domingo, 11 de maio de 2008

Antes ele do que eu

Mike D'Antoni mostra sua tendência à insanidade


O Cavs ganhando em casa com o Delonte West chutando traseiros ou o Pistons vencendo o Magic em Orlando mesmo sem o Billups não são nem de longe as notícias mais bizarras do dia. Apesar de eu ter anunciado a saída de Mike D'Antoni do comando do Suns com um pouco de antecedência demais, já me despedindo com lencinho na mão do Phoenix-porra-louca num post anterior, agora finalmente D'Antoni não é mais oficialmente o técnico de Nash e seus amigos. O que há de surpreendente nisso? Nada, claro. O bizarro é o novo emprego que ele decidiu aceitar. O Bulls colocou uma oferta formal na mesa, o Raptors pode ter colocado uma informal, mas o bigodinho grisalho ignorou as duas propostas para aceitar uma terceira: será o técnico do New York Knicks para a próxima temporada.

Fiquei tão chocado que nem sei como reagir. Acho que a primeira coisa lógica que pensei, e que a NBA deveria colocar em prática imediatamente, é fazer um teste de doping em D'Antoni. O Josh Howard dizer que fuma maconha quando a temporada termina não é nada se compararmos com o tipo de substância que o ex-técnico do Suns deve estar utilizando em casa para superar a derrota para o Spurs nos playoffs. Aceitar ser técnico do Knicks pressupõe drogas pesadas, alucinógenas, e isso está escancarado aí na cara de todo mundo, no maior estilo Amy Winehouse. Se a NBA se preocupa tanto com sua imagem limpa e cheirando a Veja Multi-Uso, o D'Antoni vai ser mais suspenso que o Chris Andersen, que passou uns anos de castigo por enfiar o nariz onde não devia.

Bem, agora que o Mike D'Antoni já aceitou o cargo, chapado ou não, só nos resta tentar imaginar o que ele pode tirar de positivo dessa budega. Pra começar, os bolsos do D'Antoni estão tão felizes quanto a pança cheia de Zach Randolph, afinal o contrato oferecido pelo Knicks é tão gordo que minha mente não-matemática não conseguiu compreender aquele monte de zeros. Se a grana vale a humilhação de perder quinhentos jogos e ser vaiado em New York, aí já é uma questão mais filosófica. Digamos, assim como simples nota de rodapé, que eu também passo umas humilhações no trabalho e nem por isso ganho milhões de dólares. Ganho apenas alguns milhares.

Fora a grana, o D'Antoni sair com algo de positivo do Knicks vai depender exclusivamente de seu desempenho. Acho que vai rolar um "Complexo de velho Michael Jordan", ou seja, "e se eu for pra um time meia-boca como o Wizards e conseguir ganhar mesmo assim?". Para os que se lembram, o Jordan no Wizards sequer chegou aos playoffs, amargando uma nona posição no Leste mas flertando com a classificação, o que foi triste mas ao mesmo tempo impressionante, deixou um ar moderado de satisfação e de "ah, era o máximo que dava pra fazer", principalmente se a gente lembrar que o elenco tinha um Kwame Brown recém-draftado. Ou seja, se o D'Antoni faz o Knicks conseguir uma nona vaga no Leste, o que hoje em dia dá pra fazer utilizando 5 anões montados em cachorros, já reinará em New York uma sensação de missão cumprida.

Além disso, qualquer resultado positivo, seja ele uma nona vaga ou até uma improvável classificação aos playoffs, traria uma inevitável comparação entre técnicos. Não entre D'Antoni e Isiah Thomas, porque o Isiah só pode ser comparado com outros membros do reino vegetal, mas sim entre D'Antoni e Larry Brown. Se o Brown falhou miseravelmente com o elenco e o D'Antoni se sair melhor, isso pode virar um argumento para ressaltar as habilidades do novo técnico do Knicks, afinal ele é muitas vezes menosprezado e diminuído, tratado como porra-louca e incapaz de montar um esquema tático "de gente grande". Muita gente diz que o D'Antoni estaria hoje em dia lavando banheiros se não fosse por Steve Nash, e que os méritos do sistema do Suns estão unicamente no talento do armador canadense. Então está aí, o Knicks será uma prova de fogo das mais complicadas, capaz de provar de uma vez por todas a capacidade e o talento de D'Antoni - sem Nash. E se não der certo, bem, há sempre a desculpa clássica: "Era o Knicks, nós temos Curry e Zach Randolph, o que você esperava que eu fizesse?"

O que nos traz finalmente ao elenco que receberá o novo técnico. O Mike D'Antoni deve implantar o mesmo esquema quase-vitorioso do Suns, o "7 segundos ou menos", em que todo mundo corre o máximo que der e arremessa o mais rápido possível, tentando de algum modo fazer brotar ordem do caos. O único problema é que essa tal "ordem" estará nas mãos de Marbury, não de Nash. D'Antoni já conhece a figura, já que passaram um tempo juntos no Suns, e realmente acho que o Marbury funciona melhor correndo e decidindo no desespero do que em qualquer outro esquema que necessite de coisas um tanto raras, tipo ter um cérebro. Com o novo técnico, acho que o Marbury finalmente volta ao mundo da NBA e consegue uns números bacanudos, ao menos pra quem joga fantasy. Ao lado dele, estarão Quentin Richardson, que era um bom arremessador de 3 pontos quando jogou também no Suns, e Jamal Crawford, que já vem com sua mentalidade de arremessar em menos de 7 segundos original de fábrica. Some a eles Nate Robinson e temos um elenco que, na pior das hipóteses, vai funcionar melhor correndo do que funcionava jogando um basquete mais cadenciado. Mesmo que isso não queira dizer muita coisa, porque piorar seria impossível.

Nos armadores, o negócio até parece que pode engrenar, mas aí somos obrigados a lembrar de uns problemas de peso. O que diabos Mike D'Antoni vai fazer com um elenco que tem Eddy Curry, Zach Randolph e Jerome James como homens de garrafão? Não canso de repetir, o Curry só deu a impressão de ser um bom pivô quando se tornou o foco principal do ataque do Knicks, tendo bastante a bola nas mãos e sendo alimentado (entenda como quiser) dentro do garrafão por seus companheiros de equipe. Como encaixar Curry num esquema que exige velocidade, passes rápidos, jogo em transição, já que ele é gordo e só funciona tendo muita posse de bola? Além disso, como lidar com Zach Randolph? Pode ele se tornar um Amaré Stoudemire que não pula? Ser a alternativa ofensiva da equipe no ataque de meia-quadra e ainda assim ser capaz de correr nos contra-ataques durante o resto da partida?

Só sou capaz de pensar que D'Antoni vai fazer um bom punhado de trocas no elenco, porque desse jeito vai ser complicado implantar seu estilo. O problema é que falar é fácil: quem diabos vai aceitar uma troca envolvendo Eddy Curry, bem depois da temporada horrenda que ele acabou de ter? Se nenhuma troca for possível, Curry irá para o banco de reservas comer rosquinhas ou D'Antoni mudará seu próprio estilo de jogo, permitindo que o pivô rechonchudo volte a ser eficiente num ataque mais lento? Será que o novo técnico é capaz de finalmente deixar David Lee ser titular e ver se ele consegue lembrar um Amaré-depois-da-gripe? E será que ele transforma Jared Jeffries, um dos únicos que sabem defender no elenco, numa versão desengonçada de Raja Bell?

Meu palpite é que ele não consegue nada disso, que o elenco se desfaz e que o D'Antoni é demitido no final da próxima temporada, mas não liguem pra mim, eu sou apenas um blogueiro com bom senso. É possível que tudo dê certo e o Knicks vire o novo Suns, mas dessa vez perdendo todo ano para o Celtics ao invés de perder para o Spurs. Mas não sou eu que vou ficar esquentando minha cabeça com o Knicks, deixo isso para a própria franquia, que chamou um técnico cujo estilo tático não se encaixa com o elenco, e para o técnico, que aceitou essa loucura. Só nos resta esperar para ver esse novo Knicks em quadra, com um sorrisinho sádico no rosto de quem gosta de ver o circo pegar fogo e aliviado por não ser eu o infeliz comandando a palhaçada. Quanto tempo será que vai levar para o Marbury surtar e fugir para a Itália, como sempre diz que quer fazer?

4 comentários:

Anônimo disse...

Belo post. Eu ainda estou indignado, torço pro Suns mas ia gostar de ver o D'antoni nos Bulls. Eles certamente não iam ganhar nada, mas pelo menos ia ser agradável de ver. De qualquer maneira, nos resta ver o que ele consegue nos Knicks. Como vocês mesmo disseram, piorar é impossível.

Anônimo disse...

Acho que não vale falar que o D´Antoni não se encaixa no estilo do Knicks, simplesmente porque a equipe atual é um desastre completo, e por isso não pode ser respetada como se estivesse sendo alterada em suas características fundamentais.
Francamente, qual o estilo do Knicks? Não há estilo, não há padrão de jogo, apenas um festival de lipídios, turnovers e declarações acéfalas à imprensa.
Já a um bom tempo, eles têm uma trajetória digna de comédia pastelão. Portanto, tudo pode ser mudado, tudo DEVE ser mudado.
Quanto ao D´Antoni, obviamente foi bem ousado em sua escolha, mas não o diria tão insano assim.
Pensem bem: No Bulls e/ou no Raptors, por exemplo, ele teria uma certa pressão por resultados imediatos, tendo ainda que se valer de uma "base" já formada, mas que em ambas as equipes é incapaz de vôos mais altos.
São times que, embora notoriamente tenham potencial, estão estagnados e precisam mudar. Por outro lado, como já têm algo construído, algo seu, fica sempre mais difícil implementar tais mudanças.
Numa menor escala, trata-se de um quadro bem parecido com um certo time do Arizona, não?
Imagine como é difícil em Chicago pôr em prática algo como: "Ok, Ben Gordon, vc é um bom jogador, mas não é excepcional... não vamos renovar com vc, pode ir embora de graça mesmo, cuide da sua vida, queremos cap para pegar alguém melhor" ou então "Bosh, vc chuta uns traseiros, mas precisa melhorar muito ainda para ser uma estrela de primeira. Vamos contratar um cara muito mais foda que vc, e a partir de agora não serás mais o número 1 da franquia. Pode brincar de Lamar Odom à vontade."
Difícil apostar no mercado, hein...
E se não der certo, se não conseguirem a estrela que precisam? Ah, e se contratarem o cara errado? Danou-se.
Por outro lado, em NY, D´Antoni pode, num chilique só, mandar metade do time para a rua sob aplausos. Só resta saber quem vai topar pegar tanta tranqueira, mas aí é outra história.
Se bem que, considerando essa temporada (vide trocas de Steve Francis, Antoine Walker, etc), parece que há sempre uma equipe disposta a fazer esse tipo de negócio nebuloso.
Limpando o time, draftando bem e colocando minimamente ordem na casa, já se desenharia um bom caminho para - quem sabe - atrair dois ou três bons jogadores e iniciar uma ascensão, lembrando que o Knicks joga na Conferência Leste.
De quebra, D´Antoni pode se livrar da pecha de "parasita do Nash" e obter mais reconhecimento, brilho próprio.
Se der errado, não será propriamente um desastre, afinal ele está no Knicks.
Basta manter a calma e não lavar a roupa suja na imprensa.
Sua reputação não será tão abalada e ainda terá belas montanhas de dólares para contar enquanto espera por uma nova oportunidade na liga.
Vida chata, não?

Anônimo disse...

"Ou seja, se o D'Antoni faz o Knicks conseguir uma nona vaga no Leste, o que hoje em dia dá pra fazer utilizando 5 anões montados em cachorros"

Hahahahahahahaha

"quem diabos vai aceitar uma troca envolvendo Eddy Curry, bem depois da temporada horrenda que ele acabou de ter? "

O Grizlies

Danilo disse...

O Grizlies! Bem lembrado, Sbub! Já até imagino um garrafão formado por Kwame Brown e Eddy Curry fazendo cestas contra porque se confundiram de lado na quadra.

Renzo, pra mim parece mais difícil o D'Antoni conseguir se livrar dos "comedores de salário" do Knicks do que seria se livrar de Ben Gordon ou Chris Bosh. O Raptors, em especial, acho que tem flexibilidade financeira, potencial e peças perfeitas para se tornar uma escolha óbvia "dos sonhos" para o D'Antoni. Mas os motivos que você e eu levantamos devem ter levado ele ao Knicks mesmo, fazer o que.