da terceira e quarta escolha, foram draftados na vigésima e na vigésima primeira. Mas, nessa safra de armadores abençoada por deus e bonita por natureza mas que beleza, os dois chutam traseiros como não se imaginaria de escolhas tão altas, principalmente levando em conta que armadores costumam levar mais tempo para pegar as manhas da NBA do que jogadores de outras posições.

Quando o Chris Paul torceu o pé, a impressão que deu foi a de que o time estava fedendo tanto que ele até preferiu se contundir pra ir assistir ao filme do Pelé. Das dez partidas que disputou, Chris Paul venceu apenas três, e isso enquanto marcava quase 24 pontos por jogo. Era bem claro que ele estava tendo que pontuar completamente sozinho, e como o Tracy McGrady aprendeu nos seus tempos de Orlando, dá pra fazer 60 pontos num jogo e ainda perder se o teu time não souber nem amarrar o cadarço. Sem o Chris Paul, quem assumiu a responsabilidade de armar esse time incapaz de acertar a cesta foi o Darren Collison, e o pirralho já ganhou três partidas - e só tendo disputado cinco. A derrota de ontem para o Heat, por exemplo, só veio nos segundos finais depois de um arremesso certeiro do Udonis Haslem, o que mostra que o rapaz não apenas está no caminho certo mas também está tornando seu time mais eficiente sem carregar tanto o fardo ofensivo. Com 15 pontos e 6 assistências de média nas partidas como titular, Collison está abrindo espaço para outros jogadores aparecerem, como o também novato Marcus Thornton, escolha de segunda rodada, que marcou 22 pontos por jogo desde que o Chris Paul foi passear. A verdade é que esse time fede, fede muito, e fedia mesmo quando o Paul levou a equipe aos playoffs e impressionou todo mundo a ponto da gente não perceber o tamanho da bomba (tipo um cara feio com uma namorada gostosa, você acaba pensando algo como "ele não deve ser tãaaaao feio assim). Se ele continuar segurando o rojão sozinho, o time não apenas vai estagnar como vai acabar torrando os últimos traços de paciência do armador, que pode, no maior estilo "Tropa de Elite", simplesmente pedir pra sair.

Enquanto isso, em Utah, parece existir uma espécie de maldição que aflige as filhas dos armadores do Jazz. Assim como o Fisher enfrentou problemas com a saúde de sua filha que, por fim, acabaram gerando um acordo que permitiu ao armador voltar a Los Angeles (e ao Lakers) para poder estar perto dos maiores centros médicos, Deron Williams também pediu dispensa do Jazz por uns tempos para lidar com problemas de saúde de sua filhota. Ficamos na torcida de que não seja nada sério, que o Deron Williams possa voltar às quadras feliz e tranquilo, e que essa maldição não seja tão séria quanto a que faz o Clippers sempre feder ou o Wizards sempre ter alguém contundido. Nas duas partidas em que o Eric Maynor teve que assumir a armação titular da equipe, suas atuações foram incríveis. Contra o Sixers foram 13 pontos e 11 assistências, e contra o Cavs foram 24 pontos e 4 assistências. Mais do que isso, Maynor mostrou domínio nas jogadas de "pick-and-roll" que tanto fizeram a fama de Stockton e Deron Williams, apresentando um grande entrosamento com o Carlos Boozer. Parte disso parece ser culpa do Jerry Sloan, porque parece que se um anão de biquini for colocado pra armar o jogo no Jazz vai dar tudo certo, lembro de ver jogadores bizarros assumindo a posição em momentos de desespero e funcionando bem, como Gordan Giricek, o Raja Bell por quase uma temporada inteira, e até o Kirilenko, todos bem fora de sua posição natural.

Para o Jazz, saber que o Maynor se deu tão bem na função e que o Sloan deixa a vida dos armadores tão fácil é uma descoberta essencial. Esse começo de temporada não está sendo fácil para a equipe e Carlos Boozer e Paul Millsap são como pistoleiros de faroeste, ou seja, a cidade é pequena demais para os dois juntos. Ambos precisam de minutos, mas os dois precisam de bons armadores que permitam o "pick-and-roll" para que possam render satisfatoriamente. Se Millsap entrar em quadra acompanhado do Maynor, o Jazz ganha um banco de reservas que não deve muito à dupla titular Boozer-Deron, e isso não é pra qualquer um. Além de ser uma base para o futuro, já que a equipe se comprometeu com o Millsap pelos próximos anos, é uma garantia de que as mesmas jogadas podem ser usadas pelo escalão reserva, que sempre foi um dos grandes pontos fracos do Jazz.

Da próxima vez que Jazz e Hornets se enfrentarem, e provavelmente o Hornets vai estar fedendo bem mais do que o Jazz, ninguém mais vai estar de olho no duelo entre Chris Paul e Deron Williams. Todo mundo vai querer ver Eric Maynor e Darren Collison se pegando, porque as duas equipes parecem destinadas a ter uma tradição de armadores rivais. O universo conspira para que sejam draftados em sequência, para que tenham chances no time titular ao mesmo tempo, e vai conspirar para grandes partidas entre os dois pelos próximos anos. Tudo graças à melhor safra de armadores puros que a NBA já viu, e olha que nem temos o Ricky Rubio nessa brindadeira ainda. Se bobear, é sorte dele: no meio de tanto, tanto talento, ele teria que suar as pitangas para fazer jus aos seus companheiros de posição. Afinal, armadores que substituem Chris Paul e Deron Williams à altura tem que ser espetaculares - e olha que nenhum deles fez 55 pontos. Ainda.