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quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Spurs sempre será o Spurs

O Denis analisou o jogo 5 entre Spurs e Grizzlies, comentando sobre as mudanças táticas no Spurs nessa temporada, a defesa do Grizzlies e o arremesso final de Gary Neal que levou o jogo à prorrogação - e então à vitória do Spurs. Mas o site NBA Playbook fez um trabalho tão genial analisando as últimas posses de bola da equipe de San Antonio que é impossível não compartilhar aqui algumas conclusões que essa análise nos traz num mini-post de sobremesa para quem leu o post anterior, prato principal.

1) O Spurs sempre causa medo com as bolas na zona morta

A análise da jogada no NBA Playbook está aqui. Com 14 segundos no cronômetro, o Spurs optou por não tentar uma bola de 3 pontos. Ao invés disso, Duncan recebe a bola no perímetro e dá um passe certeiro para o Ginóbili finalizar com uma bandeja simples. Tony Allen estava marcando o Ginóbili e ele opta por proteger uma possível bola de 3 do argentino, liberando o jogador do Spurs para uma corrida rumo à cesta. Mas porque a ajuda defensiva não bloqueia o caminho do Ginóbili? Porque o Shane Battier, responsável por essa ajuda, está se borrando de medo de deixar alguém (no caso Gary Neal) livre na zona morta. É justo, o banco do Spurs é o banco que mais converte bolas de 3 na NBA, e a zona morta sempre foi uma das principais armas da equipe na época de Bruce Bowen. Quantos jogos o Suns não perdeu por culpa de uma maldita bola de 3 pontos na zona morta? Mas, como o Denis indicou, o Spurs está tentando apenas metade dos arremessos na zona morta que tentou na temporada regular, estão bem marcados e nenhum jogador mais é especialista na área. Mas é isso, os arremessos daquele região vencendo jogos para o Spurs fazem parte do nosso imaginário, e então o Shane Battier preferiu permitir a bandeja do que desgrudar do Gary Neal.

2) O Duncan sempre causa medo mesmo sendo velho e tendo cara de bobo

A análise da jogada no NBA Playbook está aqui. Com menos de 2 segundos no cronômetro e precisando de uma bola de 3 pontos, o Spurs faz uma série de corta-luzes na cabeça do garrafão para liberar alguém pra receber a bola e o Grizzlies faz a escolha correta: ao invés de lutar contra cada corta-luz, os marcadores fazem a troca, ou seja, quem parar no corta-luz passa a marcar o adversário que fez o corta, e quem estava marcando esse jogador passa para o próximo adversário em movimento, evitando assim o corta-luz. Tudo lindo e maravilhoso, até que Shane Battier - de novo - decide que não vai fazer a troca de marcação. Porque para isso ele teria que sair do Tim Duncan, ali paradinho na linha de lance livre, e todos nós sabemos do que o Duncan pode ser capaz quando está livre nos segundos finais de um jogo, né? Mas por ter ficado no Duncan, Shane Battier deixa Gary Neal livre, e graças às trocas seria ele o responsável por fechar no armador do Spurs. Neal arremessa uma bola de 3 com bastante espaço, converte e leva o jogo para a prorrogação, enquanto o Duncan (que só poderia fazer uma bola inútil de dois pontos) estava muito bem marcado. Pois é, na hora final dá cagaço de deixar o Duncan livre, mas era a única coisa inteligente a se fazer.

3) O Spurs sempre recebe ajuda de algum jogador aleatório

O Battier errou nas duas marcações e ele é simplesmente um dos melhores defensores da NBA. Ele tem responsabilidade pelo erro, claro, mas o peso do Spurs, a fama do Spurs, acaba tendo um papel fundamental em como os jogadores reagem ao time na hora de defender uma posse de bola fundamental. Mas no fim das contas, erro de marcação ou não, quem acertou a bola final foi Gary Neal - mais um para a imensa lista de jogadores eleatórios que já salvaram o Spurs em jogos decisivos de playoffs. Mas quão aleatório é o Gary Neal, afinal? Basta dar uma lida nessa história que o Denis publicou um mês atrás no seu filtro semanal:

Vocês sabiam que o Gary Neal, o novato-sensação (como diria a RedeTV!) do Spurs, teve um caminho complicado pra diacho pra chegar na NBA? Eu não sabia. No seu segundo ano de faculdade foi acusado de estupro e perdeu sua vaga no time. No fim ele foi inocentado, pelo jeito foi um caso de sexo entre bêbados em uma festa, mas mesmo com a inocência oficial não foi recebido de volta e teve que caçar outro lugar pra jogar.

Ele acabou indo para uma faculdade bem pequena e sem renome, Towson, onde passou por zilhares de entrevistas para ser aceito. Depois dessa história é claro que passou em branco pelo Draft da NBA e aí foi para Turquia, Espanha e depois Itália, onde milagrosamente recebeu uma chance do Spurs. Aliás, milagrosamente não, por méritos dele e dos melhores olheiros do planeta. Neal é uma das razões para o Spurs ser um dos melhores time da NBA em bolas de 3 pontos nessa temporada. A história dele tem mais detalhes nesse link do Spurs Nation.

Desastre anunciado

Pois é, foi daí que o Manu acertou o arremesso dele


Foi por pouco, por muito pouco. O Memphis Grizzlies estava a 1.7 segundo de eliminar o San Antonio Spurs, vencer sua primeira série de playoff na história, causar uma zebra do tamanho de um elefante (só pra ficar no mundo animal) e tudo isso, é sempre bom lembrar, sem o Rudy Gay! Ficou no quase porque o técnico Gregg Popovich resolveu colocar o trabalho de um ano inteiro nas mãos de um novato. Ele desenhou uma jogada para Gary Neal, que meteu a bola de três pontos que levou o jogo para a prorrogação e salvou o Spurs das férias indesejadas. Não que vocês não saibam disso tudo, devem ter visto o jogo ou visto o resumo hoje cedo, mas estou colocando tudo isso no papel (ou na tela) para ver se acredito. Alguém alguns meses atrás imaginaria que esse parágrafo pudesse ser escrito de maneira séria?

São muitas coisas estranhas acontecendo e a primeira a gente já alertou durante a temporada regular. Nesse post sobre o Spurs eu disse que eles estavam se parecendo mais com os times que estavam acostumados a vencer, ofensivos, velozes, baseados nas bolas de 3, do que com o "clássico" Spurs defensivo, pragmático e entediante. Acabaram o ano com o segundo melhor ataque da NBA e 11ª melhor defesa, números parecidos com o Phoenix Suns de alguns anos atrás que eles enjoaram de vencer. A fragilidade defensiva era ainda maior quando o Popovich, por falta de opção provavelmente, usava formações que favoreciam as bolas de três pontos ao invés do poder defensivo, foi o aproveitamento insano nas bolas de longe que fizeram o Matt Bonner ser mais usado que o Tiago Splitter durante todo o ano, por exemplo.

O discurso do Popovich e dos jogadores nunca mudou, eles sempre disseram que queriam voltar a ser um time defensivo, mas na prática não mudaram muita coisa, preferiram seguir com esse plano estranho que estava garantindo uma vitória atrás da outra na temporada regular. Eles falharam em perceber alguns sinais importantes, porém, como alguns jogos contra o Lakers e o próprio Grizzlies em que foram engolidos vivos pelos fortes garrafões das duas equipes. Claro que venceram jogos contra eles também, mas ficou bem claro que quando eles enfrentavam um garrafão alto e em boa forma, não sabiam como responder defensivamente e precisavam de dias inspirados nas bolas de três para vencer. E, como todo mundo no mundo do basquete sabe, nada é tão perigoso quanto depender dessas bolas de longa distância, é a bola mais irregular e imprevisível do basquete, uma temporada pode ir para o ralo em um dia ruim.

O Grizzlies provavelmente sabia disso. Perdeu alguns jogos bobos no final da temporada regular quando poderia avançar até a 6ª posição no Oeste e deu a impressão (que eles negam) de que estavam escolhendo enfrentar o Spurs. Verdade ou não a gente nunca vai saber, mas se foi intencional, foi inteligente. Na temporada regular eles fizeram jogo duro para o Spurs e têm as qualidades que mais os incomodam, a começar pela dupla de garrafão mais entrosada da NBA com Zach Randolph e Marc Gasol. Sim, o outro Gasol e o Andrew Bynum são do caralho e Serge Ibaka e Kendrick Perkins são a perfeita combinação na defesa, mas atualmente ninguém é páreo para o entrosamento da dupla do Memphis. Eles executam muitas jogadas um com o outro, ambos passam bem a bola e ainda são potências nos rebotes de ataque.

Como o Spurs usa muito o Tim Duncan no ataque, principalmente fazendo a maioria dos bloqueios e corta-luzes dos pick-and-rolls, que são responsáveis por 27% das ações ofensivas do Spurs (disparado a jogada mais usada por eles), eles liberaram o TD do fardo físico e perigoso, pelas faltas, que é marcar o Zach Randolph. Isso resultou num banho do Z-Bo para cima do Antonio McDyess e, principalmente, do Matt Bonner. Aliás, parece uma ordem bem clara do técnico Lionel Hollins para os seus jogadores: se Bonner está em quadra a jogada é simplesmente acionar quem está sendo marcado por ele, sucesso garantido.

Isso obriga Popovich a usar menos o Bonner e no lugar dele não pode colocar uma escalação mais baixa, que também seria explorada do mesmo jeito pelo garrafão forte do Grizzlies, então tem que colocar o McDyess e, nos últimos jogos, Tiago Splitter. O DeJuan Blair, titular durante muito tempo, é solenemente ignorado e não me pergunte o motivo. Todas essas opções, mesmo quando McDyess e Splitter jogam decentemente, não são o bastante para vencer a disputa no garrafão e ainda tiram as bolas de três do Spurs. O Spurs não tem opção, é na defesa que o Grizzlies está vencendo essa série.

O ótimo site NBA Playbook fez um post só para explicar como o Grizzlies está parando o ataque do time de Popovich. A principal estratégia está em limitar as bolas de três pontos ao mesmo tempo que não abrem um corredor para infiltrações. Na jogada que ele dá de exemplo abaixo, a ajuda fecha a infiltração de Parker mas sem que ele tenha espaço para tocar para Bonner nos três pontos, resta um arremesso longo de dois para Tim Duncan. E nem é da posição onde ele pode usar a tabelinha.



Vale reforçar também o empenho com que todo mundo no Grizzlies está correndo em toda santa posse de bola para cobrir as opções mais óbvias de passe depois de cada corta que o Spurs faz. É um trabalho digno de defesa do Celtics. Em muitas vezes eles sabem onde dobrar, onde ajudar e o cara que fica livre é sempre o mais distante da bola, obrigando o Spurs a passes complicados, longos ou infiltrações em um garrafão congestionado. Outra decisão importante está em tirar o arremesso da zona morta; se deixam alguém livre de três, não é lá. É o arremesso favorito do Spurs, tentavam 8 desses por jogo na temporada regular, e agora estão tentando só metade e sempre marcados. A bola na zona morta era a válvula de escape deles e não está funcionando. Para compensar o Spurs precisa  passar mais a bola no perímetro e forçar jogadas individuais, deixando aparecer ainda mais as qualidades defensivas de Shane Battier, Tony Allen e as mãos rápidas do Mike Conley para interceptar passes. É simplesmente um massacre! Pode-se dizer que o Lionel Hollins era um stalker do Spurs e sabe todas as qualidades, defeitos, desejos, medos e comida favorita do seu adversário.

Se essa série já não está morta e enterrada é porque o Spurs tem a mão certeira de Gary Neal e o Grizzlies também tem os seus defeitos. Quando Zach Randolph está no banco eles não tem alguém que pode criar o seu próprio arremesso do nada diante de uma defesa mais forte, Tony Allen é um dos piores arremessadores da NBA e OJ Mayo compromete na defesa. E embora o Randolph esteja dando conta do recado na hora de arremessar bolas decisivas, às vezes é difícil passar a bola lá pra dentro do garrafão, nessas horas faz falta o Rudy Gay para receber a bola mais longe da cesta e criar alguma jogada.

Mas defeitos a parte, o Grizzlies é o melhor time da série e quem dominou todos os jogos. Se tiverem a cabeça no lugar e não ficarem lamentando a classificação que escorregou por entre os dedos devem fechar a série já na próxima partida. Não dá pra cravar isso porque séries longas de playoff são interessantes pelos ajustes que cada técnico faz para resolver os problemas, mas o negócio é que tenho a pequena impressão de que o Popovich não sabe mais o que tentar para sair das armadilhas do Grizzlies.

Abaixo, o arremesso insano em uma jogada desastrada do Manu Ginobili, que cortou a diferença para um ponto, e depois a bola de três salvadora do Gary Neal. E vale uma nota para algo impressionante: Foi dito pelo próprio elenco do Spurs depois do jogo que a jogada final foi mesmo desenhada para o Neal, não era segunda ou terceira opção. O novato disse que a sensação foi ótima de ouvir as instruções e ver que ninguém nem por um segundo questionou a decisão do treinador de colocar toda a temporada nas mãos de um novato que nem foi draftado. Sangue frio e obediência ao treinador, talvez o Spurs ainda tenha um pouco do velho Spurs escondido lá no fundo.

sábado, 24 de julho de 2010

Summer Leagues - O resto


Chegou a hora de conhecer Jeremy Lin


Chegou a última parte da análise das Summer Leagues. Na primeira contamos um pouco do propósito desses campeonatos onde ninguém olha o placar final do jogo e falamos um pouco do desempenho dos recém-draftados. Na segunda parte falamos de quem se destacou entre os que já jogam na NBA e hoje, finalmente, falaremos do resto. Aqueles que já foram da NBA mas estão sumidos, os caras que jogavam na Europa e vieram tentar a sorte na liga americana e os caras que saíram da universidade mas passaram pelo draft sem terem sido escolhidos por ninguém.

Não quero enrolar mais do que já enrolo, mas queria dizer o motivo para não estarmos falando nada do Chris Paul, que parece ter pedido para sair do Hornets: até agora o único fato consumado é que ele está insatisfeito com o elenco do time e quer conversar disso com o novo General Manager. Eles ainda vão ter uma reunião na segunda-feira e só a partir daí pode acontecer alguma coisa de concreto. Desde o começo da offseason a gente se focou em comentar contratações e trocas, nunca boatos. E ficar dizendo o que a saída do Chris Paul significaria para o Hornets sem isso ter acontecido parece uma perda de tempo gigantesca sendo que aconteceram tantas outras mudanças reais que ainda não ganharam seus textos.

Isso dito, vamos voltar aos campeonatinhos de verão:

Os Outros
Gary Neal (SG - San Antonio Spurs) - Depois de uma boa temporada no basquete italiano, o Gary Neal foi tentar a sorte nos Estados Unidos. Fez cinco jogos pelo Spurs e convenceu a equipe do Greg Popovich. E convenceu por um único motivo, algo que faltou ao Spurs na temporada passada, as bolas de longa distância. Neal acertou bolas de três em todos os jogos e mesmo chutando bastante e com arremessos difíceis, acabou a Summer League de Las Vegas com 50% de aproveitamento. Na última partida, contra o Grizzlies, tentou 10 bolas e acertou 6, fechando o jogo com 25 pontos.

Com as infiltrações sempre perigosas do Tony Parker e Manu Ginobili e a marcação dupla que o Tim Duncan costuma exigir, o Spurs foi sempre um time que conseguiu produzir muitas situações para bolas de longa distância, mas no ano passado não estava conseguindo transformar essas boas jogadas em pontos. Se meter algumas bolinhas dessas por jogo, o Neal já terá sido uma contratação que valeu a pena.

Morris Almond (SG - Chicago Bulls) - Lembram no post passado quando eu contei que o Joe Alexander era um dos poucos jogadores na história da NBA a terem sido dispensados após apenas dois anos de seus contratos de novato? E lembram que naquela lista tinha um mané chamado Morris Almond? Pois é, ele estava jogando em Las Vegas.

O Almond foi dispensado após duas temporadas improdutivas no Jazz. Depois disso continuou nos EUA e jogou muito na D-League, onde simplesmente arrebentou com tudo, incluindo jogos com mais de 50 pontos. Ele é um excelente arremessador, às vezes fominha, é verdade, mas que faz pontos com facilidade. O problema é que na NBA parece ser abatido por um nervosismo que faz com que suas bolas não caiam. E arremessadores que não acertam arremessos são tão úteis quanto um açogueiro com nojo de carne.

Na Summer League ele fez um bom trabalho, acabou com 13 pontos de média mas no seu dia mais inspirado chegou a fazer 22 pontos. Ele não faz nada além disso, claro, mas pode ser uma boa para o Chicago Bulls que está em busca de arremessadores. Eles conseguiram o Korver mas não o Redick, então talvez sobre um espaço para ele. Tudo deve depender da contratação do Tracy McGrady, que já treinou com o Bulls e espera uma resposta do time.

Sofoklis Schortsanitis (PF/C - Los Angeles Clippers) - Tá, não vou mentir, dei um Ctrl+C - Ctrl+V para escrever o nome dele aqui, mas alguém aqui faria diferente? Todo mundo conhece o pivô grego apenas como "Baby Shaq", e seus 142kg bastam como justificativa para o apelido.

Ele ganhou alguma fama nos EUA quando foi escolhido pelo Clippers na segunda rodada do agora longínquo Draft de 2003, impressionou pelo corpo gigantesco mas foi deixado na Europa. Três anos depois, no Mundial de 2006 no Japão, ele foi peça importante do time vice-campeão da Grécia e foi um dos melhores jogadores da seleção grega durante a semi-final contra os Estados Unidos. Ele e o Vassilis Spanoulis, que teve uma boa, mas discreta, passagem pelo Rockets, aniquilaram a defesa americana com seus pick-and-rolls. Aliás, vale a pena ver os melhores momentos daquele jogo histórico:


Depois dessa partida parecia claro que o Baby Shaq teria uma chance na NBA, mas acabou recebendo ofertas mais lucrativas na própria Grécia e ficou por lá. Quatro anos depois, às vésperas de outro mundial, ele finalmente tenta ir para a NBA. Hoje o grego tem 25 anos, poderia ter sido uma boa idéia esperar, como foi com Tiago Splitter, mas a carreira do "Sofo" teve um caminho diferente. Depois de brilhar 4 anos atrás na Grécia e no Olimpyacos, seus minutos por quadra e produtividade foram caindo aos poucos. Hoje não é tão badalado dentro do seu time como já foi quando mais novo.

Talvez até por isso tenha ido tentar a sorte nos EUA, mas não foi bem na Summer League de Las Vegas. Jogou apenas 13 minutos por jogo, pouco mais de um período (nesse torneio cada quarto tem 10 minutos, como na FIBA) e teve médias ridículas de 2.5 pontos e 3.8 rebotes por partida. Os rebotes até que foram bons para o tempo jogado, é verdade, mas ele não conseguiu render bem no ataque como esperado e participou pouco dos jogos. O Clippers acabou de manter o Craig Smith no time e ainda tem Blake Griffin, Chris Kaman e DeAndre Jordan no garrafão, não sei se existe um interesse real em levar o Baby Shaq para a NBA. Aposto mais que ele volte para a Summer League do ano que vem para tentar de novo.

Jaycee Carroll (SG - Boston Celtics/New York Knicks) - Esse deve ter sido o jogador que mais atuou nas ligas de verão. Jogou tanto a de Orlando, pelo Celtics, quanto a de Las Vegas, essa pelo Knicks. E jogou bem pelos dois times.

O Carroll fez uma boa carreira universitária pela Utah State University, mas não chegou a ser draftado. Atuou nas Summer Leagues de 2008, 2009, e jogou a última temporada pelo Gran Canaria da Espanha. Antes disso atuou no Teramo Basket da Itália, onde virou lenda ao marcar duas bolas de 3 nos últimos 7 segundos de um jogo decisivo.

Com o sonho de atuar na NBA, veio de novo jogar as ligas de verão e finalmente teve sucesso. Ele teve média de 15 pontos por jogo na Summer League de Orlando, onde foi eleito para a segunda seleção do torneio. Pelo Knicks em Las Vegas não jogou tanto, mas 8 pontos de média em 14 minutos por partida não é nada mal! Com as más atuações de Andy Rautins pelo Knicks, é possível que eles estejam atrás de contratos pequenos com jovem jogadores da posição. Alguém para ser testado, para contribuir vindo do banco e não comprometer as finanças do time. Jaycee Carroll não é tão inexperiente como Rautins e serve a todos esses objetivos, pode ser uma opção.

Curioso ver como a história de Carroll é uma boa prova do quanto é difícil entrar na NBA. Carreira universitária boa, boas temporadas na Europa, destaque nas ligas de verão e mesmo assim ele tem uma chance remotíssima de conseguir ser apenas o último cara do banco de um time da NBA. Tem que ser espetacular, não basta ser bom.

Pooh Jeter (PG - Cleveland Cavaliers) - Eugene Jeter III é uma força nominal absurda, mas ele prefere usar o apelido de ursinho dele, vai entender! O armador batalha por um lugar na NBA há muito tempo. Ele jogou na D-League em 2006-07, depois jogou na Ucrânia, Espanha e Israel. Na liga de desenvolvimento ele era um dos líderes em assistência com mais de 7 por jogo, mas não chegou a ter grandes chances na NBA. Já havia voltado para disputar Summer Leagues, mas só agora pelo Cavs é que ele se destacou. Foi o quarto líder em assistências do torneio e ainda meteu 14 pontos por jogo.

Não foi páreo para caras como Jrue Holiday e John Wall, mas entre os que não tinham contrato garantido foi disparado o melhor armador. Apesar de apenas 1,80m de altura, sabe das suas limitações e se destaca por comandar o jogo, por tomar boas decisões em quadra, talento que, dizem (não vejo o campeonato ucraniano), cresceu com a sua passagem pela Europa. Finalmente pronto para a NBA acaba de assinar um contrato com o Sacramento Kings, onde provavelmente será reserva imediato de Beno Udrih.

Jeremy Lin (PG - Dallas Mavericks) - Finalmente a estrela da liga! Ele não foi o melhor jogador, mas teve a atuação mais impressionante e a história que mais chamou a atenção. Tudo em Jeremy Lin é diferente do padrão da NBA, absolutamente tudo.

Lin é americano, nascido em Palo Alto na California, descendente direto de família Taiwanesa, sem qualquer sangue americano na família. É o primeiro jogador americano de origem asiática a chegar na liga desde Wataru Misaka, um americano de origem japonesa que foi o primeiro jogador não-branco a atuar na NBA há 63 anos. Na NCAA, apenas 0,5% dos jogadores tem origem asiática.

O armador também é diferente pelo desenho da sua carreira. Começou a jogar basquete quando criança em uma YMCA (é uma rede de clubes que deu origem à música que todo mundo conhece) de Palo Alto por incentivo de seu pai, que mesmo quando ainda morava em Taiwan caçava algumas jogadas da NBA na TV para saciar sua vontade de basquete. Nas suas palavras, "Não sei porque gosto de basquete, apenas gosto". Na terra do basquete não teve dúvidas e levou os filhos para jogar, mas Jeremy apenas ficava no meio da quadra chupando o dedo como uma criança desinteressada. Depois de alguns jogos sua mãe deixou de ir assistir, Jeremy viu aí um incentivo e pediu para ela voltar no próximo jogo, para ele resolver parar de chupar o dedo e ir brincar com as outras crianças. Por "brincar" entenda "fazer todos os pontos do jogo".

No colegial ele liderou a Palo Alto High School, uma escola sem tradição no basquete, ao título da Divisão II estadual, sendo considerado o melhor jogador do torneio por diversas publicações locais, mas mesmo assim não recebeu nenhuma bolsa de estudos dos times da primeira divisão da NCAA. Foi recusado pela UCLA e em entrevista à CAL U até o chamaram pelo nome errado. Foi então para o outro lado do país para uma universidade muito conhecida, embora nunca pelo seu basquete: Harvard. Membro da Ivy League, que concentra 8 das melhores unversidades americanas, entre elas Yale, Columbia e Princeton, Harvard não pode oferecer bolsas de estudo para atletas. Jeremy Lin, porém, nunca escolheu entre estudar ou jogar, fez os dois.

Uma pessoa de origem asiática em uma das mais renomadas instituições de ensino é até um clichê, existiam 23 alunos com o sobrenome Lin em Harvard quando ele entrou, mas Jeremy foi além, foi um esportista, e no seu último ano (ele jogou os 4 e se formou em Economia), levou a universidade para a sua melhor campanha na história. Com atuações impressionantes, como a do vídeo abaixo contra a tradicional UConn, fora de casa, começou a ficar conhecido e até foi finalista para o Bob Cousy Award, prêmio dado ao melhor armador universitário do ano.


Não bastava ser um jogador de destaque em escolas que nunca tinham ouvido falar de basquete, ele queria quebrar mais alguns dos estereótipos do jogador de basquete. Não foi o basqueteiro que ignorava o estudo para jogar, nem o que só queria saber de festas, nem o que se envolveu com drogas e nem aquele que só queria saber de usar a fama do basquete universitário para pegar mulher. Também não tinha uma família desequilibrada para responsabilizar por se envolver com o crime e nem faltava dinheiro para ele se envolver no mundo das drogas. Dedicava todo o seu tempo livre do basquete para o estudo e principalmente para a Bíblia.

Lin criou um grupo de leitura da Bíblia e chegou a levar alguns de seus companheiros de time para lá, se organizando semanalmente para rezar e discutir o livro. Como acontece com quase todo atleta que se envolve demais com religião, começou a misturar as coisas: ele diz que lidera o time de uma maneira cristã, que joga para a glória de Deus e por Deus, e que não se foca tanto em ganhar ou perder, mas sim em ter fé no plano perfeito de Deus.

Eu sou ateu e confesso que pessoas que falam de Deus o tempo todo me irritam profundamente, mas elas existem e eventualmente algumas gostam de jogar basquete, outras, como Lin, não só gostam como são boas nisso. O esporte parece não combinar com religião, mas ele é feito de pessoas e elas tem suas características, sejam elas agradáveis para os outros ou não. Lembro de quando o Dwight Howard chegou na NBA e perguntou para o David Stern se poderia colocar uma cruz no seu uniforme, o que foi proibido. Stern estava certo nisso, o esporte é um lugar onde se juntam pessoas de qualquer tipo que tem em comum a atividade esportiva que praticam, mas ficar divulgando e colocando para fora parece mais propaganda do que fé. Jeremy Lin ser um cristão tão devoto é curioso e deixa a NBA com mais um personagem diferente, mas em algumas entrevistas ele pareceu tão bitolado que eu fico com a sensação de que em breve poderemos ter na NBA alguns dos exageros religiosos que vemos tantas vezes no futebol. Agora ele é um personagem diferente, exótico, interessante, mas isso pode mudar.

Na Summer League o Jeremy Lin jogou 4 partidas pelo Mavs. Fez 12 pontos em 18 minutos na primeira, somou 12 nas duas partidas seguintes e apenas no seu último jogo brilhou de verdade. Enfrentou mano a mano a estrela John Wall e marcou 13 pontos em 17 minutos. No vídeo abaixo dá pra ver o que fez a torcida ir ao delírio com o jovem: velocidade, dribles, bons roubos e uma capacidade impressionante de infiltrar na defesa adversária.


Apesar de estar jogando pelo Mavs, Lin não tinha vínculo nenhum com o time, e ganhou o interesse também do Lakers e do Warriors. Em entrevista ainda na faculdade já havia dito que o seu sonho era de jogar pelo time do coração, o Golden State, e acaba de finalizar um contrato de dois anos com eles. Com contrato assinado, Lin passa a ser o primeiro jogador a sair da Ivy League em 8 anos e segundo jogador da história da NBA a ter saído de Harvard, o último foi Ed Smith em 1953.

Difícil saber o quanto ele irá render na NBA, mas sua contribuição já começou com essa história pouco comum. Ele disse ter superado anos e anos de piadas racistas em quadras de basquete e na NCAA até chegar na NBA, o que é, Bíblia a parte, uma história fantástica. Eu imagino que no sistema veloz do Golden State Warriors ele tenha boas chances de se destacar. Provavelmente nunca vai ser titular, mas dá pra enxergar ele fazendo muitos pontos em alguns jogos isolados durante a temporada. A torcida do Warriors, tradicionalmente uma das mais fiéis (ao time, não necessariamente ao deus do Jeremy Lin) e apaixonadas da NBA, certamente irá ao delírio com o garoto da casa.